Milho
Planejamento da Adubação e Calagem
Autores
Antonio Marcos Coelho - Embrapa Milho e Sorgo
Gonçalo Evangelista de França
Vera Maria Carvalho Alves - Embrapa Milho e Sorgo
Gilson Villaça Exel Pitta
Francisco Morel Freire
Introdução
A análise do solo, em um sentido amplo, é uma medida físico-química, mas, no agronômico, seu objetivo é determinar a habilidade do solo em fornecer nutrientes às plantas e também determinar as necessidades de calcário e fertilizantes, além de diagnosticar problemas de toxidez de alguns elementos, excesso de sais e outros.
Para que os objetivos da análise de solo sejam atingidos, é necessário que essa prática esteja interligada com outras etapas, quais sejam:
1) amostragem do solo;
2) análises de laboratório;
3) interpretação dos resultados;
4) recomendação de calagem e adubação.
Todos esses segmentos são extremamente importantes.
Amostragem de solos
Para que os resultados de uma análise química de solo tenham validade e representatividade é indispensável o máximo cuidado e critério na coleta de amostras que deverão ser enviadas aos laboratórios. Nenhuma análise é melhor que uma boa coleta de amostras, pois elas irão representar toda a área da propriedade onde deverão ser aplicados os corretivos e fertilizantes. Na maioria dos casos, a amostra do solo representa a camada de áreas que podem chegar a 10 hectares, o que representa um volume de 20 milhões de dm 3 ou litros de terra, considerando o solo com densidade global unitária. Isso significa que, se forem enviadas cerca de 0,50 kg de solo para o laboratório, a amostra representará uma parte em 40 milhões da camada arável. Acrescente-se o problema da heterogeneidade natural do solo e ficará bem caracterizado que a amostragem de solos não é uma prática simples. Ela deve ser rigorosamente executada, seguindo instruções baseadas em considerações de ordem científica.
Esquemas de amostragem
Os esquemas de amostragem podem ser divididos em duas categorias: ao acaso e sistematizada. A amostragem ao acaso refere-se ao método que tem sido recomendado para a agricultura convencional. A amostragem sistematizada é o sistema recomendado para aplicação das tecnologias da agricultura de precisão, sendo o método mais adequado para estudar a variabilidade espacial das propriedades do solo de uma área, pois a variabilidade em todas as direções é levada em consideração.
Amostragem ao acaso
Figura 1 - Esquema de amostragem ao acaso de solos em uma área
Fonte: Antônio Marcos Coelho
Amostragem sistematizada
Com a introdução dos conceitos e tecnologias da agricultura de precisão, a amostragem sistematizada das áreas tem sido recomendada. O método mais comum para a amostragem sistemática de solos em uma área é o de sobrepor uma grade quadrada ou retangular em um mapa ou fotografia da área, identificar e dirigir ao local e coletar amostras de solos em cada célula (Fig. 2). Dentro de cada célula, a amostragem pode ser ao acaso, coletando-se várias subamostras (Fig. 2), ou pontual, na qual as subamostras são coletadas em um raio de 3 m a 6 m de um ponto central. A recomendação do espaçamento das grades (malhas) para amostragens de solos varia de 60 m x 60 m a 135 m x 135 m, em função da resolução desejada (precisão) associada aos custos (Tabela 1).
Figura 2 - Exemplo ilustrando o sistema de grade (100 m x 100 m) e locais onde subamostras de solo seriam coletadas dentro de cada célula. A área é dividida em grade de 100 m x 100 m, cinco subamostras de solos são coletadas dentro de cada célula para formar uma amostra composta.
Fonte: Antônio Marcos Coelho
Tabela 1. Custos (R$) para coletas de amostras de solo (0 cm a 20 cm) em função do espaçamento da grade de amostragem utilizada.
Número | Tempo | Espaçamento da grade (m) | |||
140 | 91 | 60 | 30 | ||
| |||||
20 | 2 | 4,00 |
|
|
|
48 | 6 |
| 12,00 |
|
|
106 | 11 |
|
| 22,00 |
|
436 | 36 |
|
|
| 72,00 |
1 / área de 40 ha com o preço da mão-de-obra a R$ 2 / hr.
Equipamentos para a amostragem de solos
Os equipamentos mais comuns para uma boa coleta manual de amostras de solo são o trado holandês, que tem bom desempenho em qualquer tipo de solo; o trado de rosca, mais adequado para solos arenosos e úmidos; o trado calador, ideal para amostragem em terra fofa e ligeiramente úmida; e a pá de corte, equipamento mais disponível e simples para o agricultor e que deve ser utilizada junto com o enxadão em solos secos e compactados (Fig. 3). Equipamentos automatizados e equipados com GPS, para amostragem de solos, têm sido disponibilizados aos agricultores.
Figura 3 - Equipamentos manuais utilizados para amostragem de solos.
Fonte: Antônio Marcos Coelho
Época de amostragem
Embora as amostras possam ser coletadas em qualquer época do ano, levando-se em conta o tempo que elas levam para chegar ao laboratório, serem submetidas às análises e o agricultor receber os resultados, torna-se necessário que a coleta seja feita no mínimo três meses antes de se iniciar a aplicação do corretivo e as adubações.
