Milho
Espaçamento e Densidade
Autores
José Carlos Cruz - In memoriam
Israel Alexandre Pereira Filho - Embrapa Milho e Sorgo
Manoel Ricardo de Albuquerque Filho - Embrapa Milho e Sorgo
Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com 49,8 milhões de toneladas de grãos produzidos em uma área de 14,12 milhões de hectares (Conab, 2009), produção referente a duas safras, a normal e a safrinha. Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtidas produtividades superiores a 16 t por hectare em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de sementes. No entanto, o nível médio nacional de produtividade é muito baixo (3 .532 kg/ha), demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante aprimorados para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar.
Época de semeadura
O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo, temperatura, radicação solar e fotoperíodo. A época de plantio depende destes fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática. A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Trabalho de pesquisa mostra que as épocas em que o rendimento de grãos foram maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem sob boas condições de água no solo.
Nas condições tropicais, devido a menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura.
No Sul do Brasil, o milho geralmente é plantado de agosto a setembro e, à medida que se caminha para os estados do Centro-Oeste e Sudeste, a época de semeadura varia de outubro a novembro. Resultados de pesquisa mostram que atrasos na época de plantio além dos meses de setembro e outubro resultam em redução no ciclo da cultura e no rendimento de grãos. A época de semeadura afeta várias características da planta, ocorrendo um decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade) e no rendimento de grãos. Segundo ainda esse autor, vários resultados da literatura mostram que o atraso na semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores a 60 kg/ha/dia. Essa tendência pode ser revertida se não houver déficit hídrico e se ocorrer um redução na temperatura do ar nos meses de fevereiro e março.
Por ser plantado no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura, principalmente na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data de plantio depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura do verão, visando liberar a área o mais cedo possível. Quanto mais tarde for o plantio, menor será o potencial e maior o risco de perdas por seca e/ou geadas.
Hoje, com os avanços nos trabalhos na área de climatologia, o Brasil já tem um Zoneamento Agrícola (elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que fornece informações sobre as épocas de plantio de milho tanto na safra como na safrinha, com menores riscos, para quase todo o país.
Nas regiões onde não ocorrem geadas, o plantio do milho poderá ser feito o ano todo, mas o agricultor deverá levar em consideração as alterações no ciclo da cultura, que afetarão a época de colheita e, consequentemente, o calendário agrícola, podendo afetar a época de plantio de culturas subsequentes. A Tabela 1 mostra um exemplo da variação do ciclo em função da época de plantio. O potencial produtivo também varia de acordo com as condições climáticas resultantes da época de plantio.
|
| Cultivar |
|
Época de semeadura | Normal | Precoce | Super precoce |
05 de fevereiro | 124 | 117 | 108 |
05 de março | 134 | 129 | 127 |
06 de abril | 145 | 140 | 138 |
05 de maio | 139 | 138 | 137 |
08 de junho | 138 | 133 | 131 |
09 de junho | 146 | 134 | 125 |
12 de agosto | 124 | 119 | 118 |
08 de setembro | 125 | 118 | 115 |
07 de outubro | 115 | 112 | 106 |
08 de novembro | 116 | 112 | 107 |
09 de dezembro | 115 | 115 | 112 |
Experimento com milho irrigado, realizado no Rio Grande do Sul, mostrou que os rendimentos de grãos foram, em média, 15% e 48% inferiores na semeadura de agosto e dezembro, respectivamente, em relação à de outubro. Essas diferenças foram atribuídas a alterações na quantidade de radiação solar disponível em decorrência da época de plantio. No plantio em dezembro, a alta percentagem de plantas estéreis pode também ter contribuído para o baixo rendimento de grãos.
Profundidade de semeadura
A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser colocada numa profundidade que possibilite um bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo de solo. Em solos mais pesados, com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, dificultando a emergência de plântulas, as sementes devem ser colocadas entre 3 cm e 5 cm de profundidade. Já em solos mais leves ou arenosos, as sementes podem ser colocadas mais profundas, entre 5 cm e 7 cm de profundidade, para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo.
No sistema plantio direto, onde há sempre um acumulo de resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta retarda a emergência, reduz o estande e, em alguns casos, pode até causar queda no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. A Tabela 2 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do período de emergência na cultura do milho.
Contrário a uma crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular definitivo, que se estabelece logo abaixo da superfície do solo.
Tabela 2 - Percentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes de milho, em diferentes profundidades. Profundidade | Emergência | Vigor 1 | Duração média |
( cm ) | ( % ) |
| ( dias ) |
2.5 | 100.0 | 3.0 | 8.0 |
5.0 | 97.5 | 3.0 | 10.0 |
7.5 | 97.5 | 3.0 | 12.0 |
10.0 | 80.0 | 2.5 | 15.0 |
12.5 | 32.5 | 0.7 | 18.0 |
Densidade de plantio
Espaçamento entre fileiras
Ainda é muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras, embora seja nítida a tendência de sua redução.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados o aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área, aumentando a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes; melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, diminuindo, dessa forma, a duração do período crítico das plantas daninhas; redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo; melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes; e maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo.
Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a colheita, favorecendo o sistema de plantio direto. Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 cm e 50 cm), principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Essa redução no espaçamento resulta também em maior peso de grãos por espiga. Esse comportamento se deve ao fato de que os milhos atuais possuírem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar.
Uma avaliação de diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de plantio, mostrou que o rendimento de grãos cresceu com o aumento da densidade de plantio em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que poderia se aumentar ainda mais a produtividade, com aumento na densidade de plantio; entretanto, no espaçamento de 0,50 m entre fileiras, a produtividade apresentou maior ampliação quando se passou de 40.000 plantas. ha-1 para 77.500 plantas.ha-1 do que no espaçamento de 0,80 m, indicando que a redução de espaçamento é mais vantajosa quando se utilizam maiores densidades de plantio, comprovando mais uma vez que o benefício das linhas mais estreitas aumenta à medida que aumenta a população de plantas.
