Manejo e conservação do solo

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autores

João Henrique Zonta - Embrapa Algodão

Augusto Guerreiro Fontoura Costa - Embrapa Algodão

Valinei Soffiati - Embrapa Algodão

 

Prática conservacionista

A adoção de práticas conservacionistas do solo e da água é aspecto essencial na exploração racional da mamoneira. Essa planta apresenta baixo índice de área foliar; e é cultivada com espaçamentos maiores que as principais culturas anuais, deixando o solo onde é cultivada desprotegido, predispondo o mesmo aos agentes erosivos, que são o ar (erosão eólica) e a água (erosão hídrica). Além disso, a mamoneira exporta quantidades significativas de nutrientes em colheitas sucessivas, o que pode exaurir boa parte dos nutrientes do solo em sistemas de produção com baixo uso de insumos, agravando ainda mais a situação acima descrita.

Vários procedimentos podem ser adotados para minimizar o problema de erosão do solo cultivado com a mamoneira. Entre estes procedimentos podem ser citados: o aumento da cobertura vegetal, o preparo adequado do solo com plantio em curvas de nível, a adoção do sistema de plantio direto, a rotação de culturas, a consorciação de culturas, o controle de capinas e calagem e a adubação adequada.


Aumento da cobertura vegetal do solo

A cobertura vegetal sobre a superfície do solo atua na proteção contra a erosão hídrica, pois protege o solo do impacto direto das gotas de chuva sobre a superfície, o que desagrega o solo, principalmente na fase inicial de desenvolvimento das plantas, quando o índice de área foliar é muito baixo. Além disso, a cobertura vegetal aumenta a rugosidade do terreno, reduzindo a velocidade do escoamento superficial, diminuindo desta forma seu poder erosivo. Além disso, aumenta a infiltração de água no solo, visto que, com a diminuição da velocidade de escoamento, a água permanece por maior tempo na superfície do solo, fazendo com que a mesma se infiltre.
A cobertura vegetal também proporciona a manutenção ou elevação dos teores de matéria orgânica no solo, além de elevar a biodiversidade dos microrganismos que vivem no solo, visto que o solo coberto proporciona menor variação na sua temperatura durante o dia. Com isso, aumenta a agregação do solo, melhorando sua estrutura e tornando-o menos susceptível a erosão.

Preparo de solo

Para o cultivo da mamona, recomenda-se o uso de solos profundos e bem drenados, sem compactação. No sistema tradicional de produção de mamona, em que são feitas várias arações e gradagens, há grande desagregação do solo.
Assim, quando se adota o sistema convencional de cultivo, recomenda-se que seja feito o preparo reduzido de solo, com operações que permitam a manutenção dos restos culturais na superfície e menor pulverização dos agregados do solo, como a escarificação ou subsolagem. Outra técnica simples é a rotação de implementos de preparo de solo, em que se alterna periodicamente o uso de implementos de discos e dentes, além de variar também a profundidade do preparo do solo, evitando a formação dos chamados pé de arado ou pé de grade.
Em solos declivosos, o preparo deve ser feito sempre seguindo a marcação das curvas de nível.


Plantio Direto

Neste sistema o plantio é realizado sem que haja aração ou gradagem prévia do solo, sendo a semente colocada no solo não revolvido e o plantio realizado por plantadeiras que abrem um pequeno sulco de profundidade e largura suficientes para garantir boa cobertura e contato da semente com o solo, permitindo a germinação da mesma. Nesse tipo de sistema, as plantas daninhas são controladas com uso de herbicidas, uma vez que as capinas mecânicas são dispensadas para não revolver o solo. O plantio direto consiste basicamente em três etapas: colheita e distribuição dos restos da cultura antecessora para formação da palhada; aplicação de herbicidas e plantio. É um sistema muito eficiente no controle da erosão, pois mantém os resíduos vegetais sobre o solo e promove a mobilização mínima do solo.
Como culturas para formação de palhada, o ideal é que se cultivem espécies que apresentem boa formação de matéria seca e sejam de lenta decomposição no solo, ou seja, especialmente as gramíneas. Podem ser utilizados como cultura de cobertura: milho, sorgo, milheto, braquiária, entre outras. Outra opção interessante é fazer o cultivo de gramíneas em consórcio com leguminosas, visto que as duas espécies possuem sistema radicular com diferentes características e a leguminosa possui a vantagem de fixar nitrogênio no solo. As leguminosas mais recomendadas são crotalária, feijão-guando, feijão-caupi, entre outras.
Com o plantio direto, é possível reduzir a erosão em até 70% se comparado ao preparo do solo convencional, no entanto, esta prática para cultura da mamona é ainda pouco utilizada.


Rotação de culturas

A rotação de culturas possibilita aumento da cobertura vegetal por meio de cultivos alternados, plantados em épocas que proporcionem maior cobertura do solo em períodos críticos, bem como aumento da produção de resíduos com relação C/N mais elevada, alternados com outros de fácil decomposição. Outra vantagem da rotação de culturas é a maior ciclagem de nutrientes no solo, uma vez que culturas de espécies diferentes possuem diferentes tipos de sistema radicular, e dessa forma, absorvem os nutrientes em diferentes profundidades.


Consorciação de culturas

Esta técnica possibilita melhor índice de utilização da terra, maior rendimento por área e melhor cobertura do solo.
É recomendado como estabilizador da produção em regiões sujeitas a riscos climáticos, como no Nordeste do Brasil. Pode tanto proporcionar um rendimento adicional ao produtor como reduzir a chance de insucesso com a implantação de apenas uma cultura.
Normalmente utilizam-se cultivares de mamona de porte médio consorciadas com feijão, amendoim e feijão-caupi.


Controle de capinas

Quando se utiliza o sistema de plantio convencional com aração e gradagem e o controle de plantas daninhas é feito pelo método mecânico, as capinas provocam a movimentação da camada mais superficial do solo em períodos normalmente de maior precipitação pluvial, favorecendo o processo erosivo. Assim, recomenda-se a redução do uso das capinas, devendo as mesmas serem efetuadas somente nas faixas próximas à linha das plantas, com manejo da faixa central das entrelinhas, principalmente quando se utilizam maiores espaçamentos, ou então que as plantas daninhas sejam controladas com o uso de herbicidas.


Calagem e adubação

A correção e adubação adequadas do solo têm efeitos diretos na produção de massa verde das culturas, aumentam o potencial produtivo das plantas e criam um ambiente favorável para o desenvolvimento das raízes. Dessa forma, a cultura se estabelece mais rapidamente e propicia uma melhor cobertura do solo contra os agentes erosivos.