Recomenda-se que, em áreas novas, a coleta seja feita cerca de seis meses antes do início do período de implantação da cultura, enquanto que em áreas já cultivadas, a amostragem deve ser feita no início do período da seca, logo após a colheita.
Profundidade de amostragem
Em áreas novas, a amostragem deve ser realizada nas camadas de 0 cm a 20 cm e de 20 cm a 40 cm e, às vezes, também na camada de 40 cm a 60 cm. Nas áreas já estabelecidas, a profundidade de coleta vai depender do sistema de manejo de solo utilizado (preparo convencional ou semeadura direta), conforme descrito no tópico seguinte. Quando se desejar avaliar a disponibilidade de enxofre, deve-se coletar amostras a profundidades maiores que 20 cm, principalmente em argissolos (anteriormente conhecido como podzólico).
Amostragem de solos em áreas sob plantio direto
A variabilidade dos índices de fertilidade (fósforo, potássio, matéria orgânica, pH e índice SMP) no Sistema de Plantio Direto com adubação a lanço é similar ao sistema convencional. A variabilidade aumenta quando a adubação do Sistema de Plantio Direto é feita na linha de semeadura, sendo maior na fase de implantação (até 5 anos), em relação à fase estabelecida.
Recomendações: de acordo com a SBCS - NRS (Sociedade Brasileira de Ciências do Solo - Núcleo Regional Sul; 1994).
- Adubação a lanço: igual ao sistema convencional; amostragem ao acaso com trado ou pá de corte em 20 pontos da gleba. Fase de implantação (até 5 anos): amostrar com pá-de-corte, perpendicular ao sentido da linha, uma faixa correspondente à largura da entrelinha da cultura com maior espaçamento introduzida no último ano agrícola (se, por exemplo, os dois cultivos da gleba foram soja e trigo, respectivamente, a largura de amostragem deve ser feita correspondente ao espaçamento da entrelinha da soja). Deve ser retirada uma fina fatia de solo (aproximadamente 5 cm) em 10 a 12 locais por gleba, para formar uma amostra composta. Fase estabelecida (mais de 5 anos), com adubação em linha: amostrar com pá-de-corte, perpendicular ao sentido da linha, uma faixa correspondente à largura da entrelinha da última cultura. Coletar 8 a 10 locais por gleba, para formar uma amostra composta.
- Profundidade: no início do sistema, na implantação e por ocasião da próxima amostragem, que deve ocorrer ao término do terceiro cultivo, utilizar a mesma profundidade do sistema convencional (0 cm a 20 cm). Na amostragem seguinte, que deve ocorrer ao término do sexto cultivo, amostrar de 0 cm a 10 cm. Sistema de amostragem de solos em áreas sob plantio direto, adubadas em linhas.
Outros procedimentos
Além do planejamento, existe uma série de aspectos importantes que devem ser observados na execução da amostragem. A limpeza total dos equipamentos utilizados na coleta, não misturar as amostras simples coletadas em diferentes camadas do solo e, no caso de coletar amostras a várias profundidades, utilizar um balde ou saco de plástico para receber as amostras simples de cada camada. Não enviar amostras para o laboratório em recipientes ou embalagens já usados e, se não tiver as caixinhas apropriadas, normalmente fornecidas pelos laboratórios ou serviços de extensão, deve-se reforçar bem a embalagem com saco de plástico, papel e barbante.
Interpretação de resultados de análise do solo
Uma das condições para que os resultados da análise de solo e sua interpretação sejam válidos é que existam correlações entre os valores obtidos por um determinado método de extração e a resposta de culturas à adubação ou calagem em condições de campo. Por essa razão é que são desenvolvidos estudos de correlação e calibração de métodos de análise de solo. Na fase de correlação, por exemplo, são avaliados diferentes extratores, sendo selecionados os que melhor se aproximam do método padrão, que é a quantidade absorvida e acumulada pelas plantas de um dado nutriente. Na fase de calibração são, então, definidos os níveis críticos e as doses dos nutrientes a serem aplicados. Como os métodos de extração podem variar entre laboratórios de estados diferentes que, por sua vez, possuem experimentação agronômica própria, os critérios de interpretação deixam de ser, assim, únicos. A título de ilustração, merece ser mencionado que, em Minas Gerais, adota-se o extrator Mehlich-1 para fósforo, ao passo que, em São Paulo, a extração desse elemento é feita com resina trocadora de íons. As classes de interpretação para os resultados das análises químicas de solos emitidos pelos laboratórios em Minas Gerais encontram-se nas Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6. Embora essas classes sejam gerais, a utilização delas permite separar glebas com probabilidades diferentes de resposta à aplicação de nutrientes. Considerando especificamente a cultura do milho, uma proposta de interpretação exclusiva para fósforo é apresentada na Tabela 7.
Acidez do solo
Na avaliação da acidez do solo, deve-se levar em consideração as características acidez ativa (ou pH) e a trocável, a saturação por alumínio e por bases, a acidez potencial e o teor de matéria orgânica, que estão relacionadas entre si. Relacionada também com a acidez do solo está a disponibilidade dos nutrientes cálcio e magnésio e de micronutrientes como manganês, ferro, cobre e zinco (Tabelas 2 e 3).
