Sisal
Tecnologia Pós-colheita
Autores
Fabio Akiyoshi Suinaga - Embrapa Hortaliças
Wirton Macedo Coutinho - Embrapa Algodão
Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva - Embrapa Algodão
Orozimbo Silveira Carvalho - Aposentado
A utilização do sisal data de várias décadas, mas, mesmo assim, ainda não foram levantadas todas as suas aplicações e algumas das que se conhecem não ultrapassaram a fase de laboratório, sobretudo no que diz respeito aos subprodutos cuja exploração econômica ainda é difícil dentro dos métodos tecnológicos vigentes.
Aproveitamento da fibra
Apenas 3% a 5% do peso das folhas de sisal são aproveitadas; o restante, chamados de resíduos de desfibramento, constituem, em média, 15% de mucilagem ou polpa (formado pela cutícula e por tecido palissádico e parenquimatoso), 1% de bucha (fibras curtas) e 81% de suco ou seiva clorofilada.
Aproveitamento dos resíduos do desfibramento
Poucos são os produtores que aproveitam os resíduos do desfibramento para recompor parte da fertilidade de suas lavouras de sisal ou como alimento para ruminantes. Quando utilizados como adubo, os resíduos são distribuídos na própria cultura, entre as fileiras do sisal para depois ser espalhada em toda a área.
Frequentemente, observam-se bovinos, ovinos e caprinos alimentando-se dos resíduos frescos do desfibramento, mas, quando utilizado in natura, este alimento pode ocasionar problemas aos animais, pela presença de uma grande quantidade de fibra (bucha) e suco (seiva). A ingestão destes resíduos poderá ocasionar a oclusão do rúmen do animal em função da sua não degradação pela flora bacteriana, causando timpanismo.
A separação da bucha da mucilagem poderá ser realizada por meio de um equipamento de concepção simples e de baixo custo, denominado peneira ou gaiola rotativa, desenvolvido pela Embrapa Algodão. O equipamento deverá ser instalado próximo à máquina desfibradora para aproveitar todo o resíduo produzido no processo de desfibramento.
Foto: Wirton M. CoutinhoFigura 1. Peneira rotativa. |
A mucilagem de sisal pode ser utilizada na alimentação animal in natura, na forma de feno ou silagem. O processo de fenação e a ensilagem da mucilagem de sisal são descritos abaixo:
Fenação: A mucilagem peneirada deverá ser exposta ao sol em área cimentada ou chão batido limpo, em camadas finas e uniformes de 5 cm a 7 cm de espessura pelo tempo de dois a três dias, até alcançar o teor de umidade entre 15% a 20%. Durante o dia, recomenda-se fazer o revolvimento da massa, para uniformizar a secagem e, ao final deste, amontoar e cobrir a massa com lona plástica para evitar a umidade noturna.
Ensilagem: A mucilagem pós-desfibramento tem entre 90% a 95% de umidade, e, para ser ensilada adequadamente, esta umidade deverá ser reduzida para 30%, por meio da exposição ao sol, em procedimento semelhante ao descrito para fenação. A ensilagem poderá ser feita na forma de monte, sobre o solo, coberto com lona ou em silos do tipo trincheira ou, ainda, em sacos plásticos. Para todos esses métodos, é necessário que se faça a compressão do material, visando à expulsão do ar contido na massa ensilada.
A mucilagem fenada ou ensilada deve ser oferecida aos animais misturada a uma fonte de nitrogênio, como a ureia pecuária, e a uma fonte de enxofre, que pode ser sulfato de cálcio ou sulfato de amônio. Se a fonte de enxofre escolhida for o sulfato de cálcio (gesso agrícola), utilizar-se-á uma parte para quatro partes de ureia pecuária; se utilizado sulfato de amônio, adicionar-se-á uma parte para nove partes de ureia pecuária. A ureia pecuária e a fonte de enxofre escolhida devem ser bem misturadas com o auxílio de uma pá ou enxada, e o composto resultante guardado em local seco, fora do alcance dos animais.
O composto ureia pecuária e fonte de enxofre deve ser diluído em água e adicionado a mucilagem fenada, uniformemente, iniciando-se com 0,5%, nos três primeiros dias, aumentando-se para 1,0% nos três dias subsequentes, até atingir 2,0%, a partir do nono dia (período de rotina).
Além desta mistura, recomenda-se que a mucilagem seja associada a outros alimentos proteicos ou não proteicos, a fim de tornar a ração mais equilibrada e melhorar a sua palatabilidade. Dentre os alimentos utilizados, destacam-se a torta de algodão, farelo de trigo, milho moído, leucena, capim buffel, palma forrageira, entre outros.
