Colheita

Conteúdo atualizado em: 19/09/2023

Autor

José Geraldo da Silva - Embrapa Arroz e Feijão

 

A tendência atual para a colheita do feijoeiro está na adoção de mecanizados, tanto para ceifar, quanto para trilhar as plantas, utilizando maquinários especializados. Além das vantagens da mecanização, a mudança de procedimento está ocorrendo por causa da escassez e do custo da mão de obra, que elevam os gastos da colheita manual. Apesar dos avanços alcançados, principalmente com o desenvolvimento de equipamentos colhedores para o feijoeiro, a colheita ainda é uma prática de difícil realização, pois as perdas de grãos continuam elevadas.

A maioria das cultivares de feijão não apresenta plantas com arquitetura de porte e de altura de inserção de vagens favorável ao emprego de máquinas colhedoras. Os feijões não possuem maturação uniforme e são, provavelmente, os mais sensíveis ao impacto mecânico da trilha entre todos os grãos cultivados, além de existir uma grande exigência do mercado para que os grãos tenham elevada qualidade física.

A grande perspectiva para se colher o feijão com sucesso é pela obtenção de cultivares com características mais favoráveis à operação mecanizada, utilização de máquinas de colheita específicas e adoção de boas práticas agrícolas na lavoura, a fim de otimizar o desempenho e as perdas quantitativas e qualitativas de grãos na operação.

Os principais fatores influenciadores de uma boa colheita do feijão são os seguintes: grau de maturidade dos grãos, desenvolvimento do feijoeiro, arquitetura das plantas, qualidade da superfície do terreno e máquina colhedora.

 

Grau de maturidade dos grãos

O feijoeiro deve ser colhido após os grãos alcançarem a maturação fisiológica. Nesse estádio, as plantas estão com as folhas amarelas, vagens mais velhas secas e grãos no seu desenvolvimento máximo. A maturação se refere às alterações morfológicas, fisiológicas e funcionais, que culminam com o ponto máximo de matéria seca nos grãos. Nesse ponto, os grãos alcançam o máximo de poder germinativo e de vigor. Na prática, a maturação fisiológica nos grãos é alcançada com o teor de água de até cerca de 40%. Estando com elevada umidade, só é possível a realização do arranque manual ou da ceifa mecanizada das plantas. Já a trilha das plantas deve ser feita posteriormente. Normalmente, espera-se o teor de umidade dos grãos baixar para aproximadamente 22% para iniciar a trilha manual ou mecanizada. Portanto, uma colheita de sucesso, realizada de forma manual ou com máquinas ceifadoras, inicia-se quando os grãos atingem a maturação fisiológica. Se for realizada com as colhedoras automotrizes, a colheita deve ter início quando os grãos estiverem com um pouco menos de 22% de umidade. Para uniformizar a maturidade das plantas, visando principalmente à colheita mecanizada, é comum se adotar a prática de dessecar as plantas com produtos químicos (herbicidas específicos para esse fim), com antecedência em relação à colheita, principalmente quando se planeja colher com colhedoras automotrizes. Para grãos mais secos, com menos de 15% de umidade, a operação manual de colheita ou das ceifadoras ou das colhedoras, deve-se realizar nos horários de menor incidência solar, na parte da manhã ou no final da tarde, a fim de minimizar as perdas de feijão e os danos mecânicos nos grãos.

 

Desenvolvimento do feijoeiro

Uma colheita de sucesso se consegue quando as plantas estão bem desenvolvidas e produtivas. No caso da colheita mecanizada, as colhedoras apresentam melhor desempenho em lavouras de plantas uniformes. Se a máquina for abastecida de plantas de forma intermitente, além de provocar maior perda de grãos na operação, ocorrem mais danos à própria máquina, principalmente naquelas que fazem a trilha. Falhas no plantio, controle inadequado de plantas daninhas na lavoura, uso de espaçamentos irregulares entre plantas e presença de plantas doentes e subdesenvolvidas representam alguns dos fatores que depreciam a colheita mecanizada e afetam a perda e a qualidade dos grãos de feijão-comum.