Fósforo, enxofre e potássio
A eficiência de extração do fósforo disponível pelo método Mehlich-1 sofre grande influência da capacidade tampão de fosfatos do solo. Por isso, na interpretação da disponibilidade de fósforo, são usadas características que estão relacionadas com a capacidade tampão, como o teor de argila ou o valor do fósforo remanescente (Tabela 4). O enxofre disponível, extraído com fosfato monocálcico em ácido acético, semelhantemente, é também afetado pela capacidade tampão de sulfatos do solo. Na interpretação do enxofre disponível de amostras compostas da camada subsuperficial, as classes de fertilidade apresentadas estão de acordo, como para o fósforo disponível, com a concentração de fósforo remanescente (Tabela 5). Para o potássio disponível, como a capacidade tampão para potássio não afeta a eficiência de extração pelo método Mehlich-1, sendo também de pouco significado para a maioria dos solos de Minas Gerais, é adotada apenas uma classificação para esse nutriente (Tabela 4).
Micronutrientes
Embora seja frequente a deficiência de zinco e ou de boro em várias culturas em Minas Gerais, sendo a de zinco a deficiência mais comum na cultura do milho, especialmente em solos de Cerrado, há uma limitação de estudos detalhados no que se refere a trabalhos de calibração para interpretação de resultados de análise de solo para micronutrientes. Apesar disso, é apresentada uma primeira aproximação de interpretação, sendo incluídas classes de fertilidade para zinco, manganês, ferro e cobre, extraídos com o extrator Mehlich-1, e para boro, extraído com água quente (Tabela 6).
Classificação química | ||||||
Ac. muito | Acidez | Acidez | Acidez | Neutra | Alcalinidade | Alcalinidade |
< 4,5 | 4,5 - 5,0 | 5,1 - 6,0 | 6,1 - 6,9 | 7,0 | 7,1 - 7,8 | >7,8 |
Classificação agronômica | ||||||
Muito baixo | Baixo | Bom | Alto | Muito alto | ||
< 4,5 | 4,5 - 5,4 | 5,5 - 6,0 | 6,1 - 7,0 | > 7,0 |
pH em H2O, relação 1:2,5, TFSA: H2O.
Tabela 3. Classes de interpretação de fertilidade do solo para a matéria orgânica e para o complexo de troca catiônica
Característica | Unidade1 | Classificação | ||||
Muito baixo | Baixo | Médio2 | Bom | Muito bom | ||
Carbono orgânico (C.O.)3 | dag/kg | < 0,41 | 0,41 - 1,16 | 1,17 - 2,32 | 2,33 - 4,06 | > 4,06 |
Matéria orgânica (M.O.)3 | dag/kg | < 0,71 | 0,71 - 2,00 | 2,01 - 4,00 | 4,01 - 7,00 | > 7,00 |
Cálcio trocável (Ca2+)4 | cmolc/dm3 | < 0,41 | 0,41 -1,20 | 1,21 - 2,40 | 2,41 - 4,00 | > 4,00 |
Magnésio trocável (Mg2+)4 | cmolc/dm3 | < 0,16 | 0,16 - 0,45 | 0,46 - 0,90 | 0,91 - 1,50 | > 1,50 |
Acidez trocável (Al3+)4 | cmolc/dm3 | < 0,21 | 0,21 - 0,50 | 0,51 - 1,00 | 1,01 - 2,00 11 | > 2,00 11 |
Soma de bases (SB)5 | cmolc/dm3 | < 0,61 | 0,61 - 1,80 | 1,81 - 3,60 | 3,61 - 6,00 | > 6,00 |
Ac. potencial (H + Al)6 | cmolc/dm3 | < 1,01 | 1,01 - 2,50 | 2,51 - 5,00 | 5,01 - 9,00 11 | > 9,00 11 |
CTC efetiva (t)7 | cmolc/dm3 | < 0,81 | 0,81 - 2,30 | 2,31 - 4,60 | 4,61 - 8,00 | > 8,00 |
CTC pH 7 (T)8 | cmolc/dm3 | < 1,61 | 1,61 - 4,30 | 4,31 - 8,60 | 8,61 - 15,00 | > 15,00 |
Saturação por Al3+ (m)9 | % | < 15,1 | 15,1 - 30,0 | 30,1 - 50,0 | 50,1 - 75,0 11 | > 75,0 11 |
Saturação por bases (V)10 | % | < 20,1 | 20,1 - 40,0 | 40,1 - 60,0 | 60,1 - 80,0 | > 80,0 |
1 dag/kg = % (m/m); cmol c /dm 3 . 2 O limite superior desta classe indica o nível crítico. 3 Método Walkley & Black; M.O. = 1,724 x C.O. 4 Método KCl 1 mol/L. 5 SB = Ca 2+ + Mg 2+ + K + + Na + . 6 H + Al, Método Ca (OAc) 2 0,5 mol/L, pH 7. 7 t = SB + Al 3+ . 8 T = SB + (H + Al). 9 m = 100 Al 3+ /t. 10 V = 100 SB/T. 11 A interpretação dessas características nessas classes deve ser alta e muito alta em lugar de bom e muito bom.
