Pragas nas raízes

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autores

Antonio Dias Santiago - Embrapa Tabuleiros Costeiros

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

 

Cigarrinha-da-raiz - Mahanarva fimbriolata

É encontrada, praticamente, em todas as regiões canavieiras do Brasil. No Estado de São Paulo tornou-se uma praga relevante, com o aumento das áreas de colheita de cana crua. Nesse sistema de colheita, o acúmulo de palha contribui para manter a umidade do solo, o que favorece o aumento da população desse inseto. A queima contribui com a destruição de parte dos ovos depositados no solo e na palhada. O macho é de coloração vermelha com algumas faixas pretas longitudinais no dorso. Já a fêmea apresenta as mesmas características, mas é marrom-escura (Figura 1).

Foto: Heraldo Negri.
Figura 1. Macho e fêmea de Mahanarva fimbriolata.


A cigarrinha-da-raiz põe ovos nas bainhas secas ou sobre o solo, próximo ao colmo da planta (98% dos ovos na linha). As formas jovens fixam-se nas raízes, onde sugam a seiva. 

A infestação da cigarrinha-da-raiz é identificada pela presença de uma espuma esbranquiçada semelhante à espuma de sabão, na base da touceira (Figura 2). Os adultos vivem na parte aérea da planta, sugando os colmos. A cigarrinha-da-raiz ocorre, sobretudo, em período úmido, sendo que a falta de umidade prejudica a formação de espuma, o que leva à morte das ninfas. A praga vive, também, em outras gramíneas, principalmente, em capins e gramas, e age da mesma forma que nos canaviais.

Foto: Heraldo Negri.
Figura 2. Espuma das ninfas da cigarrinha-da-raiz.


Os prejuízos causados pela cigarrinha-da-raiz são:

  • extração de grande quantidade de água e nutrientes das raízes pelas ninfas;
  • redução do teor de açúcar nos colmos;
  • aumento do teor de fibras;
  • aumento dos colmos mortos, o que diminui a capacidade de moagem;
  • aumento do teor de contaminantes, o que dificulta a recuperação do açúcar e inibe a fermentação. 

O controle dessa praga pode ser feito das seguintes formas:

Controle biológico

A cigarrinha-da-raiz pode ser controlada pela aplicação de Metarhizium anisopliae, também chamado de fungo-verde, na dose mínima de 200 gramas por hectare de fungo puro. O produto atinge ninfas e adultos. As aplicações devem ser feita com o uso de 250 litros de água por hectare (Figura 3). Algumas condições são indispensáveis para o sucesso desse controle microbiano, utilizando esse fungo, como:

  • umidade elevada seguida de veranico;                       
  • temperatura entre 25°C e 27°C;
  • qualidade do fungo;
  • aplicação à tarde ou à noite em locais de alta infestação.

Controle químico

A cigarrinha-da-raiz pode ser controlada por agentes químicos:  

  • para as ninfas, recomenda-se o uso dos inseticidas thiamethoxam ou carbofuran granulados, aplicados de um dos lados da touceira (Figura 3).
  • para adultos, recomenda-se a aplicação de um inseticida seletivo que não atinja inimigos naturais da cigarrinha: carbaril, triclorfon, malation, entre outros (Figura 3).
 
Figura 3. Ciclo biológico de Mahanarva fimbriolata em cana-de-açúcar e épocas de controle.
Fonte: Gallo et al. (2002).


Controle cultural

Recomenda-se que o controle cultural seja executado observando:

 - A retirada total da palha deixa o solo exposto e cria um ambiente desfavorável aos ovos que entram em diapausa (parada prolongada do desenvolvimento).

 - O plantio direto deve ser evitado em áreas com histórico de infestações.

 - A destruição mecânica da palhada (Figuras 4 e 5), durante o preparo do solo, é uma forma eficaz para reduzir o número de ovos.

 - O uso de variedades resistentes é essencial em locais favoráveis à praga. A variedade SP79-1011 é menos suscetível que RB72454, SP81-3250, SP80-1842, entre outras.

