Relações com o solo

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Derli Prudente Santana - Embrapa Milho e Sorgo

Ramon Costa Alvarenga - Embrapa Milho e Sorgo

José Carlos Cruz - In memoriam

Joao Herbert Moreira Viana - Embrapa Milho e Sorgo

Manoel Ricardo de Albuquerque Filho - Embrapa Milho e Sorgo

 

O potencial de uso e a ocupação de uma determinada paisagem dependem essencialmente das características ambientais do local. No caso do milho, os fatores edafoclimáticos (solo e clima) são considerados os mais importantes para o desenvolvimento da cultura, bem como para a definição dos sistemas de produção. Assim como a maioria das culturas econômicas, o milho requer a interação de um conjunto de fatores edafoclimáticos apropriados para o seu desenvolvimento satisfatório. Um solo rico em nutrientes, por exemplo, teria pouco significado para a cultura se esse mesmo solo estivesse submetido a condições climáticas adversas, ou ainda apresentasse características físicas inadequadas, que influenciassem negativamente na condução e desenvolvimento da cultura, tais como: drenagem e aeração deficientes, percolação excessiva, adensamento subsuperficial, pedregosidade excessiva, profundidade reduzida, declividade acentuada etc.

As características físicas mais importantes que, isoladas ou em conjunto, servirão para orientar a escolha de um solo adequado para a cultura de milho são:

Textura

Refere-se à composição granulométrica do solo (proporção de argila, silte e areia do solo) que está intimamente relacionada com a estrutura, consistência, permeabilidade, capacidade de troca de cátions, retenção de água e fixação de fosfatos. Solos de textura média, com teores de argila em torno de 30% a 35%, ou mesmo argilosos com boa estrutura, como os latossolos, que possibilitam drenagem adequada, apresentam boa capacidade de retenção de água e de nutrientes disponíveis para as plantas e são os mais recomendados para a cultura do milho. Solos arenosos (teor de argila inferior a 15%) devem ser evitados devido à sua baixa capacidade de retenção de água e nutrientes disponíveis para as plantas. Estes apresentam intensa lixiviação, perdem mais água por evaporação e são normalmente mais secos. Solos com tipo de argila expansiva (tipo montmorilonita) podem apresentar forte agregação, prejudicando as condições de permeabilidade e a livre penetração do sistema radicular, devendo ser evitados para a cultura de milho.

 

Profundidade efetiva

É a profundidade até a qual as raízes podem penetrar livremente em busca de água e de elementos necessários para o desenvolvimento da planta. Sendo o milho uma planta cujo sistema radicular tem grande potencial de desenvolvimento, é desejável que o solo seja profundo (mais de 1 m). Solos rasos dificultam o desenvolvimento das raízes e possuem menor capacidade de armazenamento de água, estando sujeitos a um desgaste mais rápido em função da pouca espessura do perfil. A literatura tem mostrado que, na região tropical, a maior parte das raízes está nos primeiros 30 cm de solo e as demais raízes raramente ultrapassam 60 cm. Já nas regiões temperadas, há informações de raízes ultrapassando a profundidade de 100 cm.

 

Declividade

Representa o grau de inclinação do terreno. Áreas com maior declividade são mais suscetíveis à erosão. Tendo em vista o controle da erosão e as facilidades de mecanização, deve-se dar preferência às glebas com topografia plana e suave, com declividade até 12%.
 

Vegetação

Em condições naturais verifica-se que não há nenhum local da superfície terrestre sem vegetação devido à pobreza nutricional do solo e que locais sem vegetação geralmente apresentam deficiência de água, temperaturas extremas (muito baixas ou muito altas), ausência de radiação e/ou excesso de sais. Assim, a ausência de vegetação não ocorre pela deficiência de nutrientes, uma vez que elementos essenciais estão presentes em todos os solos, ainda que em quantidades muito pequenas. Quanto à deficiência de nutrientes, a cultura do milho apresenta ampla diversidade genética e adaptação potencial a diferentes ambientes, havendo plantas capazes de enfrentar estresses nutricionais ou hídricos. No caso do milho, trabalhos têm demonstrado que variedades tolerantes à seca também podem ser eficientes na absorção do nitrogênio. Em condições de seca, o nitrogênio disponível no solo está na forma predominante de amônia e a cultivar tolerante precisa ter um mecanismo eficiente para absorção de nitrogênio nessa forma. A boa disponibilidade de água permite que plantas exuberantes vivam em solos muito pobres, por meio de um eficiente mecanismo de ciclagem.

A quantidade de água extraível pela planta depende do tipo de solo; ou seja, da capacidade de retenção de água do solo, da profundidade efetiva de extração, da solução do solo e da idade da planta. A disponibilidade de água no solo pode representar um fator limitante ao desenvolvimento da cultura de milho. Pesquisas em diferentes locais e tipos de solos têm mostrado que ambientes com teor de água extraível até 30% não apresentam limitações ao desenvolvimento da cultura de milho, mas quando o valor é inferior, o consumo relativo de água decresce linearmente.
 
Em resumo, a interação clima e solo tem um papel primordial no processo produtivo de uma cultura. Enquanto o conteúdo de água no solo não atingir um teor crítico, que para a cultura do milho está em torno de 30% da água extraível, o que rege o consumo de água pela cultura são as condições climáticas. Abaixo desse limite crítico, o que define o consumo são as condições físico-hídricas do solo.