Soja
Zoneamento de risco climático à soja
Autores
Norman Neumaier - Embrapa Soja
Alexandre Lima Nepomuceno - Embrapa Soja
José Renato Bouças Farias - Embrapa Soja
Estresses abióticos como a seca, o excesso de chuvas, temperaturas muito altas ou baixas, baixa luminosidade, etc., podem reduzir significativamente rendimentos em lavouras e restringir os locais, as épocas e os solos onde espécies comercialmente importantes podem ser cultivadas. A chuva, por sua grande variabilidade em termos espacial e temporal, constitui-se num dos elementos climáticos de maior importância para a agricultura por sua grande influência em todas as fases de desenvolvimento das plantas.
Definindo áreas menos sujeitas a riscos de insucessos devido à ocorrência de adversidades climáticas, o zoneamento agroclimático constitui-se numa ferramenta de fundamental importância em várias atividades do setor agrícola. Fruto de um trabalho multi-institucional e multidisciplinar, o zoneamento agroclimático da cultura da soja procurou delimitar as áreas com maior aptidão climática para o desenvolvimento da cultura, visando à obtenção de maiores rendimentos e menores riscos. Em função das diferentes épocas de semeadura, das disponibilidades hídricas de cada região, do consumo de água nos diferentes estádios de desenvolvimento da cultura, do tipo de solo e do ciclo da cultivar, foram definidas as áreas com maior ou menor probabilidade de ocorrência de déficit hídrico durante a fase mais crítica da cultura (floração - enchimento de grãos), caracterizadas como favoráveis, intermediárias e desfavoráveis, através do uso de modernas ferramentas de modelagem e simulação de sistemas agrícolas, sistemas de informação geográfica e geoestatística.
Nas Figuras 1 e 2 são apresentados os resultados das simulações para cultivar de ciclo precoce, solo de média retenção de água e nove épocas de semeadura, para os estados do Paraná e do Mato Grosso, respectivamente. As áreas favoráveis representam as regiões onde é menor o risco de ocorrência de déficit hídrico durante as fases mais críticas. As áreas desfavoráveis definem as regiões de alto risco de ocorrência de veranicos, durante as fases mais críticas da cultura da soja. As áreas intermediárias representam as regiões em que o risco é mediano, situando-se entre as duas anteriormente definidas. Cada um dos mapas representa a combinação de um dos níveis de cada fator acima, isto é, cada mapa representa a classificação das diferentes áreas do estado para uma dada época de semeadura, em função do tipo de solo e da cultivar. Todos os resultados obtidos são analisados, comparativamente, com os dados observados historicamente a campo, a fim de detectar e corrigir eventuais falhas na metodologia empregada. (Farias et al, 2001). Regiões com melhores distribuição e volume pluviométrico, como o Mato Grosso, apresentam menor risco. Solos com baixa capacidade de armazenamento de água (CAD) apresentam-se, em geral, impróprios ao cultivo da soja na maioria das regiões, para os diferentes ciclos das cultivares e épocas de semeadura considerados. Deve-se salientar, ainda, que se trata de um zoneamento de risco climático e não de aptidão. Desta forma, nem todos os municípios favoráveis são aptos ao cultivo da soja. Além da disponibilidade hídrica, outros fatores devem ser considerados para avaliar a viabilidade da exploração desta cultura com sucesso numa dada região e/ou município. Por outro lado, muitas das áreas classificadas como intermediárias podem ser enquadradas como favoráveis, devido a práticas de manejo do solo e da cultura que permitem às plantas superarem curtos períodos de adversidade climática.
Fonte: José Renato Bouças Farias
Figura 1. Zoneamento agroclimático da cultura da soja, cultivar de ciclo precoce e solo de média retenção de água, para nove épocas de semeadura, no estado do Paraná.
Fonte: José Renato Bouças Farias
Figura 2. Zoneamento agroclimático da cultura da soja, cultivar de ciclo precoce e solo de média retenção de água, para nove épocas de semeadura, no estado do Mato Grosso.