Manejo integrado de pragas

Conteúdo migrado na íntegra em: 11/10/2021

Autor

Eliane Dias Quintela - Embrapa Arroz e Feijão

 

O agroecossistema de diversas regiões brasileiras é um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção de rotação e sucessão de diversas culturas, em cultivos irrigados ou não, muitas vezes integrados a sistemas pecuários. Esses sistemas de produção têm favorecido a adaptação das pragas de outros cultivos, a mudança de status, a ressurgência de pragas e a seleção de insetos resistentes, entre outros. Pragas que eram consideradas de importância secundária ou não existiam no feijoeiro atualmente estão causando danos significativos à cultura. Algumas espécies de pragas (percevejos, coleópteros, mosca-branca, tripes, ácaros, lagartas, etc.) ocorrem nesses diferentes cultivos, o que favorece o aumento populacional desses fitófagos no feijoeiro. Além disso, a introdução de novas pragas de outros países tem sido um fator de grandes perdas em feijoeiro e outros cultivos. Dessa forma, existem hospedeiros para as pragas durante o ano todo, e condições climáticas de altas temperaturas e de inverno ameno são ideais para multiplicação desses artrópodes. A implementação do manejo integrado de pragas (MIP) com a utilização de um conjunto de práticas tecnológicas nas diversas lavouras busca o equilíbrio com a natureza, ao otimizar a atuação de inimigos naturais, com o uso mínimo de inseticidas.

No feijoeiro, várias espécies de artrópodes e moluscos estão associadas e podem causar reduções significativas no rendimento da cultura (Tabela 1). Dependendo da espécie da praga, da fase de desenvolvimento da cultura, da cultivar plantada e da época do plantio do feijoeiro, os danos causados por pragas podem chegar a 100%.

 

Aspectos bioecológicos das principais pragas

Para facilitar o reconhecimento e o manejo, as pragas do feijoeiro foram agrupadas em seis categorias: 1) pragas das sementes, plântulas e raízes; 2) pragas desfolhadoras; 3) pragas sugadoras e raspadoras; 4) pragas das hastes e axilas; 5) pragas das vagens; e 6) pragas de grãos armazenados. A seguir serão abordados os aspectos bioecológicos, o manejo, a metodologia de amostragem e os níveis de controle das principais pragas do feijoeiro.

 

Pragas das sementes, plântulas e raízes

Lagartas cortadoras

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda), lagarta-da-soja [Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae)]

 

As lagartas cortadoras podem causar maiores danos na emergência das plantas e no início de seu desenvolvimento. Após essa fase, o feijoeiro tolera melhor os danos por lagartas. Lavouras de feijão semeadas após colheita da soja ou do milho têm sido danificadas pela lagarta-do-cartucho-do-milho (Figura 1) e lagarta-da-soja (Figura 2). Os danos causados pela lagarta-do-cartucho têm sido confundidos com os da lagarta-rosca, em razão do modo com que causam danos ao feijoeiro e da semelhança entre as lagartas. A lagarta-rosca (Figura 3) prefere locais mais úmidos e tem aumentado em áreas sob plantio direto, ocorrendo na maioria das regiões produtoras de feijão.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 1. Dano causado pela
lagarta cortadeira Spodoptera
frugiperda
(Lepidoptera).

 

Fotos: Eliane Dias Quintela
Figura 2. Dano causado pela lagarta cortadeira Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera).

 

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 3. Lagarta-rosca.

 

Agrotis ipsilon: Os adultos são mariposas de coloração pardo-escura a marrom, com algumas manchas escuras nas asas anteriores e posteriores, semitransparentes. As mariposas medem em torno de 50 mm de envergadura. A fêmea, durante a noite, efetua a postura de 600 a 1.000 ovos em rachaduras no solo, sobre as plântulas ou em matéria orgânica no solo próximo à planta hospedeira. O período de incubação dos ovos é de, em média, 5 dias. As lagartas são de coloração variável, de cinza-escuro a marrom-escuro, e podem medir de 45 mm a 50 mm no seu máximo desenvolvimento. As lagartas têm hábitos noturnos e durante o dia encontram-se na base da planta, protegidas sob torrões ou a poucos centímetros de profundidade no solo, na posição de rosca e de preferência em locais mais úmidos. A fase de lagarta dura em média 28 dias. A câmara pupal é construída pelas lagartas no solo, e a fase de pupa dura em torno de 15 dias.

Spodoptera frugiperda: O inseto adulto tem de 32 mm a 40 mm de envergadura. As asas anteriores do macho geralmente são sombreadas por cinza e marrom, com pontos triangulares brancos na ponta e próximo ao centro da asa. As asas anteriores das fêmeas apresentam coloração mais uniforme e mais clara. A fêmea coloca, em média, 1.500 ovos, em massas que variam de 100 a 200 ovos. Os ovos são depositados em grupos, geralmente em duas camadas. A duração dos ovos é de 2 a 3 dias. A lagarta passa por seis instares larvais em aproximadamente 14 dias. A parte frontal da cabeça da lagarta madura apresenta um “Y” invertido de coloração branca. A lagarta empupa no solo, na profundidade de 2 cm a 8 cm, e desenvolve em 8 a 9 dias.

Anticarsia gemmatalis: A mariposa possui coloração cinza, marrom ou bege e tem 30 mm a 38 mm de envergadura. A fêmea deposita, em média, 1.000 ovos na face inferior das folhas, no caule, nos pecíolos e nos ramos. O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 3 dias. As lagartas apresentam coloração esverdeada e, nos dois primeiros instares, locomovem-se medindo palmos, semelhantemente às falsas-medideiras. A fase larval dura aproximadamente de 12 a 15 dias e passa por seis instares larvais. A lagarta empupa no solo na profundidade de até 2 cm, e as mariposas emergem após 9 a 10 dias.

