Doenças

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Paulo Roberto Valle da Silva Pereira - Embrapa Florestas

Marcia Soares Chaves - Embrapa Clima Temperado

 

Doenças do sistema radicular (raízes)

As podridões radiculares ocorrem em quase todas as lavouras na região Sul do país e ocasionam, em determinados anos, danos severos à cultura de cevada. Os principais organismos associados a essas moléstias são Cochliobolus sativus, agente causal da podridão comum de raízes, e Gaeumannomyces graminis var. tritici, agente causal do mal-do-pé.

 

A podridão comum ocorre de forma generalizada na lavoura e causa redução acentuada na capacidade de absorção de água e de nutrientes pelas raízes (provoca falhas na granação das espigas, deixando-as eretas, e impede o dobramento normal das espigas de cevada). Isso ocasiona o desenvolvimento de plantas com pouco vigor e, consequentemente, suscetíveis ao ataque de outras doenças.

 

O mal-do-pé, geralmente, causa manchas ou reboleiras de plantas mortas. Seus danos, entretanto, podem variar desde plantas mortas isoladas até a destruição total da lavoura.

A monocultura de cevada, de trigo, de triticale, de centeio ou de outras gramíneas, como o azevém, é a principal causa de ocorrência dessas moléstias.

 

Medidas de controle

Como ainda não se dispõe de cultivares resistentes a essas doenças, e o uso de fungicidas no solo é inviável, restam como opções as seguintes medidas de controle, que devem ser aplicadas conjuntamente:

a) Rotação de culturas

Para a redução da população desses fungos no solo e dos danos por eles causados à cultura, indica-se plantar cevada em áreas com, no mínimo, um inverno sem esse cereal, sem trigo, sem centeio, sem triticale ou pastagem (gramínea), exceto aveia. Isso significa que o produtor poderá voltar a cultivar cevada após um inverno de rotação.

Culturas como o linho, a colza e as leguminosas em geral constituem as melhores opções num sistema de rotação, com vistas ao controle dessas moléstias.

As aveias são praticamente imunes ao mal-do-pé, porém apresentam graus variados de resistência à doença. Entre as aveias branca, preta e amarela, a aveia preta é a mais resistente à podridão comum. Dessa maneira, as aveias em geral e, especialmente a preta, constituem opção aos agricultores que não tenham outra alternativa e/ou que têm problemas de mal-do-pé na lavoura, desde que não repetidas por mais de um ano na sequência de rotação.

b) Áreas livres de gramíneas

Durante o período de rotação ou de pousio, indica-se eliminar ou reduzir ao máximo a presença de gramíneas invasoras ou cultivadas (trigo, cevada, centeio e triticale espontâneos). Essa medida tem por objetivo evitar a perpetuação de fungos no solo e aumentar o nível de inóculo em restos culturais.

 

Tratamento de sementes

As sementes de cevada, frequentemente, encontram-se infectadas por fungos patogênicos, entre eles Pyrenophora teres e Cochliobolus sativus.

 
Para evitar a introdução de organismos patogênicos, principalmente em áreas onde se pratica a rotação de culturas, indica-se o tratamento de sementes com fungicidas recomendados para a cultura.

 

A eficácia dos fungicidas indicados para o tratamento de sementes depende, fundamentalmente, da uniformidade de distribuição dos produtos sobre elas. Para tanto, os fungicidas devem ser adicionados parceladamente para que todas as sementes sejam cobertas de maneira uniforme.

 

Doenças da parte aérea

Em decorrência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de fungos e à suscetibilidade do material em cultivo, a lavoura de cevada pode ter seu rendimento severamente prejudicado pelo ataque de doenças fúngicas da parte aérea.

 

Na região Sul do Brasil, as doenças de maior importância são: mancha marrom (Cochliobolus sativus), mancha reticular (Pyrenophora teres), oídio (Blumeria graminis f.sp. hordei), ferrugem-da-folha (Puccinia hordei), septoriose (Phaeosphaeria nodorum) e giberela (Fusarium graminearum).

 

Além dessas, podem ocorrer esporadicamente a escaldadura (Rhynchosporium secalis), a ferrugem-do-colmo-do-trigo (Puccinia graminis tritici), o carvão-nu (Ustilago nuda) e o carvão-coberto (Ustilago hordei).

Medidas de controle

As medidas indicadas para o controle das principais doenças da parte aérea são:

a) Rotação de culturas

Essa prática cultural exerce papel extremamente importante na redução do potencial de inóculo de organismos patogênicos associados ao solo e aos restos culturais de cevada. A rotação cultural é uma medida eficiente no controle da mancha marrom, da mancha reticular, da escaldadura e da septoriose.

b) Tratamento de semente

O tratamento de semente é indicado para o controle de patógenos transmitidos pela semente. Preferencialmente, deverá ser empregado quando se pretende usar áreas novas ou áreas em rotação de culturas e/ou quando a germinação estiver abaixo dos padrões, em decorrência da presença de fungos. A monocultura de cereais de inverno em uma mesma área pode ser responsável pelo aumento do inóculo de fungos que atacam o sistema radicular e os órgãos aéreos de plantas.

c) Tratamento da parte aérea

O uso de fungicidas na parte aérea de plantas de cevada deve ser realizado como parte de um sistema integrado, em suplementação às medidas de controle gerais, como rotação de culturas, tratamento de semente e uso das demais indicações da pesquisa para a produção comercial.

 

O sistema indicado para o controle químico é dinâmico, e o critério de decisão é a existência de um nível crítico de severidade de doenças. Toda a decisão técnica deve ser tomada levando-se sempre em conta o conhecimento sobre a reação da cultivar usada, uma vez que existem diferenças quanto ao grau de resistência/suscetibilidade e virulência entre as indicadas para cultivo.

