Características da planta

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autor

Máira Milani - Embrapa Algodão

 

A mamoneira (Ricinus communis L.) tem seu centro de diversidade localizada na antiga Abissínia, hoje Etiópia, e no leste da África, existindo outros centros de diversidade.

A domesticação da cultura perde-se no tempo, tendo sido relatado seu uso no Egito, no ano 4000 a. C. No continente americano, sua introdução foi feita, aparentemente, depois da chegada dos europeus, provavelmente com a importação dos escravos africanos, sendo as formas existentes relacionadas com as da África. Mostrou ampla adaptação às condições de clima e solo do Brasil, sendo hoje encontrada, praticamente, em todo o território nacional em estado subespontâneo.

Aqui no País, conhece-se a espécie sob denominação de mamoneira, rícino, carrapateira, enxerida e palma-de-cristo; na Inglaterra e nos Estados Unidos, pelo nome de “castor bean” e “castor oil seed”, enquanto na Alemanha é conhecida como “wunder baum”; em espanhol, ”higuerilla, higuerete, palma Christi, higuera e tártago”; em francês, “ricinu”, o que mostra sua grande dispersão.
 

Características botânicas

A mamoneira é classificada, atualmente, da seguinte maneira:

Subdivisão: Fanerogamae ou espermatophita

Filo: Angiospermae

Classe: Dicotiledonae

Subclasse: Archichlamydeae

Ordem: Geraniales

Família: Euphorbiaceae

Gênero: Ricinus

Espécie: Ricinus communis

O gênero Ricinus é considerado monotípico (há somente uma espécie), pertencente à família Euphorbiaceae, sendo reconhecidas as subespécies R. communis sinensis, R. communis zanzibarensis, R. communis persicus e R. communis africanus, as quais englobam 25 variedades botânicas, todas compatíveis entre si. Todas apresentam número de cromossomos 2n=2 x=20.
As plantas da espécie apresentam grande variabilidade em diversas características, como hábito de crescimento, cor das folhas e do caule, tamanho, cor e teor de óleo das sementes. Pode-se, portanto, encontrar tipos botânicos com porte baixo ou arbóreo, ciclo anual ou semiperene, com folhas e caule verde, vermelho ou rosa, com a presença ou ausência de cera no caule, com frutos com ou sem espinhos, deiscentes ou indeiscentes, com sementes de diversos tamanhos e colorações e diferentes teores de óleo.

Foto: Máira Milani Figura 1. Exemplo de diferentes colorações no fruto da mamoneira: verde.

             

Foto: Máira Milani Figura 2. Exemplo de diferentes colorações no fruto da mamoneira: verde escuro.

 

Foto: Máira Milani Figura 3. Exemplo de diferentes colorações no fruto da mamoneira: vermelho.

             

Foto: Máira Milani Figura 4. Exemplo de diferentes colorações no fruto da mamoneira: rosa.

 

Foto: Máira Milani Figura 5. Exemplos de plantas de mamoneira com porte diferenciado: porte baixo.

  

Foto: Máira Milani Figura 6. Exemplos de plantas de mamoneira com porte diferenciado: porte médio.

  

Foto: Máira Milani Figura 7. Exemplos de plantas de mamoneira com porte diferenciado: porte alto.

 

 

Possui um sistema radicular fistiloso, constituído de raiz principal, pivotante, cujo desenvolvimento varia com o porte da cultivar. As raízes secundárias são bem desenvolvidas, porém na planta de porte anão elas são mais ramificadas, penetrando profundamente no solo.

 

Foto: Liv Soares Severino Figura 8. Raiz pivotante de mamoneira bem desenvolvida.

 

A mamoneira é considerada planta tolerante à seca, entretanto necessita que a quantidade de chuvas esteja em torno de 500 mm para que se obtenha boa produtividade. Antes da floração, requer cerca de 100 mm por mês, distribuídos regularmente nos primeiros quatro meses do ciclo, de modo que o florescimento dos cachos ocorra em condições de disponibilidade hídrica.
O caule é geniculado, espesso e ramificado, terminando com a inflorescência tipo racemo. A haste principal, ou primária, que pode ser ou não coberta por cera, cresce verticalmente, sem nenhuma ramificação, até o aparecimento da primeira inflorescência, denominada cacho principal. Os ramos laterais se desenvolvem da axila da última folha, logo abaixo da inflorescência. A cera é mais abundante em plantas jovens e aquelas sob condições de falta d´água.

 

Figura 9. Organograma da planta de mamona.                                      Adaptado de Weiss, 1983.

 

O caule apresenta grande variação na cor, presença de cera, rugosidade e nós bem definidos, com cicatrizes foliares proeminentes. O caule é brilhante, tenro e suculento quando a planta é nova e, à medida que envelhece, torna-se lenhoso. A coloração pode ser verde, arroxeada, violeta, cinza, marrom e vermelha.

