Feijão
Plantio direto
Autor
José Geraldo Da Silva - Embrapa Arroz e Feijão
São várias as denominações encontradas para plantio direto: semeadura direta, sistema plantio direto, plantio direto na palha, cultivo zero, plantio sem preparo, sistema de nenhum preparo. Para realizar essa operação, a máquina de plantio deve cortar a palha acumulada na sua superfície, abrir um sulco (com a menor espessura possível) no solo, depositar as sementes na profundidade adequada, possibilitando bom contato com a terra e, ao mesmo tempo, colocar o adubo abaixo ou ao lado das sementes.
Do ponto de vista conservacionista, o Sistema Plantio Direto (SPD) constitui uma prática eficiente para controlar a erosão do solo, para propiciar maiores disponibilidades de água e nutrientes para as plantas e para reduzir substancialmente os gastos com máquinas agrícolas (Figura 1).
Foto: José Geraldo da Silva |
Figura 1. Plantio direto de feijoeiro em solo com cobertura vegetal de braquiária. |
Para que os benefícios do SPD sejam plenamente evidenciados, algumas condições básicas na implantação do sistema deverão ser satisfeitas ou corrigidas, quais sejam:
- Treinamento do agricultor nas fases de implantação e condução do SPD.
- Avaliação das camadas compactadas do solo e adoção de práticas necessárias para eliminá-las. As camadas compactadas são também conhecidas como pé de arado ou pé de grade.
- Correção da acidez e dos níveis de fertilidade do solo principalmente do fósforo.
- Eliminação de plantas daninhas.
- Adoção da rotação de culturas, objetivando minimizar a compactação do solo, melhorar a disponibilidade de nutrientes, aumentar a quantidade de matéria orgânica e a cobertura vegetal do solo.
- Contar com o apoio de assistência técnica eficiente.
A não observância desses princípios básicos na implantação do SPD tem levado alguns agricultores a desistir do SPD muito precocemente, depois de 2 ou 3 anos, principalmente os que trabalham com solos argilosos. Embora o SPD contribua para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, não lhe pode ser atribuída a função de recuperar solos degradados isoladamente. Os problemas existentes devem ser avaliados e corrigidos antes da sua implantação.
A economia de tempo de trabalho na produção dos grãos, de potência dos tratores que não precisam tracionar arados ou grades pesadas e de combustível é uma das vantagens do plantio direto em relação ao preparo convencional.
Existem no mercado brasileiro máquinas semeadoras adubadoras adequadas ao plantio direto, tracionadas por trator e por animal. As máquinas já não são empecilhos à adoção do plantio direto, pois são eficientes e eficazes tanto na grande como na pequena propriedade agrícola, tendo em vista todo o trabalho de pesquisa realizado pela inciativa pública e privada.
Quanto à distribuição de sementes, as semeadoras especiais para feijão podem ser equipadas com mecanismos dosadores dos tipos disco perfurado horizontal e disco pneumático.
Disco perfurado horizontal – Possui perfurações ou células para alojar e dosar as sementes e é assentado no fundo do reservatório delas. Com o movimento de rotação do disco, as sementes ocupam as células e são levadas para o condutor de saída do reservatório e daí para o solo. Esse mecanismo dosador vem acompanhado de martelete e de escova, que eliminam o excesso de sementes de cada célula (as sementes dentro das células do disco passam por baixo do martelete e da escova e as que estão fora e acima são bloqueadas). Para regular a vazão de sementes, deve-se alterar o número de células do disco ou variar, por meio de engrenagens, sua velocidade de rotação. Esse mecanismo, muito utilizado para feijão, apresenta boa precisão na distribuição de sementes. A uniformidade de distribuição de sementes dentro do sulco de plantio é geralmente melhor nas máquinas com dosadores posicionados mais baixo, mais perto do sulco de plantio.
Disco pneumático – Pode ser pressurizado ou a vácuo. A pressurização ou o vácuo é produzido por turbina de ar própria, acionada pela tomada de potência do trator. Os dois tipos de discos operam na posição vertical dentro de câmaras que recebem as sementes do reservatório de grãos. O disco pressurizado possui várias células sobre as quais são pressionadas as sementes. À medida que o disco gira, uma escova localizada na parte superior desaloja as sementes pressionadas, que são levadas ao condutor de sementes. Por sua vez, o disco a vácuo tem diversos furos ou raias nas quais são alojadas as sementes. Com a produção de vácuo, as sementes são fixadas nas raias do disco, que gira transportando-as para um local desprovido de vácuo, onde se situa o condutor de sementes, e daí para o solo. Para regular a vazão de sementes, deve-se alterar o número de células ou de raias nos discos ou variar sua velocidade de rotação por meio de engrenagens.
Muitas semeadoras são providas de rotor acanalado para distribuição de sementes. O rotor possui reentrância nas bordas e, ao girar dentro de uma moega, leva as sementes ao tubo condutor e, daí, ao solo. Para regular a vazão das sementes, deve-se deslocar lateralmente o rotor para variar seu contato com as sementes ou variar, por meio de engrenagens, sua velocidade de rotação. Esse dosador não deve ser utilizado para feijão, pois provoca muitos danos às sementes. Ele é indicado para a semeadura de sementes pequenas e em grande densidade, como o arroz, trigo, aveia, nabo forrageiro, entre outras.
