Coco
Anel Vermelho
Autores
Dulce Regina Nunes Warwick - Embrapa Tabuleiros Costeiros
Viviane Talamini - Embrapa Tabuleiros Costeiros
As primeiras epidemias começaram a surgir no começo do século passado, em Trinidade, Jamaica, Honduras, Cuba e Porto Rico. Mas somente em 1919, foi determinado que o agente causal do anel-vermelho era um nematoide. No Brasil, esta doença foi constatada pela primeira vez em 1954, no Estado do Rio de Janeiro.
Agente causal
O nematoide causador é Bursaphelenchus cocophilus que até recentemente era denominado Rhadinaphelenchus cocophilus.
Sintomas
Somente após o terceiro ano de implantação do coqueiral, quando já houver a formação de tecido do tronco, é que as plantas ficam susceptíveis ao ataque do nematoide. A ocorrência da doença é mais frequente em coqueiros de 5 a 15 anos.
Externamente, as folhas murcham, tornando-se amarelo-ouro, começando na ponta dos folíolos e avançando em direção à ráquis. Geralmente, essas folhas quebram, permanecendo por alguns dias somente com um tufo central de 4 ou 5 folhas verdes (Figura 1). Em alguns casos, ocorre a queda de frutos, porém as inflorescências permanecem normais.
Foto Dulce Warwick, 2010.
Figura 1. Sintomas externos do anel vermelho, mostrando a morte ascendente das folhas.
Internamente, o sintoma mais evidente é uma faixa avermelhada de 2 a 4 cm de largura no estipe do coqueiro, o qual é típico da doença (Figura 2). Esse sintoma, no entanto, varia de acordo com a idade da planta, variedade e condições do plantio.
Foto Dulce Warwick, 2010
Figura 2. Sintoma interno típico de anel vermelho.
Ocasionalmente, alguns coqueiros apresentam toda a parte central do estipe avermelhada, dificultando a correta diagnose. Dependendo do local por onde ocorre a penetração do nematoide, pode ou não haver a formação do anel completo, algumas vezes aparecem somente faixas longitudinais ou semicirculares avermelhadas no estipe, e manchas avermelhadas nas ráquis foliares. Os sintomas internos avançam mais rapidamente que os sintomas externos, resultando na morte da planta.
Danos, distúrbios fisiológicos e epidemiologia
O anel-vermelho causa sérios danos à produção de coqueiro em todo o país, atacando ainda várias palmeiras de importância econômica, entre elas o dendê. O principal agente de transmissão da doença é a broca-do-olho do coqueiro Rhynchophorus palmarum (Figura 3).
Foto: Tatiana Maia, 2010
Figura 3. Adulto da broca-do-olho-do-coqueiro, Rhynchophorus palmarum
As plantas infectadas pelo anel-vermelho entram em processo de fermentação e putrefação, exalando odores que atraem os insetos vetores. Estes penetram na planta, perfurando os tecidos tenros da gema apical e, desta forma, ficam contaminados interna e externamente com o nematoide. A oviposição de fêmeas em coqueiros já infectados é provavelmente a maneira mais comum de ação do vetor.
Quando os insetos adultos emergem e saem à procura de novas plantas, levam em seus corpos os nematoides. Estudos realizados em Trindade demonstraram que mais de 47% de insetos estavam contaminados com B. cocophilus, ao emergirem de plantas mortas pelo anel-vermelho.
As plantas sadias são contaminadas principalmente no ato da oviposição das fêmeas, ou ainda pelas fezes que são depositadas nas axilas foliares. Os nematoides contaminam os tecidos da planta através de feridas provocadas pelo homem ou pelo próprio inseto, recomeçando o ciclo da doença e dos vetores. O corte de folhas de palmeiras, em geral, exala compostos que atraem a broca.
R. palmarum, na fase adulta, é um besouro de cor preta que mede cerca de 3,5 a 5 cm de comprimento. A larva tem coloração branco-creme e cabeça marrom, com o corpo recurvado, sendo que os segmentos da parte mediana do corpo são mais longos que os das extremidades. O macho adulto distingue-se da fêmea pela presença de pelos sobre o rostro.
