Produção de mudas

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autor

Antonio Teixeira Cavalcanti Junior - Embrapa Agroindústria Tropical

 

O cajueiro chegou aos nossos tempos propagando-se naturalmente pelos processos de reprodução sexuada, via semente, que contribui para a perpetuação e a diversificação da espécie, e de multiplicação na denominada mergulhia, que ocorre quando árvores frondosas encostam seus galhos no solo e garantem sua perpetuação. Entretanto, por intermédio do homem e observando um conjunto de fatores circunstanciais, tais como ambiente, substrato/solo, clima, umidade e nutrição, o cajueiro pode também propagar-se por processos artificiais como estaquia, garfagem, borbulhia, encostia e técnicas de micropropagação. Portanto, o cajueiro propaga-se por meio sexual e assexual, por processos naturais e artificiais.

 

Propagação Sexual

Os órgãos reprodutores do cajueiro encontram-se nas flores que, na verdade, são folhas modificadas formando os chamados verticilos florais: dois protetores - o cálice e a corola - e de um a dois reprodutores, o androceu (conjunto dos órgãos reprodutores masculino, sempre presente nas flores), e o gineceu (órgão reprodutor feminino, presente apenas nas flores hermafroditas). Portanto, as flores são, geralmente, masculinas ou hermafroditas, podendo também ocorrer os dois tipos na mesma inflorescência. As flores são pequenas, de cor verde-esbranquiçada ou vermelha. A forma da flor pode apresentar variações e anormalidades, entretanto, é considerada normal a flor composta por cinco sépalas, cinco pétalas, um ovário simples e seis a 10 estames, dos quais apenas um é funcional.

O estigma normalmente é mais longo que os estames, mas, ocasionalmente, pode ser do mesmo tamanho ou menor. O ovário completa seu desenvolvimento em seis a oito semanas, após a polinização. É preso à extremidade comumente chamada de pseudofruto.

A semente propriamente dita é constituída pela película e pelo embrião, comumente denominado de amêndoa e seu desenvolvimento pode ser resultante da autopolinização - quando o pólen é originado da mesma flor fecundada - ou da polinização cruzada - quando o pólen é originado de outra flor ou de flores de outra planta da mesma espécie. Entretanto, esses processos de polinização resultam em descendências com grande variabilidade genética e com combinações peculiares que dificilmente se repetem em outros indivíduos

Sendo assim, propagação sexuada do cajueiro apresenta uma extraordinária variabilidade na forma, anatomia e fisiologia dos descendentes, ocorrência de grande utilidade para a biodiversidade e para os estudos do melhoramento da planta, mas com graves consequências para a exploração comercial como fruteira, uma vez que geram pomares irregulares no porte e na precocidade das plantas e frutos com forma, cor, textura, tamanho e sabor diversos.

 

Colheita da semente

A colheita da castanha pode-se iniciar com 60 a 90 dias após a floração. Quando destinada à produção de semente, recomenda-se que sejam colhidas diretamente na planta ou através de coletas das castanhas maduras caídas no solo sob as copas das árvores. Para garantir uma boa qualidade das sementes colhidas sob a copa, é necessária, previamente, uma colheita de limpeza com descarte do produto, e em seguida, recolher apenas as caídas até o segundo dia. A periodicidade da coleta é condicionada às conveniências do produtor.

 

Umidade e Armazenamento das Sementes

As sementes, ao se desprenderem da árvore, ainda contêm alto teor de umidade, que oscilam entre 18% a 22%, com base no peso úmido. Entretanto, este teor depende das condições climáticas, da umidade do solo onde elas caem, da densidade da população das invasoras e do tempo que vai da queda ao recolhimento dos frutos. Elevados teores de umidade da semente de caju podem causar deterioração devido à ação de enzimas ou ao crescimento de fungos e de bactérias, provocando perda da qualidade e do poder de brotação. Em geral, o alto teor de umidade da semente compromete o armazenamento, podendo gerar consequências danosas durante a brotação e o estabelecimento da plântula do cajueiro. Como solução, o mais recomendado é a secagem das sementes em telas de arame ou de polietileno, à sombra, por um período de cinco a 10 dias. Durante esse período, no fim da tarde, devem ser recolhidas, a fim de evitar exposição à alta umidade noturna, tendo-se o cuidado de devolvê-las ao ambiente de secagem na manhã seguinte.

A recomendação para o armazenamento das sementes são locais cobertos, secos e ventilados, que sejam acondicionadas em sacos de pano ou de papel. Para armazenar por período mais longo, de seis a 12 meses, é aconselhável que sejam armazenadas em temperaturas amenas, em torno de 200C e, se possível, em recipientes bem fechados.

 

Substrato

Como em todas as sementes, o substrato deve interferir o mínimo possível nos fatores que afetam a brotação do cajueiro. Em sementeiras, os solos minerais são bons substratos devido à alta capacidade de infiltração, adequada aeração e por permitir um contato mais estreito entre as partículas do solo e a semente. Substratos vegetais decompostos também podem formar excelentes sementeiras por sua capacidade de retenção da umidade.

