Relações com o clima

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autores

José Félix de Brito Neto

Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão - In memoriam

 

Latitude e Altitude

A mamoneira é uma planta xerófila e heliófila, vegeta bem em climas tropicais e subtropicais e é explorada comercialmente entre as latitudes 40o N e 40o S. No Brasil ela é encontrada como planta asselvajada desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. A mamoneira é encontrada vegetando em altitudes desde o nível do mar até 2.300 m. No entanto, para a produção comercial, recomenda-se o cultivo em áreas com altitude na faixa de 300 m a 1.500 m acima do nível médio do mar. A altitude também interfere na expressão sexual da mamona, apesar da base genética, estando diretamente relacionada com a temperatura. Quando cultivada em regiões com altitude abaixo de 300 m, há maior produção de massa verde em detrimento da produção de cachos, além da planta perder energia pela respiração noturna, resultando na queda da produtividade. Isso provavelmente ocorre por causa da temperatura mais elevada. Diante de tamanha influência na fisiologia da mamoneira, a altitude tem sido critério de forte consideração ao se delinear o zoneamento da cultura, pois interfere em outros fatores, como o fotoperiodismo, taxa de nebulosidade diária, densidade da radiação solar diária, temperatura e umidade relativa do ar, bem como altera a relação de flores femininas/masculinas e também o número médio de flores femininas por cacho.

 

Pluviosidade/umidade

A mamoneira é considerada como planta tolerante à seca, provavelmente graças ao seu sistema radicular bem desenvolvido, chegando a alcançar, nos tipos comerciais, até seis metros de profundidade. A falta de umidade no solo, mesmo na fase da maturação dos frutos, favorece a produção de sementes pouco pesadas e com baixo teor de óleo. Quando cultivada em solos mais profundos, cultivares que apresentam maior desenvolvimento da raiz principal tendem a ter melhor desempenho no período de seca.

A maior exigência de água desta oleaginosa ocorre no início da fase vegetativa. Ela produz economicamente em áreas onde a precipitação pluvial mínima até o início da floração seja em torno de 500 mm. Chuvas fortes podem provocar a queda dos frutos, proporcionando perdas. Na fase que vai desde a floração até a maturação dos frutos, muita umidade relativa e temperaturas mais amenas podem favorecer o desenvolvimento de doenças, principalmente do mofo-cinzento. Pluviosidades entre 600 mm e 700 mm proporcionam rendimentos superiores a 1.500 kg ha-1, sendo viável economicamente em áreas onde a precipitação pluvial mínima esteja entre 400 mm e 500 mm .

 

Temperatura

Para que haja produção que assegure valor comercial, a variação da temperatura deve ser de 20 oC a 35 oC, estando a temperatura ótima para a planta em torno de 28 oC. Temperaturas muito elevadas, superiores a 40 oC, provocam aborto das flores, reversão sexual das flores femininas em masculinas e redução do teor de óleo nas sementes. Temperaturas infra e supraótimas interferem na produtividade da cultura: ambientes com temperatura noturna em torno de 30 oC aumentam a respiração celular e diminuem a taxa fotossintética, reduzindo o crescimento e o número de frutos por cacho.

Embora a mamoneira seja encontrada como planta asselvajada em diversas regiões do Brasil, como planta cultivada, ela se adapta melhor aos climas quentes. Assim o Nordeste apresenta regiões ideais para seu cultivo. Quase todos os estados do Nordeste dispõem de clima com temperatura e pluviosidade boas para a cultura.

A região Nordeste é favorecida pelo orvalho, que representa uma entrada de energia no sistema e produz bem em ambientes onde a temperatura noturna não seja elevada, ou seja, em torno de 20 oC. O que não ocorre em baixas altitudes – caso do litoral do Nordeste, cuja temperatura do ar, à noite, atinge frequentemente mais que de 30 oC, aumentando a respiração oxidativa mitocondrial e reduzindo a fotossíntese líquida, o crescimento em geral, reduzindo o número de frutos dos cachos, elevando o número de flores masculinas e promovendo maior taxa de aborto das flores femininas.