 

Para o controle de manchas foliares de rápida proliferação, como mancha marrom e mancha reticular, a aplicação de fungicidas sistêmicos isoladamente ou em misturas formuladas, deve ser realizada quando as plantas na lavoura apresentarem níveis médios de severidade (área foliar infectada) entre 2% e 3%, correspondendo a uma incidência de 20% a 40%. Aplicar novamente quando o nível crítico de 3% de severidade for atingido, até o estádio de grãos em massa mole. Embora sejam de período residual mais longo, as misturas formuladas de triazol com estrobirulina apresentam controle inicial mais lento que os dos triazóis isoladamente.

Para controle de oídio e ferrugem da folha em cultivar altamente suscetível, a aplicação deve ser feita quando o nível de severidade atingir entre 1% e 2%, respectivamente. Reaplicar quando o nível crítico de severidade for atingido novamente. Nas cultivares suscetíveis ao oídio, a primeira aplicação pode também ser feita com fungicida específico para esta moléstia.

 

Embora o controle químico de giberela com certos fungicidas seja tecnicamente viável, no momento não há produtos comerciais registrados no MAPA para esse fim, em cevada.

 

Fatores a serem considerados antes da aplicação de fungicidas

a) Diagnose correta

A diagnose correta da(s) doença(s) ocorrente(s) será importante para a escolha do fungicida mais eficiente.

 

b) Estádio limite de aplicação

O limite para a aplicação de fungicidas vai até o estádio de grãos em massa mole.

 

c) Técnicas corretas de aplicação

 

Além da exigência de um potencial de rendimento, da diagnose correta das doenças e da escolha do produto mais eficiente, o sucesso do uso de fungicidas depende fundamentalmente da técnica de aplicação empregada. Como consequência, essa é uma prática que exige, em todas as suas fases, a participação da assistência técnica. É importante considerar também:

• a época de aplicação de fungicidas é um dos fatores mais importantes para a obtenção de resultado positivo;

 

• a reação (suscetibilidade/resistência) da cultivar define o momento da aplicação, bem como o gradiente de evolução da doença;

 

• adição de espalhante adesivo;

 

• evitar aplicação em dias com possibilidade de chuva;

 

• evitar aplicações nos 4 a 5 dias subsequentes a geadas fortes.

 

Técnicas indicadas para a aplicação de fungicidas

Os fungicidas poderão ser aplicados de forma terrestre ou aérea, usando-se equipamentos adequados para cada caso.

 

Aplicações terrestres de fungicidas para o controle de doenças da parte aérea deverão obedecer aos seguintes parâmetros:

 

• volume de calda: 100 a 200 L/ha;

 

• diâmetro médio volumétrico(DMV) da gota: 200 a 400μ;

 

• número de gotas/impactos por cm³:

 

• 30 a 40 para os fungicidas sitêmicos e

• 70 a 80 para os fungicidas de contato.

 

 

Viroses

A virose conhecida como “nanismo-amarelo-da-cevada” é uma doença que acomete diversos cereais de inverno limitando a produção de grãos no Brasil e no mundo. Como o seu nome sugere, os sintomas típicos desta doença são a redução do crescimento da planta e a alteração da cor do limbo foliar. Também são sintomas típicos, a redução da massa foliar, da massa de raízes, do número e do peso de grãos. Em campo os sintomas são observados na forma de reboleiras. Como para outras viroses, os sintomas tendem a ser mais severos quanto mais cedo durante o desenvolvimento da planta ocorrer a infecção. A expressão dos sintomas é favorecida por temperaturas mais baixas e alta luminosidade.

Esta doença é causada não apenas por uma espécie de vírus, mas por um complexo composto por distintas espécies, pertencentes uma única família (Luteoviridae). Estes vírus são transmitidos por pulgões ou afídeos (Hemiptera, Aphididae). Originalmente os vírus causadores do nanismo-amarelo em cereais foram classificados em função da especificidade de transmissão pela espécie de vetor (inseto), estando posicionados em dois gêneros: Luteovirus e Polerovirus.

 

Na planta infectada, as partículas virais circulam pelo sistema vascular (floema). A transmissão do vírus requer a presença do afídeo (pulgão) vetor, que ao se alimentar da seiva de uma planta infectada multiplica as partículas virais acumulando-as na glândula salivar do inseto. Assim, quando este afídeo (pulgão) se alimenta em uma planta sadia ocorre a transmissão do vírus. Este vírus não é transmitido por nenhum outro inseto, sementes, solo ou mecanicamente. A capacidade de infectar várias espécies de gramíneas perenes e anuais que atuam como reservatórios do vírus ao longo do ano e a capacidade de transmissão por diversas espécies de afídeos são dois componentes importantes na epidemia e na expansão da população viral.

Considerando que não há medidas de tratamento após a infecção, devem ser empregadas estratégias que visam impedir a entrada e disseminação do vetor na lavoura. Podem ser utilizadas para este fim: as práticas culturais, o controle químico e o controle biológico do vetor. As práticas culturais visam eliminar as “pontes verdes” que atuam como reservatórios do vírus e de seu vetor fornecendo a fonte de inóculo para culturas sadias em implantação. O controle biológico teve grande êxito no Brasil reduzindo de forma considerável a população de afídeos. O controle químico pode ser realizado no tratamento de sementes e em aplicações após a implementação da cultura, que são determinadas em função da população do afídeo. Além destas medidas, devem ser utilizadas cultivares que tenham resistência ao vetor e ao vírus. A resistência genética da planta é considerada um dos melhores métodos para o controle de pragas e doenças, uma vez que não necessita da operação de aplicação, não apresenta custos diretos para o agricultor, não agride o ambiente e é compatível com os demais métodos de controle.