Custos e rentabilidade

Conteúdo atualizado em: 16/02/2022

Autor

Nirlene Junqueira Vilela - Embrapa Hortaliças

 

É apresentada a avaliação da eficiência técnica-econômica de três sistemas de produção predominantes na região de São José do Rio Pardo-SP, que representa um dos principais polos de produção de cebola do Brasil.

As análises foram alimentadas pelos coeficientes técnicos e respectivos custos de produção levantados pela Cooxupé e publicados pela FNP (2011), porém as planilhas foram estruturadas por adaptações para levantamento e análise de sistemas de produção da Embrapa.

Assim, os coeficientes técnicos e os respectivos componentes de custos de produção (insumos e serviços) foram agrupados por fase de desenvolvimento da cultura, incluindo: 1) preparo do solo; 2) plantio e tratos culturais; 3) colheita e acondicionamento; 4) administração.

Os custos totais foram organizados nas categorias Custos Operacionais Efetivos (COE), que correspondem aos custos variáveis ou despesas diretas realizadas durante o processo produtivo, desde o preparo do solo até a colheita e; Custos Indiretos (CI), que refletem os custos fixos e as despesas indiretas que o produtor incorre para produzir (custo da terra, depreciações, salário de encarregado, impostos, etc.). A Margem Total da Produção (MT) refere-se à quantidade vendida de cebola, obtida da produção comercial multiplicada pelo preço médio corrente pago ao produtor.

Os indicadores de rentabilidade, como ponto de equilíbrio, margem bruta, margem líquida, relação benefício-custo ou taxa de retorno dos valores monetários aplicados no processo produtivo e o coeficiente de eficiência econômica e a taxa marginal de retorno foram obtidos do Modelo de Análise Econômica por Orçamentação Parcial. Dessa forma, foi avaliado o sistema de plantio direto sobre palhada (SPD) em relação ao métodos de semeadura direta (SSD), por serem esses sistemas os de nível tecnológico mais elevado. 

Na região de São José do Rio Pardo, a organização da produção reflete um comportamento bastante peculiar. A cultura da cebola é dominada, em maior parte, por agricultores que plantam a cebola em pequenas áreas durante vários meses do ano, com maiores picos de oferta nos meses de agosto e setembro.

Como o cultivo da cebola é uma exploração intensiva em capital, os produtores, além do conhecimento técnico sobre o manejo do cultivo, também recebem orientações sobre gestão. Assim, no processo de tomada de decisão, os produtores são orientados sobre os custos de produção e rentabilidade da cultura, trabalho regularmente realizado por agrônomos da Cooxupé, Cooperativa agrícola responsável pelo fornecimento de insumos e assistência técnica à parte dos produtores da região.

Os níveis tecnológicos adotados na região são bastante diferenciados, observando-se a coexistência do sistema convencional (transplante de mudas e semeio direto) e plantio direto sobre palhada.

Os coeficientes técnicos e custos de produção para os sistemas de plantio direto e convencional (transplante de mudas e semeio direto), predominantes na região de São José do Rio Pardo, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Custos de produção de cebola para os sistemas de plantio direto e convencional (transplante de mudas e semeio direto) na região de São José do Rio Pardo-SP, 2010.

 
Componentes

 
Sistemas de Produção   
Transplante de mudas  Semeio direto  Plantio direto
Valor
(R$)
AV
(%)
Valor
(R$)
AV
(%)
Valor
(R$)
AV
(%)

AH
(%)