Foto: Paulo Botelho. Foto: Paulo Botelho.
Figura 4. Destruição mecânica de restos culturais. Figura 5. Enleiramento da palhada.

 

Percevejo-castanho - Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae

Tanto os jovens quanto os adultos têm hábito subterrâneo e sugam a seiva das raízes. A forma jovem do percevejo-castanho é de coloração branca e a adulta, de coloração marrom. As duas espécies são fáceis de ser distinguidas: o Scaptocoris castanea é marrom-escuro (Figura 6), enquanto o Atarsocoris brachiariae é mais amarelado. Ambos exalam um cheiro desagradável, que é facilmente reconhecível na abertura de sulcos.

O percevejo-castanho tem duas gerações por ano e é encontrado no solo durante o ano todo. Os adultos estão mais presentes na superfície do solo em período úmido - dezembro e janeiro, quando ocorrem as revoadas de dispersão da espécie, momento que favorece o uso de medidas preventivas de controle. Durante o período de seca, eles se aprofundam no solo em busca de umidade, enquanto as pupas e larvas (Figura 7) podem ser encontradas com facilidade.

Foto: Heraldo Negri. Foto: Heraldo Negri.
Figura 6. Adulto de Scaptocoris castanea. Figura 7. Larva de Scaptocoris castanea.


Os prejuízos causados pelo percevejo-castanho podem ser altos se a infestação for intensa. Por causa da grande quantidade de seiva perdida, as plantas atacadas apresentam:

  • murchamento;
  • amarelecimento;
  • secamento da cana.

Para o controle do percevejo-castanho é necessário:

  • constatar a presença da praga durante o preparo de solo;
  • demarcar a reboleira para o controle;
  • aplicar inseticida granulado sistêmico, como aldicarb, disulfoton, carbofuran e terbufós, no plantio (Figura 8).
Foto: Wilson Novaretti.
Figura 8. Controle químico no plantio.


Besouros - Ligyrus spp. - pão-de-galinha
                  Euetheola humilis - pão-de-galinha
                  Stenocrates spp - pão-de-galinha
                  Migdolus fryanus - broca-da-cana
                  Sphenophorus levis - gorgulho-da-cana
                  Metamasius hemipterus - besouro-rajado-da-cana

Os adultos das espécies Ligyrus spp., Euetheola humilis e Stenocrates spp são de cor marrom-escura e põem ovos próximo ao tolete no plantio. Suas larvas, conhecidas como pão-de-galinha, são brancas, com três pares de pernas robustas, em forma de U. Elas têm a cabeça castanha e podem chegar a cinco centímetros de comprimento. O período larval vai de 12 a 20 meses e, depois, as larvas se transformam em pupa. Os adultos emergem do solo nos meses mais quentes do ano, com o início das chuvas, época em que as canas novas estão brotando.

A espécie Migdolus fryanus tem hábito subterrâneo, vive em solos profundos, bem drenados e em regiões de cerrado. O macho adulto, de coloração preta, voa. Já a fêmea, de coloração semelhante à ferrugem, não voa (Figura 9). A postura de ovos ocorre entre janeiro e março. Durante esse período, as larvas atacam as plantas. As larvas são de coloração branca e medem quatro centímetros (Figura 10). Esta praga é difícil de ser controlada, causando danos em larga escala ao canavial (Figura 11).

Foto: Paulo Botelho. Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 9. Adulto de Migdolus fryanus.   Figura 10. Larvas de Migdolus fryanus.  

 

Foto: Wilson Novaretti.  
Figura 11. Danos causados por Migdolus fryanus ao canavial.

 

Sphenophorus levis é um besouro que só ocorre no Estado de São Paulo. Ele mede cerca de 15 milímetros de comprimento e tem coloração marrom (Figura 12). A postura de ovos ocorre na base dos colmos. As larvas são brancas, enrugadas e sem pernas (Figura 13). Elas abrem galerias nas plantas e aparecem nas épocas mais quentes do ano. Já Metamasius hemipterus difere-se de Sphenophorus levis. por ser de ampla distribuição no território nacional e possuir coloração rajada.

