Centeio
Manejo e conservação do solo
Autores
Alfredo do Nascimento Junior - Embrapa Trigo
José Eloir Denardin - Embrapa Trigo
O uso excessivo de arações e/ou gradagens superficiais e continuamente nas mesmas profundidades no processo de preparo de solo provoca a desestruturação da camada arável, transformando-a em duas camadas distintas: uma superficial pulverizada e outra sub-superficial compactada. Essa transformação reduz a taxa de infiltração de água no solo e, consequentemente, incrementa a enxurrada e eleva os riscos de erosão hídrica do solo. Outrossim, prejudica o desenvolvimento das raízes de plantas e afeta o potencial de produtividade do sistema agrícola. O preparo excessivo, associado à cobertura deficiente do solo, a chuvas intensas e ao uso de áreas inaptas para culturas anuais, constitui o principal fator desencadeador dos processos de degradação dos solos da Região Sul do Brasil. Como meio de prevenção do problema, indicam-se técnicas como redução da intensidade de preparo, máxima cobertura de solo, cultivo de áreas aptas para culturas anuais e emprego de semeadura em contorno, associadas ao conjunto de práticas conservacionistas orientadas à prevenção da erosão hídrica.
Sistema Plantio Direto
Sistemas de manejo de solo compatíveis com as características de clima, de planta e de solo da Região Sul do Brasil são imprescindíveis para interromper o processo de degradação do solo e, consequentemente, manter a atividade agrícola competitiva. Nesse contexto, o plantio direto deve ser enfocado como um sistema de exploração agropecuária que envolve diversificação de espécies, via rotação de culturas, mobilização de solo apenas na linha/cova de semeadura e manutenção permanente da cobertura de solo. Fundamentada nesse conceito, a adoção do sistema plantio direto objetiva expressar o potencial genético das espécies cultivadas mediante a maximização do fator ambiente e do fator solo, sem, contudo, degradá-los.
A consolidação do sistema plantio direto, entretanto, está essencialmente alicerçada na rotação de culturas orientada ao incremento de rentabilidade, à promoção de cobertura permanente de solo, à geração de benefícios fitossanitários e à manifestação da fertilidade integral do solo (aspectos físicos, químicos e biológicos). Desse modo, a integração de práticas como o abandono da mobilização de solo e a manutenção permanente da cobertura de solo à rotação de culturas, estruturada para minimizar o período de entressafra (processo colher semear), assegura a evolução paulatina da melhoria biológica, física e, inclusive, química do solo.
O sistema plantio direto constitui, atualmente, a modalidade de agricultura conservacionista de maior adoção no Sul do país. O estabelecimento e a manutenção desse sistema requerem a implementação de ações integradas, descritas a seguir.
Centeio para cobertura de solo
Pela ampla adaptação a diferentes tipos de solos e condições climáticas, centeio é excepcional opção para cultivo objetivando cobertura de solo. A decomposição da palha de centeio é pouco mais lenta que a dos demais cereais de inverno, constituindo vantagem para o sistema plantio direto. A rolagem de plantas pode aumentar o efeito de supressão do desenvolvimento de plantas daninhas de verão, pois palha mantida rente ao solo aumenta a concentração, na eluição (separação das partículas do solo) pela água da chuva, do ácido hidroxâmico, que é o herbicida natural do centeio. Quando centeio é cultivado somente para cobertura de solo, a aplicação de P e de K pode ser dispensada ou, então, as quantidades aplicadas podem ser descontadas da adubação da cultura seguinte. Já a aplicação de N pode ser mantida, sobretudo quando o centeio suceder gramínea de verão, proporcionando, dessa forma, produção de elevada quantidade de biomassa.
Terraceamento
Terraços são estruturas hidráulicas conservacionistas, compostas por um camalhão e um canal, construídas transversalmente ao plano de declive do terreno. Essas estruturas constituem barreiras ao livre fluxo da enxurrada, disciplinando-a mediante infiltração no canal do terraço (terraços de absorção) ou condução para fora da lavoura (terraços de drenagem). O objetivo fundamental do terraceamento é reduzir riscos de erosão hídrica e proteger mananciais (rios, lagos, represas...).
A determinação do espaçamento entre terraços está intimamente vinculada ao tipo de solo, à declividade do terreno, ao regime pluvial, ao manejo de solo e de culturas e à modalidade de exploração agrícola.
Experiências têm demonstrado que o critério comprimento crítico do declive nem sempre é adequado para o estabelecimento do espaçamento entre terraços. Isso se justifica pelo fato de que a secção máxima do canal do terraço de base larga, técnica e economicamente viável, é de aproximadamente 1,5 m2, área que poderá mostrar-se insuficiente para o fim proposto quando o comprimento do declive for demasiadamente longo. Do exposto, infere-se que a falha de resíduos culturais na superfície do solo constitui apenas indicador prático para constatar presença de erosão hídrica e identificar necessidade de implementação de prática conservacionista complementar à cobertura do solo. Por sua vez, o dimensionamento da prática conservacionista a ser estabelecida demanda o emprego de método específico.
Preparo do solo
Na impossibilidade de adoção do sistema plantio direto, a melhor opção para condicionar o solo para semeadura de centeio é o preparo mínimo, empregando implementos de escarificação do solo sem uso de gradagem complementar. Nesse caso, o objetivo é reduzir o número de operações e não a profundidade de trabalho dos implementos. As vantagens desse sistema são: aumento da rugosidade do terreno, preservação da superfície do solo com restos culturais, rendimento operacional de máquinas e menor consumo de combustível.