Soja
Perspectivas da soja
Autores
Amélio Dall'Agnol - Embrapa Soja
Arnold Barbosa de Oliveira - Embrapa Soja
Joelsio José Lazzarotto - Embrapa Uva e Vinho
Marcelo Hirochi Hirakuri - Embrapa Soja
São muito positivas para o Brasil as perspectivas de avanços no mercado da soja, apesar da gripe aviária que ameaçou, momentaneamente, o consumo da carne de frango e, consequentemente, do farelo de soja. A área e a produção deverão crescer substancialmente, como consequência do incremento da demanda por carnes e biodiesel e à disponibilidade, no Brasil, de mais de 90 milhões de hectares de terras aptas para a produção dessa oleaginosa, apenas no ecossistema do Cerrado. A expectativa de crescimento da produção nacional e da demanda mundial pode ser creditada aos seguintes fatores:
- Aumento da população humana, a qual consumirá mais soja, principalmente via consumo de carnes, produzidas a partir dos farelos de soja e de milho.
- Aumento do poder aquisitivo da população urbana, destacadamente no continente asiático, onde está o maior contingente de potenciais consumidores da oleaginosa.
- Substituição do farelo de carne, elaborado a partir de restos de carcaças bovinas, pelos riscos que isto representa na transmissão do Mal da Vaca Louca, mantendo aquecido o mercado do farelo de soja.
- Potencial de utilização da soja como matéria prima para a indústria de biodiesel, tinta, lubrificantes, plásticos, entre outros.
- Crescente consumo de farelo de soja para alimentar a crescente indústria de carnes do Brasil, atualmente o maior exportador mundial.
- Redução do protecionismo e dos subsídios à soja por parte dos países ricos, via pressão dos mercados e da Organização Mundial do Comércio, aumentando, consequentemente, os preços internacionais e estimulando a produção e as exportações brasileiras, e
- Exoneração de parte dos pesados tributos incidentes sobre a cadeia produtiva da soja no Brasil, o que incrementaria sua competitividade no mercado externo.
Pode-se estimar, também, pelas tendências atuais do agronegócio brasileiro, que a produção de soja se concentrará cada vez mais nas grandes propriedades da região central do País. Os proprietários das pequenas e médias propriedades da região Sul, por falta de competitividade na produção de grãos, tenderão a migrar para atividades agrícolas mais rentáveis (produção de leite, criação de suínos e aves, cultivo de frutas e de hortaliças, ecoturismo, entre outros), porque são atividades mais intensivas no uso de mão de obra, recurso geralmente abundante em pequenas propriedades familiares, onde o recurso escasso é a terra.
Feitas essas considerações, parece racional acreditar positivamente no futuro da produção brasileira de soja, já que, entre os grandes produtores mundiais da oleaginosa, o Brasil figura como o país que apresenta as melhores condições para expandir a produção e atender o esperado incremento da demanda mundial. Excetuando a Argentina, que ainda poderá aumentar um pouco a sua área de produção, os demais competidores do Brasil (EUA, China e Índia) estão com suas fronteiras agrícolas quase ou totalmente esgotadas. Considere-se, ainda, a decisão dos EUA de reduzir em cerca de 15% sua área de soja em favor do milho para a produção de etanol. Estima-se que para 2010, o consumo de milho para produção de etanol naquele país superará as 100 milhões de toneladas.
O Brasil possui, apenas no ecossistema do Cerrado, mais de 50 milhões de hectares de terras ainda virgens ou com pastagens degradadas, mas aptas para sua imediata incorporação ao processo produtivo da soja, se assim o mercado o determinar.
A Figura 1 apresenta um prognóstico da produção futura de soja no mundo, indicando a expectativa de produção dos principais países produtores e a produção conjunta dos demais países. Considerando esses dados, o Brasil é o país que mais crescerá, seguido pela Argentina. Paraguai e Bolívia, cuja expectativa de crescimento não aparece individualizada nesta figura, também deverão crescer significativamente, respondendo por parte do incremento indicado como “outros”. A expectativa de incrementos na produção dos EUA é de 1% ( mas poderá decrescer por causa do milho para etanol). Para crescer mais, os EUA teriam que diminuir a área de outros cultivos. China e Índia não têm condições de incrementar a área cultivada com soja, mas poderiam aumentar sua produção via incrementos na produtividade, a mais baixa entre os grandes produtores mundiais. Até 2020, o Brasil e a Argentina serão os grandes provedores do incremento da demanda mundial de soja. Depois de 2020, o Brasil será a grande promessa de fornecimento da demanda adicional, pela grande reserva de terras ainda disponíveis para esse cultivo.