 

Arquitetura das plantas

Em alguns casos a arquitetura das plantas do feijão-comum tem interferido negativamente na colheita, principalmente na colheita mecanizada, pois muitas cultivares não possuem características favoráveis à operação das máquinas de colheita, como porte ereto e altura adequada das vagens em relação ao solo, que poderiam contribuir para a redução da perda de grãos. Na Figura 1, pode ser vista a distribuição das vagens numa planta de feijão-comum com uma grande concentração de vagens no terço inferior onde operam as máquinas colhedoras. Existem dois tipos de hábito de crescimento em plantas de feijoeiro: determinado e indeterminado. O primeiro, do tipo I, também é denominado de arbustivo, pelo fato de a planta ser comparativamente baixa e com ramificações curtas. O hábito indeterminado se divide em três tipos: tipo II – indeterminado, com ramificação ereta e fechada; tipo III – indeterminado, com ramificação aberta; e tipo IV – indeterminado, prostrado ou trepador. A maioria das cultivares de feijão-comum no Brasil possui hábito de crescimento indeterminado com plantas dos tipos II e III. As cultivares comerciais de grãos pretos e de grãos do tipo carioca são exemplos dos tipos II e III. As cultivares do tipo II são mais apropriadas à colheita com máquinas que as do tipo III. Já as dos tipos I e IV geralmente apresentam grande perda de grãos na colheita mecanizada.

Foto: José Geraldo da Silva
Figura 1. Exemplo de distribuição das vagens nas plantas de uma cultivar de feijão.

 

Qualidade do terreno

Por causa do ciclo muito curto de produção do feijoeiro, muitos restos vegetais presentes na lavoura não se decompõem a tempo e causam problemas no momento da colheita. Da mesma forma, os sulcos deixados no solo pela semeadora no ato do plantio não se desmancham pela ação física natural, como a da água, nesse período curto de produção do feijão-comum. Esses fatores interferem na colheita, pois as máquinas operam muito próximo do solo e recolhem e misturam terra e palha às plantas de feijão-comum, depreciando os grãos. Para contornar esse problema e ter êxito na colheita, são recomendadas diversas práticas para a lavoura de feijão-comum. O uso do picador e espalhador de palhas nas colhedoras, durante a colheita da cultura anterior ao feijoeiro, facilita a operação de plantio e, consequentemente, a de colheita. No sistema de plantio direto ou convencional, o terreno da lavoura deve ser adequadamente preparado para receber os grãos e os adubos. Deve ficar sem valetas, buracos, raízes e plantas daninhas. A semeadora adubadora deve ser preparada para deixar o terreno bem liso, de preferência sem sulcos abertos. Sempre que for conveniente, deve-se equipar as máquinas de plantio com sulcadores de discos, pois esses mobilizam menos o solo que os sulcadores de haste. A velocidade de plantio deve ser inferior a 6 km por hora, para evitar a formação de sulcos abertos. Ainda, deve-se utilizar destorroador ou rolo nivelador imediatamente após o plantio para quebrar os torrões e reduzir as irregularidades do terreno, de modo a facilitar a operação de colheita com máquinas.

 

Máquina correta

A máquina deve ser conhecida em relação a sua capacidade de produzir trabalho com qualidade. Nesse processo, é importante ajustar a fração da lavoura a ser semeada num determinado período à capacidade de colheita da colhedora, mas sempre respeitando os fatores agronômicos da cultura do feijoeiro. A máquina correta deve extrair o máximo de grãos da lavoura e perder pouco, ser funcional, produzir excelentes resultados do produto colhido quanto à qualidade dos grãos, possuir rendimento operacional adequado, realizar a ceifa das plantas rente ao solo numa altura inferior a 100 mm em toda a extensão da barra de corte e, especificamente para as recolhedoras trilhadoras e para as colhedoras automotrizes, realizar a trilha com baixo percentual de danos aos grãos de feijão.