Colhedora automotriz

Conteúdo migrado na íntegra em: 07/10/2021

Autor

José Geraldo da Silva - Embrapa Arroz e Feijão

 

As colhedoras automotrizes realizam as operações de corte, recolhimento e trilha das plantas e de limpeza e acondicionamento dos grãos. As máquinas convencionais, com cilindro trilhador de fluxo de plantas radial, apresentam desempenho insatisfatório no feijoeiro em relação à perda e à danificação mecânica de grãos. As colhedoras providas de plataformas de corte flexíveis e de trilhadores axiais apresentam melhor desempenho na colheita do feijão. Em geral, as máquinas colhedoras possuem os seguintes compartimentos ou unidades para processamento das plantas:

 

Unidade de corte e recolhimento

Responsável por separar a porção da lavoura que vai ser colhida por vez, fazer a ceifa da cultura e conduzir as plantas para as outras unidades da máquina. É a unidade da colhedora que provoca maior quantidade de perda de grãos na colheita do feijoeiro, superando a 80% das perdas. Possui separadores de linhas de plantas, molinete, barra de corte, condutor e canal alimentador. Os separadores atuam isolando a faixa da lavoura que será colhida por vez pela plataforma de corte. Normalmente a ação desse componente no feijoeiro, apesar de ser essencial, provoca elevada perda de grãos devido ao entrelaçamento de plantas enfileiradas. O molinete serve para levar as plantas ao encontro da barra de corte, apoiá-las para serem cortadas e posteriormente conduzi-las para dentro da unidade de apanha. No caso do feijoeiro, o molinete serve também para elevar as plantas acamadas durante o corte o que causa menos perda de grãos. A barra de corte compõe-se de dois elementos cortantes, que são as navalhas serrilhadas com movimento alternativo e as contrafacas fixas. A barra de corte para o feijoeiro deve ser flexível, isto é, deve permitir deslocamentos verticais independentes para acompanhar os desníveis do terreno e realizar o corte das plantas rente ao solo. Os transportadores conduzem as plantas que foram cortadas pela barra de corte e recolhidas pelo molinete e as levam ao canal alimentador. Existem dois modelos de transportadores para as colhedoras: o caracol e as esteiras recolhedoras draper (Figura 1). Em relação ao caracol, a draper possui maior capacidade de condução e provoca menos atrito nas plantas, que reduz a trilha antecipada, fora da unidade de corte. Por fim, o canal alimentador leva o material colhido da plataforma de corte à unidade de trilha por meio de uma esteira, que se encontra no seu interior.

Fotos: Antônio Lilles Tavares Machado
Figura 1. Detalhe da unidade de corte da colhedora automotriz com caracol (A) e esteiras draper (B).

 

Unidade de trilha e separação

Tem a função de trilhar e de separar os grãos de feijão das demais partes graúdas das plantas. A unidade de trilha pode ser provida de rotor com fluxo de plantas no sentido tangencial e longitudinal. Comumente, o primeiro é chamado de radial e o segundo de axial (Figura 2).

O sistema radial é formado de um cilindro trilhador giratório, de um côncavo fixo e de um batedor traseiro, dispostos transversalmente na colhedora. Nesse sistema, mais de 90% dos grãos trilhados passam pelos furos do côncavo e são separados da palha graúda. Essa palha contendo partes dos grãos é trilhada mais uma vez pelo batedor traseiro e se espalha sobre o saca-palha para separação final dos grãos. O côncavo possui regulagem em relação ao cilindro, o que permite variar a intensidade da trilha. Esses mecanismos podem ter dentes ou barras estriadas para atritar as plantas. No caso do feijoeiro, o cilindro e o côncavo de barras, comparado ao de dentes, danificam menos os grãos, pois a trilha se dá mais pela fricção do que pelo impacto nas vagens.

Figura 2. Unidade de trilha e separação da colhedora automotriz com cilindros de trilha radial.

Fonte: Harvesto (2017).

 

O sistema de trilha axial, dependendo do modelo da colhedora, compõe-se de um ou de dois rotores trilhadores, dispostos longitudinalmente na máquina. O rotor possui aletas na periferia distribuídas em formato helicoidal e opera dentro do côncavo, que é normalmente formado por cilindro de chapa perfurada. À medida que as plantas são trilhadas pelo rotor, os grãos passam pelos furos do côncavo e são separados dos restos vegetais, que são descarregados no terreno. As máquinas dotadas de sistema axial não possuem unidade de separação, pois o mecanismo realiza ao mesmo tempo a operação de trilha na sua parte inicial, a separação na sua parte final e o descarregamento da palha. Pelo fato de o rotor operar com menor velocidade e a trilha ser menos agressiva, a qualidade dos grãos de feijão colhidos pelo sistema axial é superior à dos grãos colhidos pelo sistema radial.

Figura 3. Unidade de trilha e separação da colhedora automotriz com cilindros de trilha axial.

Fonte: Caseih (2017).

 

Unidade de limpeza

É formada por bandejão, peneiras (superior e inferior), extensão da peneira superior e ventilador. Tem a função de separar os grãos do palhiço, da palha curta, da poeira e dos grãos não trilhados. A limpeza dos grãos se dá por meio de peneiras e do vento produzido por um ventilador de pás. A extensão da peneira superior retém os grãos não trilhados e os conduz para a retrilha.

 

Unidade de transporte e armazenamento

O transporte dos grãos na colhedora inicia-se após a operação de trilha, distinguindo-se dois fluxos, que são o de grãos limpos e o de retrilha. No primeiro, os grãos são recolhidos sob a peneira inferior por um helicoide, que os conduz lateralmente até um elevador, o qual transporta o material até o depósito de grãos. A descarga do depósito é feita por um conjunto de condutores helicoidais. O fluxo da retrilha é semelhante, no entanto o material recolhido da extensão da peneira superior e aquele retido pela peneira inferior são conduzidos, pelo elevador de retrilha, para o cilindro de trilha ou para o batedor traseiro. O armazenamento é feito no tanque graneleiro da colhedora.

 

Acessórios para colhedora automotriz de feijão

As colhedoras para feijão, por executarem a colheita rente ao solo, necessitam ser equipadas com plataforma de corte flexível e com um conjunto de acessórios, a fim de diminuir os danos e a mistura de terra aos grãos. Esses acessórios são basicamente os seguintes: dedos levantadores de plantas para evitar o corte das vagens; sapatas de plástico para apoiar e manter a barra de corte próxima do solo; chapas perfuradas na plataforma de corte, no alimentador do cilindro trilhador e no bandejão para eliminar terra que entra na máquina; redutor de velocidade do cilindro de trilha radial para cerca de 200 rpm; e uso de elevador de canecas para minimizar os danos nos grãos.