Pragas e doenças

Conteúdo atualizado em: 16/02/2022

Autores

José Janduí Soares - Embrapa Algodão

Paulo de Tarso Firmino

Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão - In memoriam

Alderi Emídio de Araújo - Embrapa Algodão

Nair Helena Castro Arriel - Embrapa Algodão

 

Pragas

As principais pragas do gergelim são: lagarta-enroladeira, pulgão, mosca-branca, cigarrinha-verde, vaquinha-amarela e saúvas.

Lagarta-enroladeira (Antigastra catalaunalis) – é a principal praga da cultura, e exige um controle sistemático em grandes lavouras ou em áreas tradicionais de cultivo. Pode atacar o cultivo do décimo quinto dia de emergência das plântulas até o amadurecimento das cápsulas. No estágio inicial do ataque, ocorre o atrofiamento de ramos e folha.

 

Foto: Marenilson B. da Silva
Figura 1. Lagarta enroladeira de folha. 
 
 

            

Foto: Marenilson B. da Silva  Figura 2. Inseto adulto.

 

                                                       
As larvas dobram o limbo foliar no sentido longitudinal, tecem teias e alimentam-se da face dorsal das folhas, brotos, flores, cápsulas imaturas e sementes. O inseto adulto é uma mariposa que tem 8 mm de largura e 15 mm de envergadura. Em grandes infestações, as mariposas fazem galerias no ápice da planta e nos frutos. Seu controle é feito por meio da eliminação das ervas daninhas e do uso dos inseticidas deltamethrin ou carbaryl antes da frutificação.

 

Foto: Lúcia Helena A. Araújo  Figura 3. Danos ocasionados pela lagarta enroladeira no ápice da planta.

   

 Foto: Lúcia Helena A. Araújo  Figura 4. Danos ocasionados pela lagarta enroladeira na cápsula da planta. 

 

Pulgão (Aphis sp.) – ocorre em cultivos irrigados. O ataque inicial é feito em reboleiras. Os pulgões formam colônias na face inferior das folhas, que se tornam brilhosas por causa da excreção da “mela”, proveniente da sucção do açúcar, que serve de substrato para o desenvolvimento da fumagina, a qual impede a fotossíntese. Os pulgões são transmissores de viroses. Para seu controle, recomenda-se o uso de inseticidas sistêmicos, estritamente necessário para não eliminar a população de inimigos naturais.

 

 Foto: Sérgio Cobel
Figura 5. Colônia de pulgões em folhas de gergelim.
Foto: Sérgio Cobel
Figura 6. Colônia de pulgões em folhas de gergelim.

 

Mosca-branca (Bemisia argentifolii) – Tanto o inseto adulto como as ninfas que se estabelecem em colônias na face inferior das folhas causam danos à planta. Altas infestações da praga definham a planta, provocando a “mela”, e também ocasionando o aparecimento da fumagina. Os adultos são transmissores de viroses causadas pelo vírus Nicotiana 10. Para seu controle, é preciso eliminar as plantas daninhas, fazer barreiras com milho ou sorgo forrageiro e usar inseticidas para adultos e ninfas, com detergentes neutros (160 mL/20 L de água), óleos (de 0,5% a 0,8%) ou sabões para redução do número de ninfas, em pulverizações dirigidas à parte inferior da folha. Não se deve repetir o mesmo princípio ativo, nem usar misturas de produtos, pois essa prática promove a resistência ao inseticida. Vários inimigos naturais têm sido associados ao complexo de espécies de mosca-branca, como os dos gêneros Chrysoperla, Hippodamia, Coleomegilla e Cycloneda.

 

Foto: Tarcísio Marcos de S. Gondim  Figura 7. Planta de gergelim atacada pela mosca-branca (Bemisia tabaci/ B. Argentifolii), na fase adulta.