Tabela 4. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo, de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem) e para o potássio
Característica | Classificação | ||||
Muito baixo | Baixo | Médio | Bom | Muito bom | |
---------------------------------(mg/dm3)1------------------------------------------ | |||||
Argila (%) | Fósforo disponível (P)2 | ||||
60 - 100 | < 2,8 | 2,8 - 5,4 | 5,5 - 8,03 | 8,1 - 12,0 | > 12,0 |
35 - 60 | < 4,1 | 4,1 - 8,0 | 8,1 - 12,0 | 12,1 - 18,0 | > 18,0 |
15 - 35 | < 6,7 | 6,7 - 12,0 | 12,1 - 20,0 | 20,1 - 30,0 | > 30,0 |
0 - 15 | < 10,1 | 10,1 - 20,0 | 20,1 - 30,0 | 30,1 - 45,0 | > 45,0 |
P-rem4 (mg/L) |
|
|
|
|
|
0 - 4 | < 3,1 | 3,1 - 4,3 | 4,4 - 6,03 | 6,1 - 9,0 | > 9,0 |
4 - 10 | < 4,1 | 4,1 - 6,0 | 6,1 - 8,3 | 8,4 - 12,5 | > 12,5 |
10 - 19 | < 6,1 | 6,1 - 8,3 | 8,4 - 11,4 | 11,5 - 17,5 | > 17,5 |
19 - 30 | < 8,1 | 8,1 - 11,4 | 11,5 - 15,8 | 15,9 - 24,0 | > 24,0 |
30 - 44 | < 11,1 | 11,1 - 15,8 | 15,9 - 21,8 | 21,9 - 33,0 | > 33,0 |
44 - 60 | < 15,1 | 15,1 - 21,8 | 21,9 - 30,0 | 30,1 - 45,0 | > 45,0 |
Potássio disponível (K)2 | |||||
| < 16 | 16 - 40 | 41 - 70 | 71 - 120 | > 120 |
1 mg/dm 3 = ppm (m/v). 2 Método Mehlich-1. 3 Nesta classe apresentam-se os níveis críticos de acordo com o teor de argila ou com o valor do fósforo remanescente. O limite superior desta classe indica o nível crítico. P-rem = Fósforo remanescente.
No caso do fósforo disponível obtido pela Resina podem ser consideradas as seguintes faixas de disponibilidade.
Faixa de disponibilidade | Fósforo disponível (Resina) |
| ------mg/dm 3 ------ |
Baixo | 0 - 20 |
Médio | 21 -40 |
Alto | >40 |
Fonte: Antônio Marcos Coelho
Tabela 5. Classes de interpretação da disponibilidade para o enxofre, de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem)
P-rem | Classificação | ||||
Muito baixo | Baixo | Médio2 | Bom | Muito bom | |
mg/L | ------------------------------- (mg/dm3)3 --------------------------------- | ||||
| Enxofre disponível (S) | ||||
0 - 4 | < 1,8 | 1,8 - 2,5 | 2,6 - 3,6 | 3,7 - 5,4 | > 5,4 |
4 - 10 | < 2,5 | 2,5 - 3,6 | 3,7 - 5,0 | 5,1 - 7,5 | > 7,5 |
10 - 19 | < 3,4 | 3,4 - 5,0 | 5,1 - 6,9 | 7,0 - 10,3 | > 10,3 |
19 - 30 | < 4,7 | 4,7 - 6,9 | 7,0 - 9,4 | 9,5 - 14,2 | > 14,2 |
30 - 44 | < 6,5 | 6,5 - 9,4 | 9,5 - 13,0 | 13,1 - 19,6 | > 19,6 |
44 - 60 | < 9,0 | 9,0 - 13,0 | 13,1 - 18,0 | 18,1 - 27,0 | > 27,0 |
1 Extrator Ca(H 2 PO 4 ) 2 , 500 mg/L de P, em HOAc 2 mol/L. 2 Esta classe indica os níveis críticos de acordo com o valor de P-rem. 3 mg/dm 3 = ppm (m/v).
Tabela 6. Classes de interpretação da disponibilidade para os micronutrientes
Micronutrientes | Classificação | ||||
Muito baixo | Baixo | Médio1 | Bom | Muito bom | |
mg/L | ------------------------------- (mg/dm3)2 --------------------------------- | ||||
Zinco disponível (Zn) 3 | < 0,5 | 0,5 - 0,9 | 1,0 - 1,5 | 1,6 - 2,2 | > 2,2 |
Manganês disponível(Mn) 3 | < 3 | 3 - 5 | 6 - 8 | 9 - 12 | > 12 |
Ferro disponível (Fe) 3 | < 9 | 9 - 18 | 19 - 30 | 31 - 45 | > 45 |
Cobre disponível (Cu) 3 | < 0,4 | 0,4 - 0,7 | 0,8 - 1,2 | 1,3 - 1,8 | > 1,8 |
Boro disponível (B) 4 | < 0,16 | 0,16 - 0,35 | 0,36 - 0,60 | 0,61 - 0,90 | > 0,90 |
1 O limite superior desta classe indica o nível crítico.
2 mg/dm 3 = ppm (m/v).
