Feijão-Caupi
Fungos
Autores
Candido Athayde Sobrinho - Embrapa Meio-Norte
Claudia Sponholz Belmino - Consultora autônoma
Tombamento (Damping-off)
Causada principalmente por fungos dos gêneros Pythium e Rhizoctonia. Durante as 2 ou 3 semanas após a semeadura as plantinhas são bastante suscetíveis e a morte pode ocorrer tanto antes como depois de nascidas.
Frequentemente, quando o ataque é provocado por Rhizoctonia, os sintomas são logo percebidos no caule, onde se observam lesões deprimidas, alongadas e marrons, que aparecem por vezes circundando todo o colo. Quando o ataque é de Pythium, a doença avança até acima da linha do solo e, nesse caso, a lesão assume tonalidade esverdeada com aspecto molhado. Quando há muita umidade e temperaturas amenas, o desenvolvimento das lesões é muito rápido, causando a murcha e o tombamento das plantas. Assim, observam-se falha na germinação e, consequentemente, redução do número de plantas no campo (Figura 1).
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 1. Tombamento. |
Esses patógenos são habitantes do solo, podendo infectar as sementes e as plantinhas no momento da germinação. Sobrevivem no solo, associados a restos culturais, alimentando-se de matéria orgânica ou parasitando plantas suscetíveis. A disseminação da doença é feita pelas práticas culturais, água de irrigação, vento e sementes infectadas.
Os métodos de controle se baseiam fundamentalmente no emprego de sementes sadias e certificadas, no tratamento das sementes com fungicidas antes do plantio, nas práticas culturais como a rotação de culturas com espécies resistentes (gramíneas), na eliminação de restos culturais e na diminuição da profundidade de semeadura, para permitir a emergência mais rápida das plantinhas.
Podridão-das-raízes
O principal agente da podridão-das-raízes é o fungo Fusarium solani (Martius) Appel & Wr., amplamente disseminado em quase todas as áreas produtoras, especialmente naquelas onde predominam solos arenosos.
O sintoma primário tem início na raiz principal que, a princípio, apresenta discreta coloração avermelhada, progredindo em intensidade e extensão. Posteriormente, a coloração avermelhada assume um tom marrom, época em que os tecidos se rompem em fendas longitudinais e são verificados apodrecimento do tecido interno da raiz e desintegração dos feixes vasculares, com a consequente interrupção da circulação de seiva, surgindo um amarelecimento geral, murcha, seca e morte das plantas (Figura 2).
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 2. Podridão-das-raizes.. |
O fungo é um habitante natural do solo, onde normalmente atua como organismo que se alimenta de material vegetal morto ou em decomposição e, eventualmente, causa doença na planta. Pode ser disseminado por partículas de solo infestado aderidas aos implementos agrícolas e a sementes, pela água de chuva e de irrigação e pelos restos da cultura.
A alta umidade do solo, altas temperaturas e a compactação do solo favorecem a doença.
Na ausência de cultivares comprovadamente resistentes, devem ser adotadas algumas práticas culturais como uso de sementes sadias, remoção e queima das plantas doentes, eliminação dos restos culturais, rotação de cultura com algodão e/ou gramíneas, diminuição da densidade de plantio, uso de solos bem drenados e adubados, bem como evitar capinas que causem ferimentos às raízes. A aplicação de calcário na ordem de 1 t ha-1 tem sido eficiente para o controle da enfermidade.
Podridão-cinzenta-do-caule
O agente causal dessa doença é o fungo Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid. Trata-se de um fungo que tem sido constatado em grande número de plantas hospedeiras; daí sua ampla dispersão geográfica.
A doença pode se manifestar em todos os estádios de desenvolvimento das plantas. Os sintomas iniciais aparecem frequentemente no colo, atingindo posteriormente a raiz principal e as partes superiores do caule e ramos primários, onde são observadas lesões acinzentadas, difusas, de aspecto úmido, que evoluem para intensa podridão dos tecidos, definindo uma desagregação parcial ou total dos tecidos e feixes vasculares (Figura 3).
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 3. Podridão-cinzenta-do-caule. |
Na superfície das lesões, são muitas vezes observadas inúmeras pontuações negras (Figura 4), que são as estruturas reprodutivas do fungo. Em razão da desestruturação dos tecidos, ocorre um amarelecimento generalizado, murcha, seca e morte das plantas.
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 4. Podridão-cinzenta-do-caule. |
O fungo é disseminado pelas sementes contaminadas (Figura 5), que resultarão em plantas doentes. Uma vez no solo, sobrevive de um ano para outro nos restos culturais.
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 5. Podridão-cinzenta-do-caule. |
As condições altamente favoráveis ao desenvolvimento da doença são umidade e temperatura elevadas.
Os métodos de controle recomendados se baseiam no emprego de sementes sadias e certificadas, na remoção e queima das plantas doentes, no plantio pouco adensado e, em áreas irrigadas, no manejo adequado da água, visando evitar encharcamento. Recomenda-se um plano de rotação cultural com inclusão de gramíneas forrageiras.
Murcha-de-fusário
A murcha-de-fusarium-do-feijão-caupi é causada pelo fungo Fusarium oxysporum Schl. f.sp. tracheiphilum (E. F. Smith) Synd. & Hans., presente em praticamente todas as regiões onde se cultiva a espécie.