As lagartas cortam as plântulas rente ao solo e podem consumir sementes. O dano causado pelo inseto será maior se houver população elevada de lagartas grandes, provenientes de plantas hospedeiras, na fase de emergência das plântulas. Em plantas mais desenvolvidas, as larvas raspam o caule na altura do solo; essas plantas podem tolerar o dano por mais tempo, porém murcham e podem sofrer tombamento pelo vento.

 

Lagarta-elasmo

Elasmopalpus lignosellus (Lepidoptera: Pyralidae)

Das pragas que atacam as plântulas do feijoeiro, a mais importante é a lagarta-elasmo (Figura 4), que pode ser encontrada na maioria das regiões produtoras de feijão do Brasil. Além do feijoeiro, é considerada praga nas seguintes culturas: arroz, milho, sorgo, trigo, soja, tremoço, amendoim e hortaliças. Sua ocorrência está condicionada aos períodos de estiagem no início de desenvolvimento da cultura.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 4. Lagarta-elasmo (adultos, larvas e pupas).

 

A mariposa fêmea apresenta coloração cinza-escuro, e o macho, de cor pardo-amarelada, mede cerca de 20 mm de envergadura. Deslocam-se com voos rápidos e curtos e, quando pousadas no solo, as mariposas se confundem com os restos culturais. A postura de aproximadamente 130 ovos é realizada individualmente nas folhas, nos talos ou no solo. Os ovos são de coloração verde-pálida. O estágio larval dura de 13–26 dias, e existem seis instares. As lagartas têm coloração verde-azulada, cabeça marrom e medem 15 mm de comprimento quando completamente desenvolvidas. Elas movimentam-se com muita agilidade, constroem casulos revestidos de solo e de restos culturais, que ficam na entrada dos orifícios que fazem na planta e servem de refúgio. A lagarta forma uma câmara pupal no solo ligada ao talo.

O dano é causado pela lagarta, que perfura o caule próximo à superfície do solo (colo), ou logo abaixo, e faz galerias ascendentes no xilema, provocando amarelecimento, murcha e morte das plantas. Dano maior ocorre quando as plantas são atacadas na fase inicial de desenvolvimento. Plantas com mais de 20 dias raramente são atacadas. As larvas do primeiro e segundo instares têm pouca capacidade de perfurar o caule. Também consomem sementes e raízes e, na ausência de plantas, podem completar a fase, consumindo vegetais mortos.

 

Gorgulho-do-solo

Teratopactus nodicollis (Coleoptera: Curculionidae)

Algumas lavouras de feijão têm sido prejudicadas pelo gorgulho-do-solo no Distrito Federal, em Goiás e em Minas Gerais.

Os adultos (Figura 5) medem de 10 mm a 15 mm e apresentam rostro curto e quadrado, coloração marrom-acinzentada e asas anteriores fundidas, não podendo voar. A longevidade do adulto é, em média, de 3 meses. Os ovos são amarelados, achatados e ovais. A larva (Figura 6) tem corpo cilíndrico levemente curvado, coloração branco-amarelada, cápsula cefálica castanho-amarelada e mandíbulas bem desenvolvidas. Medem de 1 mm a 2 mm no primeiro estágio larval e podem atingir 12 mm–15 mm de comprimento no último estágio larval. A pupa é branco-amarelada, do tipo-livre e apresenta traços do adulto.

Foto: Eliane Dias Quintela Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 5. Gorgulho-do-solo (adulto). Figura 6. Gorgulho-do-solo (larva).

 

As larvas são verificadas em grande número no início do seu desenvolvimento, porém no final da fase larval, em função do canibalismo, são constatados alguns indivíduos isolados. A maioria das larvas localiza-se até 6 cm de profundidade do solo e muitas são observadas próximo à superfície do solo, nos primeiros 2 cm. As larvas alimentam-se dos nódulos em leguminosas, da radícula e do hipocótilo; nesse caso, as plântulas morrem antes da germinação, havendo falhas na linha de plantio. Elas podem consumir várias plantas, causando maior dano na fase de germinação das sementes, na emergência das plântulas e no início de desenvolvimento vegetativo. Na linha de plantio, os sintomas de dano caracterizam-se por murcha, secamento e morte das plantas, e o ataque ocorre normalmente em reboleiras. Em plantas no estágio de folhas primárias (V2), as larvas causam um dano típico, caracterizado pelo corte transversal da extremidade da raiz principal; em plantas mais desenvolvidas, as larvas se alimentam do córtex das raízes, não havendo desenvolvimento de raízes laterais nas áreas danificadas.

 

Lesmas

Sarasinula linguaeformis, Deroceras spp., Limax spp. e Phyllocaulis spp. (Stylommatophora: Veronicellidae)

A proliferação de lesmas em culturas anuais, como as leguminosas, tem aumentado significativamente em diferentes regiões do Brasil, principalmente em sistemas de plantio direto. No feijoeiro, tem sido constatada, causando danos em cultivos irrigados no Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São Paulo. No Sul do Brasil, a crucífera nabo forrageiro (Raphanus sativus var. oleiferus) e leguminosas têm favorecido a proliferação das lesmas dos gêneros Deroceras spp., Limax spp. e Phyllocaulis spp.