3 Método Mehlich-1.
4 Método água quente.
Tabela 7. Interpretação das classes de teores de fósforo no solo indicadas para a cultura do milho
Classe textural do solo1 | Extrator de fósforo | Classes de teor de fósforo no solo | ||
Baixo | Médio | Alto | ||
--------------------- ppm ------------------ | ||||
Argilosa (36 a 60%) | Mehlich-1 | < 5 | 6 a 10 | > 10 |
Média (15 a 35%) | Mehlich-1 | < 10 | 11 a 20 | > 20 |
Arenosa (< 15%) | Mehlich-1 | < 20 | 21 a 30 | > 30 |
Resina | < 15 | 16 a 40 | > 40 |
Fonte: COELHO & FRANÇA (1995).
1 Porcentagem de argila.
Calagem
O desenvolvimento ou adaptação de cultivares mais tolerantes a acidez do solo, via melhoramento genético, não elimina o uso do calcário na agricultura, pelos seus efeitos e sua importância nos diferentes níveis tecnológicos dos diversos sistemas de produção usados no Brasil. A recomendação de calagem não é um procedimento simples, por pressupor o conhecimento de um número razoável de informações adicionais, como: características da propriedade agrícola (caracterização da área, da cultura, tipo de solo, histórico da área, expectativa de rendimento etc), conhecimento tecnológico (tem sua origem na pesquisa naquela região ou estado) e, por último, informações oriundas das condições do mercado, principalmente aquelas relacionadas a preços de insumos e também disponibilidade de crédito e que são independentes das duas anteriores.
Os solos brasileiros, em sua maioria, são ácidos, destacando-se aqueles sob vegetação de Cerrado. Tais solos são caracterizados por baixas concentrações de cálcio e de magnésio, elementos diretamente envolvidos no desenvolvimento das raízes, e por valores elevados de alumínio trocável e baixa disponibilidade de fósforo do solo.
As respostas das culturas à calagem dependem de fatores ligados à planta, ao solo e ao corretivo empregado, de tal forma que essa interação direcione a máxima eficiência da prática.
A acidez do solo é representada basicamente por dois componentes: a fase sólida, que é representada pelas argilas, a matéria orgânica e os óxidos de ferro e alumínio, e a fase liquida, a solução do solo. Ambas devem estar em quilíbrio. Os íons H + dissociados na fase líquida são denominados acidez ativa, que é estimada pelo pH. Os demais íons H + e Al +3 , ligados à fase sólida, são denominados acidez potencial. Apenas parte dos íons alumínio são deslocados por outros cátions, sendo, por isso, denominados de Al trocável ou acidez trocável.
Os métodos que quantificam a necessidade de calcário visam a eliminação não somente da acidez ativa, mas também da acidez potencial do solo.
A estimativa da necessidade de calagem (NC) é feita através da análise química do solo e vários métodos vêm sendo utilizados. Os métodos atualmente em uso visam não somente a redução da acidez do solo, mas o melhor retorno econômico para a maioria das espécies cultivadas.
A escolha do calcário, o valor neutralizante, o grau de finura e sua reatividade são fatores relevantes na aquisição do material corretivo. Em situações que exigem correção do magnésio, o calcário magnesiano ou o dolomítico são os recomendados. Não sendo suficientes, outras fontes de magnésio devem ser utilizadas. O poder neutralizante é determinado pela comparação com o poder de neutralização do carbonato de cálcio puro (CaCO 3), que é de 100%. Por essa razão, é denominado de Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) ou equivalente de carbonato de cálcio.
A calagem tem efeitos diretos e indiretos sobre as plantas. Os primeiros geralmente dependem do tempo e da umidade disponível no solo e estão associados a algumas características físicas (ex: relação entre o tamanho da partícula e a sua superfície) e químicas do corretivo (ex: valor do Poder Neutralizante - PN-). Em conjunto, determinam mudanças em algumas características do solo, quais sejam: a redução da saturação por aluminio, elevação nas concentrações do cálcio e do magnésio, elevação do pH e aumento na disponibilidade do fósforo. A atividade biológica também é favorecida pela ação do calcário.
Os efeitos indiretos podem manifestar-se através de algumas características fenológicas das plantas, como a distribuição do sistema radicular em profundidade e sua relação com a maior resistência aos déficits hídricos (veranicos). Em ambos os casos, os efeitos do calcário estão diretamente ligados a aumentos da produção e da qualidade da biomassa, tanto de grãos como matéria seca na produção de silagem.
Métodos para estimar a necessidade da calagem
Os métodos para recomendação da necessidade de calcário (NC) adquiriram, em alguns casos, caráter regional quanto ao seu uso e preferência pelos técnicos.
Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, os métodos mais comumente utilizados, segundo Goerdert et al. (1987) e CFSMG (1999), são:
a) método baseado na eliminação do alumínio trocável e na elevação dos teores do cálcio e do magnésio e;
b) método da saturação por bases.
