Importância Socioeconômica

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Jason de Oliveira Duarte - Embrapa Milho e Sorgo

Marcos Joaquim Mattoso

João Carlos Garcia - Embrapa Milho e Sorgo

 

Provavelmente, o milho é a mais importante planta comercial com origem nas Américas. Há indicações de que sua origem tenha sido no México, América Central ou Sudoeste dos Estados Unidos. É uma das culturas mais antigas do mundo, havendo provas, através de escavações arqueológicas e geológicas, e através de medições por desintegração radioativa, de que é cultivado há pelo menos cinco mil anos. Logo depois do descobrimento da América, o milho foi levado para a Europa, onde era cultivado em jardins, até que seu valor alimentício tornou-se conhecido. Passou, então, a ser plantado em escala comercial e espalhou-se desde a latitude de 58º Norte (União Soviética) até 40º Sul (Argentina).

A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. Na realidade, o uso do milho em grão como alimentação animal representa a maior parte do consumo desse cereal, isto é, cerca de 70% no mundo. Nos Estados Unidos, cerca de 50% é destinado a esse fim, enquanto que no Brasil varia de 60% a 80%, dependendo da fonte da estimativa e de ano para ano (Figura 1).

Apesar de não ter uma participação muito grande no uso de milho em grão, a alimentação humana, com derivados de milho, constitui fator importante de uso desse cereal em regiões de baixa renda. Em algumas situações, o milho constitui a ração diária de alimentação. Por exemplo, no Nordeste do Brasil, o milho é a fonte de energia para muitas pessoas que vivem no Semi-Árido; outro exemplo está na população mexicana, que tem no milho o ingrediente básico para sua culinária.

Figura 1: Uso de milho nos E.U.A

Fonte: http://www.ohiocom.org/usage/uses.htm

Associando o consumo humano ao consumo animal, além de se verificar também o crescimento do uso de milho em aplicações industriais, pode-se observar o aumento de sua importância no contexto da produção de cereais na esfera mundial. Nesse sentido, o milho passou a ser o cereal mais produzido no mundo, conforme é retratado na figura  2 abaixo. Esse crescimento acompanhou a demanda por milho para alimentação animal, isto é, enquanto o trigo é usado basicamente para consumo humano, o milho é mais versátil, principalmente no que diz respeito à alimentação animal, aumentando o leque de aplicações desse cereal.

 

Figura 2: Evolução da produção mundial de milho e trigo.

Fonte: USDA

Embora seja versátil em seu uso, a produção de milho tem acompanhado basicamente o crescimento da produção de suínos e aves, no Brasil ( Tabela 1) e  no mundo. Tem-se notado que, apesar das flutuações da oferta de milho, há uma tendência de crescimento de sua produção, acompanhando, principalmente, o crescimento da produção de frangos e suínos no país, fato esse relacionado com a demanda por milho, que é um ingrediente importante na composição das rações para esses animais. Na realidade, poder-se-ia pensar nos frangos e suínos como um subproduto do milho, dada a importância deste na alimentação daqueles.

Tabela 1: Estimativa de consumo de milho em grãos no Brasil

Segmento

Consumo

2001 2002 2003

2004

 2005

2006*

2007**

Avicultura

13.479

14.500 15.427 16.162  19.309 20.022  20.515

Suinocultura

8.587

8.930 8.471 8.852

11.236

 11.097

 12.022

Pecuária

2.772

2.841 1.911 2.198

 2.520

 2.479

 2.374

Outros Animais 1.528 1.543 1.550 1.581

 615

 660

 673

Consumo Industrial

4.050

4.090 4.152 4.256

 4.044

 4.159

 4.369

Consumo Humano

1.505

1.514 1.530 1.568

 690

 700

 705

Perdas/Sementes

998

913 1.660 1.429

 296

 310

 349

Exportação 2.550 1.583 3.988 5.000

 869

 4.327

 5000

Outros

3.622

3.550 4.809 4.132

 -

 -

 -

Total

39.091

39.464 43.498 45.178

39.579

 43.754

46.007

Fontes: Abimilho, NP Consultoria e Safras & Mercado   

 Além dos suínos e dos frangos, também fazem parte da demanda por milho para alimentação animal os bovinos e os pequenos animais. Atualmente, a produção de ração para pequenos animais (pet food) tem se constituído em um mercado crescente para o uso desse cereal, dado o crescimento da demanda por alimento de melhor qualidade para esses animais.

