Práticas agrícolas

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Gustavo Ribeiro Xavier - Embrapa Agrobiologia

Norma Gouvêa Rumjanek - Embrapa Agrobiologia

Rejane Escrivani Guedes - Consultora autônoma

 

Práticas agrícolas

 

Micronutrientes
 

O molibdênio e o cobalto estão relacionados com o processo de fixação do N atmosférico promovido pelas bactérias por serem elementos importantes nesse processo. O molibdênio faz parte de um cofator do enzimático. A deficiência desse elemento causa amarelecimento e pouco crescimento das plantas e ainda pode causar ineficiência de N em leguminosas, pois as bactérias do solo, associadas a essas plantas, precisam desse elemento para fixar o N atmosférico. O cobalto é essencial aos microrganismos fixadores de N2, pela participação na composição da vitamina B12 e da coenzima cobamida. Quando esses são aplicados junto às sementes, podem afetar consideravelmente o número de células dessas bactérias. Para minimizar danos causados por carência de determinados micronutrientes sobre as bactérias formadoras de nódulos nas raízes das plantas (rizóbios), tem sido recomendado usar o dobro da dose de inoculante, como é usado para áreas de primeiro cultivo.

Além disso, o enriquecimento da semente com molibdênio pode ser uma importante estratégia para otimizar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

 

Fungicidas
 

O tratamento de sementes com fungicidas garante o estabelecimento das plantas por controlar patógenos transmitidos pelas sementes, reduzindo a chance de introdução dos mesmos em lavouras endemes. Estudos têm demonstrado que muitos fungicidas proporcionam a morte de até 100 % das células bacterianas em apenas 2 a 3 horas após a coaplicação desses junto ao inoculante. Isso acontece em decorrência das características físico-químicas de ingredientes empregados em algumas formulações de fungicidas.

Preferencialmente, a inoculação de bactérias formadoras de nódulos nas raízes das plantas (rizóbios) deve ser realizada em sementes sem o tratamento de fungicidas. Entretanto, alguns fungicidas apresentam baixa toxicidade e outros não afetam a sobrevivência de rizóbios, necessitando de conhecimentos prévios sobre toxicidade dos fungicidas.

 

Calagem
 

A acidez é um dos principais fatores que limitam o crescimento das plantas em muitos solos de regiões tropicais e subtropicais.

A acidez promove redução no desenvolvimento da planta, na sobrevivência e multiplicação das bactérias formadoras de nódulos nas raízes das plantas (rizóbio) e, consequentemente, na fixação biológica do nitrogênio. Além de pH em níveis críticos, esses solos apresentam, geralmente, baixa fertilidade natural, destacando-se a presença de alumínio, ferro e manganês, que são tóxicos para a maioria das culturas de interesse econômico. Dessa forma, a correção do solo, visando reduzir a acidez e a toxidez de alumínio, assim como aumentar a disponibilidade de cálcio, fósforo, magnésio e molibdênio, é capaz de resultar em efeito positivo na nodulação, na fixação do nitrogênio e na produção da cultura. A ausência do corretivo promove uma massa nodular inferior à obtida pela adição de diferentes níveis de cálcio. Em teores de alumínio trocável acima de 0,5 cmol kg-1 ocorrem efeitos tóxicos sobre a maioria das leguminosas, possivelmente interferindo no crescimento das raízes, na sobrevivência do rizóbio e no estabelecimento da simbiose.

 

Adubação nitrogenada
 

A nodulação é bastante reduzida, com aplicação de doses elevadas de nitrogênio. Estudos comprovam que diferentes fontes de nitrogênio mostram efeitos variados na nodulação. Os efeitos múltiplos de combinação de N e o funcionamento da nodulação em leguminosas são divididos em três classes: (a) efeito prejudicial na infecção das raízes; (b) efeito negativo do N na atividade da enzima nitrogenase; (c) influência no peso de nódulos por planta. Em feijão-caupi, alguns estudos com cultivares têm mostrado que o efeito inibitório não parece ser tão importante quanto o observado para outras leguminosas. Foi constatada uma larga variabilidade nos parâmetros ligados à FBN, quando cultivares de feijão-caupi foram expostas a doses de 20 a 100 kg de N ha-1.

 

Inoculação da semente em área de primeiro cultivo e cultivos subsequentes
 

As espécies de leguminosas tropicais normalmente são capazes de nodular com uma ampla faixa de bactérias formadoras de nódulos nas raízes das plantas (rizóbios) e, em áreas tradicionalmente cultivadas com uma leguminosa, geralmente observa-se um grupo de rizóbio presente no solo, classificado como grupo miscelânea feijão-caupi ou rizóbio tropical, característica encontrada também em várias outras leguminosas de ocorrência nos trópicos. Porém, essas bactérias nativas do solo não são capazes de manter altos níveis de FBN em decorrência da baixa eficiência simbiótica. A prática de inoculação assegura a utilização de estirpes com reconhecida eficiência, adaptável às regiões de cultivo e com alta densidade de células, acima da população nativa do solo.

Particularmente no caso da região Semiárida, as condições climáticas são responsáveis pela baixa densidade de rizóbio nativo no solo. Nesse sentido, é de se esperar que a prática de inoculação ocorra tanto em área de primeiro plantio como em cultivos subsequentes. Para as áreas de primeiro cultivo, recomenda-se usar o dobro da dose de inoculante.

Em plantios de soja, por exemplo, estudos mostraram aumento significativo (8 %) nos rendimentos de grãos ao se fazer reinoculação das sementes. Resultados similares têm sido descritos em estudos desenvolvidos na Argentina e em outros ambientes da América do Sul.