Cana
Pragas no colmo
Autores
Raffaella Rossetto - Consultora autônoma
Antonio Dias Santiago - Embrapa Tabuleiros Costeiros
Broca da cana-de-açúcar (Diatrea sacchralis)
A broca é a principal praga da cana-de-açúcar. A lagarta jovem alimenta-se, inicialmente, das folhas para depois penetrar pelas partes mais moles do colmo (bainha). Ela abre galerias de baixo para cima, que podem ser longitudinais - maioria das vezes - ou transversais (Figura 1).
Foto: Raffaella Rossetto. |
Figura 1. Broca da cana-de-açúcar. |
A lagarta atinge seu completo desenvolvimento ao completar 40 dias, quando mede 23 milímetros de comprimento. A coloração de seu corpo é amarela-pálida e da cabeça, marrom. A fase de pupa (casulo), que segue a larval, dura de nove a 14 dias e resulta num adulto que sai pelo orifício deixado pela lagarta. O ciclo inteiro dura de 53 a 60 dias e pode resultar em quatro gerações por ano, distribuídas em outubro e novembro, dezembro e janeiro, fevereiro e abril e em maio e junho. Já a forma adulta é uma mariposa com asas amarela-palha e com 25 milímetros de envergadura (Figura 2). A fêmea deposita ovos na face inferior das folhas da planta.
Foto: Heraldo Negri |
Figura 2. Adulto da broca da cana-de-açúcar.. |
Prejuízos diretos causados pela abertura de galerias:
- perda de peso e morte das gemas;
- tombamento pelo vento, se as galerias forem transversais (Figura 3);
- secamento dos ponteiros, conhecido como coração morto, na cana nova (Figura 4);
- enraizamento aéreo (Figura 5) e brotações laterais.
Foto: Heraldo Negri | Foto: Heraldo Negri |
Figura 3. Sintomas de galeria transversal. | Figura 4. Sintomas de coração morto. |
Foto: Heraldo Negri |
Figura 5. Sintomas de enraizamento aéreo. |
Prejuízo indireto causado pela abertura de galerias:
- podridão vermelha do colmo (Figura 6), causada pelos fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que penetram pelos orifícios do colmo e invertem a sacarose, o que diminui a pureza do caldo.
Foto: Heraldo Negri. |
Figura 6. Sintomas de podridão. |
Para saber quando controlar a praga é necessário conhecer a intensidade de infestação (IF). Esse dado pode ser obtido ao abrir longitudinalmente cada colmo coletado (100 colmos por talhão) e contar o número total de internódios e o número de internódios atacados e fazer o cálculo com base na seguinte fórmula:
IF= 100 x n° internódios atacados
n° total de internódios
A época ideal de controle é quando a IF for igual ou superior a 3%. Existem várias formas de controle da lagarta, que estão descritas abaixo.
Controle cultural
A broca da cana-de-açúcar pode ser controlada por meio de:
- plantio de variedades resistentes ou tolerantes;
- corte de cana sem desponte;
- moagem rápida após o corte;
- eliminação de plantas hospedeiras próximas ao canavial (milho, milheto).
Controle biológico
A broca da cana-de-açúcar pode ser controlada por agentes biológicos, como:- parasitóide de ovos: Trichogramma galloi evita o ataque da broca nos colmos. A forma adulta da vespa deve ser liberada em 25 pontos por hectare. A quantidade a ser liberada é 200 mil por hectare em três liberações sucessivas, feitas à tarde, semanalmente. Associada com o parasita Cotesia flavipes, pode reduzir a intensidade de infestação em 60%.
- parasitóide de lagartas: Cotesia flavipes ataca lagartas com mais de 1,5 centímetros (Figura 7). A quantidade de adultos a ser liberada é de seis mil por hectare, quando forem encontradas dez lagartas por hora, por operador, na coleta de monitoramento, que identifica o momento certo em que a praga entra na lavoura, em que nível se estabelece, como reage aos inseticidas e quais são os seus ciclos de vida.
Foto: Heraldo Negri. |
Figura 7. Adulto de Cotesia flavipes atacando uma lagarta. |
O monitoramento da praga pode ser feito com o uso de armadilhas, com duas fêmeas virgens com 48 horas de idade - estas exercem forte atração sobre os machos, que podem ser coletados em uma bandeja com água e melaço - ou feromônios (Figura 8). O feromônio é uma substância química liberada pelos insetos para que estes se comuniquem através do olfato. Ela pode desencadear uma reação imediata no inseto, o que altera seu comportamento quanto ao sexo, estimulando a agregação ou dispersão e podendo definir territórios, trilhas ou, ainda, servindo de alerta.
Foto: Paulo Botelho. |
Figura 8. Armadilha de feromônio. |
Controle químico
- a broca da cana-de-açúcar pode ser controlada por meio de pulverização de triflumuron, lufenuron ou fipronil, direcionada para a região do palmito, quando houver 3% de canas com lagartas recém-eclodidas.
Broca-gigante (Telchin licus)
A forma adulta da broca-gigante é uma borboleta preta com uma faixa branca transversal nas asas anteriores. As asas posteriores apresentam uma faixa branca curva e sete manchas vermelhas na margem externa (Figura 9). Ela ocorre, sobretudo, na região Nordeste e pode acarretar prejuízos de 20% a 60% da produção.
No Nordeste, as brocas adultas aparecem no verão e põe ovos em touceiras velhas, no meio dos detritos e caules cortados. As lagartas são grandes - 80 mm de comprimeto - brancas, com algumas pintas pardas na parte dorsal. A largura é decrescente da parte toráxica para a anal (Figura 10). A pupa se transforma dentro de um casulo feito de fibras de cana e dá origem a um adulto que viverá até 15 dias.
Foto: Heraldo Negri. | Foto: Heraldo Negri. |
Figura 9. Adulto da broca-gigante. | Figura 10. Larva da broca-gigante. |
Os prejuízos causados pela broca-gigante são:
- galerias verticais;
- destruição completa do colmo por causa do tamanho;
- redução do poder germinativo;
- coração morto;
- podridões.
Não existe um método de controle eficiente da praga. Atualmente, o meio utilizado consiste na catação manual de larvas por meio de enxadeco e captura de adultos com o uso de rede entomológica.
Elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
Esta lagarta é muito ativa, de coloração verde-azulada com a cabeça marrom-escura (Figura 11). Ela se alimenta das folhas na fase inicial para, depois, alojar-se na parte inferior dos colmos rente ao solo, nas canas novas. A lagarta elasmo constrói galerias compostas de terra e teia, abaixo da superfície do solo. Durante o período de pupa, ela permanece próximo à base da planta. A mariposa mede de 15 a 20 milímetros e é de coloração cinza.
Foto: Heraldo Negri. |
Figura 11. Larva de elasmo. |
Os prejuízos causados pela lagarta elasmo são:
- amarelecimento da planta;
- coração morto.
Esses prejuízos ocorrem devido às galerias no centro da haste da cana e se manifestam, principalmente, nas canas recém-brotadas, mas os danos são piores na cana-planta, já que o número de brotações é menor.
Não existe controle eficiente da praga, mas por ser um inseto que se desenvolve em ambiente seco a manutenção do solo umedecido diminui sua ocorrência.