Importância socioeconômica da soja

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Amélio Dall'Agnol - Embrapa Soja

Arnold Barbosa de Oliveira - Embrapa Soja

Joelsio José Lazzarotto - Embrapa Uva e Vinho

Marcelo Hirochi Hirakuri - Embrapa Soja

 

A revolução socioeconômica e tecnológica protagonizada pela soja no Brasil Moderno pode ser comparada ao fenômeno ocorrido com o ciclo da cana-de-açúcar, da borracha e do café, que, em distintos períodos dos séculos XVII a XX, comandaram o comércio exterior do País.

Avançando sobre novas fronteiras agrícolas na busca de terras abundantes e baratas, milhares de dinâmicos produtores de soja da região sul do Brasil migraram para o despovoado e desvalorizado Cerrado brasileiro, levando desenvolvimento e promovendo a implantação de uma nova cultura na região central do País. Centenas de pequenos povoados nasceram no vazio do Cerrado, transformando-se, ao longo das quatro últimas décadas, em cidades de pequeno, médio e grande porte e valorizando enormemente as terras da região, hoje tão valiosas quanto as da região sul.

A receita proveniente das exportações do complexo agroindustrial brasileiro de soja supera os dez bilhões de dólares, representando cerca de 8% do total exportado pelo País. Todavia, mais importante do que os benefícios diretos provenientes das exportações são os benefícios indiretos derivados da sua extensa cadeia produtiva, que superam em mais de cinco vezes esse montante.

Um de cada quatro dólares exportados pelo complexo agroindustrial brasileiro provém da soja. Sua liderança, no contexto do agronegócio brasileiro, promete manter-se por muitos anos ainda, se é que algum dia ela será superada, haja vista a crescente demanda por soja no mercado mundial e o potencial que o Brasil ainda tem para expandir-se. Essa expansão da área cultivada poderá ocorrer sem a substituição de outras culturas e sem necessidade de realizar novos desmatamentos. O Brasil dispõe de dezenas de milhões de hectares de terras aptas e disponíveis para a produção de soja, apenas aproveitando as já desmatadas e, atualmente, subutilizadas com pastagens degradadas, principalmente ao longo das rodovias federais Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho e Transamazônica, entre outras.

O espetacular crescimento da produção de soja no País, de cerca de 262 vezes ao longo dos últimos 47 anos, determinou uma cadeia de mudanças sem precedentes na história da agricultura brasileira. Foi a soja, inicialmente apoiada pelo trigo, a grande responsável pela implementação da agricultura comercial no Brasil. Ela, também, apoiou ou foi a grande responsável por acelerar a mecanização das lavouras brasileiras, por modernizar o sistema de transportes, por expandir a fronteira agrícola, por profissionalizar e incrementar o comércio internacional, por modificar e enriquecer a dieta alimentar dos brasileiros, por acelerar a urbanização do País, por interiorizar a população brasileira (excessivamente concentrada no sul, sudeste e litoral do nordeste), por tecnificar outras culturas (destacadamente a do milho). A soja, também, impulsionou e descentralizou a agroindústria nacional, patrocinando a expansão da produção de suínos e aves.