Quando se pensa em diminuir o espaçamento entrelinhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não proporcionam um bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa razão, já no início do crescimento a captação da luz é prejudicada. Os híbridos de menor porte, mais precoces, desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de auto-sombreamento, o que proporciona uma maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades.
Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos eram as colheitadeiras, que, muitas vezes não se adaptavam a esta situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não existe.
O milho em Sistema de Plantio Direto
A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de produção. Devido à grande produção de fitomassa de alta relação C/N, a cultura é fundamental em programas de rotação de culturas em sistemas de plantio direto. Em termos de modernização da agricultura brasileira, a utilização do sistema de plantio direto é uma realidade inquestionável e a participação da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão (safrinha) de culturas para assegurar a sustentabilidade de sistemas de plantio direto é fundamental. A área plantada no sistema de plantio direto tem aumentado rapidamente no Brasil, principalmente nos últimos anos. Estima-se que, hoje, o sistema de plantio direto cubra mais de 25 milhões de hectares, ou seja, cerca de 50% da área ocupada por culturas anuais no país.
O sistema de plantio direto consolidou-se como uma tecnologia conservacionista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes regiões e aos diferentes níveis tecnológicos, desde o grande ao pequeno agricultor, aquele que usa a tração animal. Requer cuidados na implantação, mas depois de estabelecido, seus benefícios se estendem não apenas ao solo e, consequentemente, ao rendimento das culturas e à competitividade dos sistemas agropecuários, mas também, devido à drástica redução da erosão, reduz o potencial de contaminação do meio ambiente. O sistema também oferece ao agricultor maior garantia de renda, pois a estabilidade da produção é ampliada em comparação aos métodos tradicionais de manejo de solo. Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, pode-se afirmar que o plantio direto é uma ferramenta essencial para se alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários.
A cultura do milho tem a vantagem de deixar uma grande quantidade de restos culturais que, uma vez bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo. Desta forma, sua inclusão em um esquema de rotação é fundamental. A sustentabilidade de um sistema de produção não está apoiada apenas em aspectos de conservação e preservação ambiental, mas também nos aspectos econômicos e comerciais.
Rotação de culturas
A rotação envolvendo as culturas da soja e do milho merece especial atenção devido às extensas áreas que essas duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas as culturas (Tabela 3). No exemplo mostrado na Tabela 3, o milho plantado após a soja produziu cerca de 9% mais e a soja plantada após o milho produziu entre 5% e 15% mais, quando comparados com os plantios contínuos. Existem experimentos demostrando os efeitos benéficos do milho se estendendo até ao segundo ano da soja plantada após a rotação (Tabela 4). Neste exemplo, a soja produziu 20,3% mais no primeiro ano após o milho e 10,5% no segundo. Essa diferença foi atribuída, além da menor incidência de pragas e doenças, à maior quantidade de nutrientes deixados pela palha do milho, principalmente o potássio, no qual a soja é exigente.
Na escolha de uma rotação de culturas, especial atenção deve ser dada às exigências nutricionais das espécies escolhidas e à sua capacidade de extrair nutrientes do solo, no que a soja e milho se complementam satisfatoriamente.
Tabela 3. Efeito da rotação soja e milho sobre o rendimento destas culturas. Rotação | Rendimento (kg ha -1 ) | |
Milho após milho | 9.680 (100%) | 6.160 (100%) |
Milho após soja | 10.520 (109%) | 6.732 (109%) |
|
|
|
Soja após soja | 3.258 (100%) | 2.183 (100%) |
Soja após milho | 3.425 (105%) | 2.517 (115%) |
Tabela 4. Rendimento de grãos de soja, em kg ha-1, no primeiro e segundo anos após o milho, comparado ao rendimento da soja sem rotação, conduzidos em sistema de plantio direto.
Tratamentos | 1987/88 | 1988/89 | 1989/90 | 1990/91 | 1991/92 | 1992/93 | 1993/94 | Média |
| kg ha -1 | |||||||
1º ano após milho | 1.838 | 3.366 | 3.980 | 1.883 | 4.456 | 4.691 | 2.746 | 3.280 |
2º ano após milho | 1.499 | 3.234 | 3.730 | 1.716 | 4.340 | 3.979 | 2.589 | 3.012 |
Sem milho | 1.440 | 3.180 | 3.724 | 1.136 | 3.663 | 3.565 | 2.378 | 2.727 |
Na implantação e na condução de um sistema eficiente de plantio direto, é indispensável que o esquema de rotação de culturas promova, na superfície do solo, a manutenção permanente de uma quantidade mínima de palhada, que nunca deverá ser inferior a 2,0 t ha-1 de matéria seca. Como segurança, recomenda-se que sejam adotados sistemas de rotação que produzam, em média, 6,0 t/ha/ano ou mais de matéria seca. A cultura do milho, de ampla adaptação a diferentes condições, tem ainda a vantagem de deixar uma grande quantidade de restos culturais, que, uma vez bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo.
Milho safrinha x Sistema de Plantio Direto
Manejo do solo | Rendimento de grãos | |||
| Safra de soja | Safrinha de milho | ||
| kg ha -1 | % | Kg ha -1 | % |
Grade aradora/ Grade aradora | 2.579 | 78 | 4.678 | 77 |
Esc. mais niveladora/G. niveladora | 3.130 | 94 | 5.404 | 89 |
Esc. + G. niveladora/ semeadura na palha | 3.144 | 95 | 5.682 | 94 |
Sistema plantio direto. | 3.310 | 100 | 6.046 | 100 |