Consórcio nas entrelinhas

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Humberto Rolemberg Fontes - Consultor autônomo

Carlos Roberto Martins - Embrapa Clima Temperado

 

As entrelinhas constituem as áreas situadas entre as linhas de plantio, local este onde o pequeno produtor utiliza para consorciação com outras culturas, nos anos que antecedem o início da fase produtiva do coqueiro. Esta prática é muito comum principalmente entre pequenos produtores, uma vez que permite o melhor aproveitamento de área da propriedade.

Na região litorânea do Nordeste do Brasil, onde é cultivado o coqueiro Gigante do Brasil sem irrigação, a mandioca predomina entre as culturas consorciadas, em função não só da sua maior adaptação aos solos arenosos de baixa fertilidade, onde tradicionalmente é cultivado o coqueiro, como também pela importância da farinha de mandioca como alimentação básica do pequeno produtor nordestino. Recomenda-se, no entanto, um coroamento com aproximadamente 2 m de raio, com o objetivo de reduzir a competição por água e nutrientes na zona de abrangência das raízes dos coqueiros, evitando também o sombreamento proporcionado pela mandioca. Quando bem manejada, além de cobrir os custos de produção nos três primeiros anos de cultivo, a consorciação com mandioca favorece o crescimento dos coqueiros.

Na região dos Tabuleiros Costeiros e Baixada Litorânea do Nordeste do Brasil, além da mandioca, são utilizadas outras culturas, tais como milho e feijão-caupi, entre outras.  Estudos realizados comparando diversos sistemas de consórcio em área de tabuleiro costeiro (mandioca, inhame, batata doce, milho x feijão x amendoim) em relação ao plantio solteiro com manutenção do solo descoberto com gradagem, utilizando coqueiros híbridos PB 121 (Gigante Oeste Africano x Anão Amarelo da Malásia), demonstraram que aos 31 meses de idade, o consórcio com mandioca apresentou redução significativa do número de folhas vivas e emitidas, e da circunferência do coleto dos coqueiros em relação aos demais sistemas de consórcio. Aos 36 meses, somente 21,05% das plantas deste tratamento apresentavam emissão de inflorescências, constatando-se também redução dos níveis de potássio nas folhas dos coqueiros.

O consórcio apresenta maior viabilidade até o terceiro/quarto ano da cultura, ocasião em que não há limitação de luminosidade. Entre quatro e quinze anos ,aproximadamente, e principalmente quando se adota o sistema de plantio em triângulo equilátero, a deficiência de luz prejudica sensivelmente o desenvolvimento das plantas consorciadas, sobretudo quando se utiliza coqueiros híbridos (Gigante x Anão), que apresentam além de maior vigor, maior número de folhas que dificultam a penetração de luz. Após 20 anos, aproximadamente, o consórcio volta a ser utilizado, embora não apresente a mesma condição favorável observada durante a fase juvenil, uma vez que as raízes apresentam maior desenvolvimento, o que por certo aumentará a competição entre plantas ( Figuras 1 , 2 e 3).

           Foto: Humberto Rolemberg,  2010
          
 
          Figura 1. Cultivo consorciado com gliricidia e culturas de ciclo curto
 
           Foto: Humberto Rolemberg, 2010
         
    
        Figura 2. Cultivo consorciado com bananeiras
 
 
          Foto: Humberto Rolemberg, 2010
        
       Figura 3. Cultivo misto coqueiro com baneiras e mandioca.