O milho, no Brasil, é cultivado em 3,6 milhões de propriedades rurais, abrangendo, na safra 2007/2008, uma área de 14 milhões de hectares. Apresentou, respectivamente, produção e produtividade de 58,6 milhões de toneladas e 3.950 kg/ha.

Nos últimos 31 anos, a área plantada aumentou em aproximadamente 2,5 milhões de hectares, a produtividade passou de cerca de 1.600 kg/ha para cerca de 3.950 kg/ha e a produção total aumentou aproximadamente 40 milhões de toneladas.

O milho é cultivado em praticamente todo o território nacional. Cerca de 77% da área plantada e 92% da produção concentraram-se nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, sendo que a região Sul participou com 42% da área e 53% da produção; Sudeste com 19% da área e 19% da produção e Centro-Oeste com 15% da área e 19% da produção. Entretanto, a participação dessas regiões, tanto em área plantada quanto em produção, vem se alterando ao longo dos últimos 31 anos. A região Nordeste tem apresentado grandes variações na área plantada e produção, o que dificulta estimar se sua participação tem aumentado ou diminuído. Na região Sul, a participação na área plantada e produção se mantém praticamente constante, enquanto que a região Sudeste reduziu em 10% a área plantada e produção. As regiões Norte e Centro-Oeste, apresentaram, no mesmo período, aumentos da participação na área plantada e produção. Enquanto que a região Norte aumentou sua participação em 5,3% na área plantada e 2,8% na produção, a região Centro-Oeste aumentou sua participação em 9,6% na área plantada e em 14,6% na produção.

A importância do milho ainda está relacionada ao aspecto social, pois como se viu anteriormente, grande parte dos produtores não é altamente tecnificada e não possui grandes extensões de terras, mas dependem dessa produção para viver. Isto pode ser constatado pela quantidade de produtores que consomem o milho na propriedade. Segundo dados do IBGE, 59,84% dos estabelecimentos que produzem milho consomem a produção na propriedade. Apesar desse alto percentual de estabelecimentos que consomem o grão internamente, estes representam apenas 24,93% da produção nacional de milho. Pode-se, portanto, afirmar que há uma clara dualidade na produção do cereal no Brasil. De um lado, uma grande parcela de pequenos produtores que não se preocupam com a produção comercial e com altos índices de produtividade. De outro, uma pequena parcela de grandes produtores, com alto índice de produtividade, usando mais terra, mais capital e mais tecnologia na produção de milho (Tabela 2)

Tabela 2: Produção de milho segundo tamanho de área plantada e número de informantes

Área plantada

Área

Produção

Informantes

em (ha)

(1000 ha)

(%)

(1000 t)

(%)

(X 1000)

(%)

Menos de 10

4842

45,63

7654

30,00

2395

94,3

10 a 20

1110

10,46

2531

9,92

84

3,3

20 a 100

1951

18,38

5544

21,73

51

2,0

Acima de 1000

2709

25,53

9783

38,35

10

0,4

Total

10612

 

25512

 

2540

 

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário de 1995/1996

No que diz respeito ao emprego de mão-de-obra, cerca de 14,5% das pessoas ocupadas nas lavouras temporárias e cerca de 5,5% dos trabalhadores do setor agrícola estão ligados à produção de milho. No setor agropecuário, a produção de milho só perde para a pecuária bovina em termos de utilização de mão-de-obra, apesar de as tecnologias modernas utilizadas na produção desse cereal serem poupadoras de mão de obra.

Segundo dados do IBGE, a produção de milho no Brasil representou apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), porém esses dados estão apenas retratando a produção do milho em grão, não sendo considerados os milhos especiais e cultivos especiais, como é o caso da produção para silagem, nem computando o efeito multiplicador dessa produção quando o cereal é usado na alimentação de aves e suínos, produtos estes de alto valor agregado e de grande aceitação no mercado internacional.

Como se pode notar, a importância do milho não está apenas na produção de uma cultura anual, mas em todo o relacionamento que essa cultura tem na produção agropecuária brasileira, tanto no que diz respeito a fatores econômicos quanto a fatores sociais. Pela sua versatilidade de uso, pelos desdobramentos de produção animal e pelo aspecto social, o milho é um dos mais importantes produtos do setor agrícola no Brasil.