A lesma é um molusco de corpo achatado e coloração marrom, parda ou cinza que, quando adulto, mede de 5 cm a 7 cm de comprimento. Durante a locomoção, deixa um rastro brilhante, resultado do secamento da secreção (muco) que expele para facilitar o deslocamento e manter o corpo úmido. As lesmas são hermafroditas e colocam em média 80 ovos em massas em resíduos de plantas ou em rachaduras no solo. Os ovos (Figura 7) são elípticos, translúcidos e eclodem em 20–24 dias a 27 °C. Em temperaturas mais elevadas, eles se desenvolvem mais rapidamente; já em períodos de seca, podem demorar 6 meses para eclodirem. As lesmas jovens (Figura 7) são parecidas com os adultos e ficam adultas em 2 a 5 meses e chegam a viver até 18 meses. Uma geração desenvolve-se em 8 semanas, podendo haver duas gerações por ano. Têm hábitos noturnos e, durante o dia, escondem-se debaixo de pedras, restos culturais (sob ou dentro da palhada) e no solo. São inativas durante os períodos de seca (enterram-se no solo), tendo as condições de alta umidade como ideais para o seu desenvolvimento. Populações mais altas ocorrem perto de rios, córregos ou canais de irrigação, em solos argilosos, em campos com alta concentração de plantas infestantes e em áreas com cobertura morta em sistemas de plantio direto.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 7. Ovos e formas jovens das lesmas.

 

A maioria dos danos ocorre nas bordas da cultura, perto das áreas mais úmidas, e avança para o interior, especialmente se a vegetação e os restos de cultura oferecerem proteção para as lesmas durante o dia. Com a chegada do período seco e com a colheita do milho e da soja, as lesmas migram para áreas de cultivo de feijoeiro sob pivô central. Os danos ocasionados por lesmas jovens são aparentes, quando a folha inteira é consumida, restando somente o talo (Figura 8). Lesmas mais desenvolvidas consomem toda a folha e podem cortar as plantas rente ao solo. Plântulas inteiras podem ser consumidas, e danos nas vagens podem ser observados.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 8. Danos das lesmas em
plantas de feijoeiro em reboleiras.

 

Além de causar danos às plantas, as lesmas, em altos níveis populacionais, podem transmitir doenças. O nematoide Angiostrongylus costaricensis pode ser transmitido ao ser humano, principalmente em crianças, através do muco produzido pela lesma, doença denominada angiostrongilose abdominal. Para evitar a transmissão do verme, não se deve tocar as lesmas ou entrar em contato com a secreção do muco. Elas podem também ser vetores de patógenos de plantas, como Phytophthora infestans em batatinha, Mycosphaerella brassicicola em repolho e Peronospora sp. em feijão-de-lima.

 

Pragas desfolhadoras

Vaquinhas

Diabrotica speciosa, Cerotoma arcuata (Coleoptera: Chrysomelidae)

As vaquinhas, Diabrotica speciosa (Figura 9) e Cerotoma arcuata (Figura 10), podem causar danos severos ao feijoeiro, em especial quando ocorrem altas populações no início de desenvolvimento da cultura. Ocorrem na maioria das regiões produtoras de feijão e são os principais fatores responsáveis pelo baixo rendimento da cultura em toda a Amazônia.

 

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 9. Vaquinha (Diabrotica speciosa).

 

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 10. Vaquinhas (Cerotoma arcuata).

 

Cerotoma arcuata: O adulto é um besouro de coloração castanha, com manchas escuras no dorso, que mede de 5 mm a 6 mm de comprimento. A fêmea põe, em média, 1.200 ovos no solo, e as larvas branco-leitosas, com a cabeça e o último segmento abdominal escuros, passam por três instares no solo em aproximadamente 9 dias.

Diabrotica speciosa: O adulto vive, em média, de 50 a 60 dias e apresenta coloração verde com três manchas amarelas no dorso, medindo cerca de 6 mm de comprimento. A fêmea põe cerca de 420 ovos, que se desenvolvem em 6 a 8 dias; e as larvas também apresentam três instares em 9 a 14 dias. A pupa, de coloração branco-leitosa, desenvolve-se no solo em 6 a 8 dias

Os adultos das vaquinhas causam desfolha durante todo o ciclo da cultura, reduzindo a área fotossintética. Os danos mais significativos ocorrem no estágio de plântula, pois, se ocorrerem altas populações de insetos e não houver área foliar disponível, podem consumir o broto apical, causando a morte da planta. Em outros estágios, o dano é menor. Vários estudos têm indicado que o feijoeiro pode tolerar níveis consideráveis de desfolha (20%–66%) sem que ocorra redução na produção. Os adultos podem se alimentar de flores e vagens, quando a incidência for alta na fase reprodutiva da planta. As larvas alimentam-se de raízes, nódulos e sementes em germinação, fazendo perfurações no local de alimentação. Quando as larvas se alimentam das sementes, as folhas cotiledonares podem apresentar perfurações semelhantes às causadas pelos adultos. Se o dano na raiz for severo, as plantas atrofiam e ocorre amarelecimento das folhas basais.

 

Larva-minadora

Liriomyza huidobrensis (Diptera: Agromyzidae)

A infestação da larva-minadora normalmente está limitada às folhas primárias devido à ação de inimigos naturais (parasitoides e predadores). Na maioria das vezes, não há necessidade de utilizar inseticidas para o seu controle, e tem-se tornado problema sério em áreas em que seus parasitoides são eliminados.

Os adultos (Figura 11) medem cerca de 1 mm a 1,5 mm, sendo o macho menor, e vivem por aproximadamente 6 dias. A fêmea pode ovipositar isoladamente, dentro do tecido foliar, entre 500 e 700 ovos, preferencialmente no período da manhã e nos primeiros dias de vida. Cada fêmea coloca, em média, 35 ovos diariamente. Após 2 a 3 dias nascem as larvas hialinas e, após a primeira troca de pele, tornam-se amareladas. O estágio larval dura de 4 a 7 dias, passando por três instares. A pupa, de cor marrom-clara a escura, desenvolve-se em 5 a 7 dias. A maioria das larvas transformam-se em pupas no solo e aproximadamente 30% das larvas empupam nas folhas.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 11. Minadora (Liriomyza huidobrensis).

