Diagnose foliar

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autores

Ítalo Moraes Rocha Guedes - Embrapa Hortaliças

Ruy Rezende Fontes - Embrapa - Presidência

Manoel Vicente de Mesquita Filho - Consultor autônomo

Antonio Francisco Souza - Consultor autônomo

 

Existem processos diretos e indiretos para se avaliar o estado nutricional das culturas agrícolas. Os processos diretos são aqueles em que se determinam as concentrações reais (análise de tecidos ou da seiva) ou aparentes (análise visual) dos nutrientes.

Partindo-se do pressuposto de que existe uma correlação entre os teores de nutrientes no solo e as concentrações dos mesmos nos tecidos vegetais, é possível diagnosticar o estado nutricional de uma cultura analisando-se amostras de órgãos das plantas, principalmente folhas.

A análise foliar permite observar se a planta está ou não bem nutrida. Ela consiste na determinação dos níveis dos diferentes nutrientes em tecidos vegetais, principalmente na parte aérea (folha + pecíolo) recém-formada, pois estes órgãos refletem melhor o estado nutricional da planta em determinada condição de solo, clima e manejo para a cultura, identificando casos de deficiência e toxicidade. Permite ainda, distinguir sintomas provocados por agentes patogênicos, daqueles decorrentes por nutrição inadequada. Em outras palavras, ela corrobora a análise química do solo.

Entretanto, em regiões de difícil acesso a um laboratório, utiliza-se a diagnose visual da planta, que consiste em comparar o aspecto da planta problema com o padrão. Havendo falta ou excesso de algum nutriente, isto será traduzido em anormalidades visíveis.

Para a análise foliar, recomenda-se fazer amostragem entre 50 e 60 dias após o semeio. Deve-se coletar pelo menos 20 folhas por hectare, escolhidas de forma aleatória. É importante ressaltar que não se deve retirar amostras quando nos dias antecedentes ocorreu qualquer tipo de adubação no solo ou pulverização na planta. As amostras devem estar livres de danos ocasionados por insetos, doenças, fenômenos climáticos, ou tratos culturais.
 

Análise foliar

A análise foliar, também chamada de análise química, é a determinação das concentrações de nutrientes em tecido de amostras de folhas coletadas em determinada fase do crescimento da cultura. Para cenoura, em geral se recomenda a coleta de uma folha recém-madura na metade ou no segundo terço do ciclo da cultura, em pelo menos 20 plantas, para que a amostra seja bem representativa. Deve-se fazer a coleta em plantas em diferentes locais do campo de cultivo.

As amostras assim coletadas devem ser acondicionadas em sacos de papel limpos, contendo orifícios médios de 0,5 cm de diâmetro (que podem ser feitos com a ponta de um lápis) e enviá-las para o laboratório para análise, devidamente identificadas. As amostras também poderão ser acondicionadas em sacos plásticos limpos e postos em caixa de isopor contendo gelo, ou em uma geladeira. Nestes dois últimos casos, o horticultor poderá enviá-las ao laboratório em até 48 horas.

As faixas consideradas adequadas às concentrações de macro e micronutrientes em folhas cenoura, de acordo com o Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes (2009), editado por Fábio Cesar da Silva e publicado pela Embrapa, são apresentadas na Tabela 2. Estas poderão ser utilizadas como referência para a identificação de problemas nutricionais da cultura.

Análise visual

A avaliação do estado nutricional das plantas pelo método visual consiste em comparar as observações do avaliador, quer sejam por observação direta ou por fotografia, com os sintomas padrões de deficiências ou toxidez relatados em literatura para cada nutriente dentro daquela espécie ou variedade. O diagnóstico é feito a partir dessa comparação. A seguir, são descritos brevemente os sintomas de deficiência mais comuns para alguns nutrientes:

Nitrogênio: As folhas mais velhas ficam amareladas uniformemente e, com a evolução da deficiência, tornam-se avermelhadas. As condições que predispõem à deficiência são:

a) insuficiência de fertilizante nitrogenado;
b) elevado nível de material vegetal não decomposto no solo;
c) compactação do solo;
d) elevada intensidade de precipitação; e
e) condições desfavoráveis à mineralização da matéria orgânica. A deficiência pode ser prevenida pela aplicação em cobertura, de fertilizantes nitrogenados.
Tabela 1. Teores foliares médios de macro e micronutrientes considerados adequados para a cultura da cenoura.
Nutrientes Teores Adequados
  (g kg-1)**

N

20-30
P 2-4
K 40-60
Ca

25-35 

Mg 4-7
S 4-8
Micronutrientes (mg kg-1)***
B 30-80
Cu 5-15
Fe 60-300
Mn 60-200
Mo 0,5-1,5
Zn 25-100

Fonte: SILVA, F. C. (Editor Técnico), Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes, 2009.

 

Fósforo: Com a deficiência de fósforo as folhas mais velhas apresentam coloração castanho-arroxeada. Com a evolução da deficiência as folhas amarelecem e caem. As raízes apresentam desenvolvimento anormal. A disponibilidade de fósforo depende principalmente do nível de fósforo no solo, tipo e quantidade de argila, época de aplicação do adubo fosfatado, aeração, compactação, umidade do solo e temperatura ambiente. A deficiência pode ser evitada com a distribuição de um fertilizante fosfatado solúvel distribuído a lanço e incorporado com gradagem.

Potássio: Com a deficiência de potássio as folhas mais velhas apresentam as margens dos folíolos queimadas. Com o avanço da deficiência, os pecíolos destas folhas coalescem, secam e morrem. Solos arenosos com elevada lixiviação e elevados níveis de outros cátions, como magnésio e amônio, são as condições que predispõem à deficiência de potássio. A correção pode ser feita com adubação, em cobertura, à base de sulfato ou cloreto de potássio (60 Kg ha-1 de K2O) seguida de irrigação.

Cálcio: A deficiência de cálcio causa necrose dos pontos de crescimento das folhas novas. O pecíolo apresenta pequenas áreas coalescentes. Há morte das folhas ainda com a coloração verde. Na raiz, a deficiência não é muito comum em condições de campo. A deficiência deste nutriente pode ser provocada em condições de rápido crescimento da planta em temperaturas elevadas, baixo teor de água no solo e antagonismo com outros cátions como amônio, potássio e magnésio. Para prevenir a deficiência deve-se fazer a neutralização da acidez do solo.

Magnésio: Com a deficiência de magnésio as folhas mais velhas ficam cloróticas nas bordas. Coloração levemente avermelhada aparece nas margens e se expande em direção ao centro dos folíolos. Pode ser confundida com a deficiência de nitrogênio ou virose. No caso de deficiência a sintomatologia é generalizada e não em plantas distribuídas ao acaso, como acontece nos casos de viroses. Solos ácidos, arenosos, com alto índice de lixiviação, e a aplicação excessiva de nitrogênio amoniacal ou potássio favorecem o aparecimento da deficiência. A correção é feita com pulverização de sulfato de magnésio a 0,5%. Quando é utilizada a cal hidratada para correção do solo, devem ser aplicados 40 kg/ha de sulfato de magnésio (9,5% Mg) no plantio.

Boro: Quando ocorre deficiência de boro, observa-se encrespamento das folhas, que se dobram para o solo e frequentemente tomam tonalidade vermelha ou amarela, podendo também ser confundida com viroses. As folhas novas são pequenas e é comum a morte do broto com aparecimento de necrose progressiva. Na raiz, ocorre o fendilhamento longitudinal com posterior cicatrização. Excessiva aplicação de calcário em solos arenosos, excesso de N e elevado índice de precipitação predispõem à deficiência deste elemento.