Diagnose visual

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autores

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

Antonio Dias Santiago - Embrapa Tabuleiros Costeiros

 

A diagnose visual é uma importante ferramenta para avaliar os sintomas de deficiência ou toxidez de um elemento pela aparência da planta, sobretudo, pela coloração de suas folhas. Conhecer a área onde se pretende cultivar e observar sintomas de deficiência ou toxidez podem fornecer grandes indicativos para correções da adubação e, principalmente, para a adubação do próximo ciclo da cana.

A identificação dos sintomas de deficiência e excesso requer grande prática do técnico, já que os sintomas podem ser confundidos com doenças, ataque de pragas ou influência do clima. No caso da cana, uma vez detectada a deficiência por apresentação de sintomas, a correção nem sempre é possível. A cana pode estar muito alta, dificultando a entrada do trator para uma nova adubação. Outra operação no canavial significa também um gasto muito alto. Portanto, a diagnose visual tem maior importância para a adubação do ano subseqüente. Sintomas de deficiências e toxidez ocorrem de forma homogênea no talhão. Em geral, ocorrem em todas as plantas de cana que estão naquele solo ou naquela faixa de topografia do solo.

De acordo com a fisiologia vegetal e a mobilidade dos nutrientes dentro da planta, deve-se observar se os sintomas ocorrem nas folhas velhas ou novas, de forma que é possível elaborar chaves de diagnose visual, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Chave para identificação de deficiências
e toxidez.

 

Descrição dos sintomas de deficiência 

Nitrogênio (N)

A deficiência de nitrogênio causa efeitos generalizados sobre toda a planta, com definhamento das folhas mais velhas. As lâminas foliares ficam uniformemente verde-claras a amarelas e os colmos ficam mais curtos e finos. Há atraso no desenvolvimento vegetativo e as pontas e margens das folhas mais velhas tornam-se necróticas (secam) prematuramente.

Foto: IPNI Brasil.
Figura  1. Deficiência de nitrogênio.

 
Fósforo (P)

Com a falta de fósforo, as folhas velhas apresentam-se com tons avermelhados nas pontas e margens das folhas expostas ao sol. Ocorre, ainda, uma diminuição no seu tamanho. Os colmos ficam menores e finos e há diminuição do perfilhamento da planta (Figura 2).

Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 2. Deficiência severa de fósforo
mostrando folhas estreitas e arroxeadas.


Potássio (K)

Os sintomas da deficiência têm início nas folhas velhas, que apresentam-se amarelo-alaranjadas, sendo que podem se tornar totalmente marrons. Essa clorose evolui para necrose, deixando as folhas com aspecto de queimadas. Ocorre, também, afinamento dos colmos e a nervura principal apresenta manchas de coloração avermelhada. Um sintoma de deficiência de potássio que ocorre no final do ciclo é o ponteiro em forma de leque, conhecido como “topo de penca” (Figura 3).

Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 3. Deficiência de potássio em final de ciclo
apresentando colmos finos e topo em forma de leque.

 

Cálcio (Ca)

Os sintomas de carência de cálcio ocorrem em folhas novas, que ficam esbranquiçadas e enrolam para baixo, formando um gancho (Figura 4). As folhas mais velhas podem ficar com aspecto enferrujado. Quando a deficiência fica mais aguda, nota-se um afinamento e amolecimento dos colmos.

Foto: IPNI Brasil
Figura 4. Deficiência de cálcio.
 
Magnésio (Mg)
Os sintomas aparecem nas folhas velhas na forma de pontuações, começando nas pontas e ao longo das margens. Surgem lesões necróticas vermelhas com aparência de ferrugem. A parte interna da casca do colmo apresenta coloração amarronzada (Figura 5).
 
Foto: Hasime Tokeshi.
Figura 5. Deficiência de magnésio
nas folhas.
 


Enxofre (S)
O sintoma de deficiência de enxofre é evidenciado nas folhas novas, que apesentam clorose generalizada, diminuição do tamanho das folhas e colmos muito finos (Figura 6).

Foto: IPNI Brasil.
 
Figura 6. Deficiência de enxofre.
 
Boro (B)
A deficiência de boro causa uma deformação nas folhas novas, que se apresentam retorcidas chegando a formar “nó” entre as folhas. Surgem lesões translúcidas (sacos de água) entre as nervuras e plantas novas com muitos perfilhos. As folhas tendem a ficar quebradiças e as folhas do cartucho podem ficar cloróticas e, posteriormente, necróticas, semelhantes aos sintomas da doença conhecida como Pokah boeng (Figura 7).
 
Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 7. Deficiência de boro.


Cobre (Cu)
A deficiência de cobre leva à ocorrência de clorose em folhas novas na forma de “ilhas” ou manchas verde escuras. As touceiras não conseguem se sustentar (touceira amassada) e os tecidos foliares perdem turgidez, fazendo com que as folhas fiquem caídas (sintoma de topo caído) (Figura 8).

Foto: IPNI Brasil.
Figura 8. Deficiência de cobre.


Manganês (Mn)
A falta de manganês faz com que as folhas novas apresentem clorose entre as nervuras, da ponta até o meio da folha, que evoluem para necroses. Com o vento, ocorre o desfiamento das folhas (Figura 9).

Foto: Hasime Tokeshi.
Figura 9. Deficiência de
mangânes nas folhas.
 


Zinco (Zn)

Com a deficiência de zinco, surgem estrias cloróticas verde-claras nas folhas, formando uma faixa larga, sendo que a região bem próxima da nervura central e das bordas permanece com uma faixa. As folhas ficam curtas, assimétricas e largas na parte média. O perfilhamento é reduzido e os internódios, mais curtos. Os colmos ficam mais finos e podem perder a turgidez (sintoma de colmos moles) (Figura 10).
Foto: IPNI Brasil.
Figura 10. Deficiência de zinco nas folhas.
 
 
Molibdênio (Mo)
A deficiência de molibdênio causa pequenas estrias cloróticas longitudinais, começando no terço apical da folha. As folhas mais velhas secam, prematuramente, do meio para as pontas.
 
Ferro
A falta de ferro pode causar clorose internerval nas folhas mais novas e, conforme a deficiência se acentua, toda a planta vai ficando clorótica-esbranquiçada (Figura 11). 
Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 11. Sintomas de deficiência de ferro.