 

Os adultos alimentam-se da exsudação das folhas, através da punctura realizada pelas fêmeas pelo ovipositor. As larvas abrem galerias serpenteadas entre a epiderme superior e a inferior das folhas, formando lesões esbranquiçadas, que podem penetrar nas nervuras (Figura 12). Quando a população de larvas na folha é alta, ocorre redução significativa da área fotossintética, podendo causar murcha e derrubada prematura das folhas.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 12. Dano causado pela larva-minadora.

 

Lagarta-enroladeira-das-folhas

Omiodes (sin. Hedylepta; sin. Lamprosema) indicata (Lepidoptera: Pyralidae)

Os adultos de Omiodes indicata têm asas amareladas com estrias transversais escuras, medem 20 mm de envergadura e podem viver por 6 dias. A mariposa oviposita, durante o seu período de vida, em média, 330 ovos na face inferior das folhas. Após 4 dias, nasce a lagarta, de coloração verde, que se desenvolve em 11 dias. A pupa dura, em média, 5 dias.

As lagartas (Figura 13) raspam o parênquima foliar, rendilhando o folíolo, que se torna seco. Enrolam as folhas atacadas com fios de seda, para se protegerem, onde podem ser observadas no seu interior as lagartas e as fezes. Nos últimos estágios larvais, entrelaçam várias folhas, formando uma massa de folhas, que fica parcialmente consumida. Em ataques intensos, reduzem a área foliar significativamente, deixando somente as nervuras.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 13. Lagarta-enroladeira (Omiodes indicata).

 

Lagartas-das-folhas

Chrysodeixis (sin. Pseudoplusia) includens (Lepidoptera: Noctuidae)

O adulto da falsa-medideira é uma mariposa de coloração marrom-acinzentada, com duas manchas prateadas no primeiro par de asas. A fêmea oviposita mais de 600 ovos na face inferior das folhas. A lagarta apresenta coloração verde-clara, com linhas longitudinais esbranquiçadas no dorso. Possui apenas dois pares de falsas pernas abdominais e movimenta-se como se estivesse “medindo palmos”. A pupa, de cor verde, fica protegida em uma teia na face inferior das folhas. A falsa-medideira não consome as nervuras das folhas de feijão, e a desfolha apresenta um aspecto rendilhado.

 

Pragas sugadoras e raspadoras

Cigarrinha-verde

Empoasca kraemeri (Homoptera: Cicadellidae)

A cigarrinha-verde (Figura 14) ocorre na maioria das regiões produtoras de feijão no Brasil, mas a época de incidência é variável nas diversas regiões. É uma praga que prefere clima seco e quente.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 14. Cigarrinha-verde
(Empoasca Kraemeri).

 

Os adultos, de coloração verde, medem cerca de 3 mm e vivem, em média, 60 dias. Cada fêmea oviposita, em média, 107 ovos, os quais são inseridos isoladamente nas folhas, pecíolos ou caule (50%–82% localizam-se nos pecíolos). No caso das folhas, mais da metade dos ovos foi constatada nas cotiledonares. Os ovos eclodem em 8 a 9 dias e os cinco estágios ninfais são completados em 8 a 11 dias. As ninfas são de coloração esverdeada, semelhantes aos adultos, não possuem asas e locomovem-se lateralmente. Os adultos e as ninfas localizam-se normalmente na face inferior das folhas.

O dano à planta é causado por ninfas e adultos, que se alimentam do floema da planta, sugando a seiva, o que pode provocar amarelecimento seguido de um secamento nas margens das folhas e severamente reduz o rendimento. Uma toxina parece estar envolvida no dano à planta; entretanto, isso ainda não foi demonstrado experimentalmente. Os sintomas dos danos causados pela cigarrinha caracterizam-se pelo amarelecimento das bordas foliares e pela curvatura delas para baixo. O dano é mais severo quando altas populações da cigarrinha-verde ocorrem no início do crescimento do feijão ou durante o florescimento. Nesses casos, o inseto pode acarretar reduções de produção acima de 60% em feijão.

Mosca-branca

Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae)

A mosca-branca Bemisia tabaci Gennadius (Figura 15) é classificada como um complexo de espécies crípticas, compreendendo 11 grupos bem definidos contendo pelo menos 24 espécies morfologicamente indistinguíveis. No Brasil, estão presentes quatro espécies: as nativas das Américas, New World 1 (NW1, biótipo A1) e New World 2 (NW2, biótipo A2), e as que foram introduzidas no Brasil nos anos de 1990 e 2010, a Middle East-Asia Minor 1 (MEAM1, biótipo B) e a Mediterranean (MED, biótipo Q), respectivamente. A espécie MEAM1 é a predominante no Brasil.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 15. Mosca-branca
(Bemisia tabaci).

 

Entre as pragas que ocorrem no feijoeiro, a mosca-branca causa enormes prejuízos, principalmente pela transmissão do vírus do mosaico-dourado do feijoeiro (Bean Golden mosaic virus) e da necrose da haste da soja (Cowpea mild mottle virus), estando presente na maioria das regiões produtoras de feijão.

Os adultos possuem dois pares de asas brancas e membranosas recobertas por uma substância cerosa. A fêmea e o macho medem, em média, 0,9 mm e 0,8 mm, respectivamente. A fêmea põe de 20 a 350 ovos durante seu tempo de vida. No feijoeiro, a maioria dos ovos eclode após 8 dias. A ninfa de primeiro instar é transparente e locomove-se por algumas horas ou dias até fixar-se na planta. Após estabelecida, a ninfa se mantém séssil em todos os outros estádios, até a emergência do adulto. A ninfa de segundo instar é maior e um pouco mais arredondada que a da fase anterior, embora menos avolumada que na fase seguinte. No terceiro estádio, apresenta-se mais translúcida, deixando à mostra o estilete. No quarto e último instar, as ninfas apresentam três formas distintas. A duração média da fase de ovo a adulto é de aproximadamente 33 dias, indicando que a mosca-branca pode ter 10–11 gerações por ano na cultura do feijoeiro.

