Tripes

Conteúdo atualizado em: 16/02/2022

Autores

Alexandre Pinho de Moura - Embrapa Hortaliças

Jorge Anderson Guimarães - Embrapa Hortaliças

Miguel Michereff Filho - Embrapa Hortaliças

 

Descrição, biologia, ecologia e danos

Atualmente é considerada a principal praga da cebola no Brasil. Os insetos adultos são pequenos, com no máximo 1 mm de comprimento. Possuem corpo alongado, de coloração amarelo-clara a marrom e asas franjadas. As fêmeas adultas colocam de 20 a 100 ovos nas partes mais tenras da planta.

O período de incubação dos ovos é de quatro dias. Do ovo eclode a forma jovem, conhecida como ninfa. Esta é menor que o adulto e não possui asas. O ciclo completo, de ovo a adulto, dura aproximadamente 15 dias e depende da temperatura. Os tripes formam colônias numerosas nas bainhas das folhas e sugam a seiva da planta (Figura 1).

Foto: Valter R. Oliveira

Colônia de Thrips tabaci em folha de cebola

Figura 1. Colônia de Thrips tabaci em folha de cebola

 

A proliferação dessa praga é favorecida por períodos quentes e secos, mas pode também surgir em condições de baixas temperaturas, associadas à estiagem. As chuvas reduzem as populações do tripes por ação mecânica (lavagem e afogamento dos indivíduos) e por garantir umidade favorável à atividade de microrganismos que causam doenças e matam estes insetos.

Em casos de ataques severos, ocorre o prateamento das folhas da cebola, caracterizada por áreas necróticas, esbranquiçadas, que posteriormente ficam retorcidas e podem secar completamente (Figura 2). Isto compromete o crescimento das plantas, assim como o tamanho e o peso dos bulbos, causando perdas de produção que podem chegar a 50%.

Foto: Valter R. Oliveira

 Incidência de tripes em cebola

Figura 2. Sintomas de ataque de tripes em cebola

 

O período crítico é o de bulbificação. Em cultivos realizados durante a estação seca, as ninfas atacam também os bulbos, permanecendo sob a pele e causando injúrias à escama externa, o que compromete a qualidade do produto e seu tempo de armazenamento.

Plantas de cebola muito danificadas devido ao ataque do tripes não tombam por ocasião da maturação fisiológica, facilitando a entrada de água até o bulbo, o que ocasiona maiores perdas na produção por apodrecimento.

Também há relatos de associação entre altas infestações de tripes e a ocorrência da doença mancha púrpura, causada pelos fungos Alternaria porri e Stemphylium vesicarium. Recentemente foi relatada a participação desta espécie de tripes na transmissão do “Iris Yellow Spot Virus” (IYSV), uma doença devastadora da cebola e de ampla distribuição mundial.

 

Controle

O tamanho diminuto dos indivíduos e seu hábito de viver principalmente nas “axilas” das folhas da cebola tornam o tripes um inimigo silencioso para os agricultores. Estas características da praga dificultam a detecção do problema logo no início da infestação da lavoura, e consequentemente o seu controle, pois a forma das folhas e a arquitetura da planta de cebola reduzem o contato do inseticida com o inseto.

O primeiro passo para o controle eficaz desta praga é a inspeção do cultivo, que deve ser feito pelo menos uma vez por semana, a partir do estabelecimento das plantas. Consiste na busca de tripes nas “axilas” das folhas e dos sintomas de ataque, percorrendo a lavoura em zigue-zague, de modo que, sejam inspecionadas tanto as plantas da bordadura como do centro da área cultivada.

Uma alternativa para auxiliar neste monitoramento seria o uso de placas adesivas de coloração azul. Estas armadilhas atraem e aprisionam tripes, facilitando o monitoramento populacional da praga ao longo da safra, permitindo a detecção dos focos de infestação e a necessidade de controle ou para verificar se as medidas adotadas foram efetivas contra a praga.

As placas adesivas podem ser construídas na propriedade, utilizando-se garrafas plásticas (tipo Pet) pintadas externamente de azul escuro e untadas com graxa; ou podem ser adquiridas de empresas especializadas pela internet. Estas armadilhas deverão ser instaladas em estacas de bambu na altura do ápice das plantas, em cerca de 20 pontos distribuídos dentro da área cultivada. As vistorias deverão ocorrer semanalmente e as armadilhas deverão ser substituídas quando ficarem cheias de insetos e de poeira.

O controle natural (biológico) dos tripes é feito por meio de larvas de dípteros da família Syrphidae, por larvas de crisopídeos (bixo-lixeiro), alguns coleópteros (joaninhas) e por tripes predadores dos gêneros Scolothrips e Franklinothrips.

