Feijão
Pós-Produção
Autor
Carlos Magri Ferreira - Embrapa Arroz e Feijão
Fases pós-colheita
Os questionamentos sobre impactos ambientais e segurança dos alimentos atualmente ocorrem pela necessidade de aumentar a produção agrícola para suprir a capacidade de abastecimento e atender a demanda da população. Nesse contexto, discutem-se maneiras de minimizar os efeitos negativos causados na produção, em decorrência da alteração do clima. Para solucionar essa questão, sugerem-se mudanças e aperfeiçoamentos nos sistemas de produção. Um ponto também a ser considerado é o manuseio da produção pós-colheita em virtude de dois aspectos: a) qualquer falha na fase do sistema de produção em desperdício de recursos financeiros e naturais utilizados na produção e b) perdas quantitativas e qualitativas do produto, ou seja, desperdício ou oferta de alimentos com qualidade não adequada. Ambos os casos afetam a segurança alimentar e a satisfação dos consumidores.
A pós-colheita do feijão tem importância especial no sucesso da cadeia produtiva, pois o manuseio inadequado do produto altera fortemente suas características nutricionais, funcionais e o aspecto físico dos grãos. Quando isso ocorre, há depreciação na valoração do produto, visto que os consumidores estão bastante exigentes, não só quanto à aparência dos grãos, mas no quesito qualidade após o cozimento, já que é consumido in natura.
Transporte
O deslocamento de grandes distâncias é explicado pelo fato de o consumidor de feijão ser exigente quanto à qualidade do produto e ter disposição para pagar mais caro por isso, e pelo fato de as produções de São Paulo e Rio de Janeiro, grandes estados consumidores, não serem suficientes para o autoabastecimento.
Normalmente, para que o feijão chegue ao consumidor final, ele passa por dois percursos. O primeiro transporte é o realizado da região produtora até a agroindústria. Sua importância na composição do preço final do produto depende da distância do centro produtor até a indústria. O segundo frete refere-se ao transporte do feijão beneficiado e empacotado da agroindústria até o centro consumidor.
Outro aspecto sobre o transporte do feijão é que praticamente todo estado da Federação exporta feijão e recebe feijão de outras regiões. É um processo dinâmico em virtude, principalmente, da época de colheita, que varia de região, e pela qualidade, que também é variável.
Processamento
As agroindústrias do feijão, em sua maioria, realizam somente as operações de limpeza e empacotamento do produto. Os empacotadores, estrategicamente, localizam-se nas regiões consumidoras. O feijão não gera subprodutos que possam vir a agregar valor na cadeia agroindustrial.
Apesar de ser pequena a quantidade de produtos industrializados no mercado e do baixo número de agroindústrias que realizam algum tipo de processamento e industrialização, é um segmento que merece atenção especial, pois, apesar de existirem barreiras tecnológicas e culturais, esse setor pode sofrer uma expansão, uma vez que há nichos de mercado que desejam consumir feijão de forma mais esporádica e em pouca quantidade. Essa tendência de mercado é um processo irreversível, e as grandes redes de distribuição e supermercados estão se adaptando para atender a esse novo perfil de consumidor. O real potencial desse mercado emergente ainda não está dimensionado, e são poucos os estudos a respeito das características que devem ter a matéria-prima para que as indústrias elaborem seus produtos com mais economia e qualidade.
Consumo
A discussão a respeito do consumo de feijão no Brasil é complexa, em virtude das diferentes exigências e preferências por diversos tipos de feijão-comum, bem como pelo grande consumo de outras espécies, com destaque para o caupi, nas regiões Norte e Nordeste. Tratar desse tema fica mais difícil diante da persistente redução do consumo dessa leguminosa, que analistas mais afoitos associam às questões de competitividade da cultura em relação a outras e à sua baixa capacidade de participação em mercados internacionais.
Mercado
No Brasil, a oferta de feijão ocorre na primeira safra, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, cuja colheita está concentrada nos meses de dezembro a março. A colheita da segunda safra ocorre entre os meses de abril e julho e a terceira safra, em que predomina o cultivo de feijão irrigado, está concentrada em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Goiás/Distrito Federal e oeste da Bahia, sendo ofertada entre julho e outubro. Embora esses períodos possam apresentar variações de ano para ano, pode-se identificar que há colheita praticamente o ano todo, e que existe sobreposição de épocas em algumas regiões.
Existem vários fluxos de abastecimento, pois as regiões produtoras variam durante o ano. Considerando somente o mercado atacadista da cidade de São Paulo, observa-se que, nos meses de janeiro e fevereiro, esse mercado é abastecido com o produto remanescente da colheita de dezembro, do próprio estado, de alguma produção colhida no mês e é complementada com produto dos estados do Sul e da produção de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul. Em março, os estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já encerram a colheita. Em abril, inicia-se a colheita da segunda safra, que vai até junho. Nesse período, volta a entrar produto do próprio estado, de Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso. Rondônia desempenha um papel importante no abastecimento nesse período. No início de junho, Rio Grande do Sul e Santa Catarina encerram suas colheitas e iniciam-se as do oeste da Bahia. Entre julho e agosto, às vezes, o mercado recebe produto importado. Em setembro, encerram-se as colheitas do Paraná e das lavouras irrigadas de São Paulo, Goiás, Bahia, Mato Grosso e de Minas Gerais. Novembro é considerado período de entressafra, a oferta é baixa e se restringe às safras precoces de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Em dezembro, intensificam-se as colheitas nesses estados.
Comercialização
No passado, existiam somente duas safras anuais de feijão: das águas e da seca. O principal canal de comercialização identificado consistia na distribuição do produto a partir dos produtores rurais para o consumo na própria região ou na venda para cooperativas, comerciantes primários, caminhoneiros ou governo. Atualmente, esses canais de escoamento da produção foram otimizados e as indústrias de empacotamento passaram a comprar parte significativa do produto que utilizam diretamente de produtores. Mas os intermediários continuam operando e, principalmente, adquirindo pequenos lotes para posteriormente vender para as indústrias. A comercialização direta de produtores para consumidores ocorre em pequena escala, comumente em feiras nas cidades do interior.