Feijão
Colheita
Autor
José Geraldo da Silva - Embrapa Arroz e Feijão
A tendência atual para a colheita do feijoeiro está na adoção de mecanizados, tanto para ceifar, quanto para trilhar as plantas, utilizando maquinários especializados. Além das vantagens da mecanização, a mudança de procedimento está ocorrendo por causa da escassez e do custo da mão de obra, que elevam os gastos da colheita manual. Apesar dos avanços alcançados, principalmente com o desenvolvimento de equipamentos colhedores para o feijoeiro, a colheita ainda é uma prática de difícil realização, pois as perdas de grãos continuam elevadas.
A maioria das cultivares de feijão não apresenta plantas com arquitetura de porte e de altura de inserção de vagens favorável ao emprego de máquinas colhedoras. Os feijões não possuem maturação uniforme e são, provavelmente, os mais sensíveis ao impacto mecânico da trilha entre todos os grãos cultivados, além de existir uma grande exigência do mercado para que os grãos tenham elevada qualidade física.
A grande perspectiva para se colher o feijão com sucesso é pela obtenção de cultivares com características mais favoráveis à operação mecanizada, utilização de máquinas de colheita específicas e adoção de boas práticas agrícolas na lavoura, a fim de otimizar o desempenho e as perdas quantitativas e qualitativas de grãos na operação.
Os principais fatores influenciadores de uma boa colheita do feijão são os seguintes: grau de maturidade dos grãos, desenvolvimento do feijoeiro, arquitetura das plantas, qualidade da superfície do terreno e máquina colhedora.
Grau de maturidade dos grãos
O feijoeiro deve ser colhido após os grãos alcançarem a maturação fisiológica. Nesse estádio, as plantas estão com as folhas amarelas, vagens mais velhas secas e grãos no seu desenvolvimento máximo. A maturação se refere às alterações morfológicas, fisiológicas e funcionais, que culminam com o ponto máximo de matéria seca nos grãos. Nesse ponto, os grãos alcançam o máximo de poder germinativo e de vigor. Na prática, a maturação fisiológica nos grãos é alcançada com o teor de água de até cerca de 40%. Estando com elevada umidade, só é possível a realização do arranque manual ou da ceifa mecanizada das plantas. Já a trilha das plantas deve ser feita posteriormente. Normalmente, espera-se o teor de umidade dos grãos baixar para aproximadamente 22% para iniciar a trilha manual ou mecanizada. Portanto, uma colheita de sucesso, realizada de forma manual ou com máquinas ceifadoras, inicia-se quando os grãos atingem a maturação fisiológica. Se for realizada com as colhedoras automotrizes, a colheita deve ter início quando os grãos estiverem com um pouco menos de 22% de umidade. Para uniformizar a maturidade das plantas, visando principalmente à colheita mecanizada, é comum se adotar a prática de dessecar as plantas com produtos químicos (herbicidas específicos para esse fim), com antecedência em relação à colheita, principalmente quando se planeja colher com colhedoras automotrizes. Para grãos mais secos, com menos de 15% de umidade, a operação manual de colheita ou das ceifadoras ou das colhedoras, deve-se realizar nos horários de menor incidência solar, na parte da manhã ou no final da tarde, a fim de minimizar as perdas de feijão e os danos mecânicos nos grãos.
Desenvolvimento do feijoeiro
Uma colheita de sucesso se consegue quando as plantas estão bem desenvolvidas e produtivas. No caso da colheita mecanizada, as colhedoras apresentam melhor desempenho em lavouras de plantas uniformes. Se a máquina for abastecida de plantas de forma intermitente, além de provocar maior perda de grãos na operação, ocorrem mais danos à própria máquina, principalmente naquelas que fazem a trilha. Falhas no plantio, controle inadequado de plantas daninhas na lavoura, uso de espaçamentos irregulares entre plantas e presença de plantas doentes e subdesenvolvidas representam alguns dos fatores que depreciam a colheita mecanizada e afetam a perda e a qualidade dos grãos de feijão-comum.
