Coco
Solos da Baixada Litorânea
Autor
Fernando Luis Dultra Cintra - Embrapa Tabuleiros Costeiros
A Baixada Litorânea é uma região típica de produção de coqueiro no Nordeste do Brasil , estendendo-se, principalmente, pela faixa litorânea situada entre os estados da Bahia e Ceará. As classes de solo que predominam nesta unidade de paisagem são Neossolos Quartzarênicos e Espodossolos formados por sedimentos areno-quartzosos. São solos pouco evoluídos, com teor de areia na fração textural superior a 90% e apresentam como principais características a baixa capacidade de retenção de água e baixa fertilidade natural.
É nesses solos, com textura excessivamente arenosa, que se concentram os plantios de coqueiro. A textura tem grande influência no comportamento do solo, pois é ela que determina os fenômenos de superfície, os quais influenciam as principais propriedades físicas, químicas e biológicas. Solos arenosos apresentam, em geral, baixas fertilidade natural e capacidade de retenção de água, elevado fluxo de água, maior variação de temperatura em relação aos outros tipos de solo, decomposição elevada da matéria orgânica, alta porosidade (com predomínio de macroporos) e baixa agregação. Todas estas características têm importância fundamental no desenvolvimento das plantas e, em especial, do coqueiro.
Apesar da similaridade dos solos da Baixada Litorânea, a combinação dos fatores edafoclimáticos ao longo do litoral resulta em comportamento diferenciado dos sistemas de produção, tanto na longevidade dos coqueirais quanto na produção de frutos. Este fato sinaliza para a importância de se estar atento à seleção das práticas de manejo a serem recomendadas, ou seja, as práticas de manejo do solo indicadas para o litoral do Estado de Sergipe não deverão ser, necessariamente, as mesmas utilizadas no extremo Sul da Bahia ou no litoral cearense, a despeito de se tratar do mesmo tipo de solo.
Estas diferenças entre os sistemas de produção de coco ao longo do litoral estão relacionadas, principalmente, às variações existentes nas perdas de água por evaporação e transpiração resultantes das variações climáticas, na lixiviação de nutrientes devido às pequenas variações na textura e/ou nos teores de matéria orgânica, e às diferenças no suprimento de água para as plantas devido à flutuação do lençol freático. A posição do lençol freático no perfil do solo é estratégica para o bom desempenho dos coqueirais, por ser esta a principal fonte de suprimento de água para as plantas durante a estação seca.
O baixo suprimento de água nos meses mais secos do ano, quando os períodos de déficit hídrico chegam a atingir de 3 a 5 meses em algumas áreas de produção da Baixada Litorânea, se constitui no principal fator limitante para o desenvolvimento dos coqueiros. Coqueirais implantados em áreas com lençol freático próximo à superfície têm maior probabilidade de atingir índices elevados de produtividade face à regularidade no suprimento de água.
Quando a posição do lençol freático no perfil do solo é muito variável, atingindo a superfície na estação das chuvas e se posicionando distante da zona da ação do sistema radicular na estação seca, as plantas são submetidas a estresse hídrico muito elevado. Nesses casos, o sistema radicular é mantido sob condições de baixa oxigenação durante parte do ano, e durante a estação seca fica impedido de qualquer acesso às reservas de água do solo. Desta forma, nas situações em que o lençol freático for profundo, abaixo de 3 m na estação seca, é recomendável que as práticas de manejo do solo se atenham, principalmente, à adição de matéria orgânica e à cobertura máxima do solo visando minimizar as perdas de água por evaporação e transpiração e proporcionar, assim, maior retenção de água e nutrientes na camada superficial do solo onde se localiza a maior parte das raízes ativas.
Uma das estratégias utilizadas pelos produtores de coco para melhorar a disponibilidade e o suprimento de água para as plantas durante a estação seca é reduzir a vegetação nativa nas entrelinhas de plantio. Os pequenos produtores, em geral, lançam mão do coroamento manual, minimizando a competição direta por água e nutrientes na zona de maior concentração de raízes. Os produtores com acesso a máquinas e equipamentos se utilizam dessas ferramentas com o mesmo objetivo, porém, neste caso, outras questões relacionadas à conservação do solo e possíveis danos ao sistema radicular estão envolvidas.
A cobertura do solo e adição de matéria orgânica nos coqueirais adultos da Baixada Litorânea, além de reduzir perdas de água por evaporação, poderá contribuir, também, para melhorar a retenção de água e de nutrientes, com reflexo na manutenção ou melhoria da capacidade produtiva do solo. A utilização de plantas de cobertura nas entrelinhas dos coqueirais, a cobertura da zona do coroamento com resíduos vegetais e a utilização de compostagem laminar, na qual resíduos vegetais são associados a estercos e vermicompostos, são exemplos de estratégias que podem contribuir para minimizar os problemas vivenciados pelos produtores de coco da Baixada Litorânea.