O primeiro método consiste na extração do alumínio, do cálcio e do magnésio trocáveis com uma solução 1M de KCL.
A fórmula utilizada para estimar a necessidade de calagem (NC), segundo a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, capítulo 8, adotada a partir de 1999, é:
NC = CA +CD
O termo NC é a necessidade de calagem, CA a correção da acidez em função do valor da saturação por alumínio (valor m%) de cada cultura que, no caso do milho, é de 15%, e da capacidade tampão do solo, valor Y. O componente CD na equação é a correção da deficiência nos teores de cálcio e do magnésio. Pelo exposto, a expressão parcial da CA é:
CA = Y [Al+3- (mt x CTC efetiva/100)]
Os valores de Y são uma função do poder tampão do solo e da textura, portanto, para solos arenosos (0% a 15% argila), Y= 0 a 1; solos com textura média (15% a 35% argila), Y=1 a 2; solos argilosos (35% a 60% argila), Y=2 a 3 e solos muito argilosos (mais de 60% argila), Y=3 a 4.
Al +3: a acidez trocável, expressa em Cmol c /dm 3; mt: máxima saturação por Al, em % e CTC efetiva: valor t, em Cmol c /dm 3. Se, nessa expressão, valores negativos tiverem sido obtidos, considera-se CA=0, para efeito de cálculos, ficando a NC somente com o segundo termo da fórmula geral, ou seja o termo CD, que é a correção da deficiência de Ca e do Mg.
Para a correção da deficiência de Ca e de Mg, o termo CD, é dado pela expressão:
CD=X-(Ca+2 + Mg+2)
Os valores Ca e Mg são expressos em Cmol c /dm 3 e o valor X é baseado na necessidade destes cátions pela cultura; no caso do milho, X=2
A expressão geral da necessidade de calagem, considerando os dois termos dimensionados é:
Y=[Al+3-(mt x CTC efetiva /100)] +[ X-( Ca+2 + Mg +2 )]
Nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a NC tem sido estimada pelo uso das expressões: NC (t/ha) = Al 3 x 2, baseado na eliminação do Al trocável e, NC (t/ha) = Al 3 x 2 + 2 - (Ca 2 + Mg 2 ), baseado na eliminação e na elevação dos teores de cálcio e do magnésio.
b) Saturação de bases. Esse método teve origem no estado de São Paulo, em trabalhos de Catani e Gallo, (1955), seguidos por Raij et al.(1979) e, por último, a versão em uso, proposta por Quaggio et al. (1983). É baseado na correlação do pH do solo com a saturação por bases e requer, em rotina laboratorial, a determinação de Ca, Mg, K, em alguns casos também o Na, além da determinação de H+Al (acidez potencial ), extraídos com acetato de cálcio 0,5M, ajustado ao pH 7.
A fórmula para o cálculo da Necessidade de Calagem, em toneladas / hectare é representada pela expressão:
NC= ( V2-V1) CTC/100
A CTC representa a soma das bases Ca, Mg, K e Na com os valores da acidez potencial (H + Al), expressos em Cmol c /dm 3. O valor V2 é a saturação de bases que se deseja elevar e V1, a saturação original do solo, através da análise química. No caso do milho, recomenda-se valores de V2 entre 50% e 60%.
Independente do método a ser usado, recomenda-se, quando for conveniente, a correção da quantidade de calcário a um valor de 100% através da expressão:
NCc=100/PRNT
Escolha do calcário
A indústria de calcário coloca no mercado produtos com ampla variação na granulometria, nos teores de cálcio e magnésio e no PRNT. Cabe ao técnico, com base na análise de solo, na exigência da cultura e no preço do calcário, analisar as várias alternativas oferecidas e decidir qual a solução mais técnica e econômica. A decisão final, entre outras informações, o preço por tonelada efetiva, é uma variável de grande interesse e para tal a seguinte relação deve ser usada:
Preço por tonelada efetiva= preço por tonelada na propriedade/ PRNT (%)
No Brasil, há preferência pelo uso de calcários dolomíticos e magnesianos sobre os calcíticos, visando a manutenção de uma relação Ca: Mg de 3:1 a 5:1. Para a cultura do sorgo, resultados experimentais mostraram que essa relação pode ser mais ampla (Ca : Mg = 10:1), sem prejuízo da produção, desde que o teor de magnésio no solo esteja acima de 0,5 cmol c /dm 3 de solo. Entretanto, devido à maior exigência da soja ao magnésio, em área utilizadas com a rotação soja - milho, o teor de magnésio no solo, nessa situação, deve ser de, no mínimo, 1 cmol c /dm 3 .
Caraterísticas da qualidade dos materiais corretivos
As principais características relacionadas com a qualidade dos corretivos são: teor de neutralizantes (poder de neutralização-PN), tamanho das partículas, forma química dos neutralizantes e natureza geológica.
