Diagnose foliar

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autor

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

 

A diagnose foliar baseia-se na determinação do teor dos nutrientes em amostras de folhas diagnósticos. Nesta técnica, ao analisar quimicamente os elementos contidos em uma folha ou em parte dela, em determinada idade, deve-se obter um diagnóstico do estado nutricional dessa planta com a finalidade de determinar a adubação necessária.

Na diagnose foliar é importante deteminar o nível crítico de cada elemento, que é definido como a concentração do nutriente no tecido vegetal, acima do qual nenhum aumento significativo na produção é esperado. Ao analisar os teores de nutrientes nas folhas diagnósticos, deve-se comparar com os teores obtidos em um banco de dados, separando-as em classes deficientes, suficientes e tóxicas. Porém, umas das dificuldades da técnica é, justamente, o fato de que a amostra pode ser comparável aos dados levantados para compor o banco de dados. Ou seja, a amostra deveria ter sido retirada na mesma época, deveria ser da mesma variedade, as condições de crescimento deveriam ser similares  etc. Para contornar esses problemas, foi desenvolvido o conceito de faixas de suficiência, em que não apenas um determinado ponto indicaria o teor que determinaria a ótima produtividade, mas sim uma determinada faixa.

A Tabela 1 apresenta as faixas de suficiência dos macro e microelementos considerados adequados para a cana-de-açúcar.

Tabela 1. Faixas de teores adequados (faixa de suficiência) de macro e
micronutrientes para a cana-de-açúcar.

(1) Fonte: Malavolta et al. (1997).
(2) Fonte: Raij et al. (1996).
(3) Fonte: Anderson e Bowen (1992).
* Não analisado pelo autor .

 

No caso da cana-de-açúcar, existem algumas dificuldades para o uso dessa técnica, como:

  • a concentração dos nutrientes varia bastante em função da época de amostragem e do estádio de crescimento da planta;
  • a época de coleta das folhas é de difícil determinação. Assim, a uniformidade com os dados de outras condições que compõe as tabelas de níveis de suficiência é dificultada. A amostragem deve ser feita antes de, pelo menos, três semanas de intenso crescimento (sem estresse);
  • no caso do nitrogênio, os níveis de suficiência são diferentes e de acordo com a época, idade e região. Para alguns nutrientes, os limites de teores encontrados nas plantas com pequena deficiência, porém que poderia limitar a produtividade, não são muito distantes dos teores de uma planta bem nutrida, o que torna a técnica de difícil utilização;
  • os níveis de suficiência podem variar de acordo com a cultivar;
  • há muita dificuldade em se estabelecer o balanço adequado entre os nutrientes na planta;
  • os resultados da diagnose foliar raramente conseguem corrigir os problemas durante a mesma safra. Uma única folha retirada precocemente, para que se tenha tempo de corrigir os prováveis problemas, deve representar o estado nutricional de todo o do ciclo.

 

A folha diagnóstico – procedimentos de coleta

Para a cana, a folha diagnóstico é a primeira folha da haste ou barbela da bainha conhecida como folha TVD  (Top Visible Dewlap), ou folha +1 (Kuijper) (Figura 1). Existe um erro de interpretação, no Brasil, em relação à folha diagnóstico. Embora em todos os países a folha diagnóstico sempre foi a TVD, a contagem a partir do cartucho levou a uma interpretação errônea, pois a folha TVD é a terceira folha a partir do cartucho, mas não é a +3 e sim, exatamente a folha +1 segundo Kuijper.

Figura 1. Esquema de numeração de folhas pelo sistema de Kuijper.
Fonte: Dillewijn (1952), adaptado pelo autor.

 

O procedimento de coleta deve seguir os seguintes passos:

1 - Coletar, aproximadamente, 40 folhas ao acaso dentro do talhão ou propriedade;

2 - Se a área a ser amostrada apresenta diferenças visuais de desenvolvimento, coletar amostras separadas mesmo que a área tenha sido adubada uniformemente;

3 - Dividir a folha em três partes, cortando a parte central em aproximadamente 30 centímetros;

4 - Retirar a nervura central, destacando-a manualmente;

5 - Secar a amostra em estufa ou ao ar livre;

6 - Identificar a amostra.

No laboratório, as amostras serão lavadas com água destilada para retirar as partículas do solo e de poeira e serão secas em estufa, moídas e enviadas para análise.

 

Fontes consultadas:

ANDERSON, D. L.; BOWEN, J. E. Nutrição da cana-de-açúcar. Piracicaba: Potafós, 1992. 40 p.

DILLEWIJN, C. van. Botany of sugarcane. Walthham: Chronica Botanica, 1952. 371 p. 

MALAVOLTA, E. et al. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2. ed. Piracicaba: Potafos, 1997. 319 p.

RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed.  Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100).