Murcha de fitomonas

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Dulce Regina Nunes Warwick - Embrapa Tabuleiros Costeiros

Viviane Talamini - Embrapa Tabuleiros Costeiros

 

A murcha-de-fitomonas, provocada por um protozoário flagelado do floema, é outra doença que provoca a morte de palmeiras. No Suriname, é conhecida como “hartrot” e vem impossibilitando o desenvolvimento da cultura do coqueiro, apesar das condições climáticas bastante favoráveis ao cultivo. Em Cuba, Venezuela, Peru, Equador e Colômbia, é conhecida como “marchitez sorpressiva”. Sua ocorrência também já foi registrada na Costa Rica e na Guiana Francesa.

No Brasil, esta doença foi primeiramente descrita na Bahia em 1982. Foram detectados focos da doença em Alagoas, Sergipe, Paraíba e Mato Grosso. Na região Amazônica, foi a principal causa da morte de coqueiros em grandes plantios. No ano de 1987, foram registradas perdas de 26,5 a 34% em coqueirais pernambucanos.

 

Agente causal

A doença é causada pelo protozoário Phytomonas sp., da família Trypanosomatidae. Estes são fusoides e filiformes, medindo 25,0 a 30,7 µm x 2,3 µm, afilados posteriormente, terminando em um flagelo de 7 µm de comprimento, apresentam-se retorcidos com mobilidade constante.

 

Sintomas.

O primeiro sintoma perceptível da doença é a queda parcial ou total de frutos imaturos, principalmente dos cachos referentes às folhas 12, 13 e 14, e ainda a queda das flores da inflorescência relativa à folha 11 (Figura 1).

             Foto: Dulce Warwick, 2010

             

             Figura 1. Coqueiro com sintomas de murcha-de-Fitomonas.

 

Os frutos já maduros caem mais tarde ou permanecem na planta. Ocorre ainda o empardecimento e o ressecamento das espiguetas na inflorescência da folha 10 e a queda precoce das flores masculinas. A inflorescência ainda não aberta apresenta as estruturas vegetais internas com coloração cinza-amarronzada (Figura 2).

                 Foto Dulce Warwick, 2010

               

 
Figura 2. Inflorescências ainda não abertas (folha 9), com as estruturas internas necrosadas
 

Nas folhas basais, os folíolos terminais tornam-se amarelo-pálidos, seguido por um empardecimento rápido, evoluindo da extremidade para a base da folha. Os sintomas evoluem das folhas mais baixas para as mais altas, sendo que esta coloração varia dependendo do tipo de coqueiro. O empardecimento generalizado e rápido (4 a 6 semanas) da folhagem é seguido por quebra da ráquis foliar e apodrecimento do meristema central, porém, o estipe do coqueiro não entra em decomposição logo após a morte da planta (Figura 3).

                       Foto Dulce Warwick, 2010

                        

         Figura 3. Sintoma terminal de plantas atacadas por murcha-de-fitomonas.

 

As pontas das raízes apresentam-se azuladas e as raízes terciárias e quaternárias apodrecem rapidamente. Os sintomas externos da folhagem podem ser confundidos com os de outras doenças, como o amarelecimento-letal e o anel-vermelho, sendo imperativa a visualização dos protozoários flagelados no floema, principalmente em regiões onde a doença é pouco conhecida.

Danos, distúrbios fisiológicos epidemiologia. Na Ilha de Trinidad, é conhecida como “Cedros wilt”, denominação que se deve à destruição de 15.000 coqueiros, em apenas 3 anos na região de Cedros.

Os percevejos do gênero Lincus, da família Pentatomidae, são vetores do protozoário, porém muitas vezes é difícil encontrá-los em plantas atacadas. Dependendo do país ou região, já foram reconhecidas as seguintes espécies: L. croupius, L. apollo, L. dentiger, L. lobulliger, L. vandoesburgi, L. lamelliger e L. spathuliger. Esses percevejos são encontrados nas axilas foliares ou na base da copa. No Nordeste do Brasil, ocorre a espécie L. lobulliger (Figura 4), enquanto que na região Amazônica, acredita-se que o vetor seja do gênero Ochlerus.

              Foto: M.Dollet

              

               Figura 4. Lincus sp., transmissor da murcha-de-fitomonas.

 

É importante também salientar que, em geral, os ataques da doença ocorrem em plantas já em produção. O período infeccioso é de 4 a 8 meses e, de uma maneira geral, a murcha aparece em árvores de 4 a 5 anos, em casos isolados. Após algum tempo, dependendo da variedade, a disseminação é rápida, levando à eliminação quase total do plantio. Em geral, os primeiros casos são detectados na bordadura do plantio, disseminando-se rapidamente e ocasionando a morte de muitas plantas.

 

Controle

O controle dessa doença deve ser iniciado com a erradicação e queima das plantas afetadas. A área do coroamento deve ser mantida limpa, principalmente em locais mais úmidos, pois embora as plantas daninhas não sejam susceptíveis a fitomonas, podem servir de abrigo para o inseto vetor. Em plantios comerciais, observa-se que os focos da murcha desenvolvem-se justamente em locais com uma manutenção deficiente, com as coroas das plantas invadidas por espécies lenhosas. Também é comum a ocorrência de focos da doença em locais próximos a cursos de água e em áreas de difícil acesso.

Quando as plantas híbridas estão em início de produção e sua folhagem ainda toca o solo, devido à própria arquitetura da planta, ocorre o fácil acesso dos vetores. Cortando-se as extremidades das folhas, impede-se em boa parte o acesso dos percevejos do solo e das leiras ao coqueiro.

O combate sistemático ao inseto vetor é outra medida recomendada, em geral com a utilização de deltametrina. O tratamento deve ser feito ao redor das plantas mortas, na cobertura vegetal, e ao longo dos talhões localizados nas margens dos rios. No entanto, esse combate químico, só deve ser realizado após o aparecimento dos primeiros casos de doença no plantio.

Em regiões muito úmidas, a inspeção fitossanitária dos locais próximos da mata deve ser feita com maior rigor, e esse método de controle pode ficar restrito aos focos da doença, evitando-se uma pulverização generalizada do coqueiral. O combate à murcha-de-fitomonas necessita de dois tipos de intervenções sistemáticas, contribuindo ambas para a redução populacional do inseto vetor, única maneira de disseminação do patógeno, quais sejam o combate das populações dos percevejos com inseticida e a limpeza da vegetação rasteira que abriga locais para a sua multiplicação. Somente um manejo adequado permitirá uma exploração racional da cultura nas regiões onda a doença é epidêmica.

Em testes realizados na Guiana Francesa, todas as variedades mostraram-se, igualmente sensíveis ao ataque da doença.