Foto: Paulo Botelho. Foto: Paulo Botelho.
Figura 12. Adulto de Sphenophorus levis. Figura 13. Larva de Sphenophorus levis.


Os prejuízos causados pelo besouro são: destruição dos toletes de plantio e das raízes, o que prejudica a germinação. Os métodos de controle da praga podem ser feitos das seguintes formas:Os prejuízos causados pelo besouro são: destruição dos toletes de plantio e das raízes, o que prejudica a germinação. Os métodos de controle da praga podem ser feitos das seguintes formas:

Controle cultural

Os besouros podem ser controlados por meio de:

  • rotação de culturas;
  • eliminação de soqueiras atacadas, arando e gradeando três vezes, três meses antes do plantio.

Controle biológico

Migdolus fryanus tem sido parasitado por sarcofagídeos (moscas muito semelhantes a algumas varejeiras), entre janeiro e março (Figura 14). Nematóides do gênero Neoaplectana também podem parasitar o besouro.

Foto: Heraldo Negri.
Figura 14. Mosca parasita.


Feromônios: um feromônio sexual do grupo amida para Migdolus fryanus já está disponível no mercado, na forma de pellets (partículas de resíduos agrícolas compactados, em forma de um pequeno cilindro). Ele pode ser usado para monitoramento junto a uma armadilha, entre outubro e março.

Controle químico

O controle de Migdolus fryanus é difícil. É recomendado o uso de 500 gramas de fipronil ou de endosulfan por hectare, que deve ser aplicado no sulco de plantio para atingir as larvas. Os adultos de gorgulho-da-cana podem ser controlados com iscas tóxicas, feitas com colmos cortados ao meio e tratados com inseticidas (mistura de 25 gramas de carbaril 850 PM a um litro de água e um litro de melaço), que devem ser distribuídas na base de 200 gramas por hectare.

Cupins - Heterotermes tenuis (Figura 15);
              Procornitermes sp (Figura 16);
             Nocapritermes sp (Figura 17);            
             Syntermes sp (Figura 18);          
            Cornitermes sp.

A principal espécie de cupim é a Heterotermes tenuis. Ele é branco, com cabeça amarelada, corpo afilado e mandíbulas longas (Figura 15). A espécie caracteriza-se por não levar terrra para o interior das galerias, como faz Procornitermes sp (Figura 16). Os ninhos desses cupins são subterrâneos e de forma cilíndrica.

Foto: Heraldo Negri. Foto: Heraldo Negri.
Figura 15. Adulto de Heterotermes tenuis. Figura 16. Adulto de Procornitermes sp.

 

Foto: Heraldo Negri. Foto: Heraldo Negri.
Figura 17. Adulto de Neocapritermes sp. Figura 18. Adulto de Syntermes sp.


Os cupins atacam os toletes (Figura 19), danificando as gemas, o que influi na germinação. Isso provoca falhas na lavoura (Figura 20) e exige o replantio. Os prejuízos atingem dez toneladas de cana por hectare, anualmente. O ataque é maior em terrenos arenosos.

Foto: Wilson Novaretti. Foto: Wilson Novaretti.
Figura 19. Ataque por cupins. Figura 20. Canavial atingido por cupins.


O controle do cupim pode ser feito com iscas do tipo Termitrap, na base de 30 iscas por hectare, na reforma do canavial. Em soqueiras, as iscas devem ser usadas com Imidacloprid e Beauveria bassiana na base de 40 iscas por hectare, por ano, para a eliminação de ninhos.
Para o controle químico, os produtos recomendados são:

  • fipronil 800 WG - 250 gramas por hectare;
  • endosulfan 350 CE - seis litros por hectare;
  • terbufós granulado - 20 quilos por hectare.


Fonte consultada:

GALLO, D. et al. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p.