Cana
Etanol
Autor
Carlos Eduardo Freitas Vian - Consultor autônomo
A tecnologia para produção do etanol vem sendo desenvolvida há três décadas. O Brasil produziu 22,5 bilhões de litros de etanol na safra 2007/2008, o que corresponde a, aproximadamente, 46% da produção mundial. O País possui 357 usinas sucroalcooleiras, sendo que mais 50 estão em fase de instalação.
A produtividade varia de seis a oito mil litros de etanol por hectare. O custo de obtenção do etanol a partir da cana-de-açúcar é o mais baixo do mundo. Isto ocorre porque as perdas são mínimas, a eficiência de conversão dos açúcares em etanol tem aumentado muito e o valor energético obtido também é superior a todas as outras fontes. A Tabela 1 apresenta um balanço de energia obtida com a produção de etanol a partir de determinadas matérias-primas.
Tabela 1. Balanço de energia na produção de etanol com diversas matérias-primas. |
Fonte: Macedo (2007). |
Estimativas recentes indicam que os mercados potenciais - tanto interno como externo - vão necessitar de cerca de 35,7 bilhões de litros de etanol - sendo sete bilhões para a exportação - em 2012/2013. Uma questão que se coloca no momento é se há possibilidades de se obter grandes avanços tecnológicos na produção e nos usos do etanol nos próximos anos ou se o Brasil já atingiu seu máximo estágio de desenvolvimento na questão. Sabe-se, hoje, que o País tem capacidade para aperfeiçoar as tecnologias em uso e atingir grandes ganhos na produção de etanol, com o advento de algumas tecnologias em desenvolvimento, sem a necessidade de expansão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar.
Bioetanol
Está sendo desenvolvida, no Brasil, uma tecnologia que permite a obtenção de etanol a partir da celulose presente no bagaço da cana-de-açúcar (excedente da produção de energia para a usina) e na palha descartada na colheita. Apenas um terço da cana – o caldo – é aproveitado para a produção de açúcar e etanol. O restante constitui-se do bagaço e da palha. Com a tecnologia da hidrólise ácida enzimática, aplicada à celulose desta biomassa, os ganhos produtivos de etanol podem chegar a 50%, sem a necessidade de aumentar a área plantada com cana-de-açúcar.
Esta tecnologia vem sendo a aposta do setor sucroalcooleiro para o aumento da produtividade e deverá estar disponível no mercado nos próximos anos, já que a hidrólise não é, ainda, comercialmente viável. A palha, uma das biomassas capazes de gerar mais etanol, é obtida pela colheita da cana crua. Com isso, o bioetanol despertará a necessidade de se desenvolver uma tecnologia para a colheita da cana crua acessível à maioria dos produtores. Assim, o bioetanol é agente de uma série de novas tecnologias em desenvolvimento. Atualmente, Estados Unidos e Europa estão na liderança do desenvolvimento desta tecnologia.
Biodiesel
O Brasil desenvolve pesquisas sobre o biodiesel desde 1975. A capacidade instalada atual é de 2,83 bilhões de litros (abril 2008), tendo como matérias-primas principais a soja e a gordura animal. Estão em processo de autorização de funcionamento outras 42 usinas que, ao entrarem em operação, elevarão a capacidade de produção para cerca de 3,9 bilhões de litros ao ano.
Entretanto, há ainda um longo caminho a se percorrer no desenvolvimento dessa tecnologia, já que quase todo o biodiesel produzido no Brasil é feito a partir do metanol, produto considerado não renovável por ser feito do gás natural ou extraído do petróleo. Isto ocorre porque a tecnologia disponível faz com que o metanol seja muito mais eficiente na produção de biodiesel do que o etanol, o que a torna muito mais barata.
É estratégico para o Brasil adotar a tecnologia do biodiesel com base no etanol, que pode ser originado da soja e, sobretudo, da cana, produtos nacionais e abundantes no País. Por isso, há um grande incentivo institucional para o desenvolvimento desta tecnologia. Para o pesquisador da Embrapa Soja e engenheiro agrônomo Décio Luiz Gazzoni, o Brasil conseguirá avançar no processo de obtenção do biodiesel com etanol com investimentos públicos e privados, dentro de dois anos.
Outras descobertas
A Universidade Federal do Ceará (UFC) também desenvolve uma nova tecnologia para aumentar a produção de etanol. A pesquisa utiliza organismos obtidos a partir de carapaças de crustáceos, que atuam no processo de fermentação do caldo de cana (por meio da imobilização de leveduras), aumentando o seu rendimento em 5%. O projeto da UFC inovou, ainda, ao usar carapaças de camarão, lagosta e caranguejo, consideradas fontes de poluição ambiental.
A montadora de automóveis e motocicletas Honda Motor e um grupo de pesquisadores japoneses criaram uma tecnologia capaz de produzir etanol através de plantas não comestíveis. A fabricante e o Instituto de Pesquisas sobre Tecnologia Inovadora para a Terra (Rite, na sigla em inglês), criaram um modo de fazer combustível com folhas e caules de plantas. Atualmente, o bioetanol só é produzido com plantas comestíveis. Segundo a Honda R&D, a tecnologia poderá estar pronta para uso nos próximos dois ou três anos.
Fonte consultada:
MACEDO, I. C. Situação atual e perspectivas do etanol. Estudos Avançados, São Paulo, v. 21, n. 59, jan./abr. p.157-165, 2007.