O fio
A fibra é industrializada e convertida em fios, barbantes, cordas, tapetes, sacos, bolsas, chapéus e artesanato. Também pode ser utilizada na fabricação de pasta celulósica, empregada na confecção do papel Kraft e de outros tipos de papéis finos. Além dessas aplicações, a fibra de sisal pode ser empregada na indústria automotiva, de móveis e eletrodomésticos, na mistura com polipropileno e na construção civil. Apesar de todas essas aplicações, a principal utilização da fibra do sisal é a fabricação de fios agrícolas (Twines).
Cordoalha
O setor de cordoalha é o campo de maior aplicação do sisal e a expressão cordoalha aqui significa, em sentido lato, toda a gama de produtos de sisal, incluindo fios, barbantes, cordéis para embalagens e todos os tipos de corda utilizados na agricultura, na pecuária, na indústria e no comércio; no entanto, sabe-se que cerca de 2/3 do uso da fibra de sisal se destinaram, ao longo do tempo, à produção de Baler Twine.
Baler Twine
É o principal fio agrícola produzido da fibra de sisal. Este produto é feito de fio torcido, elaborado a partir de fibras de sisal paralelizadas que, necessariamente, devem ter uniformidade de comprimento para regularidade do seu diâmetro e melhor resistência. O Baler Twine é utilizado para a amarração de fardos de feno de cereais (alfafa, palhada de aveia, trigo, centeio etc.) nos Estados Unidos, Canadá e Europa e mais recentemente no Brasil.
Foto: Orozimbo S. CarvalhoFigura 2. Detalhe do fio "Baler Twine". |
Produção do fio (Baler Twine)
Na primeira etapa utilizam-se fibras já beneficiadas, que chegam às indústrias depois de passarem por um processo chamado batimento ou beneficiamento, que utiliza máquinas próprias que submetem a fibra, ao sair na forma bruta do campo, a um processo de limpeza, amaciamento e padronização de tamanho para que possam ser utilizadas pela indústria transformadora.
Produção do Papel
As “buchas” de sisal são utilizadas na manufatura de papel tipo “kraft” , que oferecem tenacidade especial e grande resistência, apesar de que, atualmente, esse tipo de utilização está se tornando inviável, uma vez que a celulose de madeira apresenta menores custos de produção. Também se utiliza sisal na fabricação de papéis finos para embalagem de cigarro, filtros especiais e absorventes.
Construção Civil
As “buchas” de sisal também são utilizadas neste setor, para polimento de revestimentos cerâmicos e, também, na composição de “massas” para a fabricação de forros de gesso. No campo da construção civil, o sisal ainda poderá ter espaço para outras aplicações, como na construção de casas residenciais, visando oferecer maior resistência aos compósitos, bem como a substituição do amianto na composição de telhas para cobertura de imóveis industriais ou residenciais, cujo estudos vêm sendo realizados pela Universidade Federal da Paraíba, Campus II, em Campina Grande, PB.
Tapetes
Artefato que vem tendo crescimento significativo, principalmente após a onda ecológica que se tem desenvolvido na Europa e no Brasil; os tapetes de sisal deixaram de ser instalados apenas em ambientes rústicos de antigamente e estão decorando escritórios de grandes e modernas empresas, pelo mundo afora. Para a fabricação de tapetes, são necessários fios muito finos (de 800 m/kg a 1.000 m/kg) e de qualidade, o que só será possível de se fabricar se houver fibras de comprimento longo (em torno de 1,10 m) e de alto grau de limpeza. Apesar de ser um setor em crescimento, a quantidade de sisal utilizada na fabricação de tapetes ainda é pequena, quando em comparação com a quantidade que normalmente se utiliza na indústria de fios agrícolas (Baler Twine).
Sacaria
Em alguns países, como a Venezuela, e durante algum tempo o México, fabricavam sacos com fibras de sisal, talvez por não disporem de juta, fibra de qualidade muito superior para esse tipo de utilização. No Brasil, a preferência sempre foi pela juta para os chamados sacos de aniagem, principalmente para armazenamento de café. Não se tem notícias, portanto, de que tenha havido desenvolvimento da indústria de sacaria com fibras de sisal. Atualmente, o grande volume de sacaria fabricada no Brasil (e no mundo) é de ráfia de polipropileno, portanto, de fibras sintéticas.