Pós-colheita

Conteúdo atualizado em: 16/02/2022

Autores

Vicente de Paula Queiroga - Embrapa Algodão

Paulo de Tarso Firmino

Alderi Emídio de Araújo - Embrapa Algodão

Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão - In memoriam

José Janduí Soares - Embrapa Algodão

Nair Helena Castro Arriel - Embrapa Algodão

 

Beneficiamento após o batimento dos feixes, recolhem-se as sementes e procede-se à sua limpeza, com uma peneira de malha muito fina, agitando-a com movimentos verticais, para que o vento, provocado por ventiladores, retire as impurezas contidas; após o processo de limpeza manual, as sementes de gergelim podem ser imediatamente ensacadas.

 

Foto: Vicente de Paulo Queiroga  Figura 1. Batedura de feixes de gergelim sobre lona.

 
 
Para o processamento de sementes de gergelim colhidas com umidade elevada, em uma UBS, o primeiro passo sera á secagem delas; depois, as sementes serão passadas em máquinas que fazem uma classificação por tamanho e por peso específico; e, finalmente, as sementes serão tratadas com produtos químicos, que as deixarão em condições de serem embaladas para a comercialização.

O tratamento de sementes de gergelim é pouco praticado e, quando é realizado, é feito logo após a classificação, utilizando-se os seguintes fungicidas: Captan, Thiram, Quintozenel, etc. O seu objetivo é eliminar os agentes patogênicos internos e externos, nas sementes, e proteger estas e as plântulas contra insetos e ataques de patógenos do solo, especialmente quando ocorrem condições de baixa temperatura e de umidade elevada durante a época de semeadura.

É mais aconselhável, para a região Nordeste, realizar o expurgo ou fumigação (fosfina), que elimina os insetos presentes na massa de sementes, em diversas fases de seu ciclo evolutivo, desde o ovo até a fase adulta.

Embalagem cabe ao produtor a obrigação de acondicionar as sementes em embalagens apropriadas. Normalmente, são utilizados sacos de papel multifolhados, com capacidade para 40 kg de sementes, e devidamente rotulados. Essa embalagem cumpre a função não só de facilitar o manuseio e o transporte das sementes, mas, também, de manter a qualidade delas.

 

Foto: Vicente de Paula Queiroga Figura 2. Embalagem de sementes de Gergelim.

 

As rotulações devem conter todas as informações capazes de identificar o produto e o produtor, como: sementes fiscalizadas; nome e endereço do produtor; número de registro do produtor no Ministério da Agricultura; CNPJ da empresa de sementes; espécie e cultivar; lote; safra; pureza e germinação mínimas; prazo de validade do teste de germinação; peso líquido; e tratamento de sementes, quando este for realizado.

O armazenamento tem por finalidade guardar as sementes até a época da semeadura, e manter a sua qualidade. O local escolhido deverá ser apropriado, isto é: seguro, seco, com possibilidades de aeração e com condições para um fácil combate a roedores, a insetos e a microrganismos. Entre os vários fatores que influem na manutenção da qualidade da semente durante o armazenamento, a umidade e a temperatura assumem uma grande importância. O poder germinativo e o vigor das sementes somente serão preservados em locais onde a umidade e a temperatura se mantêm baixas.

 

Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 3. Armazenamento de sementes de gergelim em sacos valvulados sob estrado de madeira.

 

Do ponto de vista da longevidade das sementes, admite-se que as sementes de gergelim, quando colhidas convenientemente maduras e secas, apresentam um teor de umidade inferior a 5%, e uma acidez máxima de 1%, podendo manter as suas qualidades fisiológicas sem que haja qualquer problema de conservação.

As sementes de gergelim perdem rapidamente a viabilidade quando manipuladas e armazenadas sem os devidos cuidados, o atraso na colheita, os danos mecânicos na batedura, e a alta umidade e temperatura de armazenamento são os principais fatores que afetam a longevidade.