Embora exista uma preferência de se utilizar a areia como principal componente para o substrato, na brotação das sementes de cajueiro, ensaios visando testar diferentes materiais, mostram que o melhor ambiente é uma composição entre solos e materiais orgânicos.

 

Germinação

A densidade da castanha é um padrão que pode ser tomado como um critério prático para se assegurar uma boa brotação e estabelecimento da plântula. Castanhas de variedades ou clones com maior densidade apresentam maior taxa de brotação, melhor crescimento da parte aérea e maior peso seco total. Castanhas com maior densidade originam mudas mais vigorosas, com rápido crescimento e que florescem e produzem mais nos três primeiros anos consecutivos da produção, sendo que, a partir do quarto ano, esta diferença em relação às castanhas menos densas desaparece.

A profundidade de semeadura depende do sistema de manejo a ser adotado e da textura do solo/substrato, mas em geral, adota-se 3cm e não deve ser superior a 7cm. Em semeaduras muito superficiais, a posição da semente não interfere na emergência da plântula. Porém, à proporção que se vai aprofundando, a semente deve ser posicionada na vertical com o ponto de inserção castanha/pedúnculo voltado para cima.

Em castanhas contendo sementes viáveis, a brotação se processa normalmente, desde que elas estejam em ambiente úmido e com temperaturas de 15oC a 45oC, sendo que a faixa ótima está entre 30oC a 350C. A parte do embrião que primeiro emerge do fruto é a chamada radícula, que se dirige para baixo, e serve de suporte à plântula.

Durante o processo de brotação, a absorção de água é de fundamental importância, tendo em vista que ela acelera as atividades metabólicas.

 

Propagação Vegetativa

Como a propagação via semente não estabelece padrões para seus descendentes, a exploração de pomares gerados por propagação sexuada apresenta problemas, principalmente quanto à falta de uniformidade na forma, tamanho, cor, textura e sabor dos frutos resultando em produtos de pouco aproveitamento industrial e de mercado. Além disso, são altos os custos do manejo em pomares com plantas altas, improdutivas, sem precocidade e com produção sem sincronia com os principais mercados consumidores.

As técnicas de propagação vegetativas no cajueiro, também denominadas de multiplicação, embora mais dispendiosas que as de propagação sexuada e estejam mais sujeitas as condições adversas como pragas, doenças e mudanças climáticas, permitem a transmissão integral do patrimônio genético. Além disso, proporciona outras vantagens como a de uniformizar, em seus descendentes, todas as características desejadas da planta matriz, possibilitando a multiplicação de plantas idênticas em grande escala e acrescentando precocidade de frutificação e redução no porte das plantas.

Para o cajueiro já existem tecnologias de propagação por diversos métodos, tais como estaquia, mergulhia, cultura in vitro e enxertias, mas os processos mais utilizados, por apresentarem melhores condições técnicas e econômicas são as enxertias por garfagens e por borbulhia.

 

Enxertia

Enxertia consiste na introdução de uma parte viva de uma planta, denominada enxerto, em outra denominada de porta-enxerto, para que através da regeneração de tecidos unam-se e formem uma única. Ao fim do processo, o enxerto formará a copa da nova planta e o porta-enxerto, as raízes. A técnica baseia-se na capacidade das partes em contato formarem calo por entrelaçamento de suas células e, em seguida, essas células se diferenciarem formando um novo câmbio, restabelecendo a conexão entre as partes. Nesses casos, embora os caracteres sejam transferidos integralmente para os descendentes, eles sofrem interferências dos porta-enxertos, em função de seu metabolismo, intensificando ou diminuindo a expressão do caráter. Para cajueiro, esse método é utilizado para transferir características desejáveis de fruto e de pedúnculo de uma planta para outra, que possibilite redução do porte para melhorar as condições de colheita da nova planta, antecipar e intensificar a produção e para substituição de copas de plantas improdutivas.

Os métodos de enxertia são numerosos e o cajueiro aceita todos eles. Entretanto, a garfagem em fenda lateral e a borbulhia em placa são os mais utilizados, embora a escolha dependa da habilidade do enxertador, da disponibilidade de propágulos, do recipiente para substrato e das condições climáticas da época da enxertia.

Na garfagem em fenda lateral, o enxerto consiste de um ramo terminal de lançamentos vegetativos da planta que apresente as características desejadas. Na borbulhia, o enxerto é uma gema retirada de ramos florais. Em ambos os processos, utilizam uma plântula portadora das características complementares como porta-enxerto.

 

Estaquia

Estaquia consiste na reconstituição de uma planta a partir de uma parte destacada de outra. Embora teoricamente nesse processo de propagação qualquer parte da planta possa servir como estaquia, no cajueiro apenas estacas juvenis da rebrota de cepas tratadas com ácido indolbutírico (AIB) vêm alcançando maior sucesso. A grande vantagem desse processo é a possibilidade da fixação integral, sem nenhuma interferência de outro indivíduo, de todos os caracteres dos ancestrais para os descendentes. Desta forma, uma única planta de cajueiro que tenha as características desejadas pode fornecer infinitas quantidades de propágulos, os quais se transformarão em plantas geneticamente idênticas ao progenitor.