Clima

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autor

Flavio Gilberto Herter - Consultor autônomo

 

O primeiro ponto a ser observado para implantação de um pomar são as condições climáticas predominantes, ou seja, a temperatura e umidade do ar, a radiação, a precipitação pluviométrica e a ocorrência de ventos.

O pessegueiro é, basicamente, uma cultura de clima temperado. Os mais importantes centros de produção comercial situam-se, por essa razão, entre as latitudes de 25° e 45° N e S. Em latitudes maiores, a temperatura mínima de inverno e as geadas de primavera são, usualmente, os fatores limitantes. A presença de volumosas massas de água, como grandes lagos e mares internos, podem estender essas zonas de cultivo, agindo como atenuantes do frio.

Áreas continentais, afastadas dos grandes corpos de água, caracterizadas por baixas temperaturas de inverno e por severas geadas primaveris, raramente são centros de produção. Sob condições especiais em cotas elevadas, o cultivo pode, também, estender-se a regiões tropicais. Tratar-se-á, distintamente, da influência do clima sobre o comportamento desta espécie durante as fases de desenvolvimento vegetativo e de repouso.


Fase de repouso

Nas espécies frutíferas de clima temperado, durante a estação do outono, o crescimento cessa, pois a planta prepara-se para resistir às condições adversas de baixas temperaturas invernais. Essa fase é definida como dormência.

Para completar sua formação, as gemas floríferas e vegetativas do pessegueiro devem atravessar um período de repouso, convencionalmente medido pelo número de horas de frio inferiores a 7,2°C. Em latitudes mais baixas, em zonas com invernos amenos, a necessidade de descanso hibernal pode não ser satisfeita, levando a um florescimento e brotação desuniformes e insuficientes, conduzindo a planta a um fenômeno conhecido por erratismo. É importante que, no transcurso do inverno (especialmente no seu início), haja frio suficiente para que tais gemas satisfaçam suas necessidades de baixas temperaturas e completem, satisfatoriamente, sua dormência.

Existem evidências de que a luminosidade e a variação brusca de temperatura intervêm em escala menor. Durante esse período, sucedem-se transformações hormonais, que culminam na completa evolução das gemas e no estímulo à planta a iniciar um novo ciclo vegetativo.

No final do inverno, com o término do período de repouso das gemas, o ovário entra em fase de desenvolvimento. Nessa fase, a formação do pólen (macrosporogênese e microsporogênese) tem uma estreita dependência das condições climáticas reinantes.

A grande maioria das cultivares de pessegueiro, em regiões de clima temperado, requer de 600 a 1000 horas de frio (abaixo de 7,2ºC) para florescer e enfolhar normalmente. São conhecidas, entretanto, cultivares que necessitam de menos de 100 horas de frio.

No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, algumas áreas com altitude próxima a 1000 metros apresentam um número médio de horas de frio acima de 600. Na região de Pelotas - RS, a uma altitude de 100 a 300 metros, a quantidade média de horas de frio é em torno de 400. Próximo a Porto Alegre, RS, a média não alcança 200 horas e, nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, muitas áreas de cultivo não atingem 100 horas de frio.

As geadas durante o inchamento das gemas, na floração, ou na primeira fase de desenvolvimento do fruto, constituem um dos sérios problemas do cultivo do pessegueiro. De acordo com a cultivar e a região, o pessegueiro floresce de junho a setembro, em um período quando as ondas de frio, que seguem as frentes frias, são muito freqüentes.

As partes da flor mais sensíveis às baixas temperaturas são o pistilo e as anteras. A flor, na fase de botão rosa, pode resistir até -3,9°C, quando aberta, até -2,5°C e o frutinho recém-formado, até -1,6°C. O frio persistente durante a floração poderá causar distúrbios graves à polinização, ao processo de desenvolvimento do tubo polínico e à fusão dos núcleos.

Como foi acentuado, a temperatura é o mais importante fator climático, afetando a distribuição das cultivares. O homem tem pouco controle sobre ela e, por essa razão, é prudente escolher-se, cuidadosamente, o local de cultivo. Um aumento da latitude, da altitude ou da continentalidade pode resultar em menores temperaturas. É conveniente consultarem-se, na região, todos os segmentos envolvidos no cultivo de espécies frutíferas e os dados meteorológicos disponíveis sobre freqüência de geadas, e informar-se sobre temperaturas extremas, freqüência de secas, precipitações, granizo e ventos.


Fase vegetativa

O pêssego, geralmente, atinge melhor qualidade em áreas onde as temperaturas no verão, (principalmente, próximo à colheita) são relativamente altas durante o dia e amenas no período noturno. Essas condições propiciam aumento do teor de açúcares e melhoria da coloração. Muitas cultivares tornam-se adstringentes quando se desenvolvem sob condições de verões frescos, as quais, geralmente, ocorrem em áreas de maior altitude.

A quantidade e a qualidade da luz são muito importantes, por estarem diretamente ligadas à atividade fotossintética da planta, regulando assim a quantidade, e a qualidade da produção, esta última principalmente no que diz respeito à coloração da fruta. O excesso de luz, entretanto, pode ser prejudicial, por provocar, pela insolação, danos ao tronco e às pernadas. Para que se obtenha uma alta produtividade, com frutos de qualidade superior, o pessegueiro requerer, durante a primavera e o verão, um adequado suprimento de água.

Estima-se que a necessidade da planta situe-se entre 70 e 100% da ETP, variável com seu estádio de desenvolvimento. A planta deve possuir um sistema radicular profundo, para suportar curtos períodos de seca. Secas prolongadas, principalmente no fim da primavera e início do verão, antes da colheita, trazem considerável prejuízo à cultura. A irrigação, nesse caso, torna-se imprescindível.

Em áreas onde haja ausência total de chuvas de verão, o cultivo do pessegueiro pode ser viabilizado pelo uso de irrigação, ocorrendo, nessas condições, menores riscos de prejuízos causados por pragas e doenças.Por outro lado, chuvas excessivas, especialmente em períodos próximos e durante a colheita, aumentam as perdas devido à maior incidência de doenças. Ventos fortes são, também, prejudiciais, pois causam danos mecânicos, dilacerando as folhas e contribuindo para a propagação de doenças, principalmente bacterianas.

A tendência de árvores jovens crescerem para um só lado, oposto ao do vento predominante, alterando o centro de gravidade da planta, pode trazer prejuízos pela quebra das pernadas, particularmente em anos de grande produção. Ventos frios são, também, prejudiciais, pois podem causar danos semelhantes aos das geadas.