1. PREPARO DO SOLO              
1.1 Insumos              
    Calcário Dolomítico  291  1,9  194  1,2  291  1,9  50,0
    Adubos químicos  750  5,0  1.260  7,5  1.010  6,4  -19,8
    Adubos orgânicos  550  3,7  1.210  7,2  550  3,5  -54,5
Subtotal 1.1  1.591  10,6  2.664  15,8  1,851  11,8  -30,5
1.2 Serviços              
    Máquinas  1.730  11,5  936  5,6  868  5,5  -7,3
    Mão-de-obra  1.065  7,1  0,0  0,0  0,0  0,0  0,0
Subtotal 1.2  2.795 18,6  936  5,6  868  5,5 -7,3
SUBTOTAL 1  4.386  29,2  3.600  21,4  2.719  17,3  -24,5
2. PLANTIOS E TRATOS CULTURAIS              
2.1 Insumos              
    Mudas  2.367  15,8  0  0,0  0,0  0,0  0,0
    Sementes  0  0,0  3.800  22,5  3.800  24,2  0,0
    Adubação de cobertura  0  0,0  228  1,4  0,0  0,0  -100,0
    Fungicidas  1.089  7,3  1.089  6,5  1.089  6,9  0,0
    Herbicidas  249  1,7  391  2,3  304  1,9  -22,3
    Inseticidas  217  1,5  217 1,3  217  1,4  0,0
    Outros produtos químicos  460  3,1  460  2,7  460  2,9  0,0
    Energia para irrigação  703  4,7  873  5,2  1.043  6,7  19,5
Subtotal 2.1  5.085  33,9  7.059  41,9  6.914  44,0  -2,1
2.2 SERVIÇOS               
    Máquinas  805  5,4  1.425  8,5  1.330  8,5  -6,7
    Mão-de-obra  1.610  10,7  1.795  10,7  0,0  0,0  -100,0
Subtotal 2.2  2.415  16,1  3.220  19,1  1.330  8,5  -58,7
SUBTOTAL 2  7.500  50,0  10.279  61,0  8.244  52,5  -19,8
3. COLHEITA              
3.1 Serviços  1.760  11,7  1.575  9,3  3.248  20,7  106,2
SUBTOTAL  1.760  11,7  1.575  9,3  3.248  20,7  106,2
CUSTOS OPERACIONAIS  13.646  91,0  15.454  91,7  14.211  90,5  -8,0
4. ADMINISTRAÇÃO  1.358  9,1  1.406  8,3  1.487  9,5  5,7
CUSTO TOTAL  15.005  100,0  16.861  100,0  15.698  100,0 -6,9

AV: Análise Vertical = participação percentual de cada componente no custo operacional total.
ΔH: Análise horizontal = indicadores de diferenciais em percentagens entre o plantio direto sobre palhada e o semeio direto
.
Fonte: Custos de produção de cebola na região de São José do Rio Pardo-SP, 2010. Agrianual 2011, São Paulo, p. 241

 

Os custos operacionais dos sistemas de produção variaram no intervalo de 90 a 92% do custo total. O menor custo operacional de produção foi apresentado pelo plantio direto na palhada (90,5%). Este sistema, quando comparado com a semeadura direta, apresenta significativas vantagens no preparo de solo (-24,5%), principalmente nos gastos com a utilização de insumos, embora com maior consumo de calcário dolomítico (50%).

Na fase do plantio e tratos culturais, a vantagem total do sistema de plantio direto na palha foi de 2,1% em redução de custos, que apesar de gastar mais em energia para irrigação (19%), não gastou nada com adubação de cobertura e reduziu em 4% os custos com agrotóxicos, ressaltando-se a significativa redução de custos com herbicidas no sistema de plantio direto (22,2%).

Na fase da colheita, ocorreu utilização intensiva de mão-de-obra no sistema de plantio direto que dobrou os custos (106,2%), quando comparado a semeadura direta.

É interessante observar que o custo operacional de produção de cebola na região de São José do Rio Pardo não contempla o item "sacaria". Esta situação ocorre porque a cebola é quase em sua totalidade comercializada a granel, ficando a cargo do comprador o custo de embalagem. 

Em síntese, as vantagens tecnológicas do plantio direto na palha superam o de semeadura direta tanto na redução de custos com insumos totais (10%) quanto com serviços (5%). No final das contas o sistema de plantio direto apresentou significativa redução nos custos operacionais (8%), perfeitamente diluído pelos ganhos de produtividade que superaram em 20% o método de semeadura direta (Tabela 2).

