Clima

Conteúdo atualizado em: 01/12/2023

Autor

Silvando Carlos da Silva - Embrapa Arroz e Feijão

Alexandre Bryan Heinemann - Embrapa Arroz e Feijão

 

Os elementos climáticos que afetam a produção de feijão são a temperatura do ar, radiação solar, precipitação pluvial e vento, elementos estes mensurados em estações meteorológicas (Figura 1). 

TEMPERATURA DO AR

A maior parte da produção de feijão é procedente de microrregiões com temperaturas do ar variando de 17°C a 25°C, faixa térmica considerada apropriada para a espécie. Para a germinação do feijoeiro, valores de temperatura do ar em torno de 28 °C são considerados ótimos. Temperaturas do ar elevadas prejudicam o florescimento e a frutificação do feijoeiro.

É sabido que o rendimento de grãos do feijoeiro é bastante afetado quando a temperatura do ar, na floração, apresenta valores acima de 35°C. Da mesma forma, temperaturas do ar abaixo de 12°C podem provocar abortamento de flores, ocasionando decréscimo no rendimento do feijoeiro. Além disto, áreas que apresentam umidade relativa e temperatura do ar acima de 70% e 35°C, respectivamente, podem favorecer a ocorrência de doenças.

Em regiões aptas ao cultivo, o período de semeadura deve ser determinado de forma que a floração ocorra, preferencialmente, com a temperatura do ar em torno de 21°C. Na fase de crescimento vegetativo o calor excessivo aumenta a fotorrespiração reduzindo a taxa de crescimento, principalmente, se ocorrer, também, estresse hídrico. No período compreendido entre a diferenciação dos botões florais até o enchimento dos grãos, temperaturas do ar elevadas causam redução nos componentes de rendimento, notadamente no número de vagens por planta, devido a esterilização do grão de pólen e a consequente queda de flores. A taxa de abscisão de flores e vagens pequenas é uma das maiores limitações no rendimento do feijoeiro e pode atingir índices elevados quando a temperatura do ar diurna e noturna for superior a, respectivamente, 30°C e 25°C. A ocorrência de temperatura do ar inferior a 12°C na fase vegetativa retarda o crescimento das plantas; quando estas ocorrem na diferenciação das estruturas reprodutivas, provocam, em alguns casos, redução no número de grãos por vagem.

Para que o feijoeiro possa atingir seu rendimento potencial torna-se necessário que a temperatura do ar apresente valores mínimo, ótimo e máximo como sendo 12ºC, 21ºC e 29ºC respectivamente. Por outro lado, regiões que apresentam temperatura do ar noturna alta provoca maior prejuízo ao rendimento do feijoeiro.

Áreas das regiões Centro-Oeste, Norte de São Paulo, Sul de Minas Gerais e algumas localidades do Nordeste Brasileiro apresentam as melhores condições climáticas para produção de sementes de feijão, de alta qualidade. As condições do Sul do Brasil, com temperaturas mais amenas e altas umidade relativa do ar, exigem dos produtores de sementes a adoção de um eficiente esquema de manejo e tratamento fitossanitário para a obtenção de um produto sadio.

RADIAÇÃO SOLAR

A radiação solar atinge a superfície terrestre de duas formas, ou seja, radiação direta e difusa. O acúmulo destes dois componentes denomina-se radiação solar global.  A quantidade e intensidade da radiação difusa depende, basicamente, da latitude, altitude, declinação solar e da quantidade de nuvens.

A utilização da radiação solar pelas plantas depende da capacidade de interceptação e de utilização da luz, ou seja, capacidade fotossintética. Desta forma, estudos agrometeorológicos sobre radiação solar em uma comunidade vegetal devem considerar não apenas o processo fotossintético, mas também a estrutura do dossel.

A taxa fotossintética de uma cultura depende não somente da distribuição de radiação solar nas camadas de folhas como também do total absorvido em cada camada. O total de radiação solar que é interceptado, e eventualmente absorvido por uma camada de folhas, está diretamente relacionado com o ângulo foliar, declinação solar, distribuição espectral da radiação, e estruturação das folhas no dossel.

A cultura do feijoeiro quando exposta a baixa quantidade de radiação solar apresenta decréscimo no índice de área foliar, concorrendo para uma menor área de interceptação de energia, interferindo em todo seu metabolismo fisiológico.  Por outro lado, em condições de alta radiação solar, os índices foliares serão maiores, porém, isto não significa que haverá um aumento no rendimento da cultura, pois maior produção de grãos está diretamente relacionada à eficiência fotossintética da cultivar.

A radiação solar influência consideravelmente as taxas de fotossíntese das plantas. O valor de saturação de radiação solar varia com a idade e o tipo da planta. De uma forma geral, pode-se citar que regiões que apresentem valores de radiação solar em torno de 150-250W/m2 podem ser consideradas como ideais para o desenvolvimento do feijoeiro. Acima de 400w/m2 a taxa de fotossíntese é praticamente constante.

É sabido que a luz é imprescindível ao processo fotossintético de assimilação do dióxido de carbono, o qual juntamente com a água e os nutrientes, forma as substâncias de reserva das plantas. Porém, nas condições tropicais, a intensidade luminosa não constitui fator limitante, exceto quando ocorrem períodos de intensa nebulosidade, que reduzem a taxa fotossintética.

PRECIPITAÇÃO PLUVIAL

O rendimento do feijoeiro também é afetado pela condição hídrica do solo. Em todo o seu ciclo, o feijoeiro necessita de precipitação pluvial em torno de 300 mm. O estresse hídrico é mais prejudicial no período de florescimento do que no crescimento vegetativo. Independentemente da magnitude do estresse hídrico, cultivares de feijoeiro respondem diferentemente à diminuição de água no solo durante o período de floração.

FOTOPERÍODO

A duração do dia, definida como o intervalo entre o nascer e o pôr do sol, é conhecida como fotoperíodo. A resposta da planta ao fotoperíodo é denominada fotoperiodismo. As cultivares atualmente empregadas são consideradas insensíveis ao fotoperíodo. A planta de feijão pode ser considerada fotoneutra, ou seja, o comprimento do dia (do nascer ao pôr do sol) não influencia o crescimento e o desenvolvimento da planta.

VENTO

A incidência do vento constante em lavouras de feijão pode aumentar a demanda de água por parte da planta, tornando-a mais suscetível a períodos curtos de estiagem, afetando o desempenho da cultura.

Foto: Sebastião Araújo
Figura 1. Estação meteorológica automática.

 

Infoclima

Dados climáticos históricos diários de 1980 a 2016 para as variáveis precipitação pluvial, temperatura máxima e mínima do ar, radiação solar global, umidade relativa do ar, velocidade do vento e evapotranspiração de 5.242 localidades do Brasil estão disponíveis no site da Embrapa Arroz e Feijão (https://www.cnpaf.embrapa.br/infoclima/). Esses dados climáticos são provenientes de interpolações.