O teor de neutralizantes (PN) é determinado diretamente com ácido clorídrico e expresso em %. A conversão dos óxidos de Ca e de Mg em "CaCO 3 equivalente" é denominado Valor Neutralizante - VN . Por essa razão, o CaCO 3 possui um valor VN igual a 100%. O VN do MgCO 3 é 119, para o CaO, esse valor é de 179 e o VN do MgO, 248. Esses números mostram que os óxidos de Ca e de Mg neutralizam a acidez do solo na ordem de 1,79 e de 2,48 vezes mais, quando comparados com o poder neutralizante dos carbonatos. Dessa forma, pode-se, através da análise química dos corretivos, calcular o E CaCO 3 , por exemplo:
Material A = 25% CaO e 15% MgO - ( 25 x 1,79 + 15 x 2,48 ) = 82% Material B = 60% CaO e 12% MgO - ( 60 x 1,19 + 12 x 2,28 ) =137,2%
Como ilustração, um material que possua um PN de 110% significa que 100 kg desse material tem a mesma capacidade neutralizante de 110 kg de CaCO 3. Há casos em que o VN superestima a capacidade de neutralização do corretivo (PN). Isso se deve a algumas frações insolúveis de Ca e de Mg que não participam da neutralização da acidez do solo.
A legislação brasileira não exige teores mínimos de E CaCO 3. Porém, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recomenda que a soma dos óxidos de Ca e de Mg não deve ser menor que 38% e o PRNT não inferior a 67%.
Há resultados experimentais que apontam valores de E CaCO 3 menores que 80% indicativos de má qualidade do corretivo.
A granulometria, segundo a legislação brasileira (ABNT), deve seguir as seguintes características: 95% do material deve passar na peneira 10 (2mm), 70% deve passar na peneira 20 (0,84mm) e 50% passar na peneira 50 (0,30mm). Através das frações granulométricas, pode-se estimar a reatividade do material corretivo, em função das peneiras usadas (Tabela 8):
Fração granulométrica | Peneira ABNT | Reatividade (%) |
> 2,00 mm | Retida no. 10 | 0 |
0,84 - 2,00 mm | Passa no.10, retida no 20 | 20 |
0,30 - 0,84 mm | Passa no.20, retida no 50 | 60 |
< 0,84 mm | Passa no.50 | 100 |
A combinação do PN com a reatividade (RE) permite estimar o Poder Relativo de Neutralização total (PRNT), através da seguinte fórmula:
PRNT= PN x RE / 100
Quanto à forma química dos corretivos, ressalta-se que os óxidos de Ca e de Mg têm reação instantânea com a água, formando hidróxidos:
CaO + H 2 O → Ca(OH) 2
Esses hidróxidos apresentam reatividade muito mais alta que os carbonatos, porém apresentam algumas desvantagens:
a) devem ser imediatamente incorporados, pois, devido à umidade e na presença de CO2 tornam-se empedrados e carbonatados;
b) são muito cáusticos;
c) devido à sua elevada finura, perdem-se facilmente com o vento durante a aplicação e;
d) são de custo bem elevado.
Não foram observadas diferenças no aumento do pH do solo quando se compararam os calcários dolomíticos com os calcíticos.
Existem dois critérios para a classificação dos calcários:
- pelos teores de MgO: calcíticos (< 5 dag/kg de MgO), magnesianos (entre 5 e 12 dag/kg de MgO) e dolomíticos (> 12 dag/kg de MgO);
- pelos valores de PRNT: Grupo A (PRNT entre 45% e 60%), Grupo B (PRNT entre 60,1% e 75%), Grupo C (PRNT entre 75,1% e 90%) e Grupo D (PRNT maior que 90%).
Do exposto, observa-se que a decisão baseada nos teores de MgO será em função da análise química do solo e dos valores de Ca e Mg, porquanto aquelas baseadas nos valores de PRNT, aspectos econômicos são importantes como também preferir materiais pertencentes ao Grupo D ou próximos a ele.
Aplicação do calcário
Os materiais corretivos comumente usados na agricultura são rochas moídas, misturas de calcita e dolomita, as quais possuem, em suas composições, carbonatos de cálcio e de magnésio, que são pouco solúveis. As rochas calcárias calcinadas que contêm óxidos de cálcio e magnásio (cal virgem) ou os materiais hidratados oriundos dos óxidos, os hidróxidos de Ca e de Mg (cal hidratada), apesar de serem mais solúveis que os carbonatos, têm sido menos usados na agricultura.
Recomenda-se que a aplicação do calcário seja a mais uniforme possível, em toda a extensão do terreno, de modo que haja a mais íntima mistura com as partículas do solo, aumentando a superfície de contato.
A incorporação do calcário deverá ser a mais profunda possível, de preferência a profundidades maiores que 20 cm. Essa observação ainda é mais relevante quando se recomendam quantidades superiores a 4 toneladas/ha. Nessa situação, sugere-se o parcelamento em duas vezes, ou seja, metade antes da aração e a outra metade após essa operação, seguindo-se esta última, de uma gradagem.
