Recuperação e manutenção da fertilidade

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autores

Rogério Remo Alfonsi - In memoriam

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

 

Diversas práticas agrícolas concorrem para a recuperação e manutenção da fertilidade dos solos. Algumas destas práticas são abordadas, abaixo, como: avaliação do estoque de nutrientes; relação entre cálcio e sistema radicular; ação do calcário e do gesso e sua relação com a produtividade; quantidade de nutrientes extraída pela cana e uso da palha como fertilizante. 

Avaliação do estoque de nutrientes

Para avaliação do estoque de nutrientes são utilizadas técnicas de diagnoses visual e foliar, assim como análises do solo. Para complementação, pode-se fazer análises do caldo da cana. Para a diagnose visual, verifica-se sintomas de deficiências nas folhas da cultura. Em caso de deficiência de nitrogênio, haverá amarelecimento generalizado nas folhas, pouco perfilhamento e presença de colmos finos. Se houver deficiência de fósforo, haverá redução e atraso no desenvolvimento do sistema radicular. Tais deficiências podem ser mascaradas com a época de observação ou com a presença de determinadas doenças. A diagnose foliar é avaliada por meio das análises das folhas, usando as faixas de teores de nutrientes indicadas.

A amostragem dos solos para a avaliação da fertilidade deve ser feita de três a cinco meses antes do plantio, retirando-se de 12 a 15 amostras simples para uma área de 12 a 15 hectares. Recomenda-se amostrar nas duas profundidades: entre 0 e 25 centímetros e entre 26 e 50 centímetros.

 

Cálcio e sistema radicular

Dentre as limitações dos solos na região tropical úmida, a baixa fertilidade em profundidade merece destaque por refletir um menor volume explorado pelo sistema radicular e, em conseqüência, menor produtividade. No Brasil, a profundidade do sistema radicular da cana pode atingir os 60 centímetros, contra 160 centímetros em outros países. Portanto, um dos objetivos em um programa de manejo da fertilidade é favorecer o maior volume de exploração radicular.

Alguns trabalhos realizados no País mostram que, após a calagem, há uma redistribuição do cálcio até 110 centímetros de profundidade. 

 

Ação do calcário e do gesso e a relação com a produtividade

O uso do corretivo é fundamental para a recuperação dos solos, assim como para o aumento da produtividade, o que pode ser observado por meio do grande número de resultados experimentais positivos, sobretudo quando associado ao gesso.

A aplicação do calcário como corretivo do solo é indicada em área total e, se possível, com incorporação, embora a aplicação no sulco também tenha apresentado efeito positivo. No caso de plantio direto, pode-se optar pela aplicação de dois terços em área total e um terço dentro do sulco de plantio. Tem-se discutido a questão da relação cálcio (Ca)/magnésio (Mg), sobretudo quando se usa o gesso. Trabalhos mostraram que produtividades elevadas foram obtidas com relações Ca/Mg variando de 3,9 a 8,9, o que comprova que essa relação não necessita ser menor.  

Após a recuperação química e ao longo dos cortes, os teores de cálcio e magnésio tendem a cair. Portanto, há a necessidade de se aplicar novamente os corretivos no meio do ciclo da cultura. Alguns experimentos mostram que, aplicando calcário, gesso e fósforo em soqueiras, há aumento da produtividade. Desta forma, um talhão que teria que ser reformado passa a dar mais cortes. É importante ressaltar que a associação do calcário com o fósforo é favorável ao aumento da produtividade e o mesmo não ocorre com o gesso,  já que este não alterar o pH do solo.

As recomendações quanto ao uso desses corretivos em soqueiras será em função das análises de solos da camada superficial, indicado para o calcário, e da subsuperfície, indicado para o gesso.

 

Nutrientes extraídos pela cana

A cultura da cana-de-açúcar é grande extratora de nutrientes do solo. Para a formação de uma tonelada de colmo, a literatura tem indicado variações de nutrientes (Tabela 1).

Tabela 1. Extração e exportação de nutrientes para a produção de 100 toneladas de colmos.
Fonte: Orlando Filho (1983).
 
Tabela 2. Extração e exportação de micronutrientes  para a produção de 100 t de colmos.
Fonte: Vitti et al. (2005).

A quantidade de nutrientes a ser suprida pela cultura pode ser dada pela expressão:

     Quantidade de nutrientes = (necessidade da planta - reserva do solo). f

O fator f, de aproveitamento do fertilizante pelas raízes da planta, visa corrigir as perdas sofridas nos processos que ocorrem entre a aplicação do fertilizante e a absorção, entre as quais as perdas por erosão, volatilização, lixiviação, fixação e queima da palhada.

 

Uso da palha como fonte de nutrientes para a cana

Com as normas e leis contra a queima da cana-de-açúcar, a palha sobre a superfície tem gerado alterações nas propriedades fisica, química e biológica do solo.  O corte da cana crua coloca na superfície do solo de 12 a 20 toneladas de palha seca por corte, por hectare. É importante lembrar que a quantidade de nutrientes nessa palha retorna ao solo após a decomposição da cobertura morta, sendo disponibilizada, consequentemente, para o próximo ciclo da cana, reduzindo a adubação mineral da soca no ano seguinte.

 

Fontes consultadas:

ORLANDO FILHO, J. (Coord.). Nutrição e adubação da cana-de-açúcar no Brasil. Piracicaba: IAA/Planalsucar, 1983. 369 p. (Planalsucar, 2).

VITTI, G. C.; QUEIROZ, F. E. C.; OTTO, R.; QUINTINO, T. A. Nutrição e adubação da cana-de-açúcar. [Piracicaba: ESALQ/USP - Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, 2005]. 78 p. Palestra apresentada à equipe técnica da STOLLER, Bebedouro, SP. 2005.