Calagem

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autores

Ítalo Moraes Rocha Guedes - Embrapa Hortaliças

Ruy Rezende Fontes - Embrapa - Presidência

Manoel Vicente de Mesquita Filho - Consultor autônomo

Antonio Francisco Souza - Consultor autônomo

 

Nas condições edafoclimáticas do Brasil, os solos não corrigidos tendem a ser naturalmente ácidos. Além dos efeitos deletérios da própria acidez, o pH abaixo do ideal compromete a disponibilidade e a absorção de nutrientes pelas plantas. Outro problema comum decorrente da elevada acidez são os altos teores de alumínio (Al) disponíveis, com efeitos tóxicos para as plantas. A faixa de pH do solo ideal para o cultivo da cenoura deve estar em torno de 6,0 a 6,5. Em solos não corrigidos, o sistema radicular tende a não se desenvolver da forma desejada e a cultura fica mais vulnerável às deficiências de água e nutrientes.

O aumento na disponibilidade da maior parte dos nutrientes essenciais, da CTC, da atividade microbiana e mesmo da concentração de matéria orgânica dos solos são alguns dos efeitos positivos da correção por calcário. A elevação exagerada do pH pela aplicação excessiva de calcário, por outro lado, pode causar reduções na produção, por diminuir a disponibilidade de micronutrientes metálicos, tais como cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn). Além da ação corretiva em termos de pH, não se pode esquecer que o provimento do cálcio (Ca) e do magnésio (Mg) para as plantas se faz normalmente através da aplicação de calcário.


Para se calcular a Necessidade de Calagem há diferentes fórmulas, normalmente escolhidas de acordo com as características dos solos das diferentes regiões. Em geral, existem Tabelas de Recomendações regionais ou estaduais indicando qual a forma mais adequada de se proceder ao cálculo da necessidade de calcário. Como exemplo, de acordo com as “Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5ª Aproximação”, a necessidade de calagem pode ser calculada por um dos métodos abaixo:

A – Método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+:

NC = CA + CD, onde:

CA = correção da acidez até certo valor da saturação por alumínio (mt), de acordo com a cultura (para cenoura, mt = 5) e com a capacidade tampão da acidez do solo (Y, cujos valores são dados em tabela, de acordo com o valor de fósforo remanescente);


CD = correção da deficiência de Ca e de Mg, assegurando um teor mínimo (X, que para a cenoura é igual a 3) desses nutrientes.


Assim,


CA = Y [Al3+ - (mt * t/100)], em que:

Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm3;

mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura, em %;

t = CTC efetiva, em cmolc/dm3.

CD = X – (Ca2+ + Mg2+), em que:

Ca2+ + Mg2+ = teores de Ca e Mg trocáveis, em cmolc/dm3.

 

Caso os valores quer de CA, quer de CD sejam negativos, devem ser considerados iguais a zero para continuar os cálculos. O resultado final de NC é em toneladas de calcário por hectare (t/ha).


b - Pelo método da saturação de bases

 

NC = [T(V2-V1)/100], em que:



T = CTC a pH 7 = SB + (H+ + Al3+)] em cmolc/dm3;

SB = soma de bases = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, em cmolc/dm3;

V2 = saturação por bases desejada para a cultura (no caso da cenoura, 65%);

V1 = saturação por bases atual do solo = (SB x 100)/ T.


A aplicação do corretivo deve ser feita com antecedência de dois a três meses do plantio. Metade da quantidade calculada do calcário deve ser aplicada antes da aração e a outra metade antes da gradagem. Para que haja a reação corretiva do calcário, é necessário que a umidade do solo esteja adequada, já que o calcário não reage na ausência de água. Se não houver possibilidade de se realizar a calagem com a antecedência recomendada, a mesma deverá ser feita na ocasião do plantio, embora isto não seja o ideal.