Em solos sob plantio direto consolidado, é possível aplicar o calcário na superfície sem a necessidade de revolvimento para incorporação (aração e gradagem). Nessa situação, as quantidades são menores e as recomendações são baseadas na textura do solo:
a) solos argilosos: 1/3 a 1/2 da necessidade de calcário (NC) pelo método de saturação de bases para a camada de 0 cm a 20 cm. Se maior que 2,5 t/ha, adotar o valor limite;
b) solos de textura média e arenosos: 1/2 da necessidade de calcário (NC) pelo método de saturação de bases para a camada de 0 cm a 20 cm. Se maior que 1,5 a 2 t/ha, adotar o valor limite.
A necessidade de uma nova aplicação de calcário deve ser monitorada pela saturação por bases do solo. Com valores iguais ou superiores a 50%, não efetuar a calagem. (Lopes, A.S., comunicação pessoal).
Gessagem
O gesso agrícola é também denominado fosfogesso. As indústrias de fertilizantes, durante o processo de fabricação de superfosfatos, simples e triplo, e fosfatos de amônio, MAP e DAP, usam como matéria-prima a rocha fosfática, geralmente a fluorapatita. Esta, ao ser atacada com ácido sulfúrico, na presença de água, forma como subprodutos sulfato de cálcio, ácido fosfórico e ácido fluorídrico, de acordo com a seguinte equação:
Ca 10 (PO 4 )6F 2 S + 10H 2 SO 4 + 20 H 2 O → 10CaSO 4 .2H 2 O(S) + 6H 3 PO 4 + 2HF
Os dados da eficiência industrial indicam que, para cada tonelada de P 2 O 5 obtida, são produzidas 4,5 toneladas de gesso agrícola. Essa relação evidencia o grande acúmulo desse material em plantas industriais ligadas ao setor.
O gesso é o sulfato de cálcio dihidratado, apresentando-se na forma de pó branco-amarelado. Sua composição média, segundo Vitti e Malavolta (1983), é: Umidade livre 15-17%; CaO 26-28%; S 15-16%; P2O5 0,6 - 0,75%, SiO2 insolúveis 1,26%; Flouretos 0,63% e óxidos de Al e Fe o,37%.
O gesso é um sal pouco solúvel (2,0 a 2,5 g/L) e tem sido empregado na agricultura devido à retirada gradual do enxofre das formulações, concentrações mais elevadas de nutrientes nas formulações comerciais e excessiva produção e alta armazenagem industrial.
Sob a ótica agronômica, seu emprego tem sido justificado principalmente em duas situações:
a) quando se requer fornecimento de cálcio e de enxofre;
b) na diminuição de concentrações tóxicas do alumínio trocável nas camadas subsuperficiais, com consequente aumento de cálcio nessas camadas, visando "melhorar" o ambiente para o crescimento radicular.
Na primeira situação, a aplicação de uma tonelada de gesso, é adicionado 0,48 Cmol c /dm 3 do elemento. Por outro lado, sabe-se que apenas 250 kg/ha são necessários para atender às necessidades de S das plantas, razão pela qual, ao usar alguns fertilizantes, está-se adicionando também enxofre, por exemplo: o superfosfato simples contem 12%, o sulfato de amônio 24%, o FosMag 11% e fontes menos solúveis, como o fosfato natural parcialmente acidulado, 6%.
Esses fatores devem ser considerados, pois as quantidades de enxofre aplicadas através desses produtos podem já ser suficientes para atender às necessidades da cultura.
Na segunda situação, o gesso em contato com o solo e com umidade suficiente sofre inicialmente uma dissolução, segundo a equação:
CaSO 4 . 2H 2 O H 2 O → Ca +2 + SO 4 -2 + CaSO 4 o + 4 H 2 O
Os íons cálcio e sulfato irão participar de reações de troca catiônica e aniônica na solução do solo. Dessa forma, os íons Ca deslocam outros cátions, como o Al, K, Mg e H, porquanto os íons sulfato formam complexos químicos solúveis neutros, como MgSO 4 o , K 2 SO 4 o, como também AlSO 4 o. Esses complexos, por apresentarem grande mobilidade, favorecem a descida desses cátions no perfil. Sais que apresentam alta mobilidade, como os nitratos (exemplo, KNO 3), que não interagem com a fase sólida, são facilmente arrastados no perfil, ocasionando acúmulo nas camadas mais profundas e, em alguns casos, levando a deficiência às plantas.
Critérios para recomendação de gesso
A tomada de decisão sobre o uso do gesso agrícola deve sempre ser feita com base no conhecimento de algumas características químicas e na textura das camadas subsuperficiais do solo (20 cm a 40 cm e 30 cm a 60 cm). Haverá maior probabilidade de resposta ao gesso quando a saturação por Al 3+ for maior que 30%, (m 3 30%) ou o teor de Ca menor que 0,4 cmol c /dm 3 de solo.
Nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os valores de m% são £ 20% e a saturação de Ca de 60% na CTC efetiva.
Uma vez estabelecidas aquelas características, as quantidades sugeridas são:
- solos de textura arenosa (< 15 % de argila) = 0 a 0,4 t/ha;
- solos de textura média (15 a 35 % de argila) = 0,4 a 0,8 t/ha;
- solos argilosos (36 a 60 % de argila) = 0,8 a 1,2 t/ha;
- solos muito argilosos (> 60 % de argila) = 1,2 a 1,6 t/ha. (Alvares et al., 1999).