Pêssego
Irrigação
Autor
Flávio Luiz Carpena Carvalho - Consultor autônomo
O pessegueiro é uma planta que apresenta variação quanto à sua necessidade de água nas diferentes fases do ciclo vegetativo.
As fases mais sensíveis são: após a saída de dormência, onde a falta de água pode reduzir o número de células do fruto; durante o crescimento rápido do fruto, onde a falta pode reduzir o tamanho dos frutos; e após a colheita até queda de folhas, onde a falta pode resultar em pouca reserva energética para a planta formar seus órgãos reprodutores para próxima safra.
Durante a fase de endurecimento do caroço, se pode manter a planta sob condições de estresse controlado (75% de suas necessidades) sem influenciar na produtividade e aumentando os seus sólidos solúveis. A resposta da planta à redução da disponibilidade de água no solo é, principalmente, verificada na redução do crescimento das novas brotações e na redução do tamanho dos frutos, tendo menor importância na redução da produtividade e do número de frutos.
Períodos críticos em relação ao déficit hídricos
Os estádios nos quais as espécies frutíferas são sensíveis ao estresse hídrico são identificados, basicamente, por grande atividade fisiológica e meristemática (divisão celular). Em pessegueiro, um dos períodos de grande atividade fisiológica dá-se durante a diferenciação das gemas, a qual ocorre após a colheita. Esse desenvolvimento continua durante o inverno em menor intensidade.
Nesse período, a atividade radicular é muito grande, uma vez que a planta armazena reservas de nutrientes, que irá utilizar na brotação, no florescimento e na época de definição da carga de frutos para a próxima estação. Outra fase de intensa atividade fisiológica ocorre no período compreendido entre a quebra da dormência e o fim da floração. A retirada de água do solo pela planta aumenta à medida que se desenvolvem os ramos e se amplia a área foliar.
Como o número de células irá determinar o tamanho final dos frutos, a falta de água nesse período reduz o número de células, diminuindo o tamanho do fruto e a produção. Apesar de ser possível, com fornecimento de água próximo à colheita, aumentar-se o tamanho dos frutos com pequeno número de células, estes poderão ter baixa qualidade (menor teor de sólidos solúveis, pouca firmeza etc.) quando colhidos.
Após a divisão celular, inicia-se a fase de aumento de volume da célula. Nesse período, a etapa mais crítica ocorre durante a aceleração máxima do crescimento do fruto, duas a três semanas antes da colheita. Pode-se manejar a água ao longo desse estágio, antes da etapa crítica, reduzindo o teor de umidade do solo na fase que se inicia com o fruto no tamanho de uma azeitona até o período de seu crescimento rápido, visando-se à economia de água e melhoria da qualidade do fruto, sem comprometimento da produtividade.
Manejo da irrigação – quando e o quanto irrigar
O manejo da irrigação consiste em determinar-se a época de adição de água aos cultivos e sua quantidade. Existem diferentes métodos de manejo da irrigação, que variam quanto ao uso de instrumentos, custo de implantação, necessidade de dados meteorológicos e eficiência de aplicação, entre outros fatores.
Método do turno de rega
O método do turno de rega é o mais usado para elaboração de projetos e para dimensionamento de equipamentos e estruturas hidráulicas, pois se baseia em dados médios de evapotranspiração e precipitação coletados na área a ser irrigada.
Estima-se o período de secagem do solo e determina-se o intervalo entre as irrigações, por meio de equações. Para o Sul do Brasil, principal região produtora de pêssegos, este método não é aconselhável, pois não considera as precipitações e outros fatores climáticos importantes ocorridos entre as irrigações.
Com isso, existe o risco de aplicação de quantidades erradas de água, prejudicando a cultura ou mesmo aumentando os custos de produção no caso de colocação de água em excesso.
Método da tensão da água no solo
No método da tensão da água no solo, utilizam-se instrumentos que medem, diretamente, a tensão da água no solo (tensiômetros) ou que relacionam essa tensão com a umidade determinada por aparelhos, como blocos de Boyoucos e sondas de nêutrons. Esses equipamentos necessitam de calibração prévia para cada tipo de solo a ser cultivado.