Arquitetura das plantas
Em alguns casos a arquitetura das plantas do feijão-comum tem interferido negativamente na colheita, principalmente na colheita mecanizada, pois muitas cultivares não possuem características favoráveis à operação das máquinas de colheita, como porte ereto e altura adequada das vagens em relação ao solo, que poderiam contribuir para a redução da perda de grãos. Na Figura 1, pode ser vista a distribuição das vagens numa planta de feijão-comum com uma grande concentração de vagens no terço inferior onde operam as máquinas colhedoras. Existem dois tipos de hábito de crescimento em plantas de feijoeiro: determinado e indeterminado. O primeiro, do tipo I, também é denominado de arbustivo, pelo fato de a planta ser comparativamente baixa e com ramificações curtas. O hábito indeterminado se divide em três tipos: tipo II – indeterminado, com ramificação ereta e fechada; tipo III – indeterminado, com ramificação aberta; e tipo IV – indeterminado, prostrado ou trepador. A maioria das cultivares de feijão-comum no Brasil possui hábito de crescimento indeterminado com plantas dos tipos II e III. As cultivares comerciais de grãos pretos e de grãos do tipo carioca são exemplos dos tipos II e III. As cultivares do tipo II são mais apropriadas à colheita com máquinas que as do tipo III. Já as dos tipos I e IV geralmente apresentam grande perda de grãos na colheita mecanizada.
Foto: José Geraldo da Silva |
Figura 1. Exemplo de distribuição das vagens nas plantas de uma cultivar de feijão. |
Qualidade do terreno
Por causa do ciclo muito curto de produção do feijoeiro, muitos restos vegetais presentes na lavoura não se decompõem a tempo e causam problemas no momento da colheita. Da mesma forma, os sulcos deixados no solo pela semeadora no ato do plantio não se desmancham pela ação física natural, como a da água, nesse período curto de produção do feijão-comum. Esses fatores interferem na colheita, pois as máquinas operam muito próximo do solo e recolhem e misturam terra e palha às plantas de feijão-comum, depreciando os grãos. Para contornar esse problema e ter êxito na colheita, são recomendadas diversas práticas para a lavoura de feijão-comum. O uso do picador e espalhador de palhas nas colhedoras, durante a colheita da cultura anterior ao feijoeiro, facilita a operação de plantio e, consequentemente, a de colheita. No sistema de plantio direto ou convencional, o terreno da lavoura deve ser adequadamente preparado para receber os grãos e os adubos. Deve ficar sem valetas, buracos, raízes e plantas daninhas. A semeadora adubadora deve ser preparada para deixar o terreno bem liso, de preferência sem sulcos abertos. Sempre que for conveniente, deve-se equipar as máquinas de plantio com sulcadores de discos, pois esses mobilizam menos o solo que os sulcadores de haste. A velocidade de plantio deve ser inferior a 6 km por hora, para evitar a formação de sulcos abertos. Ainda, deve-se utilizar destorroador ou rolo nivelador imediatamente após o plantio para quebrar os torrões e reduzir as irregularidades do terreno, de modo a facilitar a operação de colheita com máquinas.
Máquina correta
A máquina deve ser conhecida em relação a sua capacidade de produzir trabalho com qualidade. Nesse processo, é importante ajustar a fração da lavoura a ser semeada num determinado período à capacidade de colheita da colhedora, mas sempre respeitando os fatores agronômicos da cultura do feijoeiro. A máquina correta deve extrair o máximo de grãos da lavoura e perder pouco, ser funcional, produzir excelentes resultados do produto colhido quanto à qualidade dos grãos, possuir rendimento operacional adequado, realizar a ceifa das plantas rente ao solo numa altura inferior a 100 mm em toda a extensão da barra de corte e, especificamente para as recolhedoras trilhadoras e para as colhedoras automotrizes, realizar a trilha com baixo percentual de danos aos grãos de feijão.