Foi mantida a viabilidade fisiológica por três anos, quando as sementes foram armazenadas em recipientes herméticos, e neste mesmo tipo de recipeiente as sementes se conservaram por dois anos quando mantidas à temperatura de 10 °C e à umidade de 7,0%, enquanto, a 21 ºC, a conservação só permaneceu quando o teor de umidade das sementes foi de 4%.

Em experiências realizadas na Venezuela com sementes de gergelim (Sesamum indicum L.), foi observado que o armazenamento dessa oleaginosa variou de 2 meses a 2 anos; entretanto, o tempo médio do armazenamento foi de 7 meses, sem prejuízo para a qualidade fisiológica das sementes.

Em outra experiência foi constatado que sementes de duas cultivares de gergelim, acondicionadas em sacos de papel e armazenadas por um período de 24 meses, em condições não controladas em laboratório, na região de Campinas, SP, conservaram-se muito bem, apresentando uma germinação acima de 80% após o período de armazenamento. As sementes da cultivar Venezuela 51 apresentaram uma germinação um pouco mais elevada do que a da cultivar Morada.

As sementes de gergelim contêm quantidades consideráveis de antioxidantes naturais, como o sesamol, característica que permite à planta suportar períodos de mais de um ano de armazenamento, principalmente em condições de baixa umidade relativa do ar, sem prejuízo para a qualidade fisiológica das sementes.

Pesquisadores ao estudarem o armazenamento de sementes de gergelim da cultivar CNPA G2, em condições ambientais de Campina Grande, PB, e em condições controladas com 35% de umidade relativa, usando três tipos de embalagem – lata metálica, saco de plástico e saco de papel (Tabela 1) –, verificaram que as sementes de gergelim podem ser armazenadas por um período de seis meses, em condições ambientais de Campina Grande, PB, ou em câmara seca, sem prejuízo para sua germinação. Em relação às embalagens, a lata metálica não diferiu do saco de plástico, e apresentou-se como a melhor embalagem na preservação da germinação dessas sementes, sob as condições pesquisadas.

 

 Tabela 1. Valores percentuais médios de germinação das sementes de gergelim (Sesamum indicum L.) armazenadas em condições ambientais ( C1),e de câmara seca ( C2 ), acondicionadas em sacos de papel ( E1 ), sacos plástico ( E2 ) e latas metálicas ( E3 ), durante quatro períodos de armazenamento¹

Fatores

Média                        

Condição

 

Ambiental de Laboratório (C1)

81,07a

Câmara Controlada (C2)

82,44a

 

 

Embalagem

 

Saco de Papel (E1)

79,91b

Saco Plástico (E2)

81,81a

Lata Metálica (E3)

83,24a

 

 

Período

 

Sem armazenamento (Po)

85,69a

Dois meses de armazenamento (P2)

78,11b

Quatro meses de armazenamento (P4)

83,01a

Seis meses de armazenamento (P6)

79,80

1Dentro de cada fator, as médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey

 

Comercialização especificamente no Nordeste, a comercialização do gergelim é bastante pulverizada e de difícil organização, principalmente por ser o gergelim proveniente de pequenos agricultores, em cuja posse concentra-se a maior parte da produção. Nessa situação, o ideal é que os agricultores se organizem em cooperativas e em associações para fomentar o cultivo em comunidade, visando um planejamento antecipado. E, a partir desse sistema de organização, deveria ser explorada a agregação de valores à produção, seja por meio da extração de óleo, seja pelo processamento dos grãos para o uso na alimentação, pois existe um mercado potencial em expansão, para a indústria oleoquímica e alimentícia (bolos, pães, biscoitos, doces, etc.), podendo constituir-se em fontes de alimentos e de renda, que contribuiriam significativamente para melhorar a dieta alimentar e o desenvolvimento com sustentabilidade. Assim, deveria ser objetivada uma maior eficiência e rentabilidade da exploração do gergelim, principalmente pelo fato de o consumo nacional apresentar-se superior à oferta do produto.
 
No setor industrial, existem algumas firmas compradoras, tradicionais, no Estado de São Paulo, e outras pequenas empresas na Paraíba, que processam o gergelim para a produção de concentrados proteicos, e fazem o esmagamento para obter o óleo vegetal.