A transmissão do anel-vermelho pode ocorrer ainda via contato direto entre a raiz de uma planta contaminada e a de uma planta sadia, através das ferramentas de corte no ato da colheita, ou pelo corte de raízes, quando da operação de gradagem.
Outras plantas hospedeiras do nematoide. Além de todas as variedades de coqueiro, são também suscetíveis as espécies buriti-do-brejo (Mauritia flexuosa), jerivá (Syagrus romanzoffiana), coco-babão (S. schizophylla), dendezeiro (Elaeis guineensis), inajá (Maximiliana maripa), macaúba (Acrocomia aculeata e A. intumescens), palmeira real (Roystonia regia e R. oleraceae), piaçava (Attalea funifera), tamareira (Phoenix dactylifera e P. canariensis), ouricuri ou licuri (Syagrus coronata), pupunha (Bactris gasipes) e Sabal umbraculiferum.
Controle
As medidas fitossanitárias de controle do anel-vermelho incluem a redução da população do inseto vetor e a eliminação de plantas infectadas para a redução do inóculo.
Como medida preventiva de controle do anel-vermelho, deve-se evitar qualquer corte da planta que libere voláteis atrativos a R. palmarum, desaconselhando-se gradagens profundas e corte de folhas ainda verdes.
Por ser uma doença letal, ao confirmar-se o diagnóstico, as plantas doentes devem ser eliminadas imediatamente. Para isto, pode-se usar herbicida injetado diretamente no tronco da planta, ou fazer a derrubada das plantas com motosserra ou machado. Em geral, essas plantas abrigam larvas de R. palmarum, sendo necessário portanto a destruição da planta eliminada.
Ao observar uma planta com sintomas externos, deve-se confirmar o diagnóstico por meio de análise feita em laboratório, evitando-se assim o corte de plantas com outros sintomas relacionados a uma possível deficiência nutricional, ou um problema fisiológico.
O método de controle mais eficiente é através da redução da população do inseto vetor, utilizando-se iscas atrativas.
A utilização de iscas de cana-de-açúcar com melaço, colocadas em balde plástico ou em tanques de alvenaria, tem demonstrado uma grande eficiência na captura de R. palmarum. Em um recipiente com capacidade para 50-100L, colocar ,aproximadamente, 30 pedaços de cana de 40 cm de comprimento, cortados ao meio longitudinalmente, e levemente amassados. Deve ainda ser adicionada uma calda com 200 ml de melaço e 800 ml de água (1:4). A tampa deve ter em média três furos de 10 cm de diâmetro, nos quais são adaptados funis, cortados transversalmente no terço inferior, permitindo a entrada dos insetos e dificultando a sua saída. Os baldes deverão ser colocados ao redor do plantio, distantes 100 m uns dos outros. As iscas devem ser trocadas a cada 15 dias, ocasião em que os insetos serão coletados e destruídos .
Em pesquisas conduzidas na França, Costa Rica, Venezuela e Brasil, chegou-se à identificação de um feromônio de agregação que, exalado por machos, atrai outros insetos da espécie. Os bioensaios realizados em laboratório e no campo demonstraram que este feromônio interage com os voláteis da cana, aumentando a eficiência das armadilhas, sendo utilizado pelo agricultor brasileiro com muito sucesso. Estas iscas com feromônio dispensam a utilização do melaço.
Alguns inimigos naturais, como vírus, nematoides, fungos e parasitoides, são citados como redutores da população do inseto, sendo que o parasitoide Paratheresia menezesi e o fungo Beauveria bassiana são os mais promissores. Portanto, deve-se evitar o uso indiscriminado de agrotóxicos no coqueiral.
Plantas como o abacaxi, mamão e cana-de-açúcar, exercem grande atratividade sobre o inseto vetor em zonas epidêmicas, consequentemente, plantios de coqueiros próximos a estas plantas deve ser feito com muita atenção.