Para o manejo da irrigação com esses equipamentos, deve ser feita a curva característica do solo ou curva de retenção de água no solo, que possibilita a correlação entre a umidade e a tensão da água no solo.
O uso de blocos de Boyoucos ou da sonda de nêutrons possibilita leituras imediatas das condições hídricas do solo, sem necessidade de retirada de amostras para tais determinações. Sempre que a tensão atingir o nível escolhido, aplica-se a lâmina de água calculada.
A determinação da umidade do solo para verificação da tensão de água pode, também, ser feita pela coleta de amostra com uso do trado, ao invés do uso dos instrumentos citados anteriormente.
Os aparelhos de determinação da umidade ou tensão de água no solo devem ser instalados junto ao sistema radicular da planta. É necessário considerar-se, entretanto, que a distribuição do sistema radicular altera-se à medida em que a planta desenvolve-se. No caso de irrigação por sulcos, a determinação de umidade deve ser feita no quarto final do sulco.
Método do balanço de água no solo
Este método baseia-se em manter, armazenada no solo, uma lâmina de água, de volume entre a capacidade de campo e a umidade do solo correspondente à tensão previamente estabelecida, conforme a resposta do rendimento da cultura a essa determinada tensão.
Irriga-se sempre que a diferença entre a lâmina evapotranspirada e a precipitação ocorrida no período for maior ou igual à lâmina armazenada no solo. Utilizam-se, de modo geral, para manejar a irrigação em pessegueiros, 50% da água disponível.
Os dados de precipitação devem ser obtidos pela utilização de pluviômetros. Deve-se considerar que, muitas vezes, a água oriunda da precipitação não é totalmente armazenada no solo, pois parte dela escoa superficialmente e/ou é percolada para zonas abaixo do sistema radicular. Esse volume de água deve ser descontado do total precipitado.
A evapotranspiração pode ser calculada conforme a disponibilidade de equipamentos e/ou dados meteorológicos que permitam sua estimativa em determinado período. Entre os métodos mais utilizados, destaca-se o método do tanque classe A, que leva em consideração os efeitos da radiação solar, do vento, da temperatura do ar e da umidade relativa do ar.
Os evaporímetros ou os atmômetros de Piché, que consistem em superfícies evaporantes ligadas a um depósito de água graduado, registram a perda de água dessa superfície e medem a evaporação. Sendo mais sensíveis ao vento que à radiação, expressam a radiação líquida que se aproxima da energia disponível para a evapotranspiração.
A evapotranspiração também pode ser estimada através da medida da radiação solar incidente, que possui relação direta com a água transferida para a atmosfera. Com o conhecimento da evapotranspiração de referência, há necessidade de multiplicar-se esse valor pelo coeficiente de cultivo (Kc) específico da cultura, o qual é variável conforme o seu estádio fenológico. Para o pessegueiro, recomenda-se utilizar os valores da Tabela 1, quando não houver disponibilidade de dados regionais.
Em pomares recém implantados, deve-se reduzir os valoresde Kc em 10 a 15% para plantas com 20% da área de copa, e, para plantas com 50% da área de copa, reduz-se entre 5% e 10%.
Tabela 1 - Valores do coeficiente de cultivo (Kc) para pessegueiro
-
Solo
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Com cobertura
0,80
0,85
0,90
1,0
1,0
1,0
0,95
0,80
0,80
Sem cobertura
0,55
0,70
0,75
0,80
0,80
0,70
0,70
0,65
0,55
Fonte: Doorembos&Pruit (1975).
Métodos de irrigação – como irrigar
A seleção do método de irrigação deve ser acompanhada de uma análise que leve em conta os fatores técnicos relacionados à cultura e ao local, além dos fatores econômicos.
Dentre os vários métodos, os de aspersão por sulcos e os localizados são os mais comuns. A seguir, são relacionadas algumas informações úteis para se auxiliar na escolha do método mais adequado.