 

Foto: Máira Milani Figura 10. Exemplo de diferentes colorações no caule da mamoneira: verde.

             

Foto: Máira Milani Figura 11. Exemplo de diferentes colorações no caule da mamoneira: vermelho.

 

Foto: Máira Milani Figura 12. Exemplo de diferentes colorações no caule da mamoneira: verde com cera.

             

Foto: Máira Milani Figura 13. Exemplo de diferentes colorações no caule da mamoneira: roxa com cera.



As folhas são simples, grandes, com largura do limbo variando de 10 cm a 40 cm, podendo chegar a 60 cm no maior comprimento. Do tipo digitolobadas, denticuladas e pecíolos longos, com 20 cm a 50 cm de comprimento, apresentam filotaxia alternada do tipo 2/5 (duas folhas em cada cinco voltas de 360° no eixo do caule). As principais variações nas folhas da mamoneira são na cor, na cerosidade, no número de glândulas e na profundidade dos lóbulos.

 

Foto: Máira Milani Figura 14. Exemplo de diversidade das folhas de mamoneira: folha verde com cera, folíolos estreitos.

             

Foto: Máira Milani Figura 15. Exemplo de diversidade das folhas de mamoneira: folha verde avermelhada, folíolos estreitos. 

 

Foto: Máira Milani Figura 16. Exemplo de diversidade das folhas de mamoneira: folha verde, sem cera, folíolos largos.

             

Foto: Máira Milani Figura 17. Exemplo de diversidade das folhas de mamoneira: folha roxa, sem cera, folíolos estreitos.

 

A planta é considerada do tipo misto quanto ao sistema reprodutivo, ocorrendo tanto a autofecundação como o cruzamento natural, com taxas de alogamia variando com o seu porte. Em mamoneira de porte anão (até 1,5 m) ou médio (2,0 m), a taxa de fecundação cruzada é de aproximadamente 25%. Para as de porte alto (acima de 2,5 m), esta taxa atinge aproximadamente 40%. Estes índices podem, também, ser afetados pelo tipo de ramificação, aberta ou fechada.
A mamoneira emite inflorescência no ápice da haste principal e nos ramos laterais, progressivamente, sempre com um intervalo definido entre a emissão da primeira e as das subsequentes. A inflorescência da mamoneira é composta de uma ráquis, em que são distribuídas cimas dicásicas, sendo as da parte superior femininas e as inferiores masculinas. Geralmente, a relação de flores femininas para as masculinas é de 30% a 50%: 70% a 50%. Entretanto, dependendo da variedade, podem ocorrer outras relações com maior proporção de flores femininas, o que é benefício em se tratando da produtividade. Graças à protoginia, o pistilo das flores femininas atinge a maturação cerca de 5 a 10 dias antes da maturação das anteras das flores masculinas.
As flores masculinas expelem o pólen pela deiscência das anteras, que se dá com violenta explosão. O pólen, assim arremessado, é arrastado pelas correntes aéreas para as flores femininas da mesma planta ou para as inflorescências de outras plantas, procedendo-se à polinização, que é, portanto, predominantemente anemófila.
O florescimento da mamoneira é chamado botanicamente de simpodial, ou seja, o aparecimento das inflorescências dá-se sequencialmente, com determinado intervalo entre as inflorescências primárias e secundárias, secundárias e terciárias, etc., de acordo com o padrão de desenvolvimento da ramificação da planta.
O fruto desta planta é uma cápsula tricoca, podendo apresentar tipos diferentes quanto ao aspecto externo, isto é, com presença e ausência de espinhos e quantidade de espinhos, além da coloração. Quanto à deiscência, as plantas se classificam em: indeiscentes, semideiscentes e deiscentes.

 

Foto: Máira Milani Figura 18. Frutos da mamoneira com espinhos.

             

Foto: Máira Milani Figura 19. Frutos da mamoneira sem espinhos..

 

A semente tem forma variável, podendo ser ovoide ou oblonga, com superfície dorsal arqueada e proeminente carúncula; sua coloração é bastante variável, como branca, cinza, preta, marrom, castanho, vermelho, rajada de diversas cores ou com mosqueamentos característicos.

A semente constitui-se de tegumento (externo e interno, representando de 20% a 25% do peso da semente, nas cultivares comerciais); carúncula (estrutura esponjosa originada da divisão celular do tegumento próximo à micrópila); endosperma (rico em óleo e proteína) e embrião (composto pelos cotilédones, radícula, hipocótilo e epicótilo).

As sementes de algumas variedades podem apresentar período de dormência de alguns meses, a qual pode ser quebrada, desde que seja removida a carúncula e quebrada a casca neste lado da semente. A germinação é epígia, isto é, os cotilédones são elevados sobre a superfície do solo e se expandem como folhas verdes.