Irrigação por aspersão

Conteúdo atualizado em: 03/08/2023

Autor

Luís Fernando Stone - Embrapa Arroz e Feijão

 

A aspersão, nos seus diferentes sistemas – convencional, autopropelido, irrigação linear e, principalmente, o pivô central –, compreende o maior percentual da área irrigada de feijoeiro em terras altas na região do Cerrado. Esse método tem a preferência de empresários agrícolas e produtores que utilizam bons níveis de tecnologia, embora sua implantação implique custos iniciais elevados.

O método de aspersão (Figura 1) é composto, normalmente, por um conjunto formado por motobomba, tubulações, aspersores e acessórios.

Foto: Lauro Pereira da Mota

Figura 1. Aspersão convencional.

 

O sistema de aspersão convencional é considerado o sistema básico de irrigação por aspersão, do qual derivaram todos os demais. É classificado em portátil, semiportátil e fixo, dependendo do grau de movimentação em campo. Os manômetros (medidores de pressão) são indispensáveis para o bom funcionamento do sistema, o qual é empregado para irrigação de pequenas áreas.

Um sistema de aspersão convencional recentemente empregado no Brasil é o sistema de aspersão em malha. Esse sistema é fixo, com tubulações enterradas. Um único aspersor se movimenta na linha lateral, de diâmetro reduzido, exigindo assim um conjunto de motobomba de baixa potência.

O sistema autopropelido é movimentado por energia hidráulica e possui um aspersor do tipo canhão, montado em uma plataforma, e uma mangueira de alta pressão de até 500 m. É empregado em áreas irrigadas de tamanho médio.

O sistema de irrigação linear, também conhecido como lateral móvel, pode ser definido como um sistema de irrigação por aspersão automatizado, com um sistema de caminhamento que permite mobilidade de todo o equipamento em um sentido transversal sobre a cultura que se deseja irrigar. A alimentação do sistema é feita por canal ou por mangueira. É empregado em áreas irrigadas de grande tamanho. Pode ser dividido em sistema linear, sistema universal linear e sistema linear duas rodas. Esses sistemas possuem uma estrutura aérea, composta por lances, que são estruturas de aço compostas por tubos com pequenas saídas em que são colocados os aspersores e por onde é conduzida a água. Os lances são sustentados por um sistema de treliças e tirantes e apoiados sobre torres móveis. O número de lances é limitado em 22 para o sistema linear, o que dá uma largura de até 1.260 m. Para o sistema universal linear, o limite é de 350 m; para o sistema linear duas rodas, a largura de até 520 m é a mais indicada.

O sistema pivô central é um sistema de movimentação circular, movido a energia elétrica ou diesel. Possui uma linha lateral de aspersores suspensa por torres dotadas de rodas. As torres se movimentam de forma independente por possuírem motores individuais. Normalmente é empregado em áreas irrigadas de grande tamanho.

A aspersão é um método que possibilita o bom controle da lâmina de água aplicada. De modo geral, a eficiência do método é ao redor de 70%, podendo alcançar 90% em alguns sistemas ou até 50% em condições severas de clima. O vento, a umidade relativa do ar e a temperatura são os principais fatores climáticos que afetam o uso da irrigação por aspersão. O vento afeta a uniformidade de distribuição dos aspersores e, juntamente com a temperatura e a umidade relativa do ar, afeta a perda de água por evaporação. O método apresenta as seguintes vantagens:

a) adapta-se a terrenos com declividades mais acentuadas e superfícies menos uniformes;

b) pode ser utilizado em solos com alta capacidade de infiltração e baixa capacidade de retenção de água, como os arenosos, por permitir irrigações frequentes e com menor quantidade de água;

c) propicia, em geral, distribuição de água mais uniforme;

d) interfere pouco nas práticas agrícolas e, em alguns sistemas, os acessórios facilitam a rápida desmontagem do equipamento;

e) a eficiência de condução é alta, pois os condutos fechados evitam perdas de água por infiltração, escorrimento e evaporação;

f) deixa maior área disponível para a cultura devido à ausência de canais e sulcos; 

g) permite maior economia de mão de obra, quando os sistemas são permanentes ou mecanizados;

h) possibilita a irrigação durante o período noturno, aumentando o tempo de irrigação e de utilização do equipamento;

i) permite a aplicação de produtos químicos via água de irrigação;

j) permite o uso de certas águas residuais por proporcionar grande oxigenação na água; e

k) pode ser aplicado na redução da temperatura do ar e na proteção contra geadas. A proteção se consegue com o calor liberado pelo congelamento da água.

Como desvantagens da aspersão, citam-se:

a) não é recomendada para locais de ventos fortes e constantes, pois o vento afeta a uniformidade de distribuição de água pelos aspersores. Em regiões de baixa umidade relativa do ar e de temperaturas elevadas, a perda de água por evaporação pode atingir valores altos;

b) pode favorecer a incidência de doenças nas plantas, por molhar as folhas e aumentar a umidade relativa do ar. Quando o macroclima é favorável a doenças, o microclima resultante da irrigação tem menor importância;

c) pode interferir em alguns tratos culturais por lavar a parte aérea das plantas;

d) pode causar prejuízos à fixação de botões florais ou mesmo de frutos novos devido ao impacto mecânico das gotas, quando os sistemas estão trabalhando abaixo da pressão de serviço recomendada;

e) não permite o uso da água salina para irrigação, por reduzir a vida útil do equipamento, ainda que seja um bom método no controle da salinidade;

f) envolve alto investimento inicial;

g) o traslado de tubulações portáteis e acessórios dos sistemas convencionais é uma operação desagradável e trabalhosa; e

h) pode provocar compactação e erosão do solo quando são utilizadas altas taxas de aplicação de água.

Os aspersores constituem as peças principais de um sistema de aspersão. Têm a finalidade de pulverizar o jato de água, proporcionando a aplicação da irrigação na forma de chuva. Os aspersores podem ser estacionários ou rotativos. Quando rotativos, podem se apresentar com giro completo (360°) ou do tipo setorial, permitindo uma regulagem da amplitude de giro. O ângulo mais comum de inclinação do jato com a horizontal é o de 30°; contudo, o ângulo de 20°–22° é o que melhor se adapta a condições de vento forte. No sistema pivô central e no de irrigação linear, têm-se utilizado difusores estacionários, em que o jato de água é finamente pulverizado pelo choque com anteparo cheio de ranhuras.