Irrigação por aspersão
Apesar de não ser o método mais indicado para pomares de pessegueiro já formados, a irrigação por aspersão é muito empregada na produção de mudas. Consiste na dispersão de água sobre a cultura, utilizando-se, para isso, conjunto de moto-bomba, tubulação, aspersores e acessórios.
Exige pouca mão-de-obra, apresenta facilidade de montagem, não dificulta o preparo de solo, pode ser instalado no pomar já implantado, pode ser automatizado e operar 24 horas por dia, pode ser usado na prevenção de danos por geadas e possui grande variedade de opções de equipamentos.
O método apresenta como principais desvantagens: necessitar de altos volumes de aplicação; apresentar baixo rendimento; requerer altas pressões para funcionamento e, consequentemente, consumir muita energia; molhar toda a área e a folhagem das plantas; possuir alto custo de implantação; ter sua utilização limitada pelo vento; necessitar de água de boa qualidade para irrigação.Os aspersores utilizados em fruteiras podem ser os de subcopa, com ângulos pequenos (4 a 7°), os convencionais de sobrecopa, com ângulos de 30°, ou os equipamentos tipo canhão, também sobrecopa, que se constituem em grandes aspersores, tracionados ou autopropelidos, que molham grandes áreas, com diâmetros de até 120 m.
Irrigação de superfície
Dos métodos de irrigação de superfície, o método por sulcos é o que apresenta maior aplicação em fruteiras. Para a sua implantação, devem ser observados aspectos relativos à topografia, à textura de solo, ao volume de água disponível e à sensibilidade da planta à falta de aeração, pois provoca, junto às raízes, períodos longos com excesso de umidade. Deve-se evitar, na irrigação por sulco, o contato da água diretamente com o tronco.
Outra forma de se melhorar o manejo da água na irrigação por sulcos é pela utilização de tubos janelados, que facilita a condução da água e o controle da vazão em terrenos com topografia acentuada, melhorando o manejo da água neste método.
O método apresenta, como desvantagens, a dificuldade de circulação de máquinas, a manutenção dos sulcos e a grande necessidade de mão-de-obra.
Irrigação localizada
A irrigação localizada caracteriza-se por adicionar água ao solo com maior frequência e em volumes menores, procurando oferecer umidade adequada à região do solo onde as raízes se distribuam.Os projetos de irrigação localizada possuem componentes básicos, que podem diferir em forma ou modelo, apresentando, porém, as mesmas funções em todos os equipamentos disponíveis, a seguir relacionados.
- Moto-bomba: Equipamento responsável pela pressurização do sistema.
- Cabeçal de controle: É composto por sistema de filtragem, sistema de injeção de fertilizantes e regulagem de pressão.
- Tubulações: Conduzem a água desde o cabeçal até os gotejadores.
- Gotejadores ou microaspersores: São os emissores de água, que podem variar na vazão, no formato e na maneira de colocarem a água no solo.
- Acessórios: São peças que servem para aumentar a eficiência da aplicação e auxiliar no manejo da água. Os principais são: desaeradores, registros, reguladores de pressão e válvulas volumétricas.
As principais vantagens do sistema, para uso em fruteiras, são que ele proporciona maiores produtividades com menores volumes de água aplicados, utiliza baixa pressão para operação, não molha as folhas das plantas, pode operar em cultivos implantados em solos de baixa capacidade de infiltração (argilosos), pode aplicar fertilizantes junto com a água, não necessita de nivelamento de solo, não apresenta limites de topografia, pode ser automatizado e operar 24 horas por dia, apresenta elevada eficiência de aplicação, molha, somente, a área junto ao gotejador, o que reduz o aparecimento de ervas daninhas, permite o uso de água com teores de sais mais elevados do que nos métodos de aspersão e necessita de pouca mão-de-obra para seu funcionamento.
Suas principais desvantagens são os custos de implantação, a ocorrência de entupimentos (por fatores biológicos, químicos e físicos) e a acumulação de sais nas laterais do bulbo úmido. Salienta-se ainda que não pode ser utilizado para controle de geadas e necessita de experimentação local para se maximizarem os resultados obtidos com o sistema.