 

Cigarrinha-verde (Empoasca sp.) – ao sugar a seiva, esse inseto inocula na planta uma toxina que compromete o desenvolvimento e a produção da planta. As plantas atacadas apresentam folhas de coloração verde-amarelado, com bordas enroladas para baixo, e ramos tenros e estiolados. A cigarrinha-verde é transmissora de viroses e da filoidia do gergelim, especialmente quando existem lavouras de feijão macassar e de malváceas (guaxumas e vassourinhas) infectadas com viroses em áreas próximas às do plantio. O controle químico é feito por meio de inseticidas sistêmicos à base de demeton-metílico, thiometon ou pirimicarb.

 

Foto: Nair Helena de Castro Ariel Figura 8. Danos causados pela cigarrinha-verde. 

                  

Foto: Nair Helena de Castro Ariel Figura 9. Cigarrinha-verde na fase adulta.

 

Saúva (Atta spp.) – corta folhas e ramos tenros, podendo destruir completamente as plantas na sua fase inicial de desenvolvimento. O controle químico por meio de iscas tóxicas granuladas é muito utilizado, mas deve ser evitado em dias chuvosos e em solos úmidos. As iscas devem ser distribuídas em porções ou dentro de porta-iscas, ao lado dos carreiros ativos. É importante que se efetue uma vistoria frequente na área. Ressalta-se que o gergelim é conhecido tradicionalmente pelo controle de formigas-cortadeiras. Esse efeito vem sendo estudado na Universidade de São Carlos, onde se constatou que a sesamina contida na semente de gergelim atua contra os fungos que servem de alimento para as formigas. Há mais de dez anos, trabalhos de pesquisa vêm sendo conduzidos pelo professor João Batista Fernandes, do Departamento de Química daquela universidade, a fim de obter um inseticida e fungicida natural a partir do extrato extraído de folhas e de sementes de gergelim, de mamona e de plantas cítricas para o controle da formiga-cortadeira.

 

Foto: Ísaias Alves Figura 10. Danos provocados por formiga-cortadeira (saúva) em gergelim.

                            

Foto: José Ednilson Miranda  Figura 11. Detalhe de formiga saúva cortando folha de gergelim.

 
 
 

Doenças

As principais doenças do gergelim são as manchas-foliares, causadas por fungos, as quais podem causar sérios prejuízos à cultura quando as condições são favoráveis ao seu desenvolvimento.
 
Muitas vezes, a disseminação de doenças em uma lavoura é ocasionada pela própria semente infectada, uma vez que a semente pode transmitir para a planta, tanto interna como externamente, fungos, vírus e bactérias causadoras de doenças (patogênicas), além de levar, para a parte externa, mofos (fungos saprófitas) que podem diminuir o seu poder germinativo. Tais causadores de doenças (patógenos) tanto influenciam na emergência e no vigor da planta como se constituem em fonte de inóculos primários, que podem dar origem a epidemias graves, se as condições climáticas forem favoráveis.
 
 
Filoidia – essa anomalia caracteriza-se pelo encurtamento dos entrenós e pela proliferação abundante de folhas e de ramos na região apical da planta. A transformação dos órgãos florais em folhas torna a planta estéril. Essa anomalia é transmitida por insetos jassídeos (Deltocephalus sp). Essa moléstia tem sido associada à presença de microrganismos semelhantes a micoplasmas.
 
Foto: Eleusio C. Freire Figura 1. Sintomas de Filoidia em gergelim.        Foto: Nair Helena de C. Arriel Figura 2. Planta de gergelim com Filoidia.
 
Mancha-angular (Cylindrosporium sesami) – essa doença é causada por um fungo (mofo) e geralmente afeta as folhas, produzindo manchas angulares e irregulares de cor pardo-escuro, limitadas em um ou mais lados pelas nervuras, sendo a parte inferior da folha aquela em que a lesão é mais clara. Essa doença é encontrada com maior intensidade no terço inferior da planta. É transmitida pelas sementes (que são a fonte do inóculo). A propagação da doença em área plantada ocorre por meio do vento, que transporta os esporos das plantas infectadas para as plantas sadias. O meio mais eficiente de controle dessa doença é o uso de cultivares resistentes. Recomenda-se, ainda, o tratamento das sementes e a rotação de culturas.
 
