Coco
Coprodutos
Autor
Maria Urbana Corrêa Nunes - Embrapa Tabuleiros Costeiros
O coqueiro é uma planta de grande importância socioeconômica que, além de produzir a água-de-coco e o albúmen para indústria de alimentos e cosméticos, gera grande quantidade de resíduos. Atualmente, os resíduos do coqueiro — casca, cachos, folhas senescentes (Figura 1), “quenga” e paneiros — podem ser considerados como coprodutos devido ao alto valor agregado que possui.
Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2006
Figura 1. Resíduos do coqueiro. A: cachos com brácteas, B: cascas e C: folhas.
Entre os componentes do coco (Figura 2), a casca, que é constituída pelo exocarpo e pelo mesocarpo, representa em torno de 57% do fruto (Figura 3), porcentual que varia com as condições de clima e solo da região de cultivo, manejo da cultura e a variedade utilizada.
Foto: Fernando Luis Dultra Cintra, 2010
Figura 2. Fruto do coqueiro gigante mostrando de fora para dentro o epicarpo (casca externa), mesocarpo (fibras e pó), endocarpo (casca que protege a polpa) e albúmen sólido ou polpa (parte branca).
Foto: Fernando Luis Dultra Cintra, 2010
Figura 3. Casca de coco.
No Brasil, são produzidos anualmente 1.116.969.000 frutos com peso médio de casca de 0,9 kg (coqueiro-gigante) e rendimento médio de aproximadamente 30% de fibra e 70% de pó no processo industrial. Estimando-se que 80% da produção brasileira de coco se destinam à indústria de copra, tendo como subproduto a casca, o Brasil tem um potencial de produção de 804.218 t de casca que, após a industrialização, resultariam em 241.265 t de fibra e 562.953 t de pó.
No Nordeste, são cultivados 224.918 hectares de coqueiros IBGE (2009), o que resulta em uma produção anual de resíduos do coqueiro na região Nordeste de aproximadamente, 729 mil toneladas de casca; 595 mil toneladas de folhas e 243 mil toneladas de inflorescência, totalizando 1 milhão e 567 mil toneladas de resíduos.
Entretanto, a maior parte da casca produzida no Brasil é incinerada nos locais onde se faz o descascamento dos frutos ou é jogada no lixo, descartando-se, dessa maneira, uma quantidade significativa de material de alto valor para a indústria e para a agricultura. Vale ressaltar que este potencial é maior quando se considera o fato de que, após a retirada da água de coco, uma grande quantidade de casca de coco verde é descartada no meio ambiente, tornando-se casca seca (Figura 4).
Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2008
Figura 4. Cascas de coco verde descartadas no meio ambiente
O mesocarpo do fruto é constituído pelas fibras e pelo pó. Fibra é o nome dado ao material fibroso em formato de fios e o pó refere-se ao material de enchimento dos espaços entre as fibras. A demanda mundial de fibra e pó está crescendo vertiginosamente, em razão do interesse manifesto pelos países ocidentais por produtos que não causam impacto ao meio ambiente. Atualmente apresentam grande valor agregado tanto para a agricultura quanto para a indústria, alterando assim sua atual condição de subprodutos.
Os processos industriais de desfibramento da casca diferem, tanto em rendimento quanto em tipos de produtos gerados, dependendo de seu objetivo. No processo industrial, cujo principal propósito é a produção de fibra longa, a casca passa por esmagamento e lavagem e, em seguida, entra num desfibrador, do qual saem a fibra longa, a fibra curta e o pó. A fibra longa passa pelo processo de penteamento, seguido pela secagem em estufa e pelo enfardamento. A fibra curta e o pó saem misturados do desfibrador e, em seguida, são separados por peneiramento. Em outro tipo de processo industrial, as fibras longas (Figuras 5A e 5B), utilizadas para produção de vassouras, e curtas (Figura 6) não são separadas pelo desfibrador, produzindo assim a fibra mista e o pó (Figura 7).
Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2006
Figura 5A. Fibra marrom longa.
Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2006
Figura 5B. Fibra marrom longa cortada para fabricação de vassouras.
Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2006 Foto: Maria Urbana Corrêa Nunes, 2006
Figura 6. Fibra marrom curta Figura 7. Pó da casca de coco.
A qualidade da fibra depende da variedade cultivada, do processo de extração, do grau de maturação do fruto e das condições climáticas do local onde se faz o cultivo. Esta qualidade é determinada principalmente pelas propriedades físicas como diâmetro, comprimento, elasticidade e rigidez.
Existem três tipos de fibras: fibra branca longa, fibra marrom longa e fibra marrom curta. A fibra branca é extraída da casca do coco-verde com 8 a 10 meses de idade; é mais fina, mais longa e mais macia do que a fibra marrom. A fibra marrom longa pode ser fina ou grossa. As fibras marrons são extraídas de cocos maduros com aproximadamente 12 meses de idade. Um terço do material fibroso é constituído de fibras longas, e dois terços, de fibras curtas. É produzida principalmente pela Índia (120 mil t/ano), Sri Lanka (73 mil t/ano), Tailândia (15 mil t/ano) e Filipinas (15 mil t/ano). A Índia é o principal produtor de fibra branca. No Brasil, os principais produtores de fibra longa, fibra curta e pó são os estados de Sergipe e Ceará, e de fibra mista, o Estado de Pernambuco. Toda a produção se destina ao mercado interno. O aproveitamento industrial da casca de coco no Brasil ainda é muito baixo. O Estado de Sergipe industrializa apenas 30% da casca produzida a um raio de 80 a 100 km da capital.