Soja
Biocombustíveis
Autores
Márcio Turra de Ávila
Decio Luiz Gazzoni - Embrapa Soja
Simplificadamente, biocombustível é qualquer combustível obtido a partir de biomassa vegetal ou animal, ou seja, de toda matéria-prima não mineral. Destacam-se o etanol, ou álcool etílico, e o biodiesel.
O Brasil tem tradição histórica na produção de cana-de-açúcar, o que remonta à época do descobrimento quando Martim Afonso de Souza trouxe, em 1530, as primeiras mudas de cana oriundas da Índia. Graças a isso, o país pode desenvolver, a partir da década de 70 do século passado, a produção de etanol como substituto da gasolina para diminuir nossa dependência em relação ao petróleo que, naquela época, passou por crises (aumento do preço por queda de oferta em função de guerras no Oriente, principal região produtora no mundo).No que tange ao biodiesel, o potencial também é grande. Baseado nos óleos vegetais como matéria-prima, esse combustível se destina à substituição do diesel de petróleo, ou seja, enquanto o etanol diminui nossa dependência quanto à gasolina (combustível de automóveis leves e de passeio), o biodiesel tem por missão eliminar nossas necessidades de importação de óleo diesel (combustível de veículos pesados e de carga). Entre as oleaginosas produzidas nas plantações nacionais, a soja se destaca pela sua grande área plantada (cerca de 21 milhões de hectares), sendo considerada o “carro-chefe” da produção de biodiesel. Outras culturas estão sendo estimuladas, como é o caso do girassol, mamona, canola e dendê que, apesar de estarem experimentando aumento de produção, ainda significam, no cômputo geral, apenas uma pequena parcela do total de oleaginosas produzidas no Brasil. Há mais culturas sendo estudadas por diversos órgãos, entre eles a Embrapa, como, por exemplo, o pinhão manso, a macaúba, a andiroba, o buriti e outros vegetais com possibilidades de exploração na produção de óleo de forma sistemática.
O que deve ser ressaltado em relação aos biocombustíveis são as questões de grande importância intrinsecamente ligadas a eles, quais sejam:a) apresentam relevância socioeconômica, empregando elevado contigente de mão-de-obra em toda a cadeia produtiva, desde o campo, passando pelo processamento industrial e finalizando com a distribuição aos consumidores;
b) demonstram amplas vantagens ambientais, pois por serem combustíveis de origem vegetal, consomem, durante o crescimento das lavouras, o dióxido de carbono expelido pela sua queima nos motores, ou seja, o balanço de CO2 é bastante favorável; adicionalmente, seu uso pelos diferentes motores promove a liberação de gases muito menos nocivos que aqueles produzidos pela queima da gasolina e do óleo diesel, quer seja do ponto de vista quantitativo, quer seja qualitativamente;
c) possui um enorme apelo estratégico, já que a detenção do poder de produzir um combustível alternativo àqueles advindos do petróleo confere ao Brasil um poderoso potencial de autossuficiência frente aos combustíveis fósseis, considerados os grandes vilões do aquecimento global verificado ao longo do último século e que, hoje, causa efeitos já considerados devastadores ao planeta (degelo das calotas polares, por exemplo).
Nunca é demais lembrar que as áreas estimadas para produção agrícola, no Brasil, totalizam algo por volta de 400 milhões de hectares, sendo esse número extremamente importante quando comparado às áreas utilizadas pelas diferentes lavouras consideradas energéticas. Somando-se as áreas de terras destinadas às produções de cana-de-açúcar e soja (as duas principais culturas energéticas brasileiras), verifica-se, claramente, que significam uma pequeníssima porção das terras potencialmente agricultáveis. Só para exemplificar, as áreas de pastagens degradadas, no Brasil, são estimadas em torno de 60 milhões de hectares, isto é, praticamente o dobro daquelas empregadas nas lavouras de cana e soja. Por essa razão, não faz nenhum sentido se falar de falta de alimentos em decorrência da produção de biocombustíveis no Brasil, um país absolutamente singular por apresentar vastas terras, água em abundância e sol suficiente para o seu pleno suprimento de alimentos e energia, com grandes possibilidades de fornecimento desses itens, através de exportação, a outros países do mundo.