Cana
Mercados
Autor
Carlos Eduardo Freitas Vian - Consultor autônomo
Em 2005, o Brasil foi responsável por mais de 50% da exportação mundial de álcool, sendo que o custo de obtenção do produto pelo País é mais baixo do que em qualquer outra nação, o que permite a venda pelo menor valor no mercado. A infra-estrutura que viabiliza sua produção e consumo em larga escala foi desenvolvida ao longo das três últimas décadas no País e novos investimentos vêm sendo realizados.
O Brasil é, também, o único país que pode expandir sua produção de álcool, explorando economias de escala, sem que seja necessário reduzir a área alocada para outros produtos agrícolas e/ou alimentares, o que poderia provocar sua escassez e aumentar seus preços. Apesar de o mercado doméstico ser o principal destino da produção de álcool do País, a demanda externa tem aumentado significativamente.
De 2001 a 2005, a quantidade de álcool exportado pelo Brasil cresceu cerca de 652%, de acordo com dados da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica). Informações sobre o potencial do mercado internacional e as perspectivas de programas de implementação do uso de álcool podem auxiliar na tomada de decisão de agentes do setor sucroalcooleiro no que se refere à expansão do mercado de cana para a produção de açúcar ou de álcool.
A Tabela 1 apresenta comparações entre os programas adotados em 2000 e 2006 nos países que têm mostrado interesse na adoção do álcool em sua matriz energética. Nota-se que vários países ampliaram a utilização de álcool, com destaque para Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela e Paraguai. Já o programa de combustíveis renováveis da União Européia (UE) avançou com o biodiesel.
Tabela 1. Evolução dos programas de álcool - 2000 e 2006. |
1 -Flex fuel: veículos que rodam tanto com álcool como gasolina, em qualquer proporção. |
Os países citados na Tabela 1 utilizam o álcool com os objetivos de diminuir a dependência do petróleo, adotar matriz energética mais limpa, equilibrar os preços da matéria-prima de acordo com o custo do álcool e administrar políticas de geração de renda, como gerar energia elétrica e aproveitar subprodutos da produção de etanol (sobretudo em países em desenvolvimento), entre outros. O interesse pela utilização de álcool gera uma demanda potencial, que é contrastada, na Figura 1, com a produção de álcool pelos principais países produtores no ano de 2005.
Figura 1. Demanda potencial do álcool em contraste com a produção dos países em 2005. |
Apesar de os Estados Unidos possuírem uma demanda potencial muito maior do que sua capacidade de abastecimento atual, o país impõe tarifas para a importação de álcool. Entre 2000 e 2006, os EUA foi o país que mais expandiu sua produção de álcool – feita basicamente a partir do milho - ultrapassando a produção brasileira. Como o País permite uma cota de importação de 7%, sem tarifa, para os países integrantes da Iniciativa da Bacia do Caribe (CBI), algumas empresas brasileiras aproveitam estas cotas para exportar para os EUA por meio de triangulação com estes países. No entanto, esta estratégia tende a diminuir conforme os países da América Central e Caribe - que já produzem cana para fabricação de açúcar - aumentem sua produção e exportação para os EUA.
Japão, China e Tailândia têm grande expectativa de aumentar seu consumo de álcool, tendo em vista os programas de implementação do uso do produto como combustível. O Japão é o maior importador potencial (apesar de já ser um dos maiores compradores de álcool industrial brasileiro), devido, basicamente, a: grande demanda por combustíveis renováveis; alto consumo de gasolina; baixa produção de álcool e tarifa de importação praticamente nula.
Já a Índia, apesar de ter sido grande importador de álcool brasileiro em 2004 e 2005, não possui tal potencial importador, pois sua demanda resultou da estiagem que prejudicou a produção agrícola nestes anos. Portanto, o país não é um consumidor regular.
Dos países-membros da União Européia (UE), a Suécia é o mais importante para a economia do Brasil, já que utiliza álcool tanto em altas como em baixas misturas. Com baixa produção, o país foi o 5º maior importador de álcool brasileiro em 2005.
Os países analisados têm anunciado significativos investimentos para produção de álcool. Para isso, muitos deles estão concedendo subsídios à produção com o intuito de que o álcool seja mais competitivo do que a gasolina, devido à menor experiência acumulada e escala de produção ou aos custos mais elevados, decorrentes da matéria-prima utilizada. Para exemplificar, o custo do álcool no Brasil, pioneiro na produção em larga escala, é de aproximadamente US$ 0,17 por litro, enquanto nos EUA o valor é estimado em US$ 0,32. Já na Europa o custo de produção de álcool vale US$ 0,56 o litro, enquanto na Ásia o valor varia entre US$ 0,29 e US$ 0,31.
Apesar da potencialidade dos países analisados, o mercado brasileiro continua sendo o maior consumidor. A competitividade dos carros bicombustíveis e a diferença de preço entre o álcool e a gasolina são fatores responsáveis pelo crescente consumo de álcool no mercado doméstico. Se a média de crescimento do consumo de álcool hidratado de 2002 e 2003 for mantida, o consumo do produto poderá atingir 17,4 bilhões de litros em 2012, número acima da atual produção brasileira de álcool.
O Brasil não aumenta sua capacidade de exportação devido a insuficiência de sua produção para abastecer o mercado internacional (Tabela 2). Portanto, para se consolidar como exportador mundial o País deve aumentar sua produção, a fim de gerar excedentes para exportação. Assim, os consumidores não correrão risco de desabastecimento e não serão prejudicados pelo custo do álcool em relação ao açúcar.
Tabela 2. Quantidade de álcool, preço médio e total exportado, em US$, entre 1999 e junho de 2009. |
Fonte: Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2009). |
Fonte consultada:
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet - Aliceweb. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 10 jul. 2009.
CABRINI, M. de F.; MARJOTTA-MAISTRO, M. C. Mercado internacional de álcool: os recentes programas de uso do produto como combustível. Agroanalysis, v. 27, n.2, p. 36, fev. 2007.