Mancha-de-cercospora (Cercospora sesami) – essa doença faz que folhas e frutos apresentem manchas arredondadas, com centro de cor cinza-claro a esbranquiçada e bordas marrons. Nos caules e pecíolos, as lesões são largas e elípticas, chegando a formar cancros (lesão necrótica com bordos bem limitado em órgãos vegetais). com área necrosada (morte ou descoloração de tecidos foliares resultantes da infecção por um agente patogênico) e deprimida. O fungo penetra no interior da cápsula e alcança as sementes, tornando-as enegrecidas. Lesões nos cotilédones (1. folha embrionária, a primeira que surge quando da germinação da semente, e cuja função é nutrir a planta jovem nas primeiras fases de seu crescimento.) (2. folha ou cada uma das folhas que se forma no embrião das angiospermas e gmnospermas e que, em algumas das espécies pode ser um órgão de reserva para o desenvolvimento da plântula). podem dar origem a infecções secundárias. Para evitar a disseminação do patógeno, recomenda-se tratar as sementes com fungicidas à base de Carbendazin e de Tiofanato metílico, e fazer pulverizações preventivas com fungicidas cúpricos, além de plantar cultivares resistentes.
 
Podridão-negra-do-caule (Macrophomina phaseolina) – o fungo que causa essa doença afeta principalmente o caule e os ramos da planta, ocasionando lesões de cor marrom-claro que podem circundar essas partes da planta ou se estender de forma longitudinal, podendo alcançar o broto terminal da planta. Nas lesões, encontram-se algumas pintas pretas. As plantas afetadas murcham, podendo secar e morrer. Altas temperaturas, baixa umidade do solo e baixa disponibilidade de potássio favorecem o aparecimento desse patógeno. Sua disseminação ocorre pela água (de irrigação ou da chuva), por partículas do solo e por sementes infectadas. Para o controle desse fungo, devem ser adotadas as seguintes práticas: usar sementes sadias, fazer rotação de culturas, eliminar restos culturais, fazer o tratamento das sementes com o fungicida propineb e usar cultivares resistentes.

 

Murcha-de-fusário (Fusarium oxysporium) – os sintomas dessa doença caracterizam-se por flacidez e murcha da planta que, posteriormente, seca e morre. Fazendo-se um corte transversal no caule, pode-se observar o enegrecimento dos tecidos do sistema vascular. Esse fungo sobrevive no solo na forma de esporos, vivendo saprofiticamente em restos de cultura. Sua disseminação é feita por partículas do solo e por gotas de água (da chuva e de irrigação). Sementes sadias, rotação de culturas, eliminação de restos de culturas, e cultivares resistentes devem ser usados como medidas de controle.
 
Virose – essa doença faz que as plantas mostrem-se atrofiadas, apresentando superfície foliar com áreas amareladas, intercaladas com áreas de coloração verde. A virose é transmitida pela cigarrinha-verde, a partir de uma planta infectada, por feijão e por malváceas (guaxumas e vassourinhas). Para evitar a disseminação, faz-se a erradicação e queima das plantas afetadas.
 
Mancha-bacteriana (Xanthomonas campestri pv. semami) – inicialmente, essa doença causa manchas escuras e arredondadas, ou angulares, nas folhas, nos caules e nas cápsulas, que, posteriormente, adquirem uma coloração marrom-avermelhado ou negra, e que podem coalescer (Fusão de duas ou mais lesões na folha) formando uma área necrosada. A mancha-bacteriana é disseminada pela água da chuva, juntamente com o vento, e é transmitida pela semente. Pode sobreviver em restos culturais. Um alto teor de nitrogênio no solo favorece essa doença. Para seu controle, recomenda-se a eliminação de restos culturais, a rotação de culturas e o uso de sementes sadias.
 
Mancha-de-alternaria (Alternaria sesami) – os sintomas dessa doença são manchas marrons, circulares ou irregulares, nas folhas e nos caules, que podem coalescer e levar a área afetada à necrose, causando o desfolhamento e a morte da planta. Altas temperaturas favorecem o surgimento dessa doença, que é transmitida pelas sementes. Como medida de controle, recomenda-se fazer a rotação de culturas, a eliminação de restos culturais e o uso de sementes sadias.