Corte

Conteúdo atualizado em: 22/02/2022

Autor

Raffaella Rossetto - Consultora autônoma

 

A escolha do tipo de corte dos colmos depende de fatores diversos, como: disponibilidade de mão-de-obra, aspectos socioeconômicos, configuração do terreno onde está implantado o canavial, sistema de carregamento a ser utilizado, entre outros.

Corte manual: é o modo mais comum de colheita da cana-de-açúcar, porém é alvo de muitas polêmicas relacionadas à queima da cana antes da colheita, que visa facilitar o corte. No entanto, a elevada quantidade de poluentes que é liberada na atmosfera em razão dessa prática tem sido muito contestada por diversos segmentos da sociedade.

O trabalhador que faz a colheita manual utiliza uma ferramenta que pode ser denominada folha, podão ou facão, dependendo da região do País. Inicialmente, o trabalhador corta o material sem interesse para a usina, o que ocorre no caso da colheita da cana-crua (Figura 1). Porém, quando a cana-de-açúcar é queimada antes da colheita (Figura 2) e tem a sua palhada eliminada pela ação do fogo, não necessita que essa atividade seja efetuada pelos cortadores. Em seguida, o cortador faz o corte dos colmos da cana na altura basal e o corte dos ponteiros, lançando a cana cortada sobre o terreno para a formação dos leitos.

Foto: Raffaella Rossetto. Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 1. Corte manual de cana crua. Figura 2. Corte manual de cana queimada.

 

A forma como os colmos cortados serão organizados sobre o terreno irá depender do modo de carregamento efetuado na propriedade. A capacidade de corte de um trabalhador que atua nessa atividade varia de cinco toneladas por dia, em casos em que a cana é previamente queimada, a 2,5 toneladas por dia, no caso da cana-crua. Além dessa condição inicial da cana, queimada ou não, outro fator que influi no rendimento dos cortadores é o porte da cana que está sendo colhida. Plantas eretas costumam facilitar a atividade, enquanto as acamadas tornam o trabalho mais difícil, diminuindo o rendimento.

Corte mecanizado: Estima-se que o corte mecanizado proporcione redução de cerca de 20% dos custos de produção, quando comparado com o corte manual. Entretanto, o corte mecanizado no Brasil ainda precisa ser aprimorado, pois as máquinas nacionais utilizadas nessa atividade ainda são, em sua maioria, precárias, apresentando baixo rendimento e necessitando freqüentemente de manutenção.

O acamamento da cana também pode ser encarado como um problema para propriedades que se utilizam do corte mecanizado, uma vez que nessas condições as máquinas apresentam baixo rendimento. Para que haja uma elevada eficiência do corte mecanizado, o produtor deve associar ao seu cultivo características como menor densidade de colmos na linha de cultivo, alta produtividade, além do não acamamento da planta (Tabela 1). É uma tarefa árdua unir as duas primeiras características, mas alguns estudos revelam que uma variação do espaçamento não altera significativamente a produção. Atualmente, em áreas onde é feito o corte mecanizado da cana-de-açúcar, o espaçamento entre linhas  é calculado conforme a largura do eixo da colhedora, para que as rodas da máquina não esmaguem as soqueiras e prejudiquem o realização do próximo corte. 

Tabela 1. Produção e densidade de produção linear em três cultivares
de cana-de-açúcar. 
Fonte: Balsalobre et al. (1999).

 

Para o corte mecanizado eficiente é necessário que o produtor atente para o peso dos colmos e não para o número de perfilhos. Quanto menor o número de perfilhos (Tabela 2), menos colmos a máquina irá cortar, podendo ocorrer menor desgaste. Se os colmos tiverem peso elevado, a produção não será comprometida, mesmo com baixo perfilhamento.

Tabela 2. Média do número de perfilhos de três variedades
de cana-de-açúcar para três épocas de corte (julho, agosto e
setembro de 1993).

Fonte: Balsalobre et al. (1999).

 

Outro fator que deve ser considerado para o corte mecanizado é a altura e diâmetro dos colmos, pois colmos maiores apresentam maior tendência ao acamamento, diminuindo o rendimento das máquinas. Ou seja, a altura do colmo apresenta correlação negativa com o seu diâmetro (Tabela 3).

Tabela 3. Características agronômicas de três variedades de
cana-de-açúcar cortada aos 300 dias de crescimento, em
relação ao plantio em dois espaçamentos entre linhas.
Fonte:  Balsalobre et al. (1999).

 

O corte mecanizado pode reduzir a longevidade da cana-de-açúcar, pois algumas máquinas não possuem o corte eficiente, podendo chegar a cortar próximo a 50 centímetros acima da superfície do solo (geralmente o corte eficiente está por volta dos 20 centímetros). Portanto, durante o cultivo é necessário que o relevo da área seja uniformizado, facilitando, assim, o corte dos colmos.

Cortar a cana em alturas elevadas pode trazer prejuízos de diversas naturezas, como o desperdício deixado pelo toco no campo (Figura 3) e a diminuição do perfilhamento. Estudos revelam que o corte mecanizado pode gerar perdas de cerca de 0,8 toneladas por hectare. Para que esse prejuízo seja minimizado, recomenda-se a colheita manual dos tocos. Em canaviais onde essa prática foi adotada chegou-se a colher cerca de oito toneladas de cana. O corte dos ponteiros também é muito importante (Figura 4), pois assim pode-se obter uma cana de melhor qualidade e com menos palha para a indústria, e não comprometeria o rendimento da moagem da cana.

Foto: Daniel Nassif. Foto: Daniel Nassif.
Figura 3. Desperdício de cana devido à colheita incorreta.

Figura 4. Colheita mecanizada sem utilização do despontador.

 

Fonte consultada:

BALSALOBRE, M. A. A.et al. Cana-de-açúcar: quando e como cortar para o consumo animal. Balde Branco, n. 421, p.19-13, 1999.