Análise de solo

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autores

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

Antonio Dias Santiago - Embrapa Tabuleiros Costeiros

 

A análise do solo, principal ferramenta para indicar quanto o solo pode fornecer de determinado nutriente, é feita por meio da coleta de amostras de terra que representarão extensas áreas. Portanto, é indispensável que a amostragem seja feita com muito critério (Figura 1). A melhor análise feita no melhor laboratório não corrigirá uma amostragem mal feita. 

Figura 1. Fluxograma das atividades que fazem parte da análise de solo


A área total deverá ser subdividida em talhões homogêneos quanto à cor do solo, textura, vegetação anterior e topografia. No caso da cana-de-açúcar, deve-se dividir os talhões para a amostragem levando, também, em consideração o corte e a variedade plantada. Os talhões não devem ser maiores que 20 hectares.

Deve-se caminhar em zigue-zague (Figura 2) e coletar sub-amostras contendo mais ou menos a mesma quantia de terra nas profundidades de zero a 20 e/ou de 20 a 40 centímetros ou de zero a 25 e/ou de 25 a 50 centímetros, dependendo da profundidade do preparo do solo que será realizado posteriormente. É necessário recolher 20 sub-amostras que irão compor uma única amostra de cada produtividade, contendo cerca de 300 gramas cada. Pode-se utilizar diversos equipamentos para a retirada de amostras de solo (Figura 3), sendo muito importante a limpeza desses utensílios após cada amostragem.

Figura 2. Caminhamento tipo zigue-zague para amostragem de solo.
Fonte: Fukuda e Otsubo (2003). 


As amostras devem ser identificadas e etiquetadas, contendo todas as informações sobre o local, e, posteriormente, enviadas para um laboratório credenciado. As amostras de solo serão, então, analisadas por métodos químicos que utilizam soluções ou resinas extratoras. O importante é que a solução extratora deve simular o que as raízes da planta fariam. Por isso, antes do método ser escolhido como método rotineiro num laboratório, é feito um trabalho de calibração da análise do solo pelos pesquisadores, que significa correlacionar o teor do elemento que a análise indicou para aquele determinado solo e a produtividade obtida para a cana naquele mesmo solo ou num solo com o mesmo teor do elemento. 

Curvas de calibração são trabalhos de pesquisa que resultam na elaboração de tabelas de recomendação de adubação, como a realizada pelo Boletim 100 do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), relatada em seu Boletim 100. A análise do solo e as curvas de calibração fornecem as quantidades de nutrientes presentes na amostra, de modo que pode-se saber se o solo tem baixo, médio ou alto teor de determinado elemento.

A simples presença de determinado elemento no solo nem sempre indica sua disponibilidade para as plantas. Por isso, é importante verificar o método utilizado na análise química. Teores totais muitas vezes não indicam se o elemento será ou não fornecido para a cana. O elemento pode estar presente no solo, mas estar fortemente ligado às cargas elétricas ou pode estar dentro de cristais que compõem as partículas do solo ou, ainda, estar presente em formas químicas que as raízes não conseguem absorver.

Figura 3. Utensílios empregados na amostragem de terra para análise química.

A = trado holandês; B = trado de rosca; C = trado de caneco;
D = martelo de borracha; E = trado calador; F = pá reta; G = enxadão;
H = balde de plástico; I = saco plástico.

Fonte: Fukuda e Otsubo (2003)


Portanto, é preciso saber quanto o solo pode fornecer de determinado elemento e não apenas a quantidade que ele apresenta. A quantidade disponível do nutriente é representada pelo elemento em solução, adsorvido ou fracamente ligado às partículas do solo. Para determinar a disponibilidade de nutrientes no solo são utilizados extratores, que são soluções químicas que, quando em contato com a amostra de solo enviada ao laboratório, reagem e tornam solúveis quantidades do elemento, de forma a simular o que a cana extrairia quando plantada. Exemplo: a solução química de KCl 1N é usada como extratora de cálcio, magnésio e alumínio trocáveis. A solução de Mehlich (HCl 0,05N + H2SO4 0,025N é usada por vários laboratórios do Brasil para extrair fósforo e potássio trocáveis.

O IAC recomenda para o caso do fósforo, a extração por resina trocadora de íons, porque a pesquisa demonstrou que havia maior correlação entre as quantidades de fósforo extraídas pela resina e o que as culturas em geral extraíam nos solos tropicais. Depois de extraídos, os elementos deverão ser determinados. Cada um deles tem seu método químico, como fósforo por colorimetria, potássio por fotometria de chama. A fase mais crítica, entretanto, é a extração.

Diferentes extratores de um mesmo elemento dão resultados diferentes e pouco comparáveis entre si. Por isso, é sempre importante saber o extrator químico ao qual o dado da análise se refere e os teores médios, altos e deficientes, relativos a esse método. Ainda não se conhece um método adequado para a análise do nitrogênio no solo. Para a recomendação da adubação nitrogenada, utiliza-se os critérios de expectativa de produtividade, extração do elemento pela cultura e teor de matéria orgânica do solo.

A Tabela 1 apresenta os intervalos médios para interpretação de análises do solo.

  Tabela 1. Intervalos médios para interpretação de análises de solo.
 

* Fosfóro = Resina
**  Cálcio e Magnésio = KCL  
*** Potássio = Mehlich  
****  Zinco e Cobre = DTPA  
***** Boro = água quente
(1) Capacidade de troca catiônica.
(2) Saturação por bases

 
Fonte consultada:
 
FUKUDA, C.; OTSUBO, A. A. Cultivo da mandioca na região centro sul do Brasil. In: EMBRAPA. Sistemas de produção. Brasília, DF, 2003. (Embrapa Mandioca e Fruticultura. Sistemas de Produção, 7).