Cana
Diagnose foliar
Autor
Raffaella Rossetto - Consultora autônoma
A diagnose foliar baseia-se na determinação do teor dos nutrientes em amostras de folhas diagnósticos. Nesta técnica, ao analisar quimicamente os elementos contidos em uma folha ou em parte dela, em determinada idade, deve-se obter um diagnóstico do estado nutricional dessa planta com a finalidade de determinar a adubação necessária.
Na diagnose foliar é importante deteminar o nível crítico de cada elemento, que é definido como a concentração do nutriente no tecido vegetal, acima do qual nenhum aumento significativo na produção é esperado. Ao analisar os teores de nutrientes nas folhas diagnósticos, deve-se comparar com os teores obtidos em um banco de dados, separando-as em classes deficientes, suficientes e tóxicas. Porém, umas das dificuldades da técnica é, justamente, o fato de que a amostra pode ser comparável aos dados levantados para compor o banco de dados. Ou seja, a amostra deveria ter sido retirada na mesma época, deveria ser da mesma variedade, as condições de crescimento deveriam ser similares etc. Para contornar esses problemas, foi desenvolvido o conceito de faixas de suficiência, em que não apenas um determinado ponto indicaria o teor que determinaria a ótima produtividade, mas sim uma determinada faixa.
A Tabela 1 apresenta as faixas de suficiência dos macro e microelementos considerados adequados para a cana-de-açúcar.
Tabela 1. Faixas de teores adequados (faixa de suficiência) de macro e |
(1) Fonte: Malavolta et al. (1997). (2) Fonte: Raij et al. (1996). (3) Fonte: Anderson e Bowen (1992). * Não analisado pelo autor . |
No caso da cana-de-açúcar, existem algumas dificuldades para o uso dessa técnica, como:
- a concentração dos nutrientes varia bastante em função da época de amostragem e do estádio de crescimento da planta;
- a época de coleta das folhas é de difícil determinação. Assim, a uniformidade com os dados de outras condições que compõe as tabelas de níveis de suficiência é dificultada. A amostragem deve ser feita antes de, pelo menos, três semanas de intenso crescimento (sem estresse);
- no caso do nitrogênio, os níveis de suficiência são diferentes e de acordo com a época, idade e região. Para alguns nutrientes, os limites de teores encontrados nas plantas com pequena deficiência, porém que poderia limitar a produtividade, não são muito distantes dos teores de uma planta bem nutrida, o que torna a técnica de difícil utilização;
- os níveis de suficiência podem variar de acordo com a cultivar;
- há muita dificuldade em se estabelecer o balanço adequado entre os nutrientes na planta;
- os resultados da diagnose foliar raramente conseguem corrigir os problemas durante a mesma safra. Uma única folha retirada precocemente, para que se tenha tempo de corrigir os prováveis problemas, deve representar o estado nutricional de todo o do ciclo.
A folha diagnóstico – procedimentos de coleta
Para a cana, a folha diagnóstico é a primeira folha da haste ou barbela da bainha conhecida como folha TVD (Top Visible Dewlap), ou folha +1 (Kuijper) (Figura 1). Existe um erro de interpretação, no Brasil, em relação à folha diagnóstico. Embora em todos os países a folha diagnóstico sempre foi a TVD, a contagem a partir do cartucho levou a uma interpretação errônea, pois a folha TVD é a terceira folha a partir do cartucho, mas não é a +3 e sim, exatamente a folha +1 segundo Kuijper.
Figura 1. Esquema de numeração de folhas pelo sistema de Kuijper. Fonte: Dillewijn (1952), adaptado pelo autor. |
O procedimento de coleta deve seguir os seguintes passos:
1 - Coletar, aproximadamente, 40 folhas ao acaso dentro do talhão ou propriedade;
2 - Se a área a ser amostrada apresenta diferenças visuais de desenvolvimento, coletar amostras separadas mesmo que a área tenha sido adubada uniformemente;
3 - Dividir a folha em três partes, cortando a parte central em aproximadamente 30 centímetros;
4 - Retirar a nervura central, destacando-a manualmente;
5 - Secar a amostra em estufa ou ao ar livre;
6 - Identificar a amostra.
No laboratório, as amostras serão lavadas com água destilada para retirar as partículas do solo e de poeira e serão secas em estufa, moídas e enviadas para análise.
Fontes consultadas:
ANDERSON, D. L.; BOWEN, J. E. Nutrição da cana-de-açúcar. Piracicaba: Potafós, 1992. 40 p.
DILLEWIJN, C. van. Botany of sugarcane. Walthham: Chronica Botanica, 1952. 371 p.
MALAVOLTA, E. et al. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2. ed. Piracicaba: Potafos, 1997. 319 p.
RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100).