Política e legislação

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

 

O Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense (Agropacto) conduziu uma série de palestras e debates nos meses de julho, agosto e setembro de 2007, por atores representativos e que participam de forma ativa na formulação de políticas para o agronegócio caju. Com base nesses eventos, foi gerado um documento oficial que será transcrito a seguir.

“Diagnóstico e proposições para a cajucultura do Ceará. Contribuições do Agropacto"

Resumo executivo

A cadeia produtiva do caju é estratégica para o Ceará, sendo o 2º produto na pauta de exportação, com US$ 187,537 milhões em 2006 (14,7% do total das exportações). O parque industrial instalado tem capacidade para processar 280 mil toneladas/ano e gera 15 mil empregos. O caju é produzido em praticamente todos os municípios do Ceará, com 50% da área cultivada no país. Produz na entressafra das demais culturas, com milhares de postos de trabalho na fase mais crítica da agricultura. Esse número é ainda mais expressivo quando se consideram as indústrias de sucos, doces e as minifábricas de castanha. Apesar disso, vem enfrentando problemas que vêm se agravando ultimamente, com sérios reflexos na sustentabilidade e competitividade.

A redução que vem ocorrendo no preço internacional da amêndoa, associada à comercialização altamente intermediada da matéria-prima, tem se refletido no baixo preço da castanha. Além disso, problemas de produtividade e qualidade, no campo e na indústria, associados à elevação dos encargos e do custo de produção estão inviabilizando várias unidades produtivas, principalmente no setor agrícola. Em razão disso, o Agropacto conduziu uma série de palestras e debates, nos meses de julho, agosto e setembro, envolvendo os diferentes segmentos e atores dessa cadeia, o que possibilitou uma reflexão conjunta, identificando-se demandas e os principais gargalos do setor. O esforço gerou um documento com proposições a serem discutidas com autoridades dos setores público e privado, bem como com outras instituições representativas da sociedade relacionadas com este segmento. Assim, buscam-se alternativas para incrementar a sua sustentabilidade. A seguir, uma síntese dos principais problemas e propostas.

 

a) Mercado da amêndoa de castanha de caju (ACC)

1. Decréscimo do preço no mercado internacional. A produção mundial dobrou com a entrada de novos países concorrentes da Ásia e da África, mas não houve a diversificação no mercado na mesma proporção. O resultado vem sendo a redução no preço da ACC. Proposta: celebrar e reforçar alianças com outros países exportadores de amêndoa para a formação de preço e para a diversificação do mercado externo. Analisar, também, as perspectivas do impacto de novos mercados (China, leste europeu e países árabes).

2. Forte dependência da ACC brasileira do mercado externo (90%), concentrado nos EUA e mercado interno incipiente (10%). Propostas: adotar estratégias para fortalecer o mercado americano ante a ameaça da Índia e dos novos concorrentes. Buscar formas de diversificar o mercado externo. Utilizar estratégias para popularizar e ampliar o consumo no país e adotar medidas para que problemas de qualidade não prejudiquem a imagem do produto no mercado interno.

 

b) Mercado dos principais produtos derivados do pedúnculo

1. Mercado do suco concentrado sem crescimento e baixo consumo de suco de frutas pronto para beber. No caso deste ultimo, destaca-se que o Brasil tem um baixo consumo per capita (2 litros), um dos menores da América Latina. Por outro lado, no mercado interno, o segmento de sucos “light” cresce, em média, 19,2% ao ano, mas infelizmente o caju não participa no segmento, sendo os destaques para pêssego, uva, laranja, goiaba, manga e maracujá. Propostas: a) fortalecer as estratégias de consumo no mercado interno e viabilizar a tecnologia de obtenção de suco clarificado desodorizado para compor blends para o mercado internacional; b) adotar estratégias de marketing visando melhorar a imagem para ampliar o consumo de suco de caju pronto para beber.

 

c) Mercado dos produtos agrícolas

1. Baixo preço da castanha. Isso é consequência da conjuntura internacional, do baixo rendimento de amêndoas inteiras na indústria, da ausência de organizarão e baixo poder de barganha dos produtores, o que tem levado a uma vasta intermediação. Quanto à produção, destaca-se o fornecimento de elevado índice de castanha imprópria ao processamento. Tudo isso prejudica o produtor, pelo repasse dessas ineficiências para a composição do preço da castanha. Como consequência, tem-se a descapitalização, sobretudo dos médios e pequenos produtores, que ficam desmotivados e impossibilitados de promover o manejo adequado dos pomares. Propostas: a) estimular a classificação da castanha na propriedade, por meio do pagamento diferenciado pela qualidade; b) promover a organização dos produtores para a comercialização intermediada; c) adotar o micro crédito rural para capital de giro - sobretudo na época dos tratos culturais - reduzindo a tradicional “compra na folha”;

2. Mercado incipiente do pedúnculo. De um total estimado em 1,7 milhão de toneladas/ano no Nordeste, aproveitam-se apenas 204 mil t, incluindo sucos (6%), mercado in natura (2%), alimentação animal (2,5%), cajuína, doces e outros (1,5%). Proposta: ampliar e reforçar as estratégias das inúmeras possibilidades de uso do pedúnculo.