Quando for necessário algum tipo de controle, deve-se optar pelo manejo integrado, ou seja, duas ou mais medidas de controle utilizadas simultaneamente e de forma planejada contra o tripes. O manejo do ambiente de cultivo consiste em medidas que devem ser consideradas como a primeira linha de defesa contra a praga. Recomenda-se a adoção planejada e preventiva das seguintes medidas:
  • isolamento dos talhões de cebola por data e área, evitando o escalonamento de plantio e cultivos muito próximos. Sem algum tipo de isolamento entre as lavouras não é possível o controle efetivo do tripes;
  • implantação de barreiras vivas ou faixas de cultivos, por meio do plantio de sorgo (Sorghum bicolor), de capim-elefante (Pennisetum purpureum) ou de milheto (Pennisetum glaucum), ao redor da área a ser cultivada, com antecedência de 30 dias em relação ao plantio da cebola;
  • escolha de cultivares com folhas lisas e pouca cerosidade, com bainha circular e de maior ângulo de abertura, cujas características permitem maior exposição dos tripes aos seus inimigos naturais e aos inseticidas aplicados sobre a cultura. O agricultor também deve dar preferência a cultivares de ciclo curto (precoces), pois, com elas é possível adequar a época de plantio na região, de tal forma que o período de bulbificação da cebola escape dos maiores picos de infestação da praga no ano;
  • adoção de semeadura direta;
  • se for utilizado o transplante de mudas para implantação do cultivo, a produção de mudas deverá ser feita em locais protegidos com tela, distantes de campos infestados com tripes e longe do local definitivo de plantio;
  • seleção de mudas sadias e vigorosas para o transplante;
  • plantio dos talhões no sentido contrário ao vento, do mais velho para omais novo, para desfavorecer o deslocamento dos tripes dos talhões velhospara os novo;
  • manejo adequado do solo. Práticas conservacionistas e de manejo da fertilidade do solo devem ser adotadas para garantir condições favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Neste contexto tem-se o cultivo de cebola no sistema de plantio direto, que vem sendo adotado cada vez mais nas principais regiões produtoras desta hortaliça. Este sistema proporciona menor revolvimento do solo e, por isso, maior estabilidade no agroecossistema, melhor reciclagem de nutrientes, manutenção da umidade do solo e ambiente mais favorável à ação de organismos benéficos como os inimigos naturais das pragas. Pesquisas indicam que, no sistema de plantio direto, a cebola apresenta maior vigor e área foliar e com isso, a cultura tolera maior ataque do tripes sem efeito sobre a produção;
  • nutrição adequada da cebola, com base em análises de solo e/ou foliar, de modo a manejar corretamente a adubação das plantas (principalmente, nitrogênio) em função dos requerimentos da cultura. Com isso, evitam-se deficiências e/ou excessos de adubação, reduzindo a suscetibilidade das plantas ao ataque da praga;
  • sucessão e rotação de culturas com plantas não hospedeiras de tripes, evitando-se plantios sucessivos de cebola e alho, bem como de soja, feijoeiro, cucurbitáceas (pepino, melancia, abóboras) e algodoeiro na mesma área de cultivo. Em qualquer situação, os restos culturais devem ser destruídos e incorporados ao solo, evitando-se a permanência de cultivos abandonados;
  • manejo adequado da irrigação para evitar o estresse hídrico, favorecendo o estabelecimento rápido das plantas. A irrigação, por aspersão ou pivô central, também pode auxiliar no controle do tripes em regiões onde a umidade não é tão alta e não se tem condições favoráveis a doenças fúngicas na cebola. Neste caso, a irrigação teria o mesmo efeito da chuva sobre a população da praga.

Todas estas medidas são igualmente importantes, e se combinadas de forma conveniente, podem favorecer o crescimento das plantas e reduzir a infestação do tripes, resultando em menor uso de inseticidas.

O controle químico tem sido a principal forma de combate ao tripes na cultura. Entretanto, o uso indiscriminado de inseticidas tem elevado substancialmente o custo de produção da cebola. Além disso, pode acarretar sérios problemas, como surgimento de populações de tripes resistentes aos produtos utilizados, ressurgência da praga, erupção de pragas secundárias, eliminação de organismos benéficos (inimigos naturais e microbiota decompositora), poluição do meio ambiente, intoxicação de produtores e resíduos tóxicos nos bulbos acima do tolerável, colocando em risco a saúde dos consumidores.

O controle químico do tripes deve ser feito de forma racional para que se alcance a eficiência de controle desejada, cause o mínimo de desequilíbrio biológico e se evite o surgimento de populações de tripes resistentes aos inseticidas. Recomenda-se:

  • utilizar apenas inseticidas registrados para a cultura da cebola;
  • dar preferência para produtos que sejam seletivos em favor dos inimigos naturais e, pouco tóxicos ao homem (classes lll - faixa azul e lV - faixa verde);
  • evitar o uso de produtos de amplo espectro de ação, como inseticidas piretróides e organofosforados, no inicio do ciclo da cultura, pois causam alta mortalidade de inimigos naturais e ressurgência posterior de tripes na lavoura;
  • pulverizações preventivas, ou seja, sem a detecção de tripes no cultivo, devem ser evitadas;
  • iniciar o controle químico quando forem encontrados 15 tripes por planta antes da formação do bulbo, e após esta fase, quando forem observados 30 tripes por planta;
  • aplicar a dosagem recomendada pelo fabricante e a quantidade de água conforme o estádio de desenvolvimento da cultura, observando, ao mesmo tempo, o período de carência;
  • evitar a aplicação de mistura de inseticidas;
  • devido à alta cerosidade natural das folhas dessa hortaliça, deve-se sempre adicionar espalhante adesivo à calda inseticida, para se garantir melhor cobertura e aderência do produto na planta;
  • utilizar, de forma alternada, inseticidas de diferentes grupos químicos e modos de ação, levando-se em consideração o estádio de desenvolvimento da praga. Para se evitar a ocorrência de resistência da praga aos inseticidas, cada produto deverá ser empregado por um período de, no máximo, duas semanas, sendo substituído por outro caso seja necessária a continuidade das pulverizações;
  • realizar as pulverizações com vento fraco e nas horas mais frescas do dia, de preferência no final da tarde; e
  • na aplicação do inseticida utilizar pressão de aspersão adequada, e com bicos do tipo leque, com jatos dirigidos para as bainhas das folhas, para aumentar o contato do inseticida com a praga. Garantir que durante a aplicação, as folhas tenham boa cobertura e que o escorrimento da calda ocorra em direção às axilas das folhas.