Cana
Carregamento
Autor
Raffaella Rossetto - Consultora autônoma
O carregamento é uma etapa que liga a colheita da cana à sua acomodação final nos caminhões que fazem o transporte até a usina. Essa etapa utiliza a circulação de veículos mais leves do que os treminhões dentro da lavoura, evitando, assim, a compactação do solo e aumentando a agilidade desse processo.
Os sistemas de carregamento da cana-de-açúcar podem ser manuais e mecanizados:
Carregamento manual: pouco utilizado, esse tipo de carregamento ocorre em situações em que se tem um relevo bastante acentuado. Geralmente, o carreador fica em local de desnível em relação ao talhão. Neste caso, coloca-se uma prancha de madeira que possibilita o acesso do carregador até a caçamba do veículo de transporte da cana-de-açúcar. Em outras situações, o carregamento manual é realizado quando o transporte ocorre por meio de carro-de-boi.
Carregamento mecanizado: carregamento que se tornou comum no Brasil na década de 1950, na região Centro-Sul, com a utilização de máquinas importadas. Atualmente, quando a propriedade apresenta relevo adequado e a dimensão justifica o uso de máquinas, a colheita mecanizada se faz presente em todas as regiões produtoras.
Muitos fatores podem influenciar na quantidade de matéria estranha arrastada por meio do carregamento mecanizado da cana-de-açúcar, entre os quais:
Qualidade da queima: Em canaviais em que a queima não ocorreu de forma eficiente, é grande a quantidade de folhas não queimadas, que na colheita mecanizada são levadas juntamente com os colmos, aumentando a quantidade de matéria estranha no carregamento. No corte manual essas folhas geralmente são retiradas.
Umidade e granulometria do solo: Quanto mais argiloso e úmido se encontra o solo, maior é a possibilidade de aumento do índice de matéria estranha no carregamento de cana. O solo úmido se adere facilmente aos colmos no momento da rolagem desses pelo terreno, que ocorre durante a ação da máquina. O solo úmido também se adere facilmente ao rastelo que está efetuando o carregamento, indo juntamente com a cana colhida para a caçamba, aumentando o percentual de matéria estranha.
Disposição dos colmos cortados: Quando os colmos estão dispostos em montes ou esteiras de modo organizado, geralmente, a quantidade de material estranho é menor, pois as movimentações das máquinas ocorrem com menos freqüência.
Tipos de rastelo e garra: Rastelos com dispositivos hidráulicos que limitam a sua penetração no terreno (acompanhando o relevo do solo), e garras que também possuem esse dispositivo limitando o seu fechamento, geralmente carregam menor quantidade de material estranho junto aos colmos.
Habilidade do operador: Quanto mais experiente o operador, menor será a quantidade de material estranho presente no carregamento.
Independente da classificação, os sistemas de corte e carregamento são geralmente identificados pela forma em que a cana é recebida na indústria: cana inteira ou picada.
É importante ressaltar aqui a definição de frentes de corte. A cana-de-açúcar que chega à usina vem de pontos diferentes e é trabalhada por uma equipe denominada frente de corte, que opera com equipamentos diferentes conforme o tipo de cana (corte manual ou colheita mecanizada). A quantidade de frentes de corte depende da capacidade de moagem da usina, da distribuição geográfica e do tamanho das fazendas, entre outros fatores.
Frentes de cana inteira
A colheita mecânica comercial de cana inteira não é muito utilizada, atualmente. Portanto, quando uma frente é identificada como sendo de cana inteira, entende-se que o sistema seja semi-mecanizado, ou seja, com corte manual e carregamento mecânico.
Os caminhões chegam até a frente de cana inteira e se dirigem ao ponto de engate e desengate onde fazem o desprendimento de suas carretas (Romeu e Julieta e treminhão), que são, então, atreladas aos tratores-reboque. Na seqüência, os caminhões desengatados e os tratores com as carretas acopladas dirigem-se para alguma carregadora dentro da área de colheita. A escolha se dá em função da carregadora que estiver mais livre. As carregadoras permanecem paradas junto à cana disposta em montes ou esteirada. O caminhão ou o trator é posicionado ao lado da carregadora, que se movimenta, coletando a cana com suas garras e depositando o feixe na carroceria do caminhão ou reboque (Figura 1).
Foto: Paulo Magalhães. |
Figura 1. Coleta de cana inteira com motocana. |
Após a conclusão da carga, os caminhões e os tratores-reboque puxando as carretas dirigem-se ao ponto de engate e desengate, onde as carretas são desprendidas dos tratores, que seguem para atrelar alguma carreta vazia ou simplesmente aguardam a sua chegada. As carretas carregadas se prendem aos caminhões para formar, novamente, a composição de transporte completa (Romeu e Julieta e treminhão). Após a montagem do caminhão, é feito o acerto de carga, quando as pontas das canas são aparadas rente à carroceria, além da amarração da carga. Realizado esse processo, o caminhão retorna à usina.
Frentes de cana picada
Nos sistemas de cana inteira, os caminhões se desprendem das carretas e os equipamentos entram na área de colheita. Sistemas mais modernos utilizam transbordos, implemento que possui uma caçamba atrelada ao trator, e que possibilita transferir a cana recebida da colhedora para os caminhões. Nesse sistema, além de possibilitar ao caminhão trazer uma carga maior por viagem, dada a possibilidade de aumentar a sua carroceria, os caminhões não entram na área de colheita, o que reduz a ocorrência de compactação do solo.
Nesse sistema, os caminhões de cana picada chegam primeiro e permanecem estacionados em uma área denominada malhador. Os tratores rebocando os transbordos - normalmente duas unidades - vêm até os caminhões, acionam os pistões hidráulicos e a carroceria dos transbordos se eleva, transferindo a carga para os caminhões.
Após a transferência, os tratores se dirigem para as colhedoras, que permanecem no interior da área de colheita. A colhedora realiza seqüencialmente o corte, a picação e a limpeza da cana, conduzindo-a para os transbordos. Após a conclusão da carga (Figura 2), os tratores se dirigem novamente ao malhador e transferem a cana para os caminhões (Figura 3), fechando, assim, o ciclo operacional. Quando a carga dos caminhões é finalizada, estes se dirigem para a usina.
Foto: Patrícia Lopes. | Foto: Patrícia Lopes. |
Figura 2. Carregamento de cana picada. | Figura 3. Tranferência de cana picada para o caminhão. |