 

d) Problemas no processamento de amêndoas

1. Qualidade da matéria-prima (castanha). Elevadas diferenças no tamanho da castanha (3g a 30g) e elevado índice de castanhas impróprias ao processamento (avariadas, furadas, com impurezas e restos de culturas e com índice de umidade elevado). Propostas: a) adotar estratégias que viabilizem e motivem os produtores para realizar a classificação; b) renovação escalonada dos pomares envelhecidos, por meio da substituição de copa e plantio com novos clones.

2. Baixo rendimento industrial. O processamento empregado no Brasil resulta em baixo rendimento de amêndoas inteiras (52% a 55%). O Sindicaju tem buscado solução para o problema, no entanto, constatou que não há interesse dos fabricantes de equipamentos em investir em pesquisa e desenvolvimento, em função do pequeno número de clientes exclusivos do Brasil. Proposta: aperfeiçoar o processo de obtenção da ACC, melhorando o sistema de decorticação e despeliculagem com o apoio de instituições nacionais.

 

e) Problemas no processamento do pedúnculo

1. Elevado custo de estocagem da matéria-prima. A concentração do período de colheita do caju faz com que a indústria só processe durante 50 a 80 dias/ano. Isso acarreta elevado custo de estocagem da polpa processada. Propostas: a) desenvolver técnicas de concentração do suco que permitam a redução do volume de estocagem com manutenção da qualidade sensorial e nutricional; b) ampliar o período de oferta de pedúnculo, por meio do uso de clones de cajueiro-anão com produção em diferentes épocas e adoção de técnicas de manejo cultural.

2. Desperdício do subproduto da indústria (bagaço). Pela sua qualidade, o subproduto tem boas perspectivas na alimentação humana (ex. fibras, pigmentos, corantes e aromatizantes). Também apresenta oportunidades na alimentação animal. Proposta: desenvolver estratégias de inovação e difusão das tecnologias já existentes para incrementar o uso na alimentação animal. Da mesma forma, popularizar e incrementar a utilização dos diferentes produtos na alimentação humana (ex. hambúrguer, xarope, mel, rapadura e os demais produtos destacados na cozinha Sesi-Brasil).

 

f) Problemas do setor produtivo

1. Baixa produtividade dos pomares. Isso é decorrente de fatores técnicos, dentre os quais se destacam: a) senescência e heterogeneidade dos pomares. A maioria dos pomares do Estado tem mais de 30 anos; b) pH do solo e baixa fertilidade; c) baixa utilização de tecnologias pelos produtores; d) alta incidência de pragas e doenças (perdas de 25% a 30%). Proposta: estimular a renovação escalonada dos pomares envelhecidos, por meio da substituição de copa e plantio com novos clones; socialização da informação, pela assistência técnica; adotar estratégias de conscientização e capacitação dos produtores e técnicos, visando o manejo integrado de pragas e doenças.

2. Baixa viabilidade da atividade, sobretudo no mono-cultivo. A baixa rentabilidade e produtividade estão inviabilizando várias unidades produtivas. Uma planilha elaborada pela Embrapa para o cajueiro comum, visando o mercado de castanha, e admitindo um cenário com o preço a R$ 1,00/kg, uma produtividade de 450 kg/ha/ano e despesas com mão de obra, apresentou uma taxa de retorno de 0,6336. Isso significa que, para cada real investido, o produtor perde cerca de 40%. Proposta: incentivar e aprimorar a diversificação da atividade com outras culturas, com ampliação das alternativas de associação com a pecuária (grandes e pequenos animais, inclusive a apicultura); adotar as demais estratégias já citadas visando maior produtividade e a comercialização adequada da castanha.

 

g) Problemas do ambiente institucional e organizacional

1. Atores público e privado da cadeia produtiva sem sentimento de cooperação (não há relação ganha-ganha) e sem representatividade integrada. A Inexistência de uma entidade formal ou informal público/privada que congregue as demandas e ofertas do setor tem causado efeito bastante danoso na cadeia, penalizando, sobretudo, os pequenos e médios produtores. Proposta: criar conselhos permanentes e deliberativos com composição pública e privada nos principais polos de produção, objetivando apoiar os atores da cadeia com relação aos problemas de governança, serviços, assessoria, entre outros.