Quanto à distribuição do adubo (Figura 2), as semeadoras de plantio direto do feijão podem ser equipadas com mecanismos dos tipos roseta, rosca sem fim e rotor.
Fotos: José Geraldo da Silva |
Figura 2. Dosador de adubo. |
Roseta – Em forma de disco dentado, a roseta gira no fundo do reservatório de adubo, acionada por um conjunto de coroa e pinhão. O adubo é arrastado pelos dentes da roseta para uma comporta de abertura regulável que o descarrega no condutor de adubo e daí ao solo.
Rosca sem fim – Tem a função de conduzir o adubo até uma comporta. A quantidade transportada depende da sua velocidade de rotação e do diâmetro e passe da rosca.
Rotor – Provido de palhetas ou dentes, o rotor é acionado por um eixo horizontal instalado no fundo do depósito de adubo. Ao girar, ele conduz o adubo para uma comporta de abertura regulável e daí para o sulco de plantio.
Normalmente, para regular a vazão de adubo nas semeadoras, deve-se alterar a abertura das comportas (dosadores tipos rotor e roseta) ou variar, por meio de engrenagens, a velocidade de giro do mecanismo dosador (rosca sem fim).
Para a abertura do sulco, visando à colocação de sementes e adubos, as semeadoras de plantio direto devem cortar a palha que se encontra na superfície do solo e, ao mesmo tempo, evitar que a palha misturada com o solo provoque embuchamento.
As configurações mais comuns de mecanismos sulcadores das máquinas de plantio direto são as seguintes:
- Máquina com disco de corte de palhada (DCP) + sulcador de discos duplos defasados para adubação (SDA) + sulcador de disco duplos defasados para semeadura (SDS) + controlador de profundidade de semeadura (CPS) + aterrador de sulco de plantio (ASP).
- Máquina com (DCP) + sulcador de haste para adubação (SHA) + (SDS) + (CPS) + (ASP).
O DCP tem a função de cortar a resteva e iniciar a abertura do sulco de plantio, para permitir, logo em seguida, a ação dos sulcadores adubadores (SDA ou SHA) e do SDS, que irão depositar os adubos e as sementes. A penetração no solo é conseguida por meio da transferência de peso da máquina para os discos ou para a haste, embora essa penetre no solo também por causa da sua conformação. Os discos apresentam elevado rendimento de trabalho e demandam menos potência do trator que a haste. Por sua vez, eles têm mais dificuldade de penetrar em solos mais compactados.
Os discos de corte de palhada (Figura 3) podem ser lisos, ondulados e estriados. Para o melhor funcionamento, devem estar sempre afiados. Os discos ondulados abrem um sulco maior, devido à sua maior superfície de corte, necessitando maior peso para sua penetração no solo. Quanto menor o diâmetro do disco de corte, menor o peso necessário para sua penetração, porém a patinagem pode ser maior.
Ilustração: José Geraldo da Silva |
Figura 3. Discos de corte de palhada. |
O disco duplo defasado (Figura 4) é composto por dois discos lisos e planos de diâmetros diferentes, montados de forma que o disco maior tem a função de corte e o menor de abertura do sulco para a colocação do adubo e da semente, podendo ter, ainda, a função de auxiliar na limpeza da terra que adere ao disco. Os centros dos discos podem ser coincidentes ou não. Para evitar embuchamento, é interessante a colocação de um limpador de terra na parte interna posterior dos discos.
A haste, também conhecida como facão ou botinhas, deve movimentar o solo o mínimo possível e exigir menor esforço de tração e penetração. Para tanto, é necessário possuir uma espessura reduzida (menor que 2 cm) e um ângulo de ataque de 20 a 25 graus em relação à superfície do solo. Permite a colocação do adubo em profundidades maiores do que os discos duplos, através de tubo soldado na posição posterior, e proporciona uma pequena descompactação no sulco de plantio. Para que não ocorra embuchamento, é necessária a colocação de um disco de corte à frente da haste, o qual deve ficar o mais próximo possível. Deve-se observar que a colocação do disco de corte não limite a penetração da haste. O plantio em solos argilosos não pode ser realizado com o solo seco, pois pode ocorrer a formação de torrões e bolsas de ar, o que dificulta o contato da semente com o solo e, consequentemente, resulta em baixa população de plantas.
Foto: José Geraldo da Silva |
Figura 4. Disco duplo defasado. |
Para o fechamento dos sulcos e pressionamento do solo sobre a semente e o adubo, são usados, nas semeadoras, vários mecanismos aterradores de sulcos de plantio. Esses dispositivos devem ser regulados adequadamente, de forma a deixar uma camada de solo uniforme e de espessura adequada sobre as sementes e devolver os resíduos à superfície do sulco de plantio, ao mesmo tempo em que pressiona o solo sobre a semente.