Sisal
Pós-colheita
Autores
Fabio Akiyoshi Suinaga - Embrapa Hortaliças
Wirton Macedo Coutinho - Embrapa Algodão
Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva - Embrapa Algodão
Desfibramento
A principal operação pós-colheita é o desfibramento do sisal, processo pelo qual se elimina a polpa das fibras, mediante uma raspagem mecânica, o que torna esta prática complexa e de custo elevado.
No Nordeste brasileiro, o desfibramento é realizado por meio de uma máquina denominada “motor de agave” ou “máquina Paraibana” (Figura 1). Esta máquina desfibra em torno de 150 kg a 200 kg de fibra seca em um turno de 10 horas de trabalho, desperdiçando, em média, 20% a 30% da fibra. Além disso, envolve um número elevado de pessoas para a sua operacionalização. As pessoas envolvidas no desfibramento com a máquina paraibana são:
1. Cortador: Colhe as folhas das plantas, cortando-as com um instrumento apropriado denominado foice; número de pessoas envolvidas nessa atividade pode variar de uma a três.
2. Enfeixador: Amarra as folhas em forma de feixes que serão transportados até a máquina de desfibradora.
3. Cambiteiro: Recolhe os feixes e os transporta até a máquina, com o auxílio de tração animal.
4. Puxador: É o responsável pela operacionalização da máquina. Essa atividade envolve uma ou duas pessoas, dependendo da região produtora.
5. Fibreiro: Responsável pelo abastecimento da máquina com as folhas e pela recepção das fibras, que são pesadas com umidade. Essa atividade poderá ser realizada por uma ou duas pessoas.
6. Bagaceiro: Retira da parte inferior da máquina os resíduos sólidos do desfibramento. Esta atividade pode envolver uma ou duas pessoas.
7. Lavadeira: Faz a lavagem, secagem e armazenamento da fibra.
A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador). Em uma operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto, ou 1.200 a 1.800 folhas por hora.
Foto: Odilon Reny R. F. da Silva Figura 1. Máquina desfibradora Paraibana em operação. |
Lavagem e secagem da fibra
Após o término da operação diária de desfibramento, a fibra obtida é transportada em carrinho de mão ou no dorso de animais, para tanques com água limpa, onde deverá ser imersa durante 8 a 12 horas (Figura 2). Isso é necessário para a eliminação dos resíduos da mucilagem péctica e da seiva clorofílica, que ficam aderidos a fibra de sisal. Não é aconselhada a utilização de água salobra para a lavagem da fibra do sisal, em virtude da sua alta higroscopicidade, que poderá afetar a qualidade da fibra depois de secas.
Foto: Odilon Reny R. F. da SilvaFigura 2. Imersão da fibra em tanque com água para retirada de impurezas. |
Após a lavagem, as fibras deverão secar ao sol por 8 a 10 horas. Se este período for ultrapassado, os raios solares poderão depreciar a fibra, causando-lhe amarelecimento. O local de secagem poderá ser uma área onde as fibras não absorvam impurezas, como em varais ou estaleiros, feitos com fio de arame galvanizado (Figura 3), ou em área cimentada devidamente limpa. Depois de secas, as fibras são arrumadas em pequenos feixes, denominados de manocas, amarradas pela parte mais espessa e armazenadas em depósito sem serem dobradas.
Foto: Odilon Reny R. F. da SilvaFigura 3. Fibra estendida no estaleiro de arame para secagem. |
Limpeza da fibra
No Nordeste brasileiro, grande parte dos produtores de sisal comercializa seu produto na forma bruta, sem realizar qualquer processo de melhoria do produto, como o batimento ou penteamento. Esta operação visa remover o pó e o tecido parenquimatoso aderido aos feixes fibrosos, além de retirar as fibras de pequeno comprimento, o que resulta em um produto limpo, brilhoso, macio e valorizado.
As batedeiras são máquinas de funcionamento semelhante às desfibradoras, e são dotadas de um tambor rotativo de aproximadamente 0,60 m de diâmetro e seis lâminas planas de 5 cm de largura, protegidas por uma tampa metálica, que gira no sentido inverso ao das desfibradoras. A velocidade de giro do tambor está em torno de 200 rpm. Nessa operação, geralmente, são perdidas entre 8% a 10% do peso original da fibra.