Os sintomas iniciam com uma redução do crescimento das plantas, clorose, e com a queda prematura das folhas, evoluindo para murcha (Figura 6) e posterior morte das plantas. Cortando-se longitudinalmente o caule percebe-se uma descoloração dos feixes vasculares (escurecimento), os quais assumem uma coloração castanha, demonstrando aí a colonização do fungo nos tecidos condutores da planta hospedeira.
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
Figura 6. Murcha-de-fusarium-do-feijão-caupi. |
De uma maneira geral, o fungo sobrevive nos restos de cultura e no solo, sendo seu desenvolvimento e sobrevivência influenciados pelo tipo e estado nutricional do solo, principalmente pelo teor de matéria orgânica. O fungo pode ser transmitido no interior e na superfície das sementes, de onde surgem os focos iniciais da doença em áreas cultivadas. Também é disseminado pelos implementos agrícolas, pela água de irrigação e pelos animais. Ataque de nematoides pode favorecer a doença.
Para o controle da doença, deve-se considerar um conjunto de medidas: escolha de local livre do fungo, definição adequada da época do plantio para se evitar excesso de umidade e altas temperaturas, estabelecimento de um plano de rotação de culturas, emprego de sementes certificadas produzidas em áreas livres da doença e uso de cultivares resistentes.
Mela
A mela é causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk, que ocorre com maior frequência nas regiões quentes e úmidas do Norte do Brasil, provocando perdas expressivas nas épocas de chuvas intensas.
A doença incide mais frequentemente nas folhas, onde, no início dos sintomas, surgem pequenas lesões circulares que evoluem, crescem e rapidamente se unem, formando grandes manchas de aspecto aquoso, tomando grande parte da área do folíolo (Fig. 7). Muitas vezes, o fungo produz uma estrutura vegetativa que, às vezes, liga as folhas umas às outras. Há ocasiões em que ocorre queda prematura de folhas e morte das plantas atacadas.
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 7. Mela. |
Quando do ataque do fungo às folhas, na sua parte dorsal, há normalmente a produção de estruturas de resistência do fungo, as quais, muitas vezes caem na superfície do solo e, com os respingos d’água da chuva, são com frequência carreados para outras partes da planta e também para outras plantas. As folhas baixeiras podem ser infectadas ao contato com o solo.
O fungo é transmitido pelas sementes e sobrevive por um período bastante longo em restos de cultura deixados na superfície do solo. Entretanto, sua sobrevivência é reduzida quando partes da planta que ficam no campo após a colheita são incorporadas em profundidade no solo. Os principais agentes de disseminação da doença são o vento, a chuva, as sementes e o movimento de animais, homens e implementos agrícolas na cultura. Entre os fatores climáticos que a favorecem, encontram-se a temperatura, de moderada a alta, e a alta umidade do ar e do solo.
Medidas isoladas para o controle da doença não têm sido satisfatórias. O correto seria a adoção de um conjunto de medidas visando minimizar a ação do fungo, tais como: o emprego de sementes sadias; evitar cultivos em baixos ou em áreas sujeitas à elevada umidade; maior espaçamento entre as plantas; aração profunda do solo, incorporando os restos culturais a grandes profundidades e rotação de culturas.
Podridão-de-esclerócio
A doença é causada pelo fungo Sclerotium rolfisii Sacc. Sua ocorrência vem crescendo nos últimos anos, tendo sido isolado de várias localidades da região Meio-Norte do Brasil.
Os sintomas se manifestam na região do colo da planta, próximo do solo, sob a forma de manchas escuras, encharcadas (Figura 8), produzindo uma podridão cortical recoberta por um estrutura branca (Figura 9) com aparência de algodão, na qual se desenvolvem numerosas estruturas duras e pardas, que são semelhantes aos grãos de mostarda.
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 8. Podridão-de-esclerócio. |
Foto: Cândido Athayde Sobrinho. | ||
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Figura 9. Podridão-de-esclerócio. |
Sob essas estruturas é observada intensa desestruturação dos tecidos, o que resulta em danos ao sistema vascular, com consequente amarelecimento, murcha, seca e morte das plantas.
Esse fungo tem uma extensa gama de hospedeiros e sobrevive por um longo período no solo na forma de estruturas de resistencia e vegetativa. A disseminação do fungo no campo ocorre, principalmente, pelo transporte de material contaminado (solo, esterco, mudas, sementes, etc.), atuando como agentes disseminadores, o homem, os animais, o vento e a água. A enfermidade tem início a partir da presença do patógeno no solo ou quando o mesmo é levado pelas sementes contaminadas. Altas temperaturas e umidade favorecem a germinação das estruturas do fungo.
Na ausência de materiais que apresentem resistência à doença, algumas medidas são recomendadas visando, sobretudo, ao controle preventivo. Entre elas, destacam-se: usar sementes de boa qualidade, promover aração profunda durante o preparo do solo, enterrando os restos culturais abaixo de 15 cm; evitar acúmulo de matéria orgânica junto ao colo e ao caule das plantas; empregar espaçamentos abertos e promover plano de rotação de cultura, incluindo milho e algodão, plantas consideradas resistentes.