Tabela 2. Avaliação dos gastos com insumos e serviços na composição dos custos operacionais totais para os sistemas de plantio direto e convencional (transplante de mudas e semeio direto), na região de São José do Rio Pardo-SP, 2010.

Componentes


 
Sistemas de Produção  
Transplante de mudas Semeio direto Plantio direto
Valor
(R$)
AV
(%)
Valor
(R$)
AV
(%)
Valor
(R$)
AV
(%)
  AH
(%)
Insumos             6.676 49 9.723 63 8.765 62 -10,0
Serviços 6.970 51 5.731 37 5.446 38 -5,0
Custo Operacional 13.646 100 15.454 100 14.211 100 -8,0
Produtividade (t) 44   50   60   20,0
 AV: Análise Vertical = participação percentual de cada componente no custo operacional total.

ΔH: Análise horizontal = indicadores de diferenciais em percentagens entre o plantio direto sobre palhada e o semeio direto

 

Os indicadores de eficiência técnica-econômica para os sistemas de plantio direto e convencional (transplante de mudas e semeio direto) estão descritos na Tabela 3.


Tabela 3. Indicadores de eficiência técnica-econômica para os sistemas de plantio direto e convencional (transplante de mudas e semeio direto), na região de São José do Rio Pardo-SP, 2010.

Parâmetros/sistemas Unidade de
medida

 
Sistemas de produção Δ
Transplante de mudas  Semeio direto  Plantio na palha
Produtividade comercial t/ha 44 50 60 20,00
Preço pago ao produtor R$/t 350 350 350  0,00
Valor da produção R$/ha 15.400 17.500 21.000  20,00
Custo total R$/ha 15.005 16.861 15.698  -6,90
Custo unitário R$/t 341 337 262  -22,41
Margem bruta R$/ha 395 639 5.302  729,73
Lucratividade % 2,56 3,65 25,25  591,44
*CEE Coeficiente 1,03 1,04 1,34  28,89
Taxa de retorno % 2,63 3,79 33,78  791,21
Ponto de equilíbrio t 42,87 48,17 44,85  -6,90
Taxa marginal de retorno %       3,40

* Δ = incrementos percentuais nos parâmetros do plantio direto, em comparação com o semeadura direta.
Fontes: LAIARD, R.; GLAISTER, S. Cost-benefit analysis. New York: Cambridge, 1996. 486 p.;SCOLARI, D.G.; COSTA, M.E.F.A.; SOUZA, M.C. Progama de análise econômica através de orçamentação parcial (ANECOR). Planaltina: Embrapa-CPAC, 1985. 43 p. (Embrapa-CPAC. Documentos, 13)

 

Os lucros (margem bruta) auferidos no método de semeadura direta e no de plantio direto foram de R$ 639,00 e de R$ 5.802,00 por hectare, respectivamente.

Os custos unitários foram vantajosamente reduzidos no sistema de plantio direto (22,41%) que alcançou o ponto de equilíbrio com a quantidade de 44,85 t, portanto, 6,9% menor ao ser comparado com o semeadura direta.

Os indicadores obtidos das análises marginais evidenciam que o custo marginal (acréscimo no custo quando a produção aumenta em uma unidade) foi consideravelmente maior no semeadura direta (116,3%).

A taxa de retorno ou relação benefício-custo que representa a medida mais comum de rentabilidade é 7 vezes maior no plantio direto. A taxa de eficiência econômica que indica o percentual de renda gerado acima do ponto de equilíbrio é de 34% no plantio direto, que também apresenta taxa de lucratividade de 25,25%, aproximadamente 7 vezes maior comparada com o semeadura direta.

A receita marginal do sistema de plantio direto, quando comparada a semeadura direta é aproximadamente 4 vezes maior. Consequentemente a taxa marginal de retorno, cujo objetivo é revelar como a renda líquida aumenta quando se acrescenta uma unidade de custos no processo produtivo é significativa para o plantio direto quando comparada com a semeadura direta (-3,4%). Portanto, o sistema de plantio direto, do ponto de vista técnico-econômico é eficiente e competitivo em relação aos demais.