O pó, que é um resíduo do batimento, pode ser utilizado como adubo orgânico e até mesmo em misturas para ração animal, enquanto que a bucha pode ser empregada para obtenção de celulose, no revestimento interno de estofados e como componente de polímeros para uso doméstico e até mesmo para a indústria automobilística.
Seleção e classificação da fibra
Após o batimento, as fibras são selecionadas de acordo com os padrões de classificação vigentes no Brasil, segundo Portarias do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tendo como base a classe (comprimento) e o tipo (qualidade) da fibra.
A fibra beneficiada de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 71, de 16 de março de 1993, quanto à classe em longa (comprimento acima de 0,90 m), média (comprimento entre 0,71 m e 0,90 m) e curta (comprimento entre 0,60 m e 0,70 m), e quanto ao tipo em Tipo Superior, Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, conforme detalhamento:
Tipo superior: Material constituído de fibras lavadas, secadas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-clara, em ótimo estado de maturação, com maciez, brilho e resistência bem acentuados, umidade máxima de 13,5%, bem soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, de substâncias pécticas, de entrançamentos e nós, fragmentos de folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 1: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração creme-clara ou amarelada, em ótimo estado de maturação, com maciez, brilho e resistência normais, manchas com pequena variação em relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos e nós, fragmento de folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 2: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada ou pardacenta, com pequenas extensões esverdeadas, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ligeiramente ásperas, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas.
Tipo 3: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de coloração amarelada, com parte de tonalidade esverdeada, pardacenta ou avermelhada, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ásperas, manchas com variação bem acentuadas em relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, entrançamentos, nós e cascas.
A fibra bruta de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 211, de 21 de abril de 1975, em quatro classes: Extra longa – EL (comprimento acima de 1,10 m), Longa – L (comprimento acima 0,90 m até 1,10 m), Média – M (comprimento acima de 0,70 m até 0,90 m) e Curta – C (comprimento de 0,60 m até 0,70 m), e em dois tipos (A e B), conforme detalhamento:
Tipo A: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, lavadas, brilho natural, cor creme-clara, uniforme, secas, com grau de umidade de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos de polpa aderentes aos feixes fibrosos, rigorosamente selecionados quanto à classe e que, depois de submetidas ao processo de escovamento ou batimento em condições normais (adequado armazenamento e tempo hábil), se enquadrem no Tipo Superior e/ou Tipo 1 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
Tipo B: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, brilho natural, cor creme-clara ou amarelada, secas, com grau de umidade que não exceda de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos da polpa, aderentes aos feixes fibrosos, rigorosamente selecionadas quanto à classe e que, depois de submetidas ao processo de escovamento ou batimento em condições normais (adequado armazenamento e tempo hábil), se enquadrem no Tipo 1 e/ou no Tipo 2 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
Enfardamento
Depois de classificada, a fibra é acondicionada em fardos para o seu transporte até a indústria de fiação. Os fardos são preparados em prensas mecânicas ou hidráulicas, dotadas de caixas de dimensões médias de 150 cm x 50 cm x 70 cm, podendo variar entre 200 kg e 250 kg de peso. O fardo deve ser envolto por uma faixa de tecido contendo as seguintes informações, em caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número do fardo, nome da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade, unidade federativa e data da prensagem.
Armazenamento
O armazenamento é uma operação simples, desde que sejam observados os seguintes pontos:
a) os fardos deverão ser colocados em duas pilhas cruzadas, em cada lado do corredor central do armazém. A altura da pilha deverá ter no máximo 2,4 m, de modo a facilitar a ventilação dos fardos;
b) o armazém deverá oferecer segurança contra incêndio, ter boa ventilação e possuir número suficiente de portas para o escoamento do produto armazenado;
c) deverá ser rigorosamente proibido fumar nos armazéns e, por medida de precaução, os mesmos deverão possuir sistemas de combate a incêndios.