Perigos químicos

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autor

Joana Maria Leite de Souza - Embrapa Acre

 

Micotoxinas

As condições de umidade e temperatura elevadas na floresta e a precariedade do sistema de armazenamento da castanha favorecem a contaminação do produto por fungos filamentosos, o que pode acontecer ainda na árvore, no armazenamento intermediário ou no transporte, ocasionando sua deterioração e eventual contaminação por micotoxinas. Estes fungos podem penetrar na casca da castanha-do-brasil em condições de umidade relativa superior a 75% e contaminar as amêndoas. O atrito das castanhas por ocasião do transporte produz rachaduras na casca facilitando o processo de invasão.  A ocorrência destes microrganismos em alimentos está relacionada com o fato de algumas espécies, principalmente as do gênero Aspergillus e Penicillium, serem produtoras de micotoxinas (Quadro 1).

 

                            

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quadro 1. Produção de micotoxinas por diversas espécies de fungos
Autor: Joana Maria Leite de Souza

 
Dentre as espécies encontradas em castanha-do-brasil destacam-se Aspergillus flavus, A. niger, A. fumigatus, A. clavatus, P. verrucosum, P. viridicatum, P. citrinum, Fusarium sacchari, F. oxysporum, F. verticillioides e Alternaria alternata, todas reconhecidamente capazes de produzir micotoxinas, entre elas as  aflatoxinas, ocratoxina A, citrinina, ácido ciclopiazônico, desoxinivalenol, fumonisina,  zearalenona, toxina T-2, altenueno (ALT), alternariol (AOH), alternariol mono metil éter (AME), altertoxina I e ácido tenuazônico.
 
As aflatoxinas (B1, B2, G1, G2), micotoxinas mais comuns na castanha-do-brasil, são metabólitos altamente tóxicos, conhecidas por seu efeito carcinogênico. Estas toxinas, além de comprometerem órgãos vitais, atacam o sistema imunológico e causam disfunção do sistema nervoso. A aflatoxina B1 é considerada uma das mais potentes substâncias carcinogênicas conhecidas, existindo evidências que pode causar câncer hepático em seres humanos. As amêndoas podem ser consideradas produtos de alto risco de contaminação por aflatoxinas, juntamente com o amendoim e o milho. Estas culturas de alto risco são normalmente infectadas por Aspergillus ainda no campo e quando as condições de umidade e temperatura se tornam favoráveis há a produção da toxina. Apesar destas informações serem válidas para amendoim e milho, ainda não se tem confirmado o mesmo para a contaminação de castanha-do-brasil nas árvores embora estudos estejam sendo conduzidos neste sentido.

Existe a informação que o solo se torna reservatório natural do fungo, porém o mecanismo de infecção é ainda desconhecido. Desta forma, medidas devem ser adotadas no sentido de reduzir a carga microbiana, minimizando o risco de produção da toxina.

Independentemente da intensidade de contaminação das amêndoas, a armazenagem configura fator crítico, pois dependendo de sua duração, haverá maior ou menor possibilidade de haver desenvolvimento do fungo e consequente produção da aflatoxina. Por este motivo, fatores como umidade e temperatura deverão sofrer rigorosos controles para inibir a produção da toxina. Teores de umidade acima de 16% e temperaturas entre 27-30ºC poderão possibilitar a re-hidratação das amêndoas e grãos e o desenvolvimento dos fungos contaminantes (Quadro 2 e Quadro 3).
 
 

           

 

 

 


Quadro 2. Temperaturas mínima, ótima e máxima crescimento de fungos em grãos
Autor: Joana Maria Leite de Souza

 

                   

 

 

 

 

 

Quadro 3: Condições de umidade relativa para o crescimento de fungos
Autor: Joana Maria Leite de Souza

 
Depois de produzidas, estas substâncias são dificilmente eliminadas pelo fato de serem termoestáveis, o que significa dizer que não são afetadas por tratamentos térmicos ou pela luz. O processamento também não é capaz de promover redução dos níveis das toxinas e técnicas de descontaminação de grandes lotes ainda são economicamente inviáveis.


Resíduos de agrotóxicos
 
A utilização de agrotóxicos na pré-colheita da castanha-do-brasil não ocorre pelo fato desta ser um produto extrativista. No entanto, a pré-disposição da castanha-do-brasil para a contaminação por fungos toxigênicos e pragas de armazenamento levanta a possibilidade de se fazer uso de produtos químicos, mesmo que numa escala muito tímida, para controlá-los na  etapa de armazenagem na indústria.
 

Neste caso, a não observação das recomendações técnicas de uso adequado desses produtos (fungicidas, inseticidas, etc.) poderá comprometer a segurança da amêndoa e consequentemente a saúde do consumidor. Além disso, o uso dessas substâncias fará com que a castanha-do-brasil perca a condição de produto orgânico, podendo perder espaço em mercados mais exigentes.

No caso da utilização de qualquer tipo de produto químico para tratamento sanitário, devem-se seguir rigorosamente as recomendações de aplicação, o respeito às indicações de uso e aos prazos de carência, além do cumprimento da lei quanto ao  Receituário Agronômico.