O dano direto, pela sucção da seiva, não prejudica as plantas do feijoeiro, e o inseto torna-se importante em épocas e regiões onde ocorre a transmissão do vírus. Os danos indiretos são causados pela transmissão dos vírus e são proporcionais ao cultivar plantado, à porcentagem de infecção pelo vírus e ao estádio de desenvolvimento da planta na época da incidência da doença. Os danos são mais significativos quanto mais jovem a planta for infectada, e, após o florescimento, as perdas devido ao vírus são reduzidas. A mosca-branca pode ocorrer durante todo o desenvolvimento da cultura, entretanto tem preferência por plantas mais jovens, e a população tende a diminuir com o crescimento do feijoeiro.

Os primeiros sintomas de infecção por vírus nas folhas aparecem dos 14 aos 17 dias do plantio. Para o mosaico-dourado, as folhas do feijoeiro ficam com uma aparência amarelo-intensa, tipo de mosaico dourado-brilhante. Os sintomas iniciam-se nas folhas mais novas com um salpicamento amarelo-vivo, atingindo posteriormente toda a planta. As plantas infectadas precocemente (até os 20 dias de idade) podem mostrar grande redução no porte, vagens deformadas, sementes descoloridas, deformadas e de peso reduzido. Já o carlavírus causa o encarquilhamento foliar, o qual está frequentemente associado à presença de necrose nas nervuras na face inferior das folhas correspondente aos pontos do encarquilhamento. Em algumas variedades pode ser observado um mosaico amarelo mosqueado nas folhas.

 

Tripes

Thrips palmi, Caliothrips brasiliensis, Thrips tabaci (Thysanoptera: Thripidae)

Várias espécies de tripes ocorrem na cultura do feijoeiro (Figura 16), havendo atualmente uma predominância de Thrips palmi. No Brasil, desde a data de sua primeira coleta no estado de São Paulo em 1992, T. palmi vem causando danos em várias hortícolas, incluindo o feijoeiro. Sua rápida dispersão e estabelecimento foram favorecidos por suas características biológicas e pela resistência a grande número de produtos químicos. As condições favoráveis ao desenvolvimento dos tripes são temperaturas elevadas e baixa umidade.

Foto: José Geraldo Di Stefano
Figura 16. Tripes (Thrips palmi,
Caliothrips brasiliensis, Thrips tabaci)
.

 

Thrips palmi: Os adultos de T. palmi medem de 1 mm a 1,2 mm de comprimento e apresentam coloração amarelo-clara e dourada. A fêmea é maior que o macho. Os ovos branco-amarelados são colocados separadamente nas folhas e flores, através de uma incisão feita pelo ovipositor da fêmea. Os dois estágios ninfais (primeiro e segundo instares) são amarelo-claros e alimentam-se das flores e folhas do feijoeiro. Quando maduras, as ninfas do segundo instar se jogam ao solo, onde se transformam em pré-pupa e, em seguida, em pupa. Os dois estágios pupais (pré-pupa e pupa) também apresentam coloração amarelada, sendo a pupa imóvel e a pré-pupa com pouca mobilidade. Os estágios de ovo, ninfa e pupa duram, em média, 6,3; 4,8; e 14 dias, respectivamente.

Caliothrips brasiliensis: O adulto de C. brasiliensis vive por aproximadamente 15 dias e mede cerca de 1,0 mm de comprimento. Apresenta coloração preta com duas faixas brancas nas asas franjadas e as extremidades das tíbias são amareladas. As fêmeas inserem os ovos nas folhas, pecíolos e caule, e os ovos eclodem em 5–6 dias. A larva do primeiro instar desenvolve em 1–2 dias e a do segundo instar dura 4–5 dias. As ninfas empupam no solo durante 2–3 dias.

Thrips tabaci: O adulto de T. tabaci possui cerca de 1,0 mm de comprimento e coloração que varia do amarelo-palha ao marrom-claro. Cada fêmea coloca 20 a 100 ovos, e o período de incubação dos ovos é de 5 dias. As ninfas têm coloração branca ou levemente amarelada e duram 5 dias. O período pupal é de 4 dias.

As folhas, quando infestadas por ninfas e adultos, inicialmente apresentam pontos brancos na face superior. Pontos prateados surgem na superfície inferior das folhas, resultantes da entrada de ar nos tecidos dos quais os tripes se alimentaram. Com o tempo, os tecidos mortos necrosam, ficam bronzeados ou ressecam e tornam-se quebradiços. Brotos foliares e botões florais, quando infestados, tendem à atrofia. Pode também ocorrer uma derrubada prematura dos botões florais e das vagens se a população de tripes for alta.

 

Ácaro-branco e ácaro-rajado

Polyphagotarsonemus latus (Acarina: Tarsonemidae) e Tetranhychus urticae (Acarina: Tetranychidae)

A ocorrência do ácaro-branco tem aumentado significativamente no feijoeiro, principalmente nos plantios de inverno e da seca.

O ácaro-branco é constatado na página inferior das folhas e é praticamente invisível a olho nu. A coloração varia de branca a âmbar ou verde-clara, com o tegumento brilhante. O ciclo de vida é curto, podendo passar pelo estágio de ovo, larva, pseudopupa e adulto em 6–7 dias. As fêmeas são maiores que os machos e vivem por aproximadamente 15 dias. A fêmea coloca, em média, 48 ovos na face inferior das folhas do feijoeiro. Inicialmente, o ataque ocorre em reboleiras e é visível nas folhas do ponteiro que ficam com as bordas dos folíolos enrolados para cima, de coloração verde-escura brilhante. Posteriormente, a face inferior do folíolo torna-se bronzeada pela morte dos tecidos (Figura 17), e as folhas ficam ressecadas e quebradiças. Em altas infestações, o ácaro-branco ataca as vagens que ficam prateadas e, posteriormente, bronzeadas e retorcidas.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 17. Folha bronzeada devido
ao ataque do ácaro-branco.

 

O ácaro-rajado (Figura 18A) tem sido observado no plantio de inverno, em áreas onde se plantou anteriormente o algodão ou sorgo. O adulto possui forma ovalada e coloração esverdeada com duas manchas mais escuras no dorso, sendo uma de cada lado, e mede cerca de 0,45 mm de comprimento e 0,24 mm de largura. Vivem na face inferior das folhas, geralmente na parte mediana da planta, onde tecem teias e onde a fêmea coloca de 77 a 134 ovos. Os três instares desenvolvem-se em 8 dias. Os adultos e as ninfas escarificam o tecido vegetal e alimentam-se da seiva que é extravasada (Figura 18B).

Fotos: Eliane Dias Quintela
Figura 18. Ácaro-rajado (A) e folha com danos causados pelo ácaro-rajado (B).

 

Pragas das hastes e axilas

Broca-das-axilas

Epinotia aporema (Lepidoptera: Olethreutidae)

A broca-das-axilas (Figura 19) ocorre esporadicamente no feijoeiro e é mais comum em regiões em que se planta soja.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 19. Broca-das-axilas (Epinotia aporema): pupas e adultos.

 

Os adultos são ativos durante a noite e vivem por 15–22 dias. As fêmeas colocam uma média de 100 ovos. O estágio de ovo dura de 4–7 dias e existem cinco estágios larvais, que são completados em 14–22 dias. Inicialmente, as larvas são branco-esverdeadas, com a cabeça escura, tornando-se amareladas; posteriormente, são róseas quando próximas à fase de pupa. As larvas empupam nas folhas ou no solo.

O ataque geralmente inicia-se pelo ponteiro das plantas. As larvas penetram no caule através das axilas dos brotos terminais do feijoeiro e formam uma galeria descendente, onde ficam abrigadas. Unem os folíolos com uma teia e podem-se alimentar do caule ou dos ramos da planta, o que possibilita sua quebra e favorece a entrada de patógenos. No broto atacado, a larva pode-se alimentar do tecido foliar, causando o desenvolvimento anormal ou a sua morte. O inseto também se alimenta de flores e vagens do feijoeiro.

 

Pragas das vagens

Percevejos-dos-grãos

Neomegalotomus simplex (Hemiptera: Alydidae), Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae)

A espécie Neomegalotomus parvus (Figura 20) tem aumentado significativamente em lavouras de feijão, com ocorrência em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Infestações de percevejos comuns à lavoura de soja, como Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros, vêm aumentando de intensidade a cada ano na cultura do feijão.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 20. Percevejo-dos-grãos
(macho de Neomegalotomus parvus).

 

Neomegalotomus simplex: O adulto apresenta coloração marrom-clara e mede de 10 mm a 11 mm. As fêmeas ovipositam separadamente nas folhas e vagens do feijoeiro. As ninfas são semelhantes a formigas e causam maiores danos aos grãos a partir do quarto instar.

Nezara viridula: O adulto é verde, mede entre 12 mm e 15 mm e vive por até 70 dias. As fêmeas colocam os ovos amarelos, normalmente na face inferior das folhas, em massas de 50–100 ovos. Somente a partir do terceiro instar, as ninfas alimentam-se dos grãos, com intensidade crescente até o quinto instar. O período de ninfa dura entre 20–25 dias.

Euschistus heros: É um percevejo marrom-escuro, com dois prolongamentos laterais do pronoto em forma de espinho. Os ovos, em 5–8 por massa, são colocados nas vagens e folhas do feijoeiro.

Piezodorus guildini: O adulto é um percevejo pequeno de aproximadamente 10 mm, com coloração verde e uma listra transversal marrom-avermelhada na parte dorsal do tórax, próximo da cabeça. A fêmea coloca os ovos pretos normalmente nas vagens, em número de 10 a 20 por postura. As ninfas do terceiro ao quinto instar causam maiores danos aos grãos.

Os percevejos, mesmo em baixas populações, causam danos significativos às vagens, alimentando-se diretamente dos grãos desde o início de formação delas. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e mais escuros. Além dos danos diretos no produto final, os percevejos prejudicam também a qualidade das sementes, reduzindo o poder germinativo e transmitindo a mancha de levedura, provocada pelo fungo Nematospora corylli, o que causa depreciação acentuada quanto à classificação comercial do produto.

Lagarta-das-vagens

Maruca vitrata (Lepidoptera: Pyraustidae), Etiella zinckenella (Lepidoptera: Phycitidae)

As lagartas-das-vagens eram consideradas pragas secundárias no feijoeiro, por não apresentarem ataques frequentes todos os anos. Entretanto, a ocorrência dessas lagartas tem aumentado nas lavouras de feijão nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.

Maruca vitrata: O adulto é uma mariposa de 2 cm de envergadura aproximadamente e coloração marrom-clara. Apresenta áreas transparentes nas asas por falta de escamas. Vive cerca de uma semana, e a fêmea coloca, em média, 150 ovos nas gemas de folhas e flores. O período de incubação dos ovos é de 5 dias, e as lagartas com cinco instares alimentam-se de pedúnculos, flores e vagens. A penetração das larvas na vagem ocorre principalmente onde essa se encontra em contato com folhas, ramos ou com outra vagem, sendo característico o aparecimento de excrementos. Normalmente, empupam no solo e, algumas vezes, nas vagens.

Etiella zinckenella: É uma mariposa com cerca de 2 cm de envergadura e asas anteriores cinza-escuro e posteriores cinza-claro. A postura varia de 2 a 70 ovos e é feita no cálice das flores ou nas vagens. As lagartas inicialmente são de coloração branca e cabeça escura, tornando-se verdes e, quando próximas a empuparem, rosadas, atingindo cerca de 20 mm. As lagartas penetram nas vagens, danificando as sementes, e deixam excremento nos orifícios de penetração (Figura 21).

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 21. Larva da Etiella zinckenella.

 

As lagartas alimentam-se das vagens e dos grãos, destruindo os grãos em formação. As perfurações nas vagens favorecem a entrada de saprófitas e depreciam o produto final pela presença de excrementos e grãos danificados.

Lagarta-da-espiga

Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae)

A espécie é uma praga mundial que ocorre na África, Europa, Ásia e Oceania. Foi recentemente identificada no Brasil (Embrapa, Nota Técnica 22/3/2013; Notificação Mapa 70570.000355/2013-2), causando importantes danos econômicos ao País. Na safra de 2012, foi observada no feijão em Goiás; e, no algodão, inicialmente na Bahia, atingindo o Maranhão e também o Piauí. Atualmente está em 12 estados da Federação (Revista Cultivar, abril de 2013). A lagarta alimenta-se de grande variedade de plantas, incluindo algodão, soja, milho, feijão-comum, feijão-caupi, girassol, sorgo, trigo, milheto, aveia, cevada e triticale; linhaça; grão-de-bico, tomate, batata; e culturas hortícolas, frutíferas, ornamentais, etc.

A forma jovem (lagarta) e o adulto (mariposa) são muito variáveis em tamanho e cor. As lagartas possuem comprimento variando de 12 mm a 20 mm, enquanto os adultos têm envergadura de 30 mm a 40 mm. As lagartas são, inicialmente, de coloração verde-clara; contudo, nos instares mais adiantados, apresentam variações na cor. São bastante agressivas, ocasionalmente carnívoras, e, quando a oportunidade surge, podem ser canibais. Se perturbadas, deixam-se cair da planta e enrolam-se no solo. Transformam-se em pupa dentro de um casulo de seda a vários centímetros no solo. Nas fêmeas, as asas anteriores variam do amarelo ao laranja; e nos machos são cinza-esverdeado, com uma faixa transversal ligeiramente mais escura no terço distal. A mariposa pode colocar várias centenas de ovos, distribuídos em diferentes partes da planta. Em condições favoráveis, os ovos eclodem dentro de 3 dias e o ciclo de vida pode ser concluído em pouco mais de um mês, especialmente nas áreas mais quentes.

O gênero Helicoverpa é composto por diversas espécies de pragas altamente destrutivas, devido, principalmente, a algumas de suas características biológicas, como polifagia, alta fecundidade, alta mobilidade das lagartas localmente e migração das mariposas, que lhe permitem sobreviver em ambientes instáveis e adaptar-se a mudanças sazonais. As lagartas alimentam-se de folhas e caules do feijoeiro, mas preferem órgãos reprodutivos, como botões, inflorescências, frutos, vagens, etc.

 

Pragas de grãos armazenados

Carunchos

Zabrotes subfasciatus e Acanthoscelides obtectus (Coleoptera: Bruchidae)

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 22. Ovos de caruncho (Acanthoscelides obtectus).

 

As duas espécies de carunchos são cosmopolitas e ocorrem em todos os países que cultivam o feijoeiro. O Zabrotes subfasciatus ocorre nas regiões mais quentes dos trópicos, enquanto o Acanthoscelides obtectus é o principal caruncho do feijoeiro nas regiões temperadas de clima ameno.

A principal diferença entre essas duas espécies é que a fêmea do caruncho Z. subfasciatus coloca os ovos aderidos firmemente às sementes e a de A. obtectus coloca os ovos soltos entre os grãos (Figura 22). A fêmea de Z. subfasciatus tem coloração marrom e difere do macho por ser maior e apresentar quatro manchas de cor creme nos élitros. O adulto de A. obtectus apresenta coloração cinza com manchas claras.

O desenvolvimento biológico das duas espécies é muito semelhante, mas normalmente o ciclo de vida de A. obtectus é mais longo que o de Z. subfasciatus. A 26 °C, os ovos se desenvolvem em 5–7 dias, a larva em 14–16 dias e a pupa em 6–7 dias. As larvas recém-emergidas penetram nas sementes, onde passam por quatro instares, quando se transformam em pupas. A larva do último instar e a câmara pupal ficam visíveis externamente, na forma de um orifício circular coberto por um fina camada do tegumento da semente. O adulto emerge pelo orifício e normalmente não se alimenta, mas pode consumir água ou néctar. Os adultos vivem por pouco tempo, aproximadamente 14 dias, acasalam e ovipositam logo após a emergência. A. obtectus e Z. subfasciatus colocam em média 45 e 36 ovos, respectivamente.

As duas espécies de carunchos podem iniciar o ataque antes da colheita do feijão, inserindo os ovos nas vagens. Eles causam danos aos grãos devido às galerias feitas pelas larvas, destruindo os cotilédones, reduzindo o peso da semente e favorecendo a entrada de microrganismos e ácaros (Figura 23). Além de provocar aquecimento dos grãos, esses carunchos afetam a germinação da semente pela destruição do embrião, bem como depreciam a qualidade comercial dos grãos por causa da presença de insetos, ovos e excrementos.

 

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 23. Danos causados pelos carunchos nos grãos.

 

 

Manejo Integrado de Pragas (MIP) do feijoeiro

A maneira mais racional do ponto de vista econômico, social e ambiental para controlar os insetos nocivos às culturas é o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que consiste na amostragem de pragas e seus inimigos naturais e na observação de níveis de ação para controle das pragas. Com a utilização dessa tecnologia, tem-se reduzido, em média, 60% a aplicação de inseticidas, com economia de 78% no custo do controle de pragas do feijoeiro.

 

Passos para a realização do MIP-Feijão

Caminhamento na lavoura e número de amostragens

O caminhamento na lavoura deve ser feito de modo que represente o melhor possível a área total, em zigue-zague. Em lavouras de até 5 ha, são realizadas quatro amostragens; até 10 ha, seis amostragens; até 30 ha, oito amostragens; até 100 ha, dez amostragens. No caso de áreas maiores que 100 ha, as parcelas deverão ser subdivididas.

Formas de amostragem

Antes da instalação da lavoura

Realizar amostragens no solo (1 m de largura x 1 m de comprimento x 5 cm de pro­fundidade) para avaliar a presença de pragas do solo. Se for constatada a presença de mais de uma lagarta com mais de 1,5 cm/m2 (elasmo, rosca, cartucho, corós ou gorgulho-do-solo), esperar que as lagartas tornem-se pupas (aproximadamente 10 dias), realizar o tratamento de sementes e aumentar o estande de plantas.

Da emergência até o estágio de 3–4 folhas trifolioladas

Proceder a marcação de 2 m na linha de plantio/ponto de amostragem e fazer o moni­toramento para cada praga ou dano:

  • Número de plantas mortas – para pragas de solo.
  • Número de insetos nas plantas por ponto de amostragem. As faces superior e infe­rior da folha devem ser viradas lentamente, para não dispersar os insetos.
  • Nível de desfolha (amostra visual), em área de raio igual a 5 m, centrada no ponto de amostragem.
  • Número de larvas-minadoras vivas por dez folhas trifolioladas em cada ponto de amostragem. Não considerar o ataque nas folhas primárias.
  • Número de tripes em 1 m de linha em cada ponto de amostragem. Efetuar duas batidas por ponto de amostragem das plantas, em placa branca de poliondas (0,5 m x 0,5 m).
  • Número de lesmas/caracóis em 1 m2 de solo em cada ponto de amostragem.

Após o estágio de 3–4 folhas trifolioladas

As amostragens devem ser realizadas com o pano de batida branco (1 m de comprimen­to x 0,5 m de largura), com um suporte de cada lado. O pano deve ser inserido cuidado­samente entre duas filas de feijão, para não perturbar os insetos. As plantas devem ser batidas vigorosamente sobre o pano para deslocar os insetos e inimigos naturais.

Outras pragas:

  • Lagartas (Omiodes indicata, Helicoverpa spp.) e broca-das-axilas (Epinotia aporema) – Na área do pano de batida, deve-se observar as lagartas nas axilas dos brotos terminais e nas folhas novas. Anotar o número de lagartas e plantas com a presença das lagartas.
  • Nesta etapa, também devem ser anotados os níveis de desfolha, tripes, lesmas/caracóis, larvas minadoras, como descrito anteriormente.

No estágio de florescimento e de formação de vagens

Nestes estágios, as amostragens devem ser direcionadas principalmente para tripes nas flores, ácaros, percevejos e lagartas-das-vagens utilizando-se o pano de batida e a rede entomológica, na seguinte ordem de amostragem:

  • Inserir o pano de batida entre duas fileiras de plantas e, sem bater as plantas sobre o pano, verificar o número de plantas com a presença de sintomas de ataque do ácaro-branco nas folhas da parte superior na área do pano de batida.
  • Bater vigorosamente as plantas sobre o pano de batida, para contagem de inse­tos e inimigos naturais.
  • Verificar presença de lagartas e/ou seus danos em vagens na área do pano de batida.
  • Verificar o número de plantas com ataque do ácaro rajado.
  • Próximo a área amostrada, verificar o número de tripes nas flores, coletando 25 flores por ponto de amostragem.
  • Amostrar o percevejo-manchador-do-grão passando-se dez vezes a rede ento­mológica sobre as plantas, próximo da área amostrada.
  • Amostrar também a broca das axilas, Helicoverpa, lagarta das folhas, larvas minadoras e os níveis de desfolha, conforme descrito anteriormente.

Metodologia de amostragem para ninfas e adultos da mosca-branca

A amostragem de adultos de mosca-branca será realizada em dez folíolos do ponteiro por ponto de amostragem. A avaliação de adultos deve ser realizada no período da manhã, virando-se as folhas lentamente para não dispersar os insetos e facilitar a visualização.

Para a amostragem de ninfas, coletar dez folíolos da parte baixeira ou mediana da planta de feijão e estimar o número de ninfas com o auxílio de uma lupa de bolso de 40x de aumen­to. Em cada folha, estimar o número de ninfas presentes com base na escala a seguir:

  • 0 ninfa/folha;
  • menos que 10 ninfas/folha;
  • 11–30 ninfas/folha;
  • 31–50 ninfas/folha;
  • 51–70 ninfas/folha;
  • 71–100 ninfas/folha;
  • mais de 100 ninfas/folha.

Registro das amostragens e níveis de ação

Anota-se em planilha os danos, o número de pragas e os inimigos naturais (Figura 24). Quando os níveis de ação (Tabela 2) forem atingidos, utilizar os produtos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), dando preferência para aqueles mais seletivos aos inimigos naturais e que sejam menos tóxicos ao aplicador e ao meio ambiente.

Foto: Eliane